"Jorge Jesus, Abel Ferreira e Artur Jorge são muito mais que três sobreviventes no cemitério de treinadores que é o Brasil. São três vencedores da Libertadores. Mas cada um com marca única...
Há um denominador comum: são portugueses. Talvez encontremos ainda outro: têm espírito de conquista, de aventura e de vitória. Dito isto, são bem diferentes, mas igualmente credores de loas e de homenagens, porque triunfaram num dos cenários futebolísticos mais complicados do planeta, para um treinador de futebol: o Brasil. o ao pé da boca, o Brasil, estando longo do estigma de “cemitério de treinadores”, e, porém, um desafio constante aos técnicos, cujas folhas de serviços, passados alguns anos, têm de ver linhas aumentadas, tantas e, por vezes, tão breves são as estadias em cada clubes, em cada projeto.
Se há algo que, pela positiva, deve distinguir um dirigente ligado ao futebol de alto rendimento, é o absoluto respeito pelo fator tempo. O quinhentista espanhol Pedro Calderon de la Barca já o escrevia: «O tempo é aquele que, embora mudamente surdo, sem dizer nada… diz tudo!». E o tempo, sendo porventura o fator mais determinante para o sucesso de um projeto técnico no comando de uma equipa de futebol, é talvez o menos respeitado e observado pelos dirigentes de topo.
Avancemos para os treinadores portugueses de verdadeiro sucesso em terra de Vera Cruz: no Flamengo, Jorge Jesus. Uma velha raposa do treino, com sucesso em Portugal, acarinhado por milhares e odiado por outros tantos, por via das vitórias, claro, mas também por uma postura muito sui generis, privilegiando o diálogo mais básico e, talvez, mais direto e eficaz com os seus grupos de trabalho, e uma concepção de futebol muito prático, direto, organicamente voltado para o objetivo final: ganhar.
Pois foi assim que Jesus se tornou Rei num dos mais difíceis cenários brasileiros, o do Flamengo, gigante nacional e de galões no estrangeiro. Ganhou tudo o que havia para ganhar, incluindo o épico triunfo na Libertadores, em Lima, com direito a algo que Jesus sempre soube cultivar muito e bem: o soundbite. Depois dele, seria difícil (talvez impossível…), alguém português levar de novo o nome do país às páginas de história da mais importante competição continental sul-americana para clubes.
Entenda-se o desabafo de Jesus como geracional. Porque dois outros nomes deram sequência ao fantástico legado deixado pelo antigo técnico de Benfica e Sporting no Mengão. Abel Ferreira havia chegado há pouco e começava uma maravilhosa história no Palmeiras, bem distinto, na sua génese e agregação ao clube, de Artur Jorge, que entretanto, qual meteoro, chegava, via e vencia no Botafogo.
Aliás, o homem de Braga que aterrou no Rio de Janeiro e depressa conquistou o Fogão foi o quem mais próximo esteve da emergência de vitoria dos clubes brasileiros e da vulcânica mas quase episódica carreira num emblema do país. A sua saída, aliás, nunca foi bem digerida por responsáveis e adeptos do Botafogo. A bem dizer, com razão: mal explicada, mal despedida, mal resolvida, a coberto dos milhões de petrodólares que, certamente enriquecendo a conta bancária ao ponto de não necessitar, sequer, de treinar mais um dia que fosse, mancharam incontornavelmente a imagem de absoluto sucesso que Artur Jorge havia construído, um ápice, no Rio de Janeiro.
Resta Abel. Mais um Ferreira, dos muitos milhares que, com o mesmo apelido, e ao longo de séculos, atravessaram o Atlântico para se agregarem a novos costumes, a outro ritmo de vida e a uma concepção muito própria de emigração. Emigrante de luxo, Abel, que havia tentado episodicamente o PAOK, enfrentava de peito feito o desafio de fazer regressar o Verdão aos caminhos do sucesso interno. Mas a verdadeira ambição pairava no ar e radicava na realização dos sonhos continentais, com a (re)conquista da Copa Libertadores.
O que o duriense foi conseguindo, ao longo de cinco anos de consulado técnico na Sociedade Esportiva Palmeiras, é notável e quase inigualável, ao ponto de, pela generalidade da crítica brasileira, ser já considerado o melhor treinador da história do clube. Aos 46 anos, tem elementos, na sua personalidade, que não são apenas distintivos. São altamente reconhecidos e valorizados.
A humildade, essa ideia tão abstrata quanto comprovável por reações simples e transversais, seja pela paciência enorme com a acirrada media brasileira, seja pelo contacto direto, aberto, frontal e sincero com os adeptos que o aguardam à saída do Centro Capitão Adalberto Mendes, a Academia do clube. O foco, sempre presente na comunicação interna e externa, no modo muito particular de defender o grupo mas, também, de o confrontar perante as derrotas e as dificuldades de cada momento, na certeza de que, com a clareza do processo comunicativo, seriam ganhos trunfos essenciais para o prosseguimento do projeto.
A crença, que, no caso prático de Abel, nada tem de estranho ou sobrenatural, antes radica no processo, na sua orientação, na estratégia e nos meios, sabendo muito bem que, desta maneira e em absoluto respeito pelos seus métodos, estaria (e estará!) cada vez mais próximo de continuar a atingir patamares competitivos de excelência e, consequentemente, de sucesso.
Tão diferentes no método, na digestão das vitórias e na relação com o sucesso.
Tão iguais na vontade e na capacidade de mostrar que, afinal, os treinadores portugueses no Brasil podem, sobretudo, calar a boca a muitos e abri-la de espanto a tantos outros…
Cartão amarelo
Tem apenas 17 anos e, em si, todos os sonhos do mundo. Madalena Costa, madeirense e patinadora de excelência, sagrou-se campeã do Mundo. Mas não de juniores. É campeã do Mundo de seniores, mostrando destreza, fidelidade à sua paixão de sempre e qualidades de topo, fazendo dela um exemplo de dedicação à modalidade. Se o Hóquei em Patins, durante muitos anos, foi a vertente maior da patinagem, Portugal tem agora um extraordinário motivo de orgulho nesta estudante da Madeira. Ela, sim, campeã do Mundo.
Cartão Vermelho
É verdade que o rapaz não tem culpa de ser filho de quem é. E até pode vir a ser um bom jogador de futebol. Mas o desnecessário interesse mediático em torno de Cristiano Júnior já aborrece. Foi convocado para os sub-15, e parece que não havia mais ninguém nessa seleção a jogar e a marcar golos. Agora, com os sub-16, a mesmo coisa. É mau para as Seleções Nacionais, e muito mau para um jovem que, a vir a ser um bom futebolista, terá de o justificar por si, e com o tempo que, agora, muitos teimam em não lhe conceder."