"Mais do que recordar o que aconteceu em Munique recordemos o que se disse.
Ricardo Quaresma teve a frase da noite em Munique, quando lhe foi perguntado o que é que tinha acontecido com a equipa do FC Porto: «Aconteceu muita coisa, que o treinador vai explicar». A cara de Quaresma, primeiro no relvado, depois quando já falava ao microfone do flash interview, parecia dizer muito. Quaresma é daqueles jogadores incapazes de disfarçar se o momento em que está é de desalento ou é de alta confiança. Como se viu.
No campo, a dada altura daquele vendaval do Bayern, o rosto de Quaresma parecia, no fundo, igual ao de qualquer adepto portista; era o rosto de quem não queria acreditar no que lhe estava a acontecer.
Apesar de ter dito o que disse no final do jogo, julgo que Ricardo Quaresma estaria tão farto de saber como eu que o treinador do FC Porto não iria verdadeiramente explicar coisa alguma. Como não explicou. Pelo menos cá fora.
Mas podia o treinador do FC Porto não ter explicado nada e, apesar disso, ter tido, pelo menos, a elegância de assumir em nome do grupo a responsabilidade do que tinha acabado de acontecer à equipa. Tinha-lhe ficado bem.
Não fez uma coisa nem outra, como sabemos. E ainda teve a lata, a vergonhosa lata, de atirar à cara dos jornalistas que por muito que estes quisessem o contrário, como disse Lopetegui, a equipa do FC Porto se levantaria deste pesadíssimo insucesso.
«Por muito que queiram contrário, não se preocupem que nos levantaremos», disse Lopetegui para a plateia de jornalistas, certamente incrédulos, que o ouviram na sala de imprensa do Arena de Munique, onde o FC Porto tinha acabado de sofrer a mais pesada derrota europeia dos últimos 30 anos, uma das mais pesadas da história do futebol português - que, como se sabe, já inclui pesadas goleadas sofridas por Benfica e Sporting -, insuficiente, apesar disso, para levar Lopetegui a pedir desculpa aos adeptos pela horrível exibição portista da primeira parte e pela humilhante goleada final.
Lopetegui mostrou-se, aliás, tão insensível às consequência de tão pesada derrota e tão péssima imagem dada pela equipa que teve ainda a lata de falar em diferença «apenas» de três golos na eliminatória, e também a lata de dar importância à exibição portista na segunda parte, de forma intelectualmente muito desonesta, quando nenhum discurso poderia ignorar o peso, ao intervalo, dos impressionantes 5-0 que o Bayern já então tinha de vantagem!!!
Pois Lopetegui, naquele seu inestimável jeito de assumir o impagável complexo de superioridade que alguns de fora gostam de revelar sobre os portugueses, é ainda um daqueles treinadores que deve julgar - tão absurdamente - que falar nas conferências de imprensa é falar para os jornalistas e não para os adeptos e amantes do futebol. O treinador espanhol deve julgar que não pode nem deve ser questionado.
A frase de Quaresma foi, pois, a frase da noite. Aconteceu na verdade muita coisa à equipa e a única coisa que não aconteceu foi ouvirmos uma boa explicação de Lopetegui.
Em Munique, o FC Porto pode ter sido humilhado.
Mas Lopetegui foi patético!
Guardiola mudou apenas um jogador do jogo do Porto para o jogo em Munique. Poupou e defendeu o brasileiro Dante (queimado no Dragão) e trocou-o por Badstuber. E não precisou de Robben, Ribéry, Shweinsteiger ou Alaba para desfazer um FC Porto no qual fizeram realmente falta - como estava na cara - os laterais Danilo e Alex Sandro. O que Guardiola tem feito no Bayern mostra bem a capacidade que tem como treinador e é bem capaz realmente de ser, no momento, o melhor treinador do mundo.
E o que o Bayern fez ao FC Porto foi também mostrar como o percurso do FC Porto na Liga dos Campeões tinha sido, até agora, muito acessível, frente a um BATE Borisov muitíssimo frágil, um Atlético de Bilbau em declínio, um Shakthar condicionado e naturalmente afectado pelos conflitos armados em Donetsk e, depois, um Basileia que por muito generoso e determinado que seja vem... do campeonato suíço.
Não se pode querer tapar o sol com uma peneira. Não tapa nada!
Sensivelmente um ano depois de ter impedido Jorge Jesus de conquistar a Liga Europa, em Turim, a equipa do Sevilha foi agora dar cabo da cabeça a outro treinador português, atirando para fora da prova um André Villas Boas incapaz de dar sucesso europeu a um plantel realmente de luxo, com estrelas da grandeza (futebolística e financeira) de Hulk, Witsel, Garay, Danny, Criscito, Lombaerts, Javi Garcia, Ansaldi, Tymoshchuk, Fayzulin, Kerzhakov ou Rondón.
Não eram obviamente as equipas portuguesas que tinham obrigação de dar cartas na Europa (como alguns pateticamente querem fazer crer) mas no caso desta época era até curiosamente de dois treinadores portugueses que muito se esperava. Primeiro, de José Mourinho, e agora de Villas Boas, qualquer deles com equipas francamente recheadas de estrelas.
Este ano, na Europa, falharam objectivamente os dois!
PS: Patetices à parte, também julgo que o FC Porto que vai aparecer, domingo, na Luz não terá nada a ver com o FC Porto de Munique. O FC Porto, em Portugal, é sempre muito forte. Sempre. O Benfica que se cuide!"
João Bonzinho, in A Bola