"Rolando, com a ironia do costume, disse que «no ano passado foi extremamente difícil» bater o Benfica. Palavras de falso respeito
FERNANDO GOMES vai ser naturalmente eleito presidente da Federação Portuguesa de Futebol, cargo que passará a acumular com o de presidente da Liga de Clubes.
Boa sorte aos dois!
Está, por outro lado, resolvida aquela velha questão serôdia que vinha atormentando as consciências dos adeptos e dos desportistas: Quem é que fica com os árbitros, a Liga ou a FPF? A FPF ou a Liga?
Ficam as duas!
Entretanto, o FC Porto, que já teve um Fernando Gomes e bibota, tem agora um Fernando Gomes e bipresidente.
Um abraço aos quatro.
A conversa nos jornais na semana que antecedeu a última jornada da Liga teve um teor diferente do habitual. Mais do que bélica nas palavras, a semana foi antes de cariz alimentar e na vertente das refeições ligeiras.
Por exemplo, nas vésperas de receber o Sporting de Braga, o seu rival histórico, os dirigentes do Vitória de Guimarães fizeram saber através da comunicação social que António Salvador e demais companhia não iriam ter «direito a lanche».
Já na véspera do jogo em Aveiro com o Feirense, o treinador do FC Porto despediu-se dos jogadores com um simbólico «vemo-nos ao pequeno-almoço», visto que perante a pouca consistência do adversário os jogadores foram dispensados do habitual estágio que precede os jogos entre profissionais.
Lanches e pequenos-almoços, pequenos-almoços e lanches, mas onde é que isto vai parar?
NA semana passada, Luís Duque disse que o valor de Elias, o médio brasileiro, é muito superior aos 8,850 milhões de euros que o Sporting pagou ao Atlético de Madrid pelo seu concurso.
Esta semana o Sporting comunicou à CMVM que vendeu por 3,850 milhões de euros cinquenta por cento do passe de Elias à sociedade Quality Football Ireland.
Portanto isto quer dizer que o Sporting ainda fez um negócio muito melhor do que aquele sugerido por Luís Duque visto que, afinal, só comprou Elias ao Atlético de Madrid por 7,700 milhões de euros.
Na próxima semana, quando os dirigentes do Atlético de Madrid perceberem como venderam ao engano Elias ao Sporting vão ficar danados.
ÀS vezes custa entender como é que as pessoas experimentadas e sábias, pessoas para quem o futebol não tem segredos, se arriscam a falar antes do tempo sem se pôr a coberto de virem a ser objecto de chacota dos adversários sempre impiedosos quando se deparam com oportunidades para tal.
Refiro-me a profissionais do ofício, está claro, que têm a obrigação de não se porem a jeito para anedotas.
Eduardo Barroso, por exemplo, está desculpado e deve ser poupado porque não é um profissional da bola. É um cirurgião de top, internacionalmente respeitado.
E quando disse em Zurique, antes do jogo do seu clube para a Liga Europa, que estava tranquilo porque nenhum árbitro estrangeiro se iria lembrar de marcar livre indirecto contra o Sporting caso Rui Patrício agarrasse a bola com as mãos, Eduardo Barroso limitou-se a manifestar a sua fé nas razões que lhe assistem e não tem culpa nenhuma que Rui Patrício resolvesse desmenti-lo tão flagrantemente logo a seguir.
Mas José Mourinho é um profissional, é um treinador respeitado. E não deixa de ser incrível como é que o treinador do Real Madrid, de tão feliz que ficou com os empates do Barcelona frente à Real Sociedad e ao AC Milan, resolveu dar por garantida a vitória no terreno do Levante, afirmando na conferência de imprensa que antecedeu o jogo que «o objectivo do Real é manter-se na Primeira Divisão» e que isso só se consegue depois de ter «mais de 40 pontos».
Quis Mourinho gracejar com o potencial do Barcelona, que muitos consideram superior ao do Real, enveredando por uma piada de falsa humildade, de quem tem a certeza absoluta de que os acontecimentos não o vão amachucar dali a pouco.
E foi precisamente o que aconteceu. O Real Madrid perdeu o seu jogo com o Levante e, pior ainda, o Barcelona despachou com uma goleada de 8-0 a sua vítima seguinte na Liga espanhola. E por toda esta semana, em Espanha, Mourinho está a ter de suportar as contras-piadas sobre os 3 pontos perdidos no Levante e que tornam mais distantes os 40 pontos almejados para garantir a tal prioridade da manutenção.
Fraca graça, sem dúvida. E fraca graça também porque humilha os mais fracos, os adversários que lutam pela sobrevivência na Liga espanhola e com quem o Real Madrid vai ter de jogar ao longo da temporada.
Mais lhe valia, a José Mourinho mestre indisputado dos mind games, ter-se precavido contra um deslize na casa do Levante - e deslizes são coisas que acontecem a todos, mesmo aos maiores - e optado por não picar o Barça à custa de terceiros que, felizmente, têm sempre uma palavra a dizer.
Transpondo tudo isto para o futebol português em semana que antecede mais um clássico eléctrico entre o FC Porto e o Benfica, é caso para festejarmos o bom senso, a parcimónia, a fleuma com que os treinadores dos dois clubes têm projectado o jogo.
Jorge Jesus, muito distante daquele discurso ultra optimista da época passada que tão maus resultados deu, tem sido um diplomata de alto coturno a antever o jogo. As suas palavras são de respeito pelo adversário, sem bazófias tolas.
Vítor Pereira, por seu lado, deu um festival de civilização no final do jogo com o Feirense... quando muitos queriam ouvir protestar contra a expulsão de James, como se fizesse parte de uma conspiração pré-estabelecida para afastar o jovem talento colombiano do jogo, Vítor Pereira limitou-se a proferir sábias palavras como estas: «O resultado premeia um Feirense abnegado e penaliza um FC Porto que não esteve ao seu nível.»
Está visto que pela parte dos dois treinadores em contenda na próxima sexta-feira não há a menor vontade de transformar o ambiente do clássico numa caldeira a ferver.
Já Rolando, defesa central do FC Porto, enveredou por um discurso mais à Mourinho, no sentido em que ironizou sobre as fraquezas do adversário na última visita ao Dragão para o campeonato, dando-lhe méritos que, obviamente, não evidenciou.
Rolando, com a ironia do costume, disse no princípio da semana que «no ano passado foi extremamente difícil» bater o Benfica quando, na verdade, o resultado foi um concludente 5-0 a favor do FC Porto que não teve a menor dificuldade em construir uma goleada histórica e profundamente humilhante para os visitantes de Lisboa.
Na sexta-feira, lá pelas onze da noite, se saberá se Rolando faz bem ou se faz mal ao humilhar o adversário com palavras de falso respeito. Porque no futebol dos discursos trauliteiros, quem tem razão é sempre quem ganha. É triste mais é assim mesmo.
Por isso fazem bem Jorge Jesus e Vítor Pereira em desalinhar destas graçolas.
O grande futebol dispensa os palhacinhos da ocasião.
COM Fernando Gomes na presidência da Federação Portuguesa de Futebol, será que a sede desta instituição se vai mudar também para a cidade do Porto? Ou será que vem a sede da Liga para Lisboa? A ver vamos..."
Leonor Pinhão, in A Bola