"O Benfica afina os motores para o começo da temporada. Uns partiram, outros ficaram, outros acabam de chegar. É sempre assim, mesmo quando se ganha, já que hoje a mobilidade e a volatilidade do mercado futebolístico faz com que não haja certezas quanto ao futuro de cada jogador na sua equipa, sobretudo se teve êxito, se conseguiu impor-se em termos internacionais e se tem vontade de tentar a sorte noutras paragens. O coração pode morar até ao fim num clube, mas a ambição e o desejo de triunfo fazem com que a razão e a conveniência falem muito mais alto que os afectos.
Por muito que nos custe, no Benfica como noutros clubes, é esta a regra do jogo. Convém não esquecer, parafraseando o Prof. Adriano Moreira, sempre lúcido e certeiro, numa entrevista recente, que vivemos num tempo em que “o preço das coisas é o valor das coisas”. E não existe coração que fale ou bata mais alto que esta lógica implacável.
O Benfica prepara-se para começar e, acima de tudo, para transformar numa verdadeira equipa o colectivo que já é. Sabemos que são duas coisas diferentes e que, por vezes, é grande a distância que as separa. Mas, uma coisa é certa: aconteça o que acontecer, a equipa não pode ter um arranque, em competição a valer, com uma perda de pontos que, logo à partida, lhe comprometa o título. Para isso bastaram o sobressalto e a frustração da época anterior. É demasiado cedo para se vestir a camisola de tons escuros do pessimismo quando tudo está ainda a começar. Para tons sombrios, bastam os da crise nacional, europeia e mundial.
Uma das virtudes e méritos do futebol reside justamente na capacidade que tem de nos fazer acreditar na vitória quando tudo em volta parece querer derrotar-nos. Como sempre, o Benfica tem o destino nas suas próprias mãos e não pode alienar ou delegar essa responsabilidade, por muitas e boas razões. Haverá compromisso maior com o presente e com o futuro?"
José Jorge Letria, in O Benfica