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domingo, 28 de junho de 2015

A decisão

O que se sabe das negociações entre Benfica e Maxi Pereira (ou o seu empresário) para a renovação do contrato do jogador é que o clube lhe apresentou proposta de três anos de contrato no valor de um milhão e meio de euros líquidos por ano. O que também se sabe é que o FC Porto subiu a parada, apresentando a Maxi (ou ao seu empresário) um ano mais de contrato e mais meio milhão de euros líquido por ano. O que não se sabe é porque Maxi ainda não decidiu nem se sabe do que está à espera ou se está realmente à espera de alguma coisa.
Por outro lado, e já no domínio de alguma especulação, é certo, consta que a possível opção de Maxi Pereira pelo FC Porto poderá vir a custar ao FC Porto, com salários nos quatro anos (16 milhões de euros brutos sensivelmente), mais prémios e comissão ao empresário, qualquer coisa como um total aproximado de 20 milhões de euros brutos, o que não deixará de marcar substancial diferença para a oferta do Benfica, que na proposta de três anos de contrato (e um ano menos faz também muita diferença) poderia/poderá ter de vir a pagar qualquer coisa como 12 milhões de euros brutos (nove de salários mais três de comissão e prémios).

Que Maxi Pereira faça o seu jogo, claro que se compreende, ele é um profissional de futebol que procura o melhor para si depois de ter vivido oito anos da carreira no Benfica, os últimos dois dos quais em muito bom plano. Deixaram que Maxi pudesse ficar com a faca e o queijo na mão na hora de renovar o contrato e o que ele faz, e disse, é apenas aproveitar o momento para negociar melhor o que será certamente o último grande contrato da vida.
O FC Porto faz igualmente bem o seu papel de querer roubar o jogador ao Benfica, como o fez quando se tratou de ir à Luz convencer o compatriota de Maxi, o médio ofensivo Cristian Rodríguez, a mudar-se para o Dragão. É discutível o que oferecerá a Maxi Pereira mas só os responsáveis portistas sabem as linhas financeiras com que se devem coser.
Quanto ao Benfica, depois de ter ido, segundo parece, a reboque do empresário do jogador nos últimos dois anos, vendo-se o clube mais ou menos impedido de negociar com a antecedência a eventual renovação do jogador, agora parece ir a reboque do próprio Maxi Pereira, de quem está, há demasiado tempo, à espera duma resposta.
E isso não é fácil de entender.

Não se esperava que fosse o Benfica a dar a Maxi Pereira um prazo para dar resposta final? Não se esperava que passado já tempo suficiente viesse o Benfica a dar por terminadas as negociações com o jogador por não obter um sim ou sopas?
Pelos dados que vieram a público parece esperar o Benfica que Maxi Pereira se deixe convencer não pelo dinheiro mas pelo eventual sentimento. Faz mal. O próprio Maxi disse que, por mais que lhe custasse, se tivesse de jogar noutro clube em Portugal jogaria.
Talvez espere Maxi que a incerteza leve o Benfica a subir a parada e jogará na eventual angústia encarnada de poder voltar a passar pela sempre dura experiência emocional de perder um dos maiores símbolos do campo e do balneário para o rival do Porto um mês depois de perder o treinador para o rival de Lisboa.
Deveria o Benfica esperar pela decisão do jogador?
Não. Maxi já teve tempo para decidir. Se não decidiu, devia decidir o Benfica.
É fácil perceber porquê!

PS: "Paulo Sousa regressa ao futebol italiano, agora como treinador. Estará como peixe na água. Entra pela porta da Fiorentina mas aposto que só pára na Juventus. Para lá de todos os talentos e capacidades, Paulo Sousa tem outro mérito excecional: como jogador e agora como treinador, construiu sempre a carreira sozinho. Sabem o que quero dizer."

João Bonzinho, in jornal A Bola

Vistas curtas

O grande problema do campeonato português é ser pouco competitivo. Só três clubes da primeira liga sonham ser campeões. Isso retira a todos os restantes adeptos, receitas e, por consequência, recursos para se aproximarem dessa possibilidade. É um círculo vicioso que acaba por prejudicar todos. Qualquer competição depende, para continuar atrativa, de algum equilíbrio entre os concorrentes. Tudo o que se faça no futebol nacional deve favorecer o reforço dos clubes médios. É por isso que tenho defendido que os direitos das transmissões televisivas devem ser centralizados e distribuídos conforme os resultados desportivos, permitindo que uma equipa que num determinado ano se afirme tenha um retorno financeiro que a permita continuar esse caminho. Só isto favorecerá o investimento para crescer.
Na Alemanha, em Inglaterra e em Itália a venda de direitos está centralizada. E Espanha acabou de o fazer, através de uma lei do Estado. Ao que parece, a direção do Sporting aprecia o modelo italiano, que tem em conta vários fatores, nem todos dependentes do mérito. Eu gosto mais do modelo inglês. Contam os resultados e a taxa de ocupação do estádio. Parece-me excelente. Ganha quem conquista, não quem se senta à sombra da bananeira. de passados gloriosos ou de muitos adeptos. É isto que espicaça a competição, de que o futebol depende para ser sustentável. Infelizmente, as vistas curtas nacionais estão a encaminhar tudo para uma solução bipartida, em que Benfica e Porto dividem o bolo entre si. Já nem se trata de desprezar os clubes médios, mas de reforçar ainda mais o afunilamento da competição. Só que um campeonato a dois não é um campeonato. São dois jogos por ano em que perdem todos.

Daniel Oliveira, in jornal Record

Bernardo, Cavaleiro e Cia


All Goals and Full Highlights | Portugal 5-0... by mszabi

As doces lágrimas de Telma Monteiro

A menina loura e de ar um pouco azougado subiu ao lugar mais alto do pódio, em Baku, viu a bandeira, ouviu os primeiros acordes da Portuguesa e deixou cair as lágrimas. Primeiro, com a coragem de as mostrar, depois eram demasiadas e sentiu pudor perante o mundo. Muita gente terá ficado admirada porque, afinal, se tratava de uma lutadora impiedosa, uma especialista no derrube dos outros, uma exterminadora implacável que, momentos antes, se mostrara felina e indomável na sua ânsia de vencer sobre a outra, uma húngara um tanto assustada e desamparada na sua derrota.
As lágrimas de Telma pareciam, mais, estranhas e quase inexplicáveis. Mas, a menina desceu do pódio com as suas medalhas de conquistadora suprema ao pescoço e explicou que tinha de desabafar depois de toda a pressão de dias e dias de trabalho, de sacrifício, de solidão, enfim, compensada.
Talvez os portugueses, pouco dados a entender a realidade desportiva além e aquém futebol, não tivessem ainda dado conta de que Portugal tem milhares de jovens, como a Telma, a treinarem-se diariamente na solidão dos seus sonhos, longe da ribalta das televisões, dos microfones das rádios, dos gravadores dos jornalistas.
Os melhores, os que da lei da vulgaridade se libertam e chegam, por méritos próprios, às grandes competições internacionais descobrem, com espanto, um outro universo. Entram, muitas vezes sem estarem preparados para isso, num mundo de fantasia que parece importar-se verdadeiramente com eles, que lhes seguem os passos, que querem saber de suas vidas, seus amores, suas vontades. Tratam os grandes sucessos como feitos nacionais, elegem rainhas e reis adorados pelo povo, mas lidam com as derrotas sem contemplações, com a espada apontada à humilhação dos falhados desta civilização estúpida e cruel.
É por isso que só aqueles que lá andam, que trabalham horas e horas a fio na ânsia da superação do corpo e da alma, no sonho do sucesso nessa área amada e odiada que é o desporto, melhor compreendem as doces lágrimas de Telma.
O grande António Gedeão saberia explicar que não se tratava, apenas, de água e cloreto de sódio: mas de uma substância humana, muito mais complexa, que mistura uma razoável quantidade de alma com outra parte significativa de suor do corpo.
A questão à qual a filosofia, a matemática, a medicina, a antropologia ainda não souberam responder é porquê? Por que razão um homem ou uma mulher gasta os melhores anos da sua juventude numa luta constante com o seu corpo, com a sua alma, perseguindo um sonho que ao comum dos mortais parece apenas a utopia de se querer chegar ao pote de ouro na ponta de um arco íris.
Ninguém alguma vez respondeu a esse porquê. No fundo, ninguém respondeu à maioria das perguntas importantes da existência e do comportamento humano.
Ninguém pode responder ao verdadeiro porquê das lágrimas de Telma. Apenas se pode dizer que emocionaram Portugal, que nos lembrou, a nós, portugueses, que não temos de saber responder a todas as perguntas para sermos felizes e para mostrarmos que vale a pena fazer bem o que nos decidimos a fazer.
Nos Jogos Olímpicos de Londres eu vi a Telma perder o seu maior sonho, logo no primeiro combate. Lembro-me bem que não chorou e recordo, em elogio, a sua dignidade. Ela sabia, como sabem os grandes campeões, que há derrotas que são necessárias para se chegar às vitórias. Espero que, no Rio, a Telma volte a chorar. Ela merece. Mesmo que Portugal não saiba merecer os seus campeões.

Vítor Serpa, in jornal A Bola

Ética, 'fair play' Bruno e... Jesus

Bruno de Carvalho contratou Jorge Jesus apesar de saber que Marco Silva é o treinador Sporting, clube que, neste momento, tem dois treinadores, um que vai entrar e outro que não saiu, dando-se o caso, como ontem explicou o presidente da Associação Nacional da classe, em declarações à Renascença, que, por imperativo regulamentar, enquanto Marco não sair, Jesus não pode entrar... pelo menos como treinador principal.
Ao assumir o compromisso com Jesus, o presidente leonino sabia que tinha este nó por desatar e tem-no tentado à sua maneira: primeiro, esgrimiu o expediente de despedimento por justa causa, devido a uma troca de fatos; depois, provavelmente pouco entusiasmado com a argumentação jurídica, avançou para o mútuo acordo, sugerindo um pagamento em dinheiro que a outra parte até aceitaria desde que ficasse com o caminho livre para prosseguir a construção da sua carreira. Negativo, porém, dado o presidente leonino propor-se liquidar apenas o correspondente a um terço do resto do contrato e reclamar o direito de controlo sobre a vida de quem quer despedir, tendo José Pereira, rosto da ANTF, utilizado engraçada expressão metafórica para traduzir inusitado comportamento, que, objetivamente, não tem graça nenhuma...
Ao assumir o compromisso com Bruno de Carvalho, Jorge Jesus sabia que Marco Silva era o treinador do Sporting e que ao aceitar substituí-lo estava a patrocinar uma relação nada saudável entre mestres do mesmo ofício. Sabia também que o assumiu sendo treinador do Benfica, que é quem lhe paga até 30 de junho, apesar de estar já a trabalhar no Sporting, de aí só poder ser apresentado em julho para tornear o «pressuposto legal».
Jorge Jesus disse em tempos que o 'fair play' é uma treta. Sobre a ética não consta que tivesse dito alguma coisa, nem ele nem Bruno de Carvalho. Nem é preciso...

Fernando Guerra, in jornal A Bola