Últimas indefectivações

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Da falta de sentido de Estado

"Figo fez um favor a José Eduardo. Ambos, no fundo, são agora acusados da mesma coisa. De falta de sentido de Estado.

FOI uma semana pródiga em não-acontecimentos. O Benfica NÃO perdeu no Funchal com o Marítimo e tanto se trabalhou no campo da retórica para que isso acontecesse.
A culpa, naturalmente, foi do árbitro que validou os quatro golos do Benfica, dois obtidos em posição irregular e os outros dois marcados com a mão para lá da hora.
Bruno de Carvalho NÃO convocou eleições antecipadas mas não deixou de ser versátil perante a assembleia de sócios.
A culpa foi, lamentavelmente, da já famosa agenda do treinador que obrigou a alterações na agenda do presidente.
Pinto da Costa NÃO foi eleito o dirigente do século do futebol português provando-se que esta mania dos sufrágios acaba sempre por gerar enormes perversões.
A culpa foi, obviamente, do youtube porque enquanto andarem por aí à solta as escutas do Apito Dourado haverá sempre quem, a coberto do voto anónimo, se recuse infantilmente a dar o mérito devido a quem o tem.
E quanto a isto, tenham lá paciência, não há volta a dar.

TRINTA MILHÕES DE EUROS foi quanto o Benfica facturou em meia dúzia de meses com a venda de André Gomes e de Bernardo Silva, duas pérolas das suas camadas jovens.
Dirão que ambos os negócios foram do maior interesse para a tesouraria. E, provavelmente, foram.
Mas se foi por interesse não foi certamente por amor.
Pessoas românticas como eu sofrem muito com estas coisas.
Espero ver em mim atenuada esta melancolia com uma vitória bem trabalhada na segunda-feira em Paços de Ferreira onde se joga o nosso futuro próximo.

O presidente do FC Porto que não fique triste por não ter sido homenageado na Gala da Federação Portuguesa de Futebol. Até porque as homenagens em Portugal, com se sabe, são sempre contra alguém. 
Homenagem das boas, das valentes, das antigas recebeu Pinto da Costa três dias depois em Penafiel. Artur Soares Dias, que tinha sido aconselhado há precisamente um ano a não voltar a apitar jogos do Porto, voltou e voltou de modo a fazer esquecer antigas agruras e incompreensões. Foi bonito.
Quanto ao não menos simpático Quiñones, ninguém o viu. O jogador emprestado pelo Porto ao Penafiel não constou da convocatória e por estes dias não se fala de outra coisa, como era de esperar.

LUÍS FIGO, uni-Bota de Ouro, disse que ao longo da sua carreira tinha conhecido «jogadores melhores» do que Ronaldo, tri-Bota de Ouro, e do que Messi, tetra-Bota de Ouro.
Com esta afirmação Figo fez um grande favor a José Eduardo. Aliviou-lhe a pressão e de que maneira.
As baterias que estavam todas apontadas para o antigo jogador do Sporting viraram-se como que por instinto para o não menos antigo jogador do Sporting. Ambos, no fundo, são acusados da mesma coisa. De falta de sentido de Estado.
Uma irmã de Cristiano Ronaldo tomou a palavra para mandar Luís Figo ir ao encontro de uma «parede áspera» onde possa «coçar os cotovelos».
Benditos sejam os futebóis que têm a sua nobreza e as suas respectivas famílias reais.

A menos que aconteça qualquer coisa de absolutamente extraordinário Pedro Proença anunciará hoje o fim da sua carreira como árbitro de futebol. A notícia deixa consternada a UEFA e também a FIFA.
De acordo com a edição de anteontem de A BOLA o próprio Pierluigi Collina, a sumidade das sumidades da arte de apitar, deslocou-se propositadamente a Lisboa para tentar convencer Pedro Proença, em italiano, a protelar por mais um ano a sua despedida dos relvados.
Gostos não se discutem. Conspirações, muito menos.
Proença poderia apitar por mais uma temporada mas prefere não o fazer por razões que, certamente, explicará hoje na sua anunciada conferência de imprensa.
Ficarão frustradas, no entanto, as expectativas de alguns, aliás muitos, adeptos do Benfica dados à inevitabilidade das justiças cósmicas.
Ao longo da última década em que descortinou penaltis e validou golos irregulares que, inadvertidamente, desviaram títulos do Benfica havia nas bancadas da Luz quem, de boa-fé, confiasse que a redenção de Proença surgiria na sua temporada de despedida em que por ser isso mesmo, de despedida, lhe permitiria assumir o seu benfiquismo doentio ressarcindo-se e ressarcindo-nos dos dolos tão espectacularmente infligidos à mercê de uma catrefada de penaltis cientificamente distribuídos sem vergonha nenhuma.
Tirem daí o sentido. Pois não vai acontecer. Proença recusa-se a entrar em campo naquela que seria a sua última época, aquela derradeira época em que muitos milhares de malucos o esperavam ver actuar na qualidade de anjo vingador de si próprio.
Ora, francamente, prefiro assim.
A verdade acima de tudo.

DA Gala da FFP, na verdade, só conheço o rescaldo. Bem animado, por sinal. Consta, portanto, que há uma lista de injustiçados à qual, se me é permitido em nome da liberdade de expressão, gostaria de acrescentar mais uns pozinhos para que a história de um século do futebol português não fique manca por falta de homenagens a quem as merece.
Em primeiro lugar, as roulottes.
As roulottes foram injustamente esquecidas. As roulottes que são ponto de encontro de amigos à porta dos estádios pelo país fora e que providenciam couratos e bifanas frequentemente de qualidade superior aos jogos que se lhes seguem.
Em segundo lugar, Pimenta Machado.
Foi ele o autor da frase que define com propriedade e ser o nosso centenário jogo.
- No futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira.
Ficou, portanto, por homenagear o indisputado dirigente do século.
É que não se vê outro tão incisivo nas palavras.

JONAS, que até ao Funchal vinha marcando um golo por jogo, não marcou frente ao Marítimo mas colaborou com grande brilho no segundo e no terceiro golo do Benfica pelo que está perdoado.
Já Júlio César continua a primar pela regularidade na Liga. Não só não sofreu nenhum golo no Funchal como também se deu ao luxo de nos oferecer uma estirada de alta categoria evitando o golo do Marítimo quando o resultado já era largamente favorável ao Benfica.
O guarda-redes brasileiro mais a sua lombalgia crónica já vão em 719 minutos sem sofrer golos.
Já dizia o Guttman, há mais de meio século, que o Estádio da Luz tem um clima que faz milagres.

ONTEM, em Moreira de Cónegos, Jonas voltou à normalidade e marcou o seu golinho da praxe. Foi a terceira vitória do Benfica no seu grupo da Taça da Liga e consequente apuramento para as meias-finais da competição. O Benfica gosta da Taça da Liga e quer voltar à final.
Já os nossos rivais não gostam da Taça da Liga. O Sporting nem quer entrar e quanto ao Porto, ontem, quase quis sair com Lopetegui a ameaçar com a deserção geral, o que não se veio a verificar.
Na véspera desta jornada da Taça da Liga, o Sporting reivindicou oficialmente a 'lagartice' de Jorge Jesus. Um dia, que não vai tardar, ainda contabilizarão como seus os títulos conquistados por Jesus ao serviço do Benfica. Um bocadinho como fazem com as Bolas de Ouro do Ronaldo."

Leonor Pinhão, in A Bola

Não devemos discriminar ninguém, mas...

Era bom se fosse um Adeus, mas desconfio que seja só um Até Já...!!!
Tivemos inclusive direito a uma encenação com discursos, entrevistas, lançamento de futuras candidaturas... juras de amor e afins!!! Espero que a presença oficial do Benfica na cerimonia, tenha sido em solidariedade com a comunidade, cada vez mais alargada de pessoas com problemas de cáries!!! Como Clube Universal, não devemos discriminar ninguém, mas alguns merecem mesmo ser discriminados... e não estou a falar do Benfiquista da foto que se segue... Viva ao Benfica!!!

Eusébio e (não ou) Ronaldo

"Em mais uma Gala, mais um cacharolete de prémios e homenagens, sempre discutidos e discutíveis. Desta vez, no centésimo aniversário da FPF, uma efeméride indiscutivelmente marcante.
Entre os premiados, Cristiano Ronaldo, agora considerado o melhor jogador português do século. Uma atribuição que se dirá quase inevitável depois de, pela 3.ª vez, ter sido distinguido, com inegável vantagem, como o melhor jogador do ano em todo o mundo.
Todavia, permito-me discordar. Não para retirar mérito ao jogador do Real Madrid. Simplesmente porque acho uma distinção que premeia o presentismo e relega para segundo plano o passado. São assim os tempos de agora: o que é bom é o que é novo. É a expressão da vitória da actualidade presente sobre a memória passada. Cem anos que, afinal, se parecem resumir a um tempo de agora, minimizando tudo o que já foi tempo. Cem anos que o são entre o momento 0 e o momento 100 e não o momento 100 sobre todos os momentos antes do 100.
Eusébio tem contra si ser passado. Ronaldo tem a seu favor ser presente a futuro. Mas 100 anos não são uma meta a cortar em que só contam os últimos anos, são um caminho em que todos os passos são igualmente importantes. Pergunto, até: dos votantes, quantos viram jogar Eusébio? E como comparar tempos tão diversos, agora com uma magnitude comunicacional totalizante, antes com uma propagação pouco mais do que paroquial?
Para mim, Eusébio ainda é o primeiro. Cristiano lá chegará, por certo, mas deixemos correr o tempo e ganhar distância face à emoção que sempre nos condiciona. Então o galardão será, sem qualquer polémica, para a sociedade Eusébio & Cristiano!"

Bagão Félix, in A Bola