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terça-feira, 9 de julho de 2013

Vendaval vermelho em Badajoz

"O Benfica venceu por duas vezes o Troféu Ibérico, que começou a disputar-se em 1967. Uma dessas vezes ficou para a história dos «veraniegos» espanhóis.

BADAJOZ é perto. Só por isso já se justifica que o Troféu Ibérico, organizado pelo Club Deportivo Badajoz, tenha tido sempre grande afluência de clubes portugueses. À beira do Guadiana, este «veraniego» disputou-se pela primeira vez em 1967, tendo tido a sua última edição em 2005, no ano da comemoração do centésimo aniversário do Badajoz. A verdade é que, depois de alguns anos de vida entusiasmante, o Troféu Ibérico estava moribundo. Entre 1986 e 2005 não se disputou. Enfim, estava ligado à máquina até que alguém caridoso desligou o botão.
Mas falemos de tempos bem melhores. De tempos em que algumas das melhores equipas da Europa e do Mundo passaram por Badajoz. De tempos em que as equipas portuguesas dominaram o torneio, obtendo quatro vitórias nas primeiras quatro edições - Sporting, 1967; Vitória de Setúbal, 1968; Benfica, 1969 e Sporting 1970. Se a primeira edição teve apenas três participantes, as seguintes ganharam a estrutura de torneio quadrangular, sempre mais interessante por ter meias-finais e Final.
Em 1969, ano da primeira visita dos 'encarnados', os outros três clubes presentes foram o Atlético de Madrid, a Real Sociedad e o Vitória de Setúbal. Enquanto o Atlético de Madrid se libertava do Vitória, por 2-0, o Benfica vencia a Real Sociedad, por 1-0, golo de Torres, aos 35 minutos. No Estádio Municipal Vivero, no dia 27 de Junho, o ataque do Benfica foi brilhante como tantas vezes costumava ser. Aos 3 minutos já Eusébio tinha feito o 1-0. Os madrilenos revoltaram-se e empataram, aos 17'. De nada serviu. Antes do intervalo chegar, já Eusébio (40 minutos) e Jaime Graça (45 minutos) tinham dado uma confortável vantagem ao Benfica. Do lado espanhol também havia um Eusébio, mas não chegava aos calcanhares do autêntico. E havia Ufarte, Garáte, Irureta e Adelardo. De pouco serviu. Os 'encarnados' dominaram os acontecimentos e impediam as ameaças contrárias. A segunda parte estendeu-se sob um calor tórrido. E António Simões, aos 89 minutos, impôs o 4-1 final. Vitória larga, indiscutível. O Benfica conquistava pela primeira vez o Troféu Ibérico, mas não iria ficar por aqui.

Uma vitória brilhante
EM 1973, o Benfica estava de regresso a Badajoz. Para oferecer aos espectadores do Estádio Municipal Vivero um espectáculo de futebol ofensivo jamais visto por aquelas bandas. Os outros participantes eram o Málaga, o Espanhol de Barcelona e o Estrela Vermelha de Belgrado. Os então jugoslavos caminharam para a Final à custa do Espanhol. Por seu lado, o Benfica lançou-se sobre o Málaga com uma fúria digna de um touro na arena: 7-1! 1-0 por Eusébio (2 minutos), 2-0 por Eusébio (13), 3-0 por Adolfo (18), 4-0 por Nené (20), 5-0 por Nené (37), 5-1 por Perroné (45), 6-1 por Toni (61), 7-1 por Jordão (63). Uma entusiasmo forte e uma admiração segura tomaram conta dos que assistiram a tal vendaval de golos e de lances espectaculares.
A Final, contra o Estrela Vermelha fazia crescer água na boca. E mais um vez, o Benfica foi sublime. Aos 26 minutos já vencia por 3-0, com golos de Eusébio (12 minutos), Jordão (18) e outra vez Eusébio, desta vez de penálti. Karasi reduziu para 1-3, Nené assinou o 4-1, também de penálti Jorki fez 2-4, e, aos 49 minutos, Eusébio fechou as contas.
O Benfica conquistava o seu segundo Troféu Ibérico com um brilhantismo indiscutível. Quem assistiu ao vivo às exibições de Eusébio, Jaime Graça, Nené, Jordão, Simões ou Humberto Coelho tão cedo não as esqueceria.
O Benfica regressaria a Badajoz em 1975 - eliminado nas meias-finais pelo Standart de Liége (2-2, perdendo no desempate por grandes penalidades), assegurando o terceiro lugar frente ao Badajoz (1-1, ganhando no desempate por grandes penalidades), em 1977 - eliminado nas meias-finais pelo Ferencváros (1-1, perdendo no desempate por grandes penalidades), ficando em quarto lugar após derrota com o Badajoz, por 1-2, e em 1979 - batendo o Bétis, por 5-1, e sendo derrotado na Final pelo Sporting de Gijón, por 2-4.
Não voltaria a conquistar o troféu, mas o seu nome já tinha ficado registado a letras de ouro em mais um «veraniego», lado a lado com o Barcelona, Real Madrid, Estrela Vermelha ou Huracán da Argentina. Porque, nesse tempo, os torneios de Verão em Espanha não só traziam dinheiro como prestígio."

Afonso de Melo, in O Benfica