"Depois de uma crise de resultados negativos, Roger Schmidt decidiu no último encontro fazer alterações no onze inicial do SL Benfica, colocando João Neves e Chiquinho a atuar no meio-campo, com Aursnes a exercer o papel de lateral direito e com Florentino a ser remetido para o banco de suplentes.
Posto isto, o meio-campo das águias passa agora uma fase de mudança e de dúvida em relação àqueles que lá devem atuar, após uma primeira fase da temporada em que as duas posições intermediárias eram praticamente intocáveis.
Olhando para o estilo de jogo de Roger Schmidt, de caráter muito atacante, pressionante, controlador e de posse, aquele que se encontra mais recuado no meio-campo exerce um papel fundamental para o bom funcionamento da equipa. Isto porque, o mesmo permite que exista um equilíbrio quase perfeito entre posições e a função de cada uma em jogo.
Neste caso, aquele que exerce essa função é Florentino, que desde o início da temporada tem sido um autêntico polvo no meio-campo dos encarnados, capaz de controlar o processo de contra-ataque e construção adversário com uma eficácia enorme. Tendo isso em conta, o facto de Florentino ser remetido para o banco é no mínimo estranho depois de 49 jogos de grande influência e consistência realizados pelo português esta temporada.
Ao seu lado, na primeira metade da época, jogou Enzo Fernández que acabou por ser transferido no mercado de inverno para o atual décimo primeiro classificado da principal liga inglesa. A verdade, é que os dois jogadores no meio-campo do Benfica formavam uma dupla maravilhosamente fantástica. Dinâmica, equilibrada e entusiasmante.
Enquanto Florentino focava-se maioritariamente no processo defensivo como um médio recuperador, Enzo exercia um papel crucial no processo de construção de jogo, de ligação e de rutura, tendo também uma grande chegada à área para marcar ou assistir. Características essas que acabaram por se perder com a sua saída, e que têm sido difíceis de recuperar pelos que ocuparam a mesma posição.
Aquele que seria a opção óbvia depois da saída do 13 dos encarnados, Aursnes, não foi o escolhido para atuar naquela posição, mas sim Chiquinho. Pela primeira vez na carreira Chiquinho recuou um pouco no terreno de jogo e foi adaptado à denominada posição “8”, enquanto o verdadeiro oito dos encarnados, Aursnes, jogava um pouco mais à frente como médio ala. Chiquinho dá ao jogo aquilo que muitos treinadores querem para um médio: tranquilidade com bola, manutenção da posse da mesma, apoio aos defesas, e principalmente, o facto de não comprometer.
Mas, quando se tem Florentino como médio mais recuado, pede-se àquele que atua ao seu lado um pouco mais de atrevimento, irreverência, perspicácia e essencialmente mais influência no processo de construção ofensivo, pois, de outra forma, a equipa não funciona da mesma maneira e não obtém o melhor rendimento. Ou seja, olhando para esses factos, talvez Chiquinho não seja a melhor opção para a posição.
E é aqui que entra o nome de Bah na equação. Com a lesão do dinamarquês do Benfica, que atua no lado direito da defesa encarnada, o treinador colocou Gilberto no seu lugar, a escolha a óbvia à partida. A questão é que com a perda de Bah, as águias perderam também toda a largura dada pelo lateral naquele lado do campo e o rendimento baixou a pique. Isto porque o bom funcionamento do jogo encarnado é muito dependente da largura e da profundidade dos laterais, algo que Gilberto não fornece, ao procurar maioritariamente espaços mais interiores.
Com isto, Roger Schmidt viu-se obrigado a colocar Fredrick Aursnes no seu lugar para exercer essas funções. Este facto por si só já é bastante interessante de se analisar por perceber a polivalência do norueguês e das características dele, mas esse processo torna-se ainda mais interessante quando conseguimos perceber que na atual temporada o número oito das águias só não jogou a ponta de lança, defesa central e guarda-redes. Algo estupendamente fora do comum e que demonstra a tremenda qualidade do mesmo.
A questão é que a movimentação de Aursnes para a lateral direita abriu espaço para João Neves no meio e o jovem formado nas águias correspondeu de forma muito positiva. Na sua primeira titularidade ao serviço da equipa principal, João, com apenas 18 anos, mostrou as qualidades necessárias para agarrar aquela posição e fazer esquecer as lacunas sentidas depois da saída de Enzo Fernandéz. Com uma grande presença no meio-campo, no processo de construção e principalmente nos movimentos de rutura para o ataque, o novo menino-bonito das águias tem tudo para continuar a ser opção no onze inicial dos encarnados.
Ou seja, com a recuperação de Bah e o seu iminente regresso ao onze o treinador alemão tem agora uma grande dor de cabeça para decidir quem colocar no meio-campo de forma a corresponder da melhor forma nesta fase final e crucial da época do Benfica.
De Florentino e Aursnes, a João Neves e Chiquinho passando por João Neves e Florentino são inúmeras as hipóteses para a dupla no meio-campo, sabendo já a qualidade que cada um entrega, resta ao treinador decidir a melhor opção."