"Não foi o presidente do Benfica, de apelido Vieira, a chamar o avançado de apelido Vieirinha, apenas pelo capricho de perpetuar o seu apelido na selecção de todos nós benfiquistas.
VINTE E SETE anos depois, o Benfica conseguiu finalmente fazer uma dobradinha. Bravo! Uma dobradinha, para os leigos, é conquistar o campeonato e a Taça de Portugal numa mesma época. Foi precisamente o que aconteceu este ano ao Benfica e com grande autoridade.
À tão ansiada dobradinha juntou-se uma outra conquista de uma competição oficial, a já celebérrima Taça da Liga. Tudo somado foram três títulos muito saborosamente conquistados e ainda mais saborosamente festejados.
Contudo o país, por falta de assuntos estruturais sobre os quais se debruçar, e também por força do peso do Benfica na chamada sociedade e na chamada comunicação social, foi lançado para um debate semântico como não se via e ouvia em Portugal desde que, na já longínqua década de 80 do século passado, um presidente da AF Porto, Adriano Pinto, instituiu “dar o xito” como o fundamento filosófico do regime nascente.
O que era um «xito»? Nunca se soube muito bem, ainda que se desconfiasse. E como se escreve? É com x ou com ch? Questões que ainda hoje estão por responder, essa é que é a verdade...
E, passados tantos anos, chega mais uma novidade para o léxico: o que é um triplete? Ou é com a final e diz-se tripleta? Andas todos malucos a falar disto desde domingo quando Carlos Xistra, com x e não com ch, deu por acabado o jogo da final da Taça de Portugal no Jamor.
Diz-se de tudo. Que a Taça da Liga não conta e que a Supertaça conta. E diz-se também precisamente o contrário. Ontem, o site da FIFA saudava a proeza do Benfica chamando-lhe «treble» mas sabendo-se como o Benfica domina a FIFA e a UEFA logo se percebe a marosca internacional.
No campo adversário, rangem-se dentes com o tri-qualquer coisa inédito, arrepelam-se cabelos com a tripleta inaugural. Seja lá o que for, não tem importância nenhuma esta discussão semântica. O Benfica ganhou as três competições internas em que esteve envolvido em 2013/2014 e ganhou-as muitíssimo bem e com grande brilho. Chamem ao feito, porque se trata de um feito, o que quiserem. Não importa com toda a franqueza.
Razão tem, uma vez mais, Jorge Jesus que não vai em modas. O treinador do Benfica optou pela linguagem gestual. Bravo, mister! É mostrar os três dedos e acaba-se logo com a conversa.
RÚBEN AMORIM e André Almeida são os jogadores do Benfica que Paulo Bento vai levar ao Brasil. Faz bem Paulo Bento, em minha opinião, em assegurar a presença de dois Manéis na comitiva, sem menosprezo por Amorim e Almeida que têm nomes próprios e que foram, ambos, notáveis no contributo que deram à equipa campeã nacional de 2013/2014, vencedora da Taça de Portugal de 2013/2014 e vencedora da Taça da Liga de 2013/2014.
De um modo geral, a convocatória de Paulo Bento provocou e vai continuar a suscitar grande celeuma, o que é perfeitamente natural ainda que, uma vez mais em minha opinião, talvez fosse escusado tanto dislate visto que não há, em Portugal e por esse mundo fora, quem consiga definir a selecção portuguesa sem ser como a equipa onde joga Cristiano Ronaldo e «os outros todos».
Os outros todos (Cristiano Ronaldo à parte e Manéis do Benfica à parte) são 20, uns são bem melhores do que outros e ainda outros bem piores do que uns tantos que não foram chamados para a missão transatlântica. A todos eles, aos melhores, aos piores e aos assim-assim, desejo as maiores felicidades.
Duda, jogador do Málaga que, sem qualquer espécie de surpresa, não foi eleito, reagiu com indignação à exclusão de Antunes, seu colega na Andaluzia, da lista definitiva do seleccionador nacional. Também gosto de Antunes e confesso, no entanto sem indignação, que me surpreende a sua ausência.
E também gosto de Duda, um excelente jogador. Duda tentou encontrar uma explicação plausível para o caso de Antunes e saiu-se com esta: «É o Benfica que manda na selecção.» Aqui discordo, com todo o respeito pela pluralidade das opiniões e pela opinião do Duda em particular.
Ao contrário do que o jogador do Málaga pensa e diz, não foi o presidente do Benfica, de apelido Vieira, o responsável pela chamada do avançado do Wolgsburg, de apelido Vieirinha, só pelo capricho ditatorial de perpetuar o seu apelido na selecção de todos nós, de todos nós benfiquistas, naturalmente.
Não, Duda, lamento contradizê-lo mas o Benfica não manda na selecção. Nem vislumbro qual seria a vantagem.
«OS presidentes do FC Porto e da Câmara de Gaia uniram as suas vozes contra o centralismo de Lisboa» foi notícia de ontem. Os dois presidentes juntaram-se para o assinar de uma nova parceria e lamentaram «o enterro da regionalização» que, segundo os próprios, foi fatal para um Norte que «se depaupera».
Precisamente por ouvir falar em «depaupera» veio-me à lembrança uma notícia do último Verão, publicada num respeitado diário generalista e que nunca vi contestada. Tem tudo a ver com o «depaupera», como terão oportunidade de constatar. Rezava assim, resumidamente para não maçar:
«O FC Porto levará 2666 anos para pagar o Centro do Olival», em título.
E porquê?
Porque sendo de 500 euros mensais o valor pago pelo FC Porto ao município gaiense pela utilização do seu centro de estágio que custou 16 milhões de euros aos depauperados munícipes gaienses ou, se preferirem, «aos cofres públicos», basta fazer as contas para se saber o tempo de espera até ao total ressarcimento público.
2666 anos, nem mais, nem menos. Ora tomem lá.
Mas como o contrato celebrado entre a Câmara de Gaia e o FC Porto vigora apenas por 50 anos, é de considerar muito seriamente a hipótese de ficarem os gaienses em 2016 anos de solidão, pendurados sem saber a que porta bater para a cobrança.
Entretanto, segundo os dois presidentes, a regionalização já foi enterrada quando tinha tudo para ser um sucesso.
O dito enterro da regionalização explica também o empobrecimento do país, excepção feita a Lisboa onde não há nem haverá um único pobre até 2666.
COM a conquista dos três troféus nacionais desta temporada, Luís Filipe Vieira ganhou junto dos sócios e dos adeptos do clube um estatuto que nunca teve. E Vieira demorou dez anos a conquistá-lo.
Trata-se da confiança. A confiança no presidente. Trata-se da multidão a pensar, perante os factos, que, se calhar, o presidente até é tipo para perceber mais disto do que nós, nós a multidão.
É apanágio dos adeptos estarem plenamente convencidos de que percebem mais disto do que o presidente, do que os treinadores, do que os enfermeiros, etc…
Por isso, no fim da temporada de 2012/2013, todos considerámos uma loucura, um risco sem precedentes a renovação do contrato com Jorge Jesus, gostando-se ou não do mister, porque tudo apontava para uma desastrosa sequela.
Sejamos francos, todos achámos que não.
O presidente entendeu que sim.
E lá tomou a sua decisão contra todas as correntes. Luís Filipe Vieira é um grande vencedor desta temporada pelo que conquistou para o Benfica e pelo que conquistou para si em termos de crédito.
Em 2003, poucos depois do ex-presidente do Alverca ter sido eleito pela primeira vez presidente do Benfica, um antigo presidente do Benfica, Jorge de Brito, conversando comigo mostrou grande interesse em conhecer pessoalmente Vieira que, simpaticamente, logo tratou de estar com Brito.
Como não se conheciam e como eu conhecia ambos convidaram-me para estar presente. Fui ter com eles a um restaurante no Guincho. Guardo e guardarei sempre para mim os ecos dessa conversa de um velho presidente com um novo presidente. O mais que vos posso dizer é que, pela minha parte de ouvidora, foi uma experiência única e adorável.
Vieira foi o primeiro a sair porque já era presidente do Benfica e tinha mais do que fazer. Fiquei uns poucos minutos mais à conversa com Brito sobre assuntos vários que nada tinham a ver com o Glorioso. Mas quando nos despedimos, não resisti a perguntar ao antigo presidente:
- Então, gostou do nosso novo presidente?
E ele respondeu-me com um sorriso rasgado:
- Gostei. E sabe uma coisa? As pessoas aprendem, as pessoas aprendem… - e disse-o com ênfase, apontando-me o dedo como um mestre-escola a querer fazer valer os seus ensinamentos perante alunos reticentes.
Não podia deixar de partilhar esta pequena história num momento muito particular na vida do Benfica e num momento muito particular do percurso de Vieira como presidente do Benfica."
Leonor Pinhão, in A Bola