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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Boa primeira volta, adversários tristes

"O Benfica jogou bem e conseguiu uma boa vitória na Madeira. Cumpriu a sua parte neste contagem decrescente para o objectivo final. Metade do campeonato está cumprido, com uma primeira volta como não se via há 30 anos, o Benfica deixa os adversários mais desanimados. Não tenho dúvida que o FC Porto será adversário até ao fim, e sei que uma boa primeira volta não é suficiente para ganhar o título, mas é muito bom ter seis pontos de vantagem e mostrar consistência.
Em Moreira de Cónegos o Benfica qualificou-se para a meia-final de outra importante prova. Basta ver a reacção de dirigentes do Braga e do Porto na luta por outra meia-final, para ver quão importante é a prova para as principais equipas. Será com tranquilidade que veremos quais os adversários que nos acompanham na prova. Embora FC Porto e Sporting sejam históricos do nosso futebol, Braga e Setúbal têm melhor palmarés na prova.
Haverá sempre muita qualidade nas meias-finais da Taça da Liga, que serão, ao que tudo indica, contra o Sporting dia 11 de Fevereiro. Veremos que o Sporting não poupará um titular.
Gostei da segunda parte de Moreira de Cónegos, na linha de jogos anteriores, muito conseguidos, e com uma vontade de ganhar e chegar aos objectivos traçados. Jonas dispensa mais elogios da minha parte, é classe pura.
Paços de Ferreira será o próximo adversário, um dos mais difíceis até ao fim da Liga. Campo pequeno, tradicionalmente difícil, pode marcar o resto do campeonato. Vencer segunda-feira seria pôr-nos da rota do Móvel directamente para o rota do título, mesmo não acreditando que o rival entre Madeira dentro.
Uma última referência ao nosso voleibol, a equipa de José Jardim acaba de qualificar-se para os quartos-de-final de uma prova europeia. É uma dupla vitória: do voleibol português e de quem luta pelo ecletismo de alto nível no Benfica."

Sílvio Cervan, in A Bola

Equipa de Autor

"Estávamos em Agosto, às portas das competições oficiais, e o Benfica levava seis derrotas em oito jogos de pré-temporada - a última das quais por 5-1 diante do Arsenal. Apenas Sion e Estoril haviam sido ultrapassados por uma equipa 'encarnada' que se dizia estar em decomposição. Oblak, Garay, Siqueira, André Gomes, Markovic, Rodrigo e Cardozo, peças importantes no 'Triplete', haviam partido. Antes já partira Matic. Mais tarde partiria também Enzo Pérez. Até jovens promessas como Cancelo, Bernardo Silva ou Cavaleiro nos deixavam. Fejsa, Amorim, Sìlvio e Sulejmani apresentavam lesões graves e demoradas. Do 'melhor plantel dos últimos trinta anos' pouco mais restava do que cinzas.
Confesso que fui dos muitos a desconfiar das potencialidades de um conjunto do qual os presumíveis titulares eram outrora suplentes. no qual o banco estava agora ocupado por ex-renegados, e para o qual as novas contratações estavam longe de entusiasmar. Até porque nos quadros do principal adversário entravam 'estrelas' em catadupa. Muita gente terá então suposto que o novo campeão estava encontrado, restando-nos lutar pelo segundo lugar.
Estamos em Janeiro, e nada está ganho. Mas ver este Benfica comandar categoricamente a classificação, com vantagem pontual significativa, e agora também com nota artística elevada, é reconfortante, e diz bem da qualidade do trabalho realizado por um treinador de excepção.
Jorge Jesus já mostrara capacidade para fazer equipas de luxo a partir de grandes plantéis. Nos últimos meses tem demonstrado que também as faz a partir de escombros. Ou melhor, a partir daquilo que pareciam escombros, mas que ele soube potenciar e transformar em ourivesaria fina.
É oficial: temos de novo uma grande equipa, jogamos de novo um belíssimo Futebol, e somos os mais fortes candidatos ao título. Podemos não o conquistar, mas a performance até agora alcançada, nas circunstâncias acima referidas, não está ao alcance do comum mortal.
Este Benfica é pois uma obra de autor. Diria mesmo, uma obra de mestre."

Luís Fialho, in O Benfica

A caminho do 34.º

"À medida que vamos avançado no Campeonato, uma verdade vai adquirindo contornos de evidência: o Benfica é o mais forte candidato ao título. Os jogos frente ao V. Guimarães e ao Marítimo são a expressão plena dessa tendência. Quanto à equipa de Rui Vitória, os dados são sobejamente conhecidos: uma equipa jovem, fisicamente imponente, com jogadores rápidos e tacticamente bem construída.
Por sua vez, em relação ao plantel de Leonel Pontes, ninguém negará a garra e o permanente espírito ofensivo que caracteriza o conjunto madeirense.
Ora, em ambos os casos, Jorge Jesus conseguiu bloquear por completo o estilo e a dinâmica de jogo dos adversários: no caso do Vitória, André André passou completamente despercebido e, no caso do Marítimo, Danilo e Edgar Costa não foram além de um pequeno susto a Júlio César.
Estes factores não nos dizem, obviamente, que o Benfica renovará com toda a certeza o título. Dão-nos, em qualquer caso, pistas importantes sobre o trabalho inexcedível de Jorge Jesus: a reconstrução técnica de uma equipa que perdeu uma parte muito importante dos seus activos, a aposta e o desenvolvimento do potencial de jogadores como Talisca, Ola John ou Jonas e sobretudo a capacidade de, mesmo com jogadores novos e não familiarizados com os processos de jogo do Benfica, bloquear completamente a estratégia de jogo dos adversários, seja de um Moreirense extremamente defensivo, seja de um FC Porto agressivamente ofensivo. São duas as qualidades que não podem faltar a uma equipa que almeje o título: a regularidade e a capacidade de adaptação táctica. Ora, um Benfica que desequilibra completamente um Arouca extremamente agressivo e defensivo para, poucos dias depois, bloquear a quase totalidade das linhas ofensivas do Marítimo, só pode revelar uma extraordinária capacidade técnica, táctica e construtiva.
E, se assim é, estamos claramente no caminho do 34.º Campeonato Nacional."

André Ventura, in O Benfica

História genealógica (I)

"1. No século III houve um par de gémeos cuja memória a História guardou para glória dos tempos até ao fim do tempo. Na verdade, eram já célebres em vida, precisamente pelo exemplo de vida. Deles se poderá dizer que viviam de acordo com aquilo em que acreditavam, porque sabiam que quando assim não é se acaba, fatalmente, por crer naquilo que não se vive. Resumindo: além de médicos famosos, os dois gémeos acabaram também como vítimas do martírio. Daí que tenham sido elevados aos altares. A partir de então a hagiografia refere-se sempre a ambos em conjunto: São Cosme e São Damião.

2. Cerca de dezasseis séculos depois, isto é, mais exactamente, em 1904, alguém baptizado com os nomes de ambos os gémeos resgatou também para si uma pequena linha da história. Falamos, claro, do principal dos vinte e quatro fundadores do Sport Lisboa e Benfica, da sua graça Cosme Damião, Júlio Cosme Damião para dizer tudo. Do bom do nosso Júlio sabe-se que não foi santo - pelo menos nunca chegou a ser canonizado. Também não foi mártir. E apesar de não ser médico foi numa farmácia, sim, numa farmácia, mais propriamente na Farmácia Franco, que fundou o Glorioso. Pelo seu clube fez tudo e de tudo. Desde futebolista, como médio, e treinador, durante dezoito épocas consecutivas, até principal promotor do novo Estádio das Amoreiras, solenemente inaugurado em 1925. Mas o cume do seu ecletismo talvez seja o de responsável pela fixação das regras do hóquei em patins. E já que assim foi, pensou ele, porque não ser também árbitro? Se bem o pensou melhor o fez: a história regista-o como o juiz do primeiro desafio da modalidade.
(continua)"

Paulo Teixeira Pinto, in A Bola

O Benfica (e a sua formação) é um pipeline que rende milhões

"Nos últimos anos, o Benfica transformou-se num pipeline gerador de milhões de euros. É provavelmente o clube europeu que mais receitas gerou com a venda de jogadores nos últimos cinco anos. Começou com Di Maria, Ramires, David Luiz, Fábio Coentrão, e depois tem continuado todos os anos, com Javi Garcia, Witsel, Matic, Markovic, Rodrigo, Oblack, Cardozo, Enzo Pérez, Kardec, e muitos outros de menor relevância.
Mas, para além de vender muito bem os jogadores que brilham na primeira equipa, o Benfica transformou também a sua formação e a sua equipa B em centros geradores de receitas importantes. Nos últimos anos, já houve vários jogadores juniores que foram vendidos, e pelo menos dois jogadores que estavam em transição, entre a equipa B e a A, como André Gomes e Bernardo Silva. Ou seja, o Benfica tem agora 3 centros geradores de receitas na venda de jogadores: juniores, equipa B e equipa principal.
Há muitos que discordam desta estratégia, pois vivem ainda na utopia de querer uma equipa principal onde haja muitos jogadores vindos da formação. Ora, isso não faz muito sentido. A grande maioria dos jogadores da formação, em qualquer clube, seja ele o Barcelona, o Ajax ou o Benfica, não chegará nunca à equipa principal. Provavelmente, podem ser bons jogadores nos juniores, mas não tem capacidades para mais. Vendê-los é boa ideia, se existir uma boa proposta. E também é boa ideia vender jogadores da equipa B, se os valores propostos forem elevados, seja para o clube, seja para o jogador.
Foi o caso de André Gomes, e é o caso de Bernardo Silva. Ambos são bons jogadores, mas dificilmente seriam titulares permanentes da equipa principal. Ambos foram vendidos por cerca de 15 milhões de euros, um valor muito elevado para quem poucos jogos fez na equipa principal. Além disso, foram para o Valência e para o Mónaco ganhar muito mais do que ganhavam no Benfica. Portanto, a venda foi boa para o clube, e o contrato foi bom para eles.
Faz sentido vender jogadores por estes valores, para clubes estrangeiros. A equipa principal não se ressente, pois eles não eram titulares, e gera-se uma óptima receita para o clube. E é bem mais inteligente do que vender um centro-campista fundamental da equipa, a um clube rival, por apenas 11 milhões de euros, e ainda por cima chamando-lhe maçã podre, como se passou com João Moutinho. Pelo menos no caso do Benfica, as vendas não trazem proveitos futuros aos rivais. Por isso, há que dar os parabéns a Luís Filipe Vieira por conseguir faturar tanto. Só em Janeiro o Benfica já ultrapassou os 40 milhões de euros, com as vendas de Enzo, Bernardo e Jara. E há também que dar os parabéns a Jorge Jesus, que apesar de ter visto sair tantos jogadores num ano, consegue manter a equipa a jogar bem, na liderança do campeonato.
Este é o único modelo de negócio que é lucrativo para os clubes portugueses. Foi descoberto e praticado muitos anos pelo FC Porto, é no presente mais eficaz no Benfica, e será certamente o futuro do Sporting, quando se conseguir recuperar mais do que já conseguiu."