"1. Assistimos a um triste e trágico episódio do futebol português. Mais um entre muitos que têm manchado de forma indelével a reputação do desporto rei ao longo dos anos. Num dia que era suposto ser de festa para os adeptos portistas, voltámos a testemunhar um espetáculo deplorável de violentas agressões entre pessoas do mesmo clube, ao que tudo indica pertencentes a “gangues” rivais de diferentes bairros da cidade do Porto.
2. A contenda entre os adeptos portistas, identificados como elementos da principal claque do FC Porto, escalou depois para os festejos nas proximidades do estádio do Dragão, resultando numa morte brutal, visível em imagens a que infelizmente a grande maioria dos portugueses teve acesso, pela partilha em grupos de WhatsApp.
3. O principal suspeito do homicídio é um jovem delinquente de 19 anos, filho de Marco “Orelhas”, identificado como sendo o n.º 2 da claque portista. O jovem entregou-se na Polícia Judiciária do Porto e foi presente no Tribunal de Instrução Criminal, tendo-lhe sido decretada a prisão preventiva. O pai apenas se apresentou na Polícia Judiciária uma semana depois. Provavelmente não quis perder o fim da festa nos Aliados.
4. Marco “Orelhas”, pai do alegado homicida, é o jogador do Canelas 2010 que foi condenado a dois anos de pena de prisão suspensa na sua execução por ter partido, com uma joelhada, o nariz do árbitro que o expulsou por ter agredido um adversário. A pena aplicada foi tão eficaz quanto a do carniceiro Pepe, que pôde jogar na seleção nacional estando suspenso no campeonato, bem como a do Fernando Madureira, líder dos Super Dragões, que, ao coberto da teia impenetrável da impunidade do Porto, vendeu bilhetes falsos da federação com o mesmo descaramento com que os VAR anularam ao Benfica 3 dos 4 golos marcados ao FC Porto esta época, todos por impercetíveis centímetros!
5. Conhecendo o modo de operar da guarda pretoriana do FC Porto, a sua principal claque, o mais provável é que, por estes dias, a arma que feriu fatalmente o adepto já tenha desaparecido e que o assassinato tenha, subitamente, passado a suicídio. O que, note-se, não seria inédito para aquelas bandas.
6. Para além da desavença que culminou no trágico homicídio, foi avistada outra cena de pancadaria na noite dos festejos, registada inclusive em vídeo amplamente divulgado nas redes sociais. A cena digna de Os Sopranos ocorreu em cima do contentor dos Super Dragões e as imagens mostram dois jovens a espancar outro. Os agressores foram rapidamente identificados, um era o filho mais velho de Madureira, o outro o futuro cunhado deste, que, curiosamente ou não, é treinador das camadas jovens do FC Porto. Já do agredido desconhece-se a identidade. E percebe-se porquê: medo, receio de retaliação. Por isso, naturalmente, não apresentou queixa. Sabe perfeitamente que os agressores gozam de impunidade perante aqueles que deviam exercer a autoridade e proteger os cidadãos contra agressões ou ameaças de terceiros. Sabe ele, sabemos nós, sabem todos.
7. A polícia estava em força nas imediações do estádio do Dragão, as agressões aconteceram no topo de um contentor, visível à distância, por que motivo a PSP não interveio? A pergunta é retórica, todos sabemos a resposta.
8. As vítimas dessa fatídica noite não foram apenas os agredidos, um dos quais sucumbido ao cocktail fatal de pedradas na cabeça e facadas no tronco. As vítimas foram – e são – toda a comunidade que assiste, incrédula, a estes crimes sem castigo, e cria-se este sentimento generalizado de impunidade.
Será este mais um episódio de violência dos Super Dragões que passará à margem da justiça? As autoridades vão mesmo voltar a fechar os olhos e permitir um Estado dentro do Estado?
9. Se nada for feito, a violência na cidade do Porto vai continuar a persistir. Enquanto não existir quem tenha a capacidade de fazer frente a estas hordas do crime organizado nunca teremos a tão aguardada e desejada evolução. O Estado não pode continuar a ignorar o crescente problema. O Ministério da Administração Interna tem, o mais rapidamente possível, de assumir a responsabilidade e arranjar soluções.
10. A realidade dos Super Dragões é sobejamente conhecida. A influência que exercem no clube e na cidade é um produto do sistema. Criaram e sustentaram um Estado dentro do Estado onde tudo lhes é permitido, com a conivência das autoridades locais e magistratura. Um autêntico parque recreativo para quem faz da corrupção, das ameaças e das jogadas de bastidores ilícitas o seu dia a dia. Representam a antítese de tudo o que é salutar.
Uma claque encabeçada por um sujeito que declara o salário mínimo e tem um vasto e diversificado património; que tem um livro publicado onde conta um sem-número de crimes com a mesma impunidade que lhe permite invadir o centro de treinos de árbitros, ameaçando-os e às suas famílias, e vandalizar reiterada e desavergonhadamente, com a sua trupe, o talho do Manuel Mota; é o mesmo individuo que é convidado a participar em programas de televisão para falar de fair-play, como se as suas práticas fossem disso um exemplo, e que dá palestras sobre “sobre valores no futebol” no Auditório Parque Biológico de Gaia. O invejável currículo valeu-lhe o convite de Fernando Gomes para liderar a claque não oficial da seleção nacional, os Ultras de Portugal, que é a junção dos beneméritos Super Dragões com os impolutos da Juventude Leonina, liderada pelo digníssimo Mustafá - que, certamente por mero azar, foi condenado a pena de prisão efetiva por ter andado a assaltar residências com o ex-vice-presidente do Sporting, Paulo Cristóvão. Há, todavia, quem garanta que estava sem o equipamento vestido, logo, em exorbitância de funções. Menos mal.
11. Agora, caro leitor, pense que este grupo de criminosos tolerado pelo Estado, promovido pela Federação e financiado pelo FC Porto, sabe onde os árbitros vivem e exercem a sua atividade laboral extrafutebol. É quase impossível um árbitro ser isento num jogo dessa Camorra."