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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Uma grande dose de alívio

"«A Bola» assinalou condignamente a efeméride do acontecimento que marcou, de forma incontornável, o futebol português. Cumpriram-se 50 anos sobre a chegada de Eusébio a Lisboa e ao Benfica. Sendo um facto que o Benfica, no ano anterior, sem Eusébio, já tinha sido conquistado a sua primeira Taça dos Campeões, não deixa de ser verdade que, com Eusébio nas fileiras, o Benfica se transformou num emblema mítico nacional e internacionalmente.
Os sportinguistas lamentam há 50 anos o desvio para a Luz do jovem moçambicano, promessa do Sporting de Lourenço Marques, e especulam sobre o que teria acontecido no futebol português se Eusébio em vez de ter assinado pelo Benfica tivesse assinado pelo Sporting.
É uma especulação que se justifica plenamente. Para os sportinguistas com certa mágoa, para os benfiquistas com uma grande dose de alívio.
Mas é hoje que vivemos. No presente. E no presente, tendo em conta a realidade em que se vive, é caso para que as gerações mais novas possam considerar, com toda a legitimidade, que se Eusébio tivesse vindo para Lisboa para ser jogador do Sporting não demoraria mais de seis meses a ser transferido para o FC Porto, ou cedido, ou trocado ou mesmo na condição de «maça podre» ou de qualquer fruto de sabor mais tropical e Índico.
Mas eram outros tempos, não duvidem.
Em 2010, Domingos Paciência veio com o seu Sporting de Braga à Luz por três vezes e por três vezes perdeu. Aconteceu a 27 de Março para o campeonato de 2009/2010, a 3 de Outubro para o campeonato corrente e no domingo passado para a Taça de Portugal.
Domingos que ao longo da sua interessante carreira como treinador já lhe ocorreu perder por diversas vezes com o FC Porto e nunca soltou um «ai» e que até conseguiu cometer a proeza ética de «estar a olhar para o chão» quando Ricardo Quaresma foi expulso num inesquecível Leiria-FC Porto, pois o mesmo Domingos sempre que perde com o Benfica choraminga a valer.
Foi o que aconteceu no domingo passado. O Sporting de Braga que, tal como o Benfica, está longe dos fulgores da época passada, só por uma vez causou perigo na casa dos campeões obrigando Júlio César a uma defesa impossível. Mas Domingos entende que foi eliminado porque jogou contra 11 quando devia ter jogado contra 10 já que, na sua opinião, David Luiz devia ter sido expulso, porque «meteu a mão» na cara de Alan.
É um caso discutível, sem dúvida. Menos discutíveis, no entanto, terão sido as entradas de Sílvio sobre Gaitan e de Paulão sobre Saviola.
Só que Carlos Xistra, esse grande benfiquista, devia estar com os olhos no chão.
Manuel Fernandes, quando foi jogador do Sporting e quando deixou de ser, nunca se preocupou em iludir o seu sportinguismo de génese em nome dos compromissos profissionais. E agora que é treinador já com uma carreira provecta continua igual a si próprio, genuíno.
Era de esperar que antes do jogo com o Sporting, para a Taça de Portugal, os jornalistas mostrassem curiosidade em saber das palpitações do coração-de-leão do técnico. A todos respondeu, antes e depois do jogo, sem escusar. Antes do jogo reafirmou - como se fosse preciso... - a sua afeição pelo clube adversário e o desejo de o vencer no Bonfim. Depois do jogo, com a mesma pacatez, disse tudo numa frase curta: «Adorei ganhar ao meu Sporting.»
O futebol, no entanto, provoca entre os adeptos estados de espírito que vão contra a lógica das ciências exactas.
Assim, se houvesse um sportingómetro para medir a intensidade da paixão pelo clube, é caso para se dizer que, neste fim-de-semana, os sportinguistas descoroçoados pela eliminação da Taça de Portugal deram mais valor e mostraram mais considerações pelo espírito leonino do seu ex-capitão e actual treinador do Vitória de Setúbal, que foi o seu carrasco, do que ao fervor também leonino de Maniche que representa presentemente o clube e esteve em acção (pouca) na noite de sábado no Bonfim.
É também normal que, quando as coisas não correm bem, os adeptos tendam a eleger um jogador para embirrar. Torna-se, sem dúvida, menos cansativo do que embirrar com todos os jogadores. No Benfica, por exemplo, os adeptos tê,-se entretido esta época a embirrar declaradamente com César Peixoto, vá lá saber-se porquê...
Em Alvalade, onde o sportinguismo de Maniche foi saudado com ênfase de uma nova e radiante aurora, o tal sportingómetro acusa agora, depois de uma série de infortúnios bem mais colectivos do que individuais, uns índices bem baixos para quem foi recebido como um portento de leão. E com valor acrescentado visto que Maniche era suposto transmitir ao restante plantel tudo o que aprendeu na escola do FC Porto que é a escola que mais e melhor impressiona a gerência da dupla Bettencourt-Costinha.
Maniche, cujo profissionalismo nem se discute, tal como o profissionalismo de Manuel Fernandes, já deve andar desconfiado desta situação. Ainda anteontem, numa entrevista ao Record, lamentava que o Sporting tenha que viver «todos os dias» sob as «críticas de falsos sportinguistas», entre os quais não se inclui por muito que os insatisfeitos de Alvalade lá o queiram incluir.
Na noite de sábado passado, vendo o Vitória de Setúbal-Sporting por entre uma assistência plural em termos de afectos clubistas - digamos que éramos 5 adeptos do Vitória e 2 do Sporting, todos sentados em frente ao televisor -, interroguei-me em voz alta, já no final do jogo, porque estranha razão Manuel Fernandes, sendo um competente treinador sportinguista, nunca tinha treinado o Sporting...
Mandaram-me imediatamente calar os sportinguistas que nos faziam companhia. E com razão chamaram-me de ignorante. Recordaram-me, então, que Manuel Fernandes já tinha sido treinador do Sporting por alguns meses no início do século XXI. Pois, francamente, não me lembrava... e agradeci muito o esclarecimento.
É bom ter amigos de todos os clubes que, com o que sabem das suas culturas próprias, impedem as nossas imbecilidades de sair do círculo estritamente familiar e pessoal.
É esta a moral da história.
PS: Por exemplo, anteontem, nas páginas deste jornal, ficou provado que já o Miguel Sousa Tavares não teve a mesma sorte. Isto é, a sorte de ter quem o corrija em privado e que, consequentemente, o impeça de proferir inocentes intrujices em público. Escreveu o nosso literato a propósito de... basquetebol, um tema tão bom como outro qualquer: «Jorge Araújo, treinador que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao FC Porto(...)»
Ora, ao contrário do Manuel Fernandes que já foi treinador do Sporting, o professor Jorge Araújo nunca na vida foi treinador do basquetebol do Benfica. Nem do andebol. Nem de xinquilho."

Leonor Pinhão, in A Bola

50 anos do Pantera Negra, com a Águia ao peito


"Foi inaugurada esta sexta-feira a exposição que comemora os 50 anos da chegada de Eusébio da Silva Ferreira a Lisboa. Na sua intervenção, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, destacou o papel desempenhado pela glória “encarnada” no Clube.

“Permitam-me que comece esta intervenção por dizer de forma simples mas sentida que o futebol deve agradecer a Eusébio tudo o que ele fez por ele.

Esta exposição não serve apenas para assinalar uma data, por mais simbólica que ela seja, mas antes para através dela manifestarmos um sentimento de gratidão que nunca se apagará em relação a um dos maiores e intérpretes do futebol de todos os tempos.

O Sport Lisboa e Benfica sempre foi um clube com memória, um Clube que valoriza os seus, que reconhece aqueles que contribuíram para construir e engrandecer a nossa história. E a vossa presença aqui hoje é o melhor testemunho do que acabo de dizer.

Estamos aqui para celebrar Eusébio da Silva Ferreira, porque mais do que uma data, o que verdadeiramente celebramos é o talento, o exemplo e o carácter de um homem que marcou o futebol português na segunda metade do século XX. E tendo marcado o futebol português, tornou-se, reconhecidamente, numa referência do futebol mundial.

A ele o Benfica deve-lhe a inspiração, o talento e a capacidade de sofrimento que sempre pôs em campo, mas mais do que do Benfica, Eusébio é uma referência do país, e o Benfica nunca tornou Eusébio refém do nosso Clube, porque o Benfica sabe que as suas referências se transformam em referências de Portugal.

A carreira de Eusébio é património de todos aqueles que amam o futebol. O Benfica foi o seu porto de abrigo e o Clube que o soube projectar a nível mundial, mas o Benfica teve em Eusébio um profissional incansável, alguém que sempre fez do Benfica muito mais do que o seu Clube, mas antes a sua casa e a sua família.

Devo dizer que é me indiferente que Eusébio tenha chegado a Lisboa a 15 ou a 17 de Dezembro de 1960 – um detalhe insignificante - o que verdadeiramente importa é que ele chegou, e com a vinda escreveu uma página brilhante da história do Benfica e do futebol português.

Quando falamos com ele, ontem como hoje, reconhecemos a sua abertura de espírito, a memória privilegiada, o talento também para contar histórias, a ironia e a ciência dos seus comentários, mas sempre o grande prazer e orgulho que teve em vestir esta camisola.

Neste dia de tão grande significado, na presença dos seus familiares, de antigos companheiros e de amigos, nesta casa que ele ajudou a construir quero, em nome do Sport Lisboa e Benfica, prestar-lhe uma sentida e pública homenagem e dizer-lhe o nosso muito obrigado pelo seu exemplo e por tudo o que nos deixou.

Esta exposição representa não apenas a nossa forma de o homenagear, mas também a nossa vontade de seguir o seu exemplo. Aqui poderemos visitar momentos e locais em que Eusébio deixou a sua marca, mas podemos visitar igualmente fragmentos da nossa história. E quando falo da nossa história, falo da história do Benfica e de Portugal.

O Sport Lisboa e Benfica tem uma dívida de gratidão enorme e a melhor maneira de a saldarmos é continuarmos a cumprir os seus sonhos e ambições.

Permitam-me que entregue a Eusébio uma pequena lembrança que evoca a data da sua chegada ao Sport Lisboa e Benfica e o nosso muito obrigado por continuar a partilhar a sua vida com todos nós!”"


4800

"Com a realização do encontro para a Taça de Portugal, no último domingo, a principal equipa de futebol do Clube atingiu a redonda cifra de 4800 jogos disputados. O “Glorioso” é o clube em Portugal com mais jogos realizados, pelo facto de ser totalista nas 77 edições do campeonato nacional (2121 jornadas), mas também aquele que em competições a eliminar soma mais eliminatórias ultrapassadas, por isso mais jogos (325 nas competições europeias e 470 no Campeonato/ Taça de Portugal). Isto para além de outras competições, já inexistentes, como o Campeonato Regional de Lisboa (406 jogos e único totalista das 41 edições da primeira competição oficial do futebol português). A ancestral, perene e contínua popularidade do “Glorioso” tem permitido a realização de inúmeros (989) jogos particulares e a solicitação para estar presente em inúmeros Torneios (249) ou disputa de Taças (87). Valores de excelência. Únicos em Portugal, invulgares na Europa e raros no Mundo.

NÚMERO DE JOGOS
Campeonato Nacional
2121 Jogos
Particulares
989
Camp. / Taça de Portugal
470
Camp. Regional Lisboa
406
Torneios/ Taças
336
Taça Campeões Europeus
185
Taça UEFA/ Liga Europa
98
Taça Honra de Lisboa
84
Taça Vencedores Taças
42
Supertaça
32
Torneios Regionais (AFL)
17
Taça Latina
7
Torneios Nacionais (FPF)
6
Taça Intercontinental
5
Taça Ibérica (FPF/RFEF)
2
Totais
4800

Estes 4800 jogos correspondem a 2996 vitórias (estamos a quatro da três mil!), mais 2047 vitórias que as 949 derrotas, e 855 empates, com 12 180 golos marcados, mais 6739 que os 5441 golos sofridos. São 62 por cento de vitórias, mais de dois golos por jogo (2,5) e, também, mais do dobro de golos marcados em relação aos sofridos (2,2 de “goal-average”). Urge conservar esta capacidade de obter bons resultados (tendo equipas competitivas) e salvaguardar (não deixando desvirtuá-lo) este património imaterial do “Glorioso”.

Valores de excelência. Valores do Benfica."

Alberto Miguéns, in O Benfica