Últimas indefectivações

terça-feira, 13 de março de 2012

Crime

"O alargamento da Liga portuguesa é um crime contra o futebol. E também contra o país. Mais uma vez os chamados clubes profissionais avançam para o abismo, ignorando a situação catastrófica da economia, a falta de recursos e a necessidade de regulação e estratégia. Quando todos os portugueses encolhem, procurando sobreviver, o futebol alarga, com perigo de rebentar – se esta decisão for homologada nas instâncias superiores.

Clubes sem público, equipas sem orçamento, competição sem impacto – eis a sequência estrutural da atividade futebolística em Portugal, recomendando, pelo contrário, mais concentração, mais pragmatismo financeiro e melhor adequação mediática. O espetro futebolístico nacional, o tamanho do país e a influência da grave crise económica e social recomendariam uma redução da Liga para 10, no máximo 12 clubes, respeitadores das boas práticas de gestão e de limitações quantitativas e qualitativas ao recurso a jogadores estrangeiros.

Com esta viciação descarada das regras do campeonato em curso, protegendo-se os piores ao desfecho da despromoção, os clubes voltam a glorificar essa incontornável tendência para nivelar por baixo. Fazer com que as piores equipas do ano não desçam de divisão é um atentado contra a moral desportiva, mais um passo atrás na formação das novas gerações de adeptos, cada vez mais convencidos de que só a vitória interessa, a qualquer preço.

A redução para 16, em 2006, decidida no Conselho Nacional de Desporto e aprovada pela Federação Portuguesa de Futebol, apesar de não acompanhada pela prometida regulação da utilização de jogadores estrangeiros nem pelo controlo financeiro, ajudou nas últimas seis temporadas a uma subida relativa dos índices competitivos internos, entre os clubes realmente estruturados, com mais equipas envolvidas na discussão dos primeiros lugares.

O atual ranking nas provas da UEFA, à beira de passar a ter três equipas na Liga dos Campeões, é uma das consequências positivas da redução do campeonato, ao deixar mais tempo aos clubes principais para prepararem as suas participações internacionais. Portugal nunca teve tantas equipas envolvidas nas provas europeias no segundo semestre da época como nos últimos quatro anos.

O alargamento não vai estancar a diáspora do jogador português, que se viu forçado a procurar conforto noutras zonas muitos anos antes de o Governo ordenar a emigração em massa aos nossos jovens. Não vai diminuir a atividade do presidente do Sindicato para minimizar os efeitos dramáticos do abuso sistemático do não pagamento de salários no tempo devido. Não vai aumentar o bolo de receitas publicitárias e de direitos de imagem, nem diminuir a terrível invasão cultural do futebol espanhol e inglês, através de centenas de horas de televisão, nos hábitos do português comum.

O alargamento, de facto, é só mais um sinal do regresso da malta dos xitos aos bons tempos do velho “Sistema”, que se mostra cada vez mais pujante e completamente restabelecido do susto das ameaças da Justiça."


Um líder

"From: Domingos Amaral
To: Jorge Jesus

Caro Jorge Jesus
Uma das principais doenças dos benfiquistas é, na hora da derrota, criticarem mais os erros próprios que os alheios. Na sexta da semana passada e nos dias seguintes, o que se ouvia mais eram críticas a ti, pelas supostas más decisões que tomaste; críticas a Emerson, que era péssimo e sem qualidade para o Benfica; e até críticas a Artur, por ter saído mal! A raiva e a frustração primeiro viraram-se para dentro, para o autoflagelamento.
Em vez de, como deviam, se virarem para fora. Na verdade, o Benfica portou-se bem e só as más decisões de Proença e dos auxiliares nos derrotaram. Não fomos vencidos pelo FCP mas pelos árbitros! A raiva não devia ser dirigida contra os nossos, mas sim contra quem nos prejudicou gravemente.
Graças a ti, ao teu discurso no fim do jogo, e também graças à excelente condução da equipa contra o Zenit, a partir de terça-feira já a maior parte dos benfiquistas não só voltara a acreditar no Benfica, como também já tinha aberto os olhos e percebido que só perdemos o jogo com os azuis porque fomos escandalosamente roubados.
O teu grande mérito esta semana foi teres sabido ser líder. A raiva profunda que sentíamos foi conduzida por ti no bom sentido, primeiro contra os verdadeiros responsáveis pela derrota, Proença e “sus muchachos”, e depois tornando-a numa estratégia inteligente que nos levou à vitória sobre o Zenit.
E de repente, o que acontece? O FC Porto empata em casa e, se amanhã ganharmos, estamos de novo em cima deles. Viram, gente de pouca fé, que afinal não está tudo acabado?"


Objectivamente (lamaçal)

"Ainda há muita gente que acredita na transformação (e regeneração) do Futebol português, quer pela abstinência dos habituais tubarões, quer pela reciclagem dos velhos hábitos que vão dando títulos aos tradicionais batoteiros! Desenganem-se! Esta gente não abdica. Não larga o «bem-bom» e não está a fim de deixar que a seriedade impere nos bastidores, mesmo depois de apanharem um grande susto com o processo «Apito Dourado». De pouco serviu. Os anos vão passando, os tribunais vão recebendo recursos e mais recursos e os processos vão sendo arquivados sem castigos para os vigaristas e corruptos. E a dança continua agora mais refinada!

Quem viu o último Benfica - FC Porto ficou com a nítida sensação que estávamos nos anos 80/90 e o árbitro, em vez de ser «FIFA» Proença, era António Garrido ou José Silvano!

Quem viu aquilo - e foi todo o Mundo - não tem dúvidas em corroborar a minha insistente e velha teoria que o cancro do Futebol são os árbitros. Eu defendo, há muito, uma parceria da FIFA com Bill Gates para inventarem qualquer coisa que tire essa rapaziada dos campos de Futebol!

Eu quero ir à bola e estar descansado na bancada. Quando a minha equipa perder é porque não jogou bem, ou porque falhou muitos golos, ou porque teve azar! Estou cansado de ver a minha equipa perder por «ERROS HUMANOS» dos árbitros! Não quero. Estou cansado de tantos erros dos seres humanos que apitam jogos de Futebol. Principalmente... porque se enganam sempre contra a minha equipa.

Não sei o que hei-de fazer. São muitos anos a levar com isto e já não tenho paciência para andar sempre a desculpar os erros humanos que prejudicam quase sempre a mesma equipa. Pelo menos, nos últimos 30 anos os humanos que erram são tão esquisitos!..."


João Diogo, in O Benfica