"É de temer que o futuro de Capela seja suceder a Proença como melhor árbitro de Portugal, da Europa e do mundo num curto espaço de tempo.
JÁ não bastava o Capela. Agora também o Jô Soares é do Benfica. Para quem não conhece Jô Soares informo que se trata de um artista brasileiro (que já não é propriamente um rapaz novo), um homem do espectáculo, enorme comunicador e finíssimo humorista, apresentador do Programa do Jô na TV Globo lá do outro lado do Atlântico.
Jô Soares é um figura a tal ponto popularíssima no Brasil que o seu programa leva o seu nome porque assim mesmo, curto e directo, basta como selo de garantia.
Lamentavelmente, e não se sabe porque estrondosos motivos, desde o Verão passado, que o Programa do Jô se vem transformando no Programa da Águia Vitória.
E até parece que lá longe, sem ter nada a ver com o assunto, há um Jô todo ele vermelhão, tal e qual como o Vítor Pereira cá dos árbitros, que também faz o seu trabalhinho para levar o Benfica ao colo sabe-se lá até onde.
E isto não é especular.
Em Julho o Jô convidou o Deco para ir ao Programa da Águia Vitória. Para quê, caramba?
Para que Deco, já reformado e salvaguardado pela imensidão de um oceano inteiro, debitasse uma versão final do incidente da bota atirada ao árbitro Paulo Paraty, versão essa que, bem analisada, é um bocadinho contrária à versão que acabaria por vingar perante a justiça e perante a opinião pública do insólito e já distante acontecimento do ano de 2003.
Como se já não bastassem o Deco em Julho e o Capela no domingo, ma segunda-feira passada, menos de 24 horas passadas sobre o derby e provavelmente ainda empolgado com o goleco do Lima, o mesmo Jô convidou Walter Casagrande, outro ex-jogador do FC Porto, para ser entrevistado no tal Programa da Águia Vitória na TV Globo. E para quê?
Para que Casagrande, reformadíssimo e também ele salvaguardado pela imensidão do oceano anteriormente referido, viesse debitar acusações contra um qualquer no name enfermeiro que lhe terá ministrado quatro injecções que o deixaram com uma «disposição acima do normal» para jogar à bola no ano (do século passado) em que o FC Porto foi pela primeira vez campeão europeu.
Bonito serviço, Jô Soares. Duas vezes, bonito serviço, não haja dúvida.
Bonito serviço de dar a palavra a um tipo como Casagrande que não é de confiar. Os seus antigos problemas com drogas das chamadas sociais são sobejamente conhecidos no Brasil e que credibilidade pode ter um tipo que por andar nessa vida até escreveu um livro sobre isso?
Quanto ao Jô, o do Programa da Águia Vitória, é com certeza outro carocho. Lançando o tema das drogas, o entrevistador brasuca começa logo a conversa com Casagrande de modo, cá para mim, bastante suspeito.
«Maconha para jogar... imagina o tempo que leva um lançamento», diz o Jô todo sorridente.
Ai é? Ai «imagina»? Como é que ele sabe desse propalado fenómeno da distorção do tempo que pode ser provocado, dizem os cientistas de ponta, pelo uso da maconha?
É porque o já experimentou, com certeza. E, se calhar, até experimentou mais do que uma vez. Concluindo-se que o Jô também não tem credibilidade alguma.
É isto o Terceiro Mundo.
NINGUÉM de bom senso pode admitir ou acreditar que Vítor Pereira tenha mandado no domingo para a Luz o fiscal de linha Ricardo Santos para compensar a sua espectacular desatenção no lance do célebre golo do Maicon da época passada.
A lei da compensação tal como a lei do critério largo não constam dos regulamentos do jogo.
Também não é de crer que a nomeação do árbitro João Capela tenha sido para compensar a polémica expulsão de Cardozo no derby do ano passado na Luz, decisão tomada a meia hora do fim do jogo obrigando o Benfica a recuar para defender a magra vantagem de 1-0, o que foi conseguido com brilhantismo e espírito de sacrifício.
Estarão porventura recordados de que Óscar Cardozo foi expulso no Benfica-Sporting de 2011/2012 por ter protestado contra uma decisão de João Capela dando uma vigorosa palmada na relva. Acresce que estava sentado.
No Benfica-Sporting, este último, Cardozo foi (muito bem) substituído na segunda parte do jogo e assim que, extenuado, se sentou no banco dos suplentes aplicou uma grandíssima palmada no assento da cadeira vazia que tinha ao seu lado. Viu-se muito bem na televisão. Já o árbitro não viu porque estava atento ao que se passava dentro das quatro linhas. E nem tinha que ver. Desta vez não era nada com ele.
Adiante.
Pior ainda e totalmente inverosímil é que a nomeação de João Capela para o Benfica-Sporting tenha ocorrido para compensar, por portas travessas, o Futebol Clube de Arouca.
O Futebol Clube de Arouca? - dirão os senhores pasmados.
Esse mesmo, o Arouca que luta garbosamente pela subida à I Liga e que vai bem lançado. Dizem os arouquenses que poderiam ir melhor lançados nessa luta pela ascensão se no jogo em casa com o Sporting B o mesmo João Capela não tivesse assinalado duas grandes penalidades a favor dos visitantes, o que lhe permitiu virar o resultado tangencialmente desfavorável e vencer por 2-1 em Arouca.
O jogo acabou com os ânimos muito exaltados, com uma invasão de campo, com a fuga do árbitro Capela, com a polícia a fazer o seu trabalho (isto ainda foi no tempo em que o policiamento era obrigatório) e com o director desportivo da equipa da casa Joel Pinho, a ameaçar que o Futebol Clube de Arouca poderia deixar as competições profissionais «porque não vale a pena».
Felizmente, para o futebol, o Arouca reconsiderou esse propósito de abandono, deitou para trás das costas e percalço e prosseguiu na luta pelos seus objectivos que são altos e respeitáveis. E hoje está no lugar em que está com muito mérito. Quanto aos penalties de Arouca, bons ou maus, passaram à História como passam todas as coisas, nomeadamente os penalties.
Voltando ao derby e a Capela. O Benfica não é o Arouca.
Se houvesse intenção por parte de quem nomeia árbitros de compensar o Futebol Clube de Arouca pelo sucedido no jogo com o Sporting B, saber-se-ia certamente esperar com toda a tranquilidade pela próxima época para, já em 2013/2014, mandar João Capela ou para o Arouca-Sporting B, dando-se o caso de o Arouca não subir, ou para o Sporting A-Arouca, dando-lhe o caso inverso.
Mandá~lo para o Benfica A-Sporting A de 2012/2013 é que não faz sentido se a intenção era a de compensar por causa de um jogo de um escalão inferior a que o Benfica foi 100 por cento alheio.
Teremos, assim, nós benfiquistas, de agradecer ao Futebol Clube de Arouca, por portas travessas, os (no mínimo quatro penalties perdoados por Capela ao Benfica?
Dizem que sim.
E que futuro para João Capela? O presidente do FC Porto diz que vai ser grande e, atenção, trata-se de um especialista a falar. Do lado do Benfica só se ouvem elogios ao futuro de Capela, o que se compreende. Do lado do Sporting, teme-se que venha a acontecer aquilo de que já muito boa gente suspeita. Isto:
O futuro de João Capela, depois do jogo da Luz, é transformar-se no Pedro Proença do Sporting e, provavelmente, suceder-lhe como o melhor árbitro de Portugal, da Europa e do Mundo num curto espaço de tempo.
Tenho dito.
GILBERTO FREYRE, um sociólogo, antropólogo e historiador brasileiro, tão brasileiro quanto Jô Soares, publicou em 1933 um ensaio maravilhoso, que se devora como um bom romance, sobre a dominação colonial portuguesa. O livro chama-se Casa Grande & Senzala.
Esta semana, na pátria dos antigos colonizadores, tivemos Casa Grande e Capela em todos os escaparates.
Também poderia chamar-se, sempre dentro do ramo das mansões de luxo, Casa Grande, Capela e Piscina. Mas isso já era meter o Capel ao barulho."
Leonor Pinhão, in A Bola