"Apesar da interrupção do campeonato, observou-se um jogo muito disputado
Paragem
1. A descontinuidade do processo competitivo no futebol acarreta um conjunto de dúvidas sobre o rendimento das equipas no primeiro jogo a realizar após tal paragem. Apesar de muitos treinadores estarem de acordo com essa interrupção, todos eles sabem que, por muito que modelem, durante esse período temporal, o processo de treino à imagem da competição, jamais o alcançam. Logo, após a paragem competitiva para o Natal e Ano Novo, as equipas necessitam de tempo para retomar o rendimento das rotinas ofensivas e defensivas antes atingidas. Provavelmente foi possível ter algum descanso regenerativo, apurar dinâmicas e calibrar sincronismos colectivos, bem como alterar algumas sub-rotinas, tais como as situações de bola parada, de modo a surpreender o adversário. Contudo, haverá mais desvantagens do que vantagens (exceptua-se as equipas que recuperaram jogadores importantes, tendo, assim, mais opções na sua organização dinâmica).
Campeonato
2. Duas das equipas que melhor futebol desenvolverem em Portugal, em virtude do calendário e da classificação, encontraram-se nesta encruzilhada temporal. É evidente que a distância pontual entre ambas (18 pontos), em virtude das 13 vitórias e 1 derrota do S.L. Benfica (37 golos marcados e 5 sofridos) contra 5 vitórias, 6 empates e 3 derrotas do Vitória S.C. (24 golos marcados e 17 sofridos) provavelmente não corresponde à qualidade de futebol apresentado, mas sim, porventura, às individualidades, às vicissitudes, à sorte, entre outros. Mas como se sabe, as equipas alimentam-se de pontos, sendo a melhor plataforma para consolidar a confiança e a coesão de qualquer colectivo.
Intensidade
3. Apesar da interrupção do campeonato, observou-se um jogo muito disputado, intenso, vivo, quase sem interrupções. Contudo, este facto não é sinónimo de um grande espectáculo desportivo. O Vitória S. C. interpretou o que gosta de fazer, ou seja, ter a iniciativa de jogo, obrigando em grande parte do tempo o S.L. Benfica a lutar muito, impossibilitando-o de exteriorizar a sua própria forma de jogar.
Estratégias
4. Ambas as equipas utilizaram dinâmicas estratégico-tácticas similares. Assim, assumiram na fase defensiva do jogo a necessidade imperiosa de manter equilíbrios defensivos e, regressar rapidamente, após a perda da bola, para um bloco defensivo intermediário, compacto e com todos os jogadores atrás da linha da bola, num sistema 4x1x4x1. Deste modo, evitar-se-ia o jogo interior, obrigando as equipas a utilizar o espaço exterior. Na fase ofensiva as saídas na 1.ª e a passagem para a 2.ª etapa de construção caracterizam-se por serem controladas e tecnicamente evoluídas (acções de Gabriel e Pepe). Nas etapas de criação e de finalização do ataque o Vitória SC foi a equipa mais perigosa, acumulando ao longo da partida mais aproximações à grande área adversária e mais acções de remate.
Números
5. O Vitória S.C., teve mais posse de bola, mais remates, mais ataques perigosos, logo, os n´meros de carácter quantitativo retirados dos jogos não justificam o resultado final do jogo. Não vale a pena referir que o jogo de futebol não tem lógica, na verdade, nem todos os dados contam, bem como nem todos os dados devem ser contados."
Jorge Castelo, in A Bola