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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Mais um Ouro...


Desta vez nos Mundiais de Maratona,, no K1 short distance (3,6Km) Fernando Pimenta sacou mais um Ouro, com o Zé Ramalho no Bronze...

BF: Análise ao Mercado: Médios...

3 Toques: Contratações cirúrgicas...

Falar Benfica: Conversas Gloriosas #23 - João Diogo Manteigas...

5 Minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - Guerra aberta entre Sporting e St Juste

Observador: E o Campeão é... - Sporting de novela em novela no fecho do mercado

Lanças...


3x4x3


 - Rubricas...

Segunda Bola...

Rabona: Leverkusen’s DISASTER: The real REASON why Ten Hag was sacked

João Félix vs Rodrigo Mora, histórias árabes


"A noção de finitude não nos larga. Mais dia, menos dia, lá está ela a bater-nos à porta. Inclemente, fria, a lembrar-nos que a madeira arde, o ferro torce e o corpo quebra.
A tragédia no Elevador da Glória voltou a deixar-nos assim. Em alerta. Se um passeio turístico, com menos de 300 metros, é capaz de uma desgraça destas, o que estará de facto do outro lado da fechadura?
Envio um abraço sentido, sinceramente doloroso, a todos os que foram atingidos por este acidente. Que se faça, ao menos, Justiça. De forma rápida e categórica. 
Largo a calçada lisboeta e voo num tapete das mil e uma noites. Para o exotismo da Arábia Saudita, onde sheikhs de fundos ilimitados se entretêm ao leme de clubes de futebol, a comprar e a vender futebolistas milionários, como se trocassem cromos entre amigos.
Se o elevador desfeito nos recorda o mais básico desta vida – não há imortais, ninguém está a salvo do azar, da incúria, do acidente -, o futebol saudita provoca em mim sensações profundamente revoltantes, por responsabilidade das leis estatais e de quem lá mais ordena.
Esta liga de bons rapazes – sugiro o entretido resumo do Al-Taawoun-Al Nassr para quem gosta de sorrir – é a fiel depositária de intermináveis injeções de capital autorizadas pelo fundo soberano.
Mas, dos 18 clubes em prova, apenas quatro são abrangidos pela benevolência tácita deste reino que mais não é do que uma monarquia teocrática.
Não há liberdade de imprensa, não há partidos políticos de oposição, não há garantia de direitos fundamentais – principalmente se falarmos das mulheres e das minorias.
Ora, de forma a maquilhar este sistema político em forma de frankenstein, a família real escolhe o futebol para atrair o olhar do mundo ocidental, aparentando uma normalidade societária que, realmente, só existe na cabeça de uma liderança autocrática e de quem dela beneficia.
Assumo as minhas convicções, pensamentos radicalmente contrários ao que está instalado no poder do mundo saudita - sim, sou progressista, ecologista, humanista. Mas não confundo, por um minuto, os que dele escolhem fugir e que procuram noutros países o bem-estar e a sobrevivência. Esses serão sempre bem-vindos.
Questiono-me, por isso, se alguma vez João Félix, Cristiano Ronaldo e os outros portugueses que por lá andam, a beneficiar e a contribuir para este futebol injetado de hormonas ditatoriais, param para pensar naquilo que os rodeia.
Ou se, simplesmente, escolhem não pensar. É legítimo.
Só querem futebol e dinheiro, mesmo que esse futebol seja paupérrimo e o dinheiro oriundo de um trono truculento.
Aos 25 anos, o requintado futebol de Félix deveria andar a fazer golos na Premier League, na Serie A, ou até no Estádio da Luz. A fase das responsabilidades alheias ficou para trás há muito.
Falhou em Madrid, falhou em Londres, falhou em Barcelona, falhou em Milão e não falhará em Riade porque contra defesas com a solidez de manteiga ao sol – e não falta sol na Arábia Saudita – chegará rápida e facilmente aos 30 golos.
Enquanto admirador do seu talento, lamento. Lamento a fuga para um el dorado desinteressante e aborrecido, onde a equidade e a igualdade de oportunidades só existe para quatro clubes.
Os outros, enfim, fazem-me lembrar os mártires Washington Generals, a equipa que serve de saco de pancada nas digressões dos Haarlem Globetrotters. Figurantes silenciosos.
Posto isto, confesso ter respirado de alívio ao saber que Rodrigo Mora resistiu – pelo menos, por agora – a este chamamento multi-milionário. Na liga saudita teria minutos na relva, sim, e dinheiro para dez vidas. Apenas e só.
Perderia o contacto com o futebol dos grandes logo aos 18 anos, os maiores palcos, as provas europeias, o seu clube do coração e a possibilidade de ser campeão pelo FC Porto. Tudo isto, já agora, a troco de um salário que os comuns mortais jamais terão no saldo bancário. Mora já é muito bem remunerado.
Rodrigo, aproveita o prazer de jogar futebol no sítio certo, de fazeres felizes as pessoas certas, de cresceres rodeado de quem mais gosta de ti e num país onde tens liberdade de elogiar e criticar onde e quando quiseres.
Certamente terás muito tempo de jogo às ordens de Francesco Farioli.
Félix e Mora, os dois fantasistas mais entusiasmantes a sair da formação nacional nos últimos dez anos (junto-lhes Nuno Mendes e Vitinha), continuarão separados por milhares de quilómetros e por convicções ainda mais distantes.
Ainda bem para o Rodrigo, ainda mal para o João.
Fecho o texto a sentir uma profunda revolta e impotência pelo ocorrido ontem em Lisboa, certo de que naquele elevador seguiam pessoas do Bem e felizes por usufruírem de um dia de férias (ou de trabalho) pacífico, numa capital de uma democracia liberal.
O meu máximo respeito por quem partiu e por quem perdeu.

PS: o país ainda recupera do drama pérfido dos incêndios, das perdas avassaladoras, e volta a mergulhar no luto. Impossível pensar só em futebol nestes dias que nos rodeiam. Ainda bem que temos, ao menos, a fantasia de Rodrigo Mora para nos entreter."

Querem ver que a culpa agora é do estádio?


"Apontar o dedo o estádio José Alvalade, inquebrável desde 2003, pelos feridos do último clássico em vez de censurar sem hesitações nem «mas» os adeptos prevaricadores equivale a culpar os automóveis pelos acidentes de viação ou a atribuir às plantas a responsabilidade pelo flagelo das drogas. Ou a julgar as pedras que os fariseus queriam atirar à mulher adúltera, não fora a intervenção de Jesus Cristo segundo os Evangelhos.
Não: o problema não está na estrutura, está em quem pontapeou o vidro até ele se partir. E depois de se ter partido. Mal estaremos quando se tentar minimizar, mesmo que timidamente, atos como estes culpando coisas e não pessoas.

De chorar por mais
A Seleção Nacional de basquetebol foi brilhante no apuramento para os oitavos de final do Eurobasket 2025.

No ponto
Muita sensatez na organização da Vuelta face à intensidade da manifestação pró-Palestina em Bilbau.

Insosso
É precipitado etiquetar Rui Borges como «menos influente» no Sporting. Não há dois Amorins, é passar à frente.

Incomestível
Impossível não falar do choque pelo acidente no elevador da Glória, monumento nacional feito sepultura..."

Sporting e Jota Silva: um falhanço inadmissível


"Depois de quase 44 mil minutos (!!!), ou cerca de um mês, de interesse real, aproximações, negociações e até um acordo final, eis que, por um minuto de atraso, tudo se perdeu

Por um minuto se ganha, por um minuto se perde. É assim o futebol ou qualquer outro jogo, é assim na vida e, pelos vistos, é também assim nos negócios. E foi assim, por causa de um minuto, neste caso de atraso, que se perdeu a possibilidade de ver Jota Silva com a camisola do Sporting. Os mesmos gestores da SAD leonina que, na última janela de mercado, movimentaram 68,8 milhões de euros em reforços para o plantel às ordens de Rui Borges e que viram chegar às suas mãos, aos cofres de Alvalade, 128,57 milhões em vendas são exatamente os que, por 60 segundos, falharam a desejada contratação do extremo do Nottingham Forest e que tinha estado sob comando do treinador aquando da passagem pelo Vitória de Guimarães.
Passou-se mais de um mês desde que surgiram as primeiras notícias do interesse do Sporting em Jota Silva. Estávamos para lá de meados de julho quando os rumores que já circulavam ganharam contornos reais e as partes avançaram para contactos, aproximações, momentos mais quentes, outros em que as negociações esfriavam, mas sempre com indicação de que uma transferência poderia mesmo concretizar-se, fosse a título definitivo, fosse por empréstimo.
É sabido que dos dois lados estavam negociadores... leoninos, difíceis de vergar, teimosos e inquebráveis, casos de Frederico Varandas e do excêntrico milionário grego Vangelis Marinakis, dono do Forest e do... Rio Ave. Mas convenhamos que perder um contrato já assinado por conta do atraso de um minuto na entrega da documentação na Liga Portugal, algo que se resolve com um simples email, é... inadmissível neste nível de alta competição negocial, quando em jogo estão acordos de milhões. Mais ainda quando se andou mais de um mês (ou cerca de... 44 mil minutos!) para trás e para a frente em contactos tendo em vista o desfecho que até se conseguiu, mas que, logo a seguir, de forma amadora, caiu.
Se para o atual presidente e para o seu diretor para o futebol, Bernardo Morais Palmeiro, este caso significou uma estreia em situações deste tipo, para o Sporting não é bem assim — como esquecer, na era de Bruno de Carvalho, o caso da transferência falhada de Adrien Silva para o Leicester por... 14 segundos?
Voltando ao presente, exigia-se uma explicação para o falhanço com Jota Silva por parte direção dos leões, o que aconteceu ao início da noite de quarta-feira. Varandas, porém, revelou... o que já se sabia: que a inscrição falhou por um minuto. E isso, ao mais alto nível, não pode ser admissível."

Falhar Jota Silva foi um… milagre


"Leões perderam no campo e também no mercado. Avançado estava sobrevalorizado e €4,5 milhões pelo empréstimo era um autêntico disparate.

O Sporting é o grande derrotado deste início de época. A usarem os galões de bicampeão e ainda com o prémio-extra da dobradinha, os leões têm, obviamente, grandes expectativas, mas sofreram um duro golpe nos últimos dias. Melhor: dois. Não chegava a derrota caseira no clássico, a primeira na Liga na era Rui Borges, ainda se juntou um final de mercado difícil de qualificar.
A lacuna no ataque está há muito identificada. Tanto que esta era já uma das prioridades de… Ruben Amorim. Há ano e meio — imagine-se! — que os leões procuram um extremo destro, que jogue pelo flanco esquerdo. A tão em voga estratégia do pé trocado. Com Geny Catamo, Quenda e Trincão, todos esquerdinos, para atuar no corredor oposto, as opções para a direita resumem-se, basicamente, a Pedro Gonçalves. O que é manifestamente pouco e muito… arriscado. Basta recordar a temporada transata e a lesão prolongada de Pote.
Biel foi um tiro ao lado e já foi, entretanto, recambiado. Alisson Santos, a aposta seguinte, também ainda não mostrou arcaboiço para disputar o lugar.
Rui Borges bem tem tentado disfarçar o problema. Quenda foi a alternativa em 2024/2025 e neste arranque o treinador resolveu improvisar, nomeadamente, nos dois grandes duelos, com Benfica e FC Porto. Em desvantagem no marcador em ambos os jogos, as duas últimas cartadas foram… Ricardo Esgaio (Supertaça) e Alisson Santos (clássico). Sintomático.
Os leões deixaram arrastar a situação e tudo foi adiado para o último dia. Já pressionados pela hora de fecho do mercado e com mais de uma situação por resolver — a saída de Harder transformou-se também numa novela —, o que transpareceu foi uma grande hesitação, para não lhe chamar outra coisa, já que a situação financeira está no verde, o que facilita sempre qualquer negociação.
Yeremay, que era a prioridade, manteve-se no Corunha, com os leões a sonharem demasiado tempo com o sim, quando da Galiza só ouviam o não e o brasileiro Kevin, pelo qual a Administração esteve disposta a cometer uma autêntica loucura, acabou por assinar o que tinha apalavrado com o Fulham.
Jota Silva, que era, como já referi neste espaço, uma boa opção — o avançado é muito competitivo e versátil, o que lhe permite desempenhar qualquer posição no ataque — ficou então isolado, mas falhou por um minuto e considero que a incompetência do Sporting foi salva por um autêntico… milagre.
Bem podem os leões argumentar com a excentricidade do proprietário do Nottingham Forest, o multimilionário grego Evangelos Marinakis, clube ao qual o internacional português está vinculado, mas é difícil compreender como uma negociação de dois meses falhou por um minuto. E uma negociação relativamente simples, na minha ótica.
Jota Silva trocou o V. Guimarães por Inglaterra a troco de sete milhões de euros fixos, mais cinco em variáveis. Um ano depois e após não se afirmar na equipa — titular em apenas nove dos 38 jogos em que foi utilizado — não poderia ter-se valorizado, pelo que sempre pensei que se reencontraria com Rui Borges, até porque esse era o desejo do avançado.
Contudo, só pelo atraso de um minuto no envio da documentação para a Liga não regressou a Portugal avaliado em 20 milhões de euros! Sim, leu bem, 20 milhões: taxa de empréstimo de 4,5 milhões e opção de compra de 15,5 milhões! Um valor superinflacionado, até por se tratar de um provável suplente.
Contas feitas, Rui Borges vai ter de esperar até janeiro pelo tão esperado reforço e rezar para que a Administração o contrate. Até lá, terá de continuar a improvisar, seja com Nuno Santos, próximo de recuperar da lesão a 100 por cento, seja com a subida de Maxi Araújo de lateral para extremo, mas em ambos os casos estamos a falar de mais dois esquerdinos, seja com a promoção de Flávio Gonçalves, extremo destro de 18 anos, que é, de momento, o maior talento da Academia. Não ficarei surpreendido se em breve for lançado. Há males que podem vir por bem. Também neste caso.
Há, contudo, marcas que ficam e estas o Sporting vai ter dificuldades em apagá-las. Dentro de campo ver-se-á como reage nos próximos jogos e fora dele Frederico Varandas começou ontem a tentar minimizá-las, optando por valorizar quem continuou. Percebo a estratégia, mas o certo é que até a comunicação do clube não foi nada feliz neste defeso."

Rui Patrício: os heróis também ficam no desemprego


"De Rui Patrício sem clube a Jorginho na Liga dos Campeões, a prova de que o sucesso só nos diz onde estamos… Nada diz de quem somos…

Aos 25 anos, Rui Patrício era já titular do Sporting e da Seleção. Estava a três anos de se tornar herói de Portugal enquanto campeão europeu. Porque tive o privilégio de estar a uns 50 metros dele, no Stade de France, guardo na memória, em câmara lenta, a incrível defesa que fez na final, com a França, a cabeceamento de Griezmann. Que esplendor de voo, da Marrazes natal ao Champs Élysées, coroado num arco que foi de triunfo. Aos 37 anos está desempregado.
Aos 25 anos, Jorginho jogava no Campeonato de Portugal pelo Pevidém. E trabalhava numa empresa de controlo de qualidade porque o dinheiro ganho futebol não dava para grande coisa e o futuro estava por garantir. Dois anos depois é estrela no Kairat Almaty do Cazaquistão e está a duas semanas de se estrear na Liga dos Campeões. Será em Alvalade, com o Sporting, ele que, em entrevista recente a A BOLA, disse que o sorteio de sonho seria calhar com Sporting e Benfica, em Portugal, para poder matar saudades e estar, pouco tempo que seja, com família e amigos. Se só pudesse ser um que fosse o Sporting… E eis que a estreia é com os leões… Os deuses simpatizaram com o nosso Jorginho…
Nos 37 de Rui Patrício, é a gratidão pelo Europeu que me levam a encarar o desemprego do guarda redes como um lugar estranho. Mesmo não sabendo o que o próprio pensa e a forma como está a encarar esta situação, acredito não ser humanamente fácil. Mas, bem vistas as coisas, o que foi fácil para Rui Patrício? Não seguramente os primeiros tempos de titularidade no Sporting, onde Paulo Bento – ser teimoso pode ser uma virtude – lhe deu tempo e o segurou contra os assobios da bancada; não seguramente a saída de palco na Roma pelas mãos de um compatriota: Mourinho; não seguramente o ter perdido a titularidade na Seleção para aquele que lhe deverá suceder como o guarda-redes com mais internacionalizações por Portugal, uma opção tão racional que nem os fervorosos admiradores de Patrício de atrevem a negar; e não, seguramente, agora que se encontra sem clube.
Aos 27 anos é o arrojo de um emigrante que, afinal, acabou por vingar no futebol que me faz gostar de Jorginho. Que está nos confins de um mundo tão elástico que a longínqua e fantástica cidade de Almaty, no Cazaquistão, está futebolisticamente nas provas europeias… Talvez nas margens do lago de Almaty, no lago Kolsai ou no Parque Nacional de Charyn Canyon entenda que a vida chega a ser irónica. O seu mote de vida, disse-o a A BOLA, agrada-me: não viver obcecado com nada; ter sempre um plano B; e saber que «há muitas maneiras na vida de ter sucesso».
Em qualquer manual de autoajuda, encontrará uma ideia comum: «vai em busca dos teus sonhos, se acreditares e trabalhares muito vais conseguir». Desculpem, mas é um embuste. Porque parte do princípio que sabemos sempre o que é melhor para nós; porque nem todos os que dão tudo o conseguem, quantas vezes por todas as razões menos a falta de qualidade e empenho; por validar quem somos em função dos sonhos atingidos. Em buste.
Mais útil o concelho de percebermos com honestidade o que está certo ou errado e o que precisamos mesmo para estarmos bem. Fazer o que é certo nem sempre nos leva ao sucesso. Mas, acreditem, ajuda a minorar o impacto do que não corre bem e… dá melhores noites de sono. Saber o que realmente precisamos coloca a tónica no que somos e não no que temos.
Caros Jorginho e Rui Patrício: uma coisa é ter sucesso, outra é ser sucesso. Nem todas as viagens são em linha reta. Sucesso e insucesso só nos dizem onde estamos. Nada dizem sobre quem somos…"

Ruben Amorim e o carisma que (con)vence


"Jamie Carragher afirmou, com algum humor até, que se Ruben Amorim não fosse tão bom comunicador e bem-parecido, provavelmente já teria perdido o emprego. Para uns isto é visto como piada, para alguns como uma afirmação descabida e sem relação e para outros como uma afirmação que vai ao encontro das suas baixas expectativas sobre o treinador. Mas, terá esta afirmação algum suporte científico? Por várias vezes tenho abordado os perfis ou estilos de comunicação de alguns treinadores, mas há de facto uma relação entre a competência de comunicação, a aparência, o sucesso profissional e até a tolerância à falha? Tal como artigos anteriores, este não pretende avaliar a competência técnica de Rubem Amorim e todas as afirmações aqui feitas excluem por completo qualquer avaliação da mesma. Pretendo apenas abordar de uma forma light mas científica um tema tão importante como a comunicação e aparência, principalmente em funções de liderança.
A ciência confirma, não é apenas uma questão de resultados no campo ou de tática afinada. A psicologia social fala-nos do efeito halo; este efeito consiste numa tendência universal para atribuir mais inteligência, competência ou liderança a quem tem boa aparência. Um estudo científico publicado em 2024 mostrou que rostos considerados mais bonitos eram avaliados como mais inteligentes e confiáveis, mesmo sem qualquer diferença real nas capacidades. Em termos práticos, isto significa que a boa aparência pode abrir portas e prolongar oportunidades, mesmo quando os resultados não acompanham a atribuição feita aos indivíduos.
Mesmo em tempos difíceis, os comunicadores expressivos conseguem manter ou até reforçar a sua credibilidade. Uma investigação recente datada de 2023 analisou conferências de imprensa de dirigentes desportivos da Bundesliga e chegou a uma conclusão muito curiosa: sorrisos/risos quando bem colocados ao longo da comunicação, principalmente num contexto de resultados negativos, aumentam a aprovação social e suavizavam críticas dos adeptos, funcionando como uma espécie de cola neurológica entre líder e público, mesmo com más estatísticas à mistura.
Nesta análise, a opinião de Carragher ganha outra dimensão: bons comunicadores com boa imagem mantêm a confiança, ganham tempo e uma margem de erro maior. Ruben Amorim encaixa perfeitamente nesta lógica, é de facto um bom comunicador e tem boa aparência construindo assim bons alicerces para o seu carisma e talvez seja por isso que para muitos, continua a ser «o líder certo», com o projeto certo, independentemente do que os números e resultados tentem provar. Então, a resposta da ciência é: sim! A aparência, a postura e a comunicação dos líderes podem fazer toda a diferença em situações de crise, seja no desporto ou em qualquer outro contexto, seja interna ou externamente."

A influência da emoção nos valores das transferências de jogadores


"Ao longo das últimas épocas, o dinheiro que circula entre clubes de futebol profissional pelas transferências de jogadores cresceu significativamente, tornando-se um grande negócio. Para os clubes, os jogadores e respetivos contratos de trabalho constituem um património importante. Assim, compreender e estimar as taxas de transferência é um assunto atraente para os adeptos, comentadores, dirigentes, treinadores e olheiros que analisam e ajuízam cada jogador e cada decisão de recrutamento tomada por um clube.
A decisão de recrutar um jogador ainda sob contrato com outro clube deve ser considerado um investimento, que como tal tem um risco associado. Ou seja, há sempre a possibilidade de um clube pagar dezenas de milhões de euros por um jogador e este, quando lançado em jogo, não corresponder às expectativas. Para minimizar o risco, os clubes usam cada vez mais modelos analíticos preditivos, baseados em dados estatísticos que permitem informar os dirigentes decisores do desempenho, habilidades e potencial de um jogador, bem como avaliações comparativas face a jogadores semelhantes no mercado.
Neste modelo existem fatores determinantes que influenciam a taxa, tais como a idade do jogador, posição em campo, estatísticas de desempenho (golos, assistências, minutos jogados, etc), a duração restante do seu contrato, experiência, aparições internacionais, histórico de lesões, condições de mercado tais como oferta e procura e, acima de tudo, a raridade das suas habilidades e o seu valor comercial como um ativo para a equipa e o clube. Agentes, perfil dos dirigentes, media, ofertas feitas por outros clubes, reputação, credibilidade e tamanho do bolso do clube comprador e a dinâmica do mercado também influenciam fortemente a avaliação final. No entanto, a taxa final é o resultado do confronto entre a utilidade que o putativo clube comprador espera do jogador e a necessidade de alineação pelo vendedor. Por conseguinte, plausivelmente, espera-se que os atributos, raridade e utilidade do jogador e as características dos clubes influenciem a negociação e expliquem a taxa de transferência. Mas este é só o lado da taxa associado à análise, à lógica e ao raciocínio. O mercado, sistematicamente, prova que nem sempre a racionalidade impera. Na realidade, falta considerar-se o lado mais importante, aquele que é associado à emoção e aos fatores emocionais.
Um fator emocional é uma influência psicológica na forma de crenças, perceções e sentimentos que podem influenciar a tomada de decisões do dirigente decisor. No futebol, alguns dos fatores emocionais que justificam e apoiam a lógica da compra incluem confiança, raridade dos atributos do jogador (noção de escassez), medo de perda da oportunidade (noção de urgência), desejo de status, antecipação de satisfação. Pelo lado dos dirigentes vendedores os fatores emocionais podem envolver confiança do processo de vendas, precipitação ou delonga em fechar um negócio e o risco de perder a objetividade por ficar muito preso ao momento. O clube vendedor que melhor entenda os fatores emocionais adapta a sua abordagem de vendas à criação de conexões emocionais e construção de confiança, levando ao fecho de bons negócios. Assim, entender e manipular os fatores emocionais é fundamental para o sucesso da transação de direitos desportivos, já que as emoções levam a decisões de compra.
No tempo que corre, os clubes mais sofisticados estão a utilizar os fatores emocionais e inerente conexão emocional como parte da ampla estratégia que envolve a jornada da alineação dos direitos desportivos de um jogador, desde o desenvolvimento da narrativa para o mercado, o marketing comunicacional, a prospeção de potenciais clientes, senso de urgência ou status para se conectar com as necessidades emocionais do comprador e incentivar a venda. A narrativa do clube vendedor fortalece motivadores emocionais importantes e influenciadores no processo de decisão do clube comprador, apoiados em crenças e sentimentos, que incluem desejos de se contratar um jogador que se destaca dos demais, que resolve as carências em determinada posição, faz os adeptos acreditarem que este é o tal e desfrutarem de uma sensação de privilégio por o verem jogar, e que é uma boa oportunidade de mercado com potencial de valorização económica, para citar apenas alguns. Considera-se, então, que um putativo cliente está emocionalmente conectado quando ele alinha as suas motivações, necessidades e desejos profundos à narrativa do clube vendedor.
A emoção é, então, a razão que alavanca a taxa dos direitos desportivos em benefício do vendedor. Em Portugal os clubes mais intervenientes no mercado utilizam muito bem o lado emocional. Observe-se a prática do Benfica (provavelmente o melhor clube a fazê-lo) quando pretende vender os direitos de determinado jogador. Inicialmente cria uma narrativa baseada no desempenho de um jogador com um perfil difícil de encontrar (noção de escassez), desenvolve na comunicação social uma forte campanha de marketing emocional que reflete os desempenhos superlativos do jogador, divulga putativos interessados e cria a noção de forte procura pelo jogador (noção de urgência na decisão de compra). O resultado são as brilhantes vendas efetuadas nas últimas épocas. Benfica despede-se de Akturkoglu: valores oficiais do negócio
Observe-se agora o caso do Nottingham Forest (NFC), clube proprietário dos direitos do jogador Jota Silva (JS). No final da época 2023/24 o NFC adquiriu ao Vitória de Guimarães os direitos desportivos de JS por aproximadamente €7 M. Durante a época de 2024/25 o jogador apresentou indicadores quantitativos de desempenho que não justificavam a sua continuidade no NFC (37 jogos, dos quais 5 como titular, 888 minutos, 4 golos, 2 assistências, 22 remates com 5 no alvo, cometeu e sofreu 23 faltas e viu 5 amarelos). Perante este quadro, o NFC começou em junho de 2025 uma narrativa e marketing emocional nos media ingleses (ex, Daily Express) segundo a qual o JS é «um alvo» para um «punhado» de equipas da Arábia Saudita por um valor a rondar os €13 M. Esta comunicação surte efeito e ainda em junho a media desportiva portuguesa menciona que Rui Borges, treinador do Sporting, pensa em Jota Silva para reforçar o clube. Posteriormente esta possibilidade de transação para Alvalade começa a ganhar força e o NFC sobe o valor para €15 M. Poucos dias antes de fechar a janela de transferências de verão o NFC faz circular a informação que recusou uma proposta do clube brasileiro Botafogo por €19 M fixos mais €4 M em variáveis. Segundo a imprensa portuguesa, o Sporting fecha a transação do jogador minutos antes do fecho de mercado por €4,5 M de taxa de empréstimo e €15 M fixos no final da época. Este exemplo permite verificar que os indicadores de desempenho de JS dificilmente justificam uma valorização da sua taxa em 278% sobre o valor de aquisição, um ano antes. No entanto, a procura por diversos clubes (nunca confirmada), a noção de urgência de Rui Borges ter um jogador com os raros atributos de JS (noção de escassez) e os dirigentes do Sporting necessitarem de mostrar serviço inflacionaram o preço, distorcendo o que deveria ser uma relação justa entre custo-benefício (segundo especialistas, considerando o plantel do Sporting, o modelo de jogo e a ausência de lesões dos jogadores chave, dificilmente JS teria entrada direta no onze inicial, para além disto a sua idade é outro fator em ter em consideração num possível futuro retorno económico. Ou seja, segundo estes especialistas a probabilidade de retorno económico seria nula). Independentemente de a transação não ter acontecido por um detalhe técnico, eis novamente os fatores emocionais a comandarem a taxa dos direitos desportivos de um jogador.
Em conclusão, pode referir-se que os fatores motivacionais permitem ao clube vendedor criar um clima de escassez e urgência que conduzem o clube comprador a pagar uma taxa superior à indicada pela racionalidade da operação e até ao comparativo de mercado. Assim, a fixação da taxa de transferência de direitos desportivos de jogadores de futebol profissional supera a razão e vai ao encontro de António Damásio ao afirmar, no seu reconhecido livro O Erro de Descartes, que as respostas emocionais refletem a interação com o todo e as perceções. Assim, provavelmente, uma larga fatia da taxa corresponde à crença emocional de se acreditar em algo maior que a razão."

SportTV: Miguel Oliveira fora da PRAMAC

Terceiro Anel: DRS #22 - Grand Slam Piastri & GP Itália...

DAZN: F1 - Antevisão ao GP de Itália