Últimas indefectivações

terça-feira, 8 de setembro de 2015

«Astana é um bom nome...»

"O Cazaquistão será um país novo na história do Benfica que já visitou mais de 70 em todo o Mundo. E a Liga dos Campeões é mais um passo decidido no caminho dos 400 jogos europeus, algo só ao alcance dos maiores dos maiores...

O Rui Reninho podia muito bem ter cantado: «Astana é um lugar/Quem sabe?/Difícil de encontrar»...
Não cantou. A letra dos GNR não levava Astana, levava Tirana, essa cidade onde o Benfica esteve para ir e não foi, depois de ter vencido o Partizani em casa por 4-0 e os albaneses provocarem um tal charivari no Estádio da Luz que levou a UEFA a suspendê-los das taças europeias e a dispensar os encarnados da segunda mão.
Foi pena. Seria mais um país a juntar à lista incrível de países que o Benfica já visitou, algo de único na história do futebol e de fazer inveja a muito pintado.
Não há Tirana mas há Astana.
«Astana é um bom nome»...
Mais um país para a lista, portanto. O Cazaquistão, no caso.
A gente diz Astana, mas deve dizer-se Astaná. Significa, muito simplesmente, capital.
«Astana é um menina/Foi/ Muito sedutora»...
Já se chamou Akmolinsk, Tselinogrado e Akmola.
Agora Astana é um lugar, quem sabe?, difícil de encontrar.
Logo se verá, lá mais para Novembro. Quando vierem os frios.
Antigamente, a capital do Cazaquistão era Almaty. Capital soviética e, em seguida capital do país novo. Almaty ou Alma-Ata: a cidade das maças.
O Benfica viaja, portanto, mais uma vez em direcção a um destino onde nenhum outro clube português foi. É essa a sua sina. Ir sempre mais além. «Se mais mundo houvera...».
Também o adversário é novo. Ou nem por isso. Novo por ser inédito nos registos benfiquistas; novo por ter sido (re)fundado em 2009; mas nem por isso tão novo, pois existia anteriormente com os nomes de FC Alma-Ata e FC Megaspor, unidos para dar origem a este tal de FC Astana que caiu em sorte visitar a Luz não tarda nada, logo na primeira jornada da actual Liga dos Campeões.
E assim somando, a pouco e pouco, pondo o pé em mais um país meio exótico, europeu de nomenclatura mais bem entranhado na velha Ásia, a águia voa em direcção ao seu 72 território (países e antigas colónias, por exemplo) «conquistando», algo só ao alcance dos grandes viajantes.
Que um vento de felicidade acompanhe o seu voo tranquilo...

«Dois, três, seis, multiplicar, somar»
Certíssimo é que o Benfica cumprirá nos próximos tempos mais seis jogos nas competições europeias, somando algo que também só está ao alcance de meia dúzia de históricos do Continente.
Trezentos e oitenta confrontos europeus contam os encarnados até ao momento - 388. Chegarão esta época aos noventa e quatro (94) pelo menos. Pois, pois, ficarão a seis dos 400 o que é obra, mas obra. Obra digna dos Jerónimos, da abóbada do Afonso Domingues ou dos frescos da Capela Sistina, se me permitem as hipérboles.
Se querem comparações, que vêm sempre a propósito e caem que nem ginjas, vamos a elas.
A segunda equipa portuguesa com mais jogos nas taças europeias é, sem surpresa, o FC Porto: soma trezentos e cinquenta e três. Ainda precisa de pedalar um bocado.
A terceira, também sem surpresa, é o Sporting, que tem um total de trezentos e oito jogos (308) já contando com estes dois últimos frente ao CSKA de Moscovo.
Depois, os restantes, ficam a quilómetros, e que quilómetros: Boavista com o número redondinho de 100, com o Braga a um joguinho apenas (99), mas com mais seis jogos garantidos na actual Liga Europa, e depois os Vitórias, de Guimarães (74, já com os dois mais recentes) e Setúbal (71).
Mas se os números do Benfica são impressionantes, são-no ainda mais grandes gigantes da Europa.
Façamos a ponte, para que se entenda.
O Barcelona cumpriu na Supertaça frente ao Sevilha a enormidade de 516 jogos europeus. E aproveito para acrescentar que contabilizo nesta lista de equipas de todo o Continente, as velhas Taças Latinas e Copas Mitropa, precursoras de todas as outras e tão oficiais como estas porque o futebol não começou com a UEFA nem vai acabar com o fim dela, por muita vontade de revisionismo que exista na âmago de alguns.
Em Itália, por exemplo, equipas antiquíssimas como o Inter (antiga Ambrosiana) e a Juventus, já ultrapassaram as quatro centenas: a Juventus largamente (472), o Inter por pouco (419).
O grande AC Milan ainda não lá chegou, está pouco à frente do Benfica (tem 392 jogos) e será ultrapassado porque mais uma vez não se qualificou para a Europa.
Eu não disse que as comparações mereciam estudo?!
O maior dos alemães, o Bayern de Munique, tem a bonita soma de quatrocentos e trinta e quatro (434).
O fantástico Ajax, da Holanda, está nos 382 (já contabilizados os dois últimos «play-offs»), ou seja, ombro a ombro com o Benfica.
Os reis de Inglaterra, Liverpool e Manchester United, sofreram, como sabemos, sanções duras por via do comportamento imbecil dos seus «hooligans» e ficaram claramente para trás: o Liverpool soma 349 jogos e o United 322 já somados os confrontos deste mês face ao FC Brugges.
Dos enormes, falta falar do Real Madrid, ainda assim longe dos rivais Barcelona: quatrocentos e oitenta e oito (488) jogos europeus. Número redondo e brilhante.
Como vêem, é restrito, muito restrito o clube daqueles que somam mais de 400 jogos nas taças europeias.
O Benfica está à porta. Não precisa de pedir licença para entrar. É só dar os passos necessários em frente. De peito feito!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Lagarto, lagarto, lagarto!...

"A história de uma felina escultura que, antagonicamente, vigiava o ninho da águia.

No primeiro dia de Setembro de 1954, entrou em funcionamento o Lar do Jogador. Aí passaram a residir os jogadores solteiros das categorias de honra do Clube e os casados, apenas no dias que antecediam os jogos, juntamente com treinador e massagistas.
Para morada dos seus atletas, o Sport Lisboa e Benfica escolheu 'uma casa portuguesa, em pleno coração do bairro que lhe deu o nome, no meio de uma vasta Quinta (Quinta da Nossa Senhora do Cabo, na Calçada do Tojal) onde a terra, as árvores, a água, tudo o que torna realmente «campo» (...) parece murmurar páginas imortais do Eça'.
Porém, antes dos jogadores do Benfica, um outro inquilino habitava a vivenda, criando alguma inquietação num dos nossos consócios: 'Tendo ido (...) lançar uma vista de olhos pelo exterior do solar dos nossos jogadores, verifiquei (...) que um motivo escultório representando um leão (lagarto, lagarto, lagarto!...) domina o pátio fronteiro do edifício. Agora, que vão ali instalar-se tantas «águias», seria um anacronismo, um verdadeiro atentado até, manter a felina escultura'. Na mesma carta, dirigida ao proprietário do imóvel, pede 'que o leãozinho seja retirado', mas não sem mais nem menos, 'aliás com carinho, peça por peça' e, numa deliciosa ironia, acrescenta: 'Bastaria olhar para a leonina efígie para ver que o seu semblante denota já um certo constrangimento por virtude de pressentir a próxima vizinhança... Repare V. Ex.ª no seu ar de pétrea neurastenia e não hesitará em dar-nos a grande satisfação de libertá-lo de tão incómoda sentinela'.
Semanas antes da inauguração, o jornal O Benfica fez uma visita à casa, guiada por Manuel Abril, presidente da Comissão Instaladora do Lar do Jogador. No fim da visita, apenas uma pergunta faltava:
'- E o leão? - Manuel sorri.
- Venham comigo - disse.
Descemos as escadas, entrámos na sala de jantar e saímos logo de seguida para o pequeno pátio. Abril, sorridente disse-nos:
- O leão «estava» ali.
Gargalhada geral. De facto, o leão já não se encontrava no seu lugar'.
No Museu Benfica - Cosme Damião, na área 17. Chão sagrado, encontra referência a esta e a outras instalações do Clube."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica