Últimas indefectivações

quinta-feira, 4 de junho de 2015

«A gratidão define muito o carácter das pessoas»

"Boa noite a todos,
Sejam bem-vindos, uma vez mais, a esta casa que tem orgulho em receber todos os seus sócios e adeptos. 
Como sabem, este jantar já é uma tradição que se repete todos os anos, e, como todos os anos tenho defendido, acho que devemos deixar a Assembleia da República para a política e trazer os benfiquistas para a sua casa natural, que é o Estádio da Luz.
Numa rápida vista de olhos pela sala, diria que, se não temos nesta sala a maioria parlamentar, devemos andar lá perto.
A dimensão do Benfica é reflexo da nossa história, do legado de jogadores como Eusébio, Coluna, Simões e tantos outros, mas também da nossa base popular e, porque não dizê-lo, do trabalho de recuperação que nos trouxe até aqui.
Queria recordar, porque acho que é justo fazê-lo, o nome e a memória de Manuel Seabra.
Confesso que tenho saudades do seu entusiasmo, da sua capacidade e da sua vontade de que este encontro fosse um hábito anual. Tenho a certeza de que todos nesta sala partilham do mesmo sentimento e da mesma saudade.
É impossível, depois do ano e da conquista do título de Campeão Nacional – o 1.º Bicampeonato em 31 anos – e da Taça da Liga, não sentir orgulho pelo trabalho feito e pelos resultados alcançados.
Voltámos a ser um Clube ganhador, respeitado, admirado em Portugal e no estrangeiro. Mas não se convençam de que o ciclo mudou. O ciclo só vai mudar em definitivo se continuarmos a ser sérios, profissionais e empenhados.
Não sou demagógico, porque nunca o fui. O que conquistámos foi fruto de muito trabalho, de uma estrutura profissional ao nível dos melhores clubes do mundo, de uma permanente capacidade de inovar e de resolver os problemas que naturalmente aparecem sempre, e de uma massa associativa que sempre nos apoiou.
Mas há um aviso importante que devo fazer: O que foi conquistado já ficou para trás, já faz parte da história e do passado. Foi bom, foi merecido e foi festejado, mas já passou.
O que conta agora é o futuro. E, para sermos bem-sucedidos no futuro, a fórmula é a mesma: humildade, trabalho, vontade de ganhar. E essa vontade tem de vir do relvado, mas também tem de vir das bancadas, dos adeptos e dos sócios.
Ninguém constrói nada sozinho, muito menos num Clube com a dimensão do Benfica. Os títulos, qualquer um, são sempre fruto do trabalho colectivo.
Sou – e tenho orgulho nisso – o timoneiro deste grande barco, mas sem a equipa que à minha volta foi constituída não teria sido possível chegar aqui.
Os que trabalham nos recursos humanos, na contabilidade, no marketing, nas modalidades, no futebol de formação. Todos os que trabalham no Benfica são campeões e merecem o sucesso que o Clube está a viver.
Quando dizem que o futebol é um jogo de equipa, é verdade. Mas, ao contrário do que alguns pensam, a equipa vai muito além daqueles 18 jogadores que jogo após jogo entram em campo, e da sua equipa técnica. A equipa integra todos os funcionários de todos os departamentos desta casa.
Sei que muitos estão aqui – nomeadamente os jornalistas – à espera de uma palavra minha em relação ao futuro treinador do Sport Lisboa e Benfica. Os que me conhecem sabem que uma das maiores virtudes que aprecio nas pessoas é a gratidão.
A gratidão define muito do carácter das pessoas. Por isso o que vos posso dizer é que vou procurar - com tempo e sem presa - um treinador de carácter, ambicioso e comprometido com o Benfica e com toda a estrutura do Clube.
Ao contrário do que dizem, não tenho nenhum pré-acordo com ninguém, mas tenho uma ideia muito clara do que quero para o Benfica. Quero um treinador ganhador, que não tenha medo de apostar nos nossos miúdos e que seja capaz de construir um projecto integrado desde os nossos escalões de formação até ao futebol profissional.
O Benfica somos nós, aqui não há insubstituíveis, mesmo que alguns pensem que o são!
Estou desiludido, mas não surpreendido. E acima de tudo estou determinado em voltar a ganhar. O tempo é sempre o melhor juiz das nossas acções. Veremos o que o tempo nos dirá dentro de um ano.
Finalmente, um pedido: Não se preocupem com os que partem. Alegrem-se com os que ficam e os que vão chegar, porque é com eles que vamos continuar a ganhar!
Muito obrigado a todos e obrigado pela vossa presença.
Viva o Benfica!"

Comunicado

A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, em cumprimento do disposto no artigo 248º do Código dos Valores Mobiliários, informa que em função das notícias veiculadas ontem e hoje relativamente a um possível compromisso com outra SAD do nosso actual Treinador da equipa principal de futebol, foram encerradas quaisquer negociações relativas a uma eventual renovação do contrato que termina em 30/Jun/2015. Em consequência, iniciaram-se conversações preliminares relativas a potenciais candidatos a Treinador da equipa principal de futebol.

Jonas...

Artur...

O regresso da Primeira Circular

"Como é que um clube fica refém dum treinador que soma títulos atrás de títulos? Alguém em Manchester se terá sentido refém de Ferguson?

EM público e em privado, muita gente filósofa se tem deleitado a concluir, de forma precipitada, que depois de dois anos sem ganhar qualquer troféu o Porto entrará irremediavelmente num contraciclo que o reconduzirá aos patamares de relativa singeleza competitiva em que viveu desde a data da sua fundação, seja ela qual for, até à eleição de Pinto da Costa como presidente do clube.
Não é, no entanto, a primeira vez que uma parvoíce destas se faz ouvir.
Já tinha acontecido na viragem do século haver quem pensasse exactamente a mesma coisa quando o Porto perdeu três campeonatos de seguida, dois para o Sporting e um para o Boavista.
Anunciou-se logo ali, perentoriamente, o fim da consabida hegemonia do Norte que relegara os dois grandes clubes de Lisboa para a modéstia em função dos seus respectivos e sonantes historiais.
Não podia ter sido maior o engano.
Nessa altura coube ao Benfica, oferecendo numa bandeja o treinador José Mourinho ao Porto, contribuir fortemente para a solução do problema que se anunciava nas Antas. O Porto respondeu imediatamente com um bi, recompôs-se e depois disso ainda fez um tetra e um tri. Lembram-se?
O episódio Mourinho de 2002 ainda hoje se discute pelas nossas bandas. Há correntes filosóficas que, por exemplo, defendem que foi um erro histórico do Benfica.
Outras correntes defendem que, perante as exigências de Mourinho para regressar à Luz, o clube jamais poderia ficar refém de um treinador tendo procedido bem em fazê-lo seguir para o Porto.
Como nunca conseguirei entender como é que um clube pode ficar refém de um treinador que soma títulos atrás de títulos - alguma vez em Manchester alguém se terá sentido refém de Ferguson? -, confesso que sempre vi a coisa mais pelo lado do erro histórico.
Oxalá que nunca se venha a repetir.

A próxima temporada abre com um Benfica-Sporting ou com um Sporting-Benfica, como se preferir, no dia 9 de Agosto. E com novos treinadores nos respectivos bancos, é o que tudo indica.
Certo é que o primeiro derby do ano trata da discussão da Supertaça que coloca frente a frente o vencedor da Liga e o vencedor da Taça de Portugal. Falta, portanto, pouco mais de dois meses para o acontecimento que, como sempre, promete.
Passaram-se, entretanto, 28 longuíssimos anos desde que uma Supertaça foi discutida entre os emblemas da Segunda Circular. Ou seja, demorou quase três décadas voltar a acontecer a suposta divisão dos títulos verdadeiramente sonantes do nosso futebol - Campeonato e Taça de Portugal - pelos dois grandes da cidade de Lisboa.
A explicação é fácil. Neste dilatado hiato de 28 anos, o Benfica conquistou 8 campeonatos e o Sporting apenas venceu 2. Há ainda que contar 1 título nacional para o Boavista. O que sobrou, e foi imenso, coube tudo ao Porto que para além de campeonatos somou Taças e Supertaças a perder de vista. Por isso mesmo a Segunda Circular viu-se despromovida pela opinião pública a Terceira Circular e, mais impiedosamente ainda, viu-se até relegada a Quarta Circular nos anos em que nem o Benfica nem o Sporting conseguiram conquistar nada daquilo que verdadeiramente interessa, o que aconteceu por 4 vezes na década de 90.
A última Supertaça jogada entre Benfica e Sporting aconteceu em 1987 e, em bom rigor, o Sporting qualificou-se para essa discussão por ter sido o finalista vencido da Taça de Portugal frente ao Benfica que fez a dobradinha nessa temporada.
Voltemos rapidamente ao presente que nos coloca perante esta situação de contornos quase museológicos de vermos a dita Segunda Circular recuperar metaforicamente o estatuto de Primeira Circular do futebol português.
Para além do excelente trabalho do Benfica ao longo de 34 jornadas e do excelente trabalho do Sporting na jornada do Jamor, que fenómeno raro se terá passado em 20l4/20l5 para que o triunfo do centralismo pudesse voltar a acontecer?
Os próximos anos dirão, certamente, se foi apenas um acaso, nada mais do que uma coincidência feliz para os clubes da Capital.
Ou se houve qualquer coisa de mais substancial que possa ter justificado estas ocorrências num momento em que o Porto, contrariando o preceito de ouro do seu missal, não consegue estar de boas relações com o Sporting contra o Benfica ou de boas relações com o Benfica contra o Sporting. Aqui está um fenómeno que também não se via há coisa de três décadas. E esta é que é a grande novidade que marcou as últimas duas épocas.

NUNCA haverá em Portugal uma rivalidade que se compare à rivalidade entre os dois maiores de Lisboa. Por isso lhes chamam eternos rivais. É uma situação estrutural. Já quanto às flutuantes rivalidades do Benfica e do Sporting com o Porto trata-se, enfim, de uma situação conjuntural.
O Benfica ganhou na sexta-feira a Taça da Liga e o Sporting ganhou no domingo a Taça de Portugal e, desde então, já nem sei quantas vezes ouvi benfiquistas e sportinguistas trocarem entre si notáveis galhardetes de ironia:
- Parabéns pela Taça da Cerveja!
- Parabéns pela Taça das Bifanas!
Enquanto for só isto ninguém se magoa.

O Benfica conquistou, portanto, a sua sexta Taça da Liga e, por mim, pode continuar nesta senda. O adversário foi o Marítimo que deu muito que fazer mesmo jogando com menos um durante quase toda a segunda parte.
O homem do jogo foi, uma vez mais, Jonas porque marcou o primeiro golo do Benfica e porque ofereceu o segundo e decisivo golo do Benfica a Ola John depois de ter fintado quatro adversários no espaço de um metro quadrado na área maritimista. Foi mais um exagero do brasileiro.
A verdade é que tantas vezes foi Jonas o homem do dia nesta época que mais vale dizer que Jonas foi o homem do ano apesar de ter chegado à Luz já com a temporada em andamento.
Foi, aliás, uma temporada bastante aceitável com a conquista de três títulos oficiais - Supertaça a abrir, Liga e Taça da Liga a fechar.
Só faltou fazer melhor na Taça de Portugal e fazer qualquer coisa que se visse pela Europa. Este ano não se viu Benfica europeu, o que não teve graça nenhuma, mas talvez a isso se fique a dever o bicampeonato que teve a sua graça até pelas circunstâncias em que foi conquistado.
É que não foi nada fácil. O Benfica, perdendo mais de meia equipa com que tinha brilhado na época anterior, soube reconstruir-se em modo operário e exibindo sempre uma enorme frieza de espírito a que se chamou pragmatismo.
Compreende-se, assim, a alegria benfiquista pelos sucessos internos desta temporada mas, repito, engana-se quem acreditar que o Benfica voltou aos tempos em que com qualquer treinador se arriscava a ser campeão.

PROPONDO uma redução salarial ao treinador que venceu dois campeonatos nos últimos dois anos de contrato, o Benfica parece consentir alegremente em ver Jorge Jesus a aproximar-se do Sporting. Duvido, no entanto, que o Porto consinta numa coisa destas.

NO sábado passado o Benfica lá voltou a Guimarães para celebrar mais um título nacional, desta vez o de basquetebol. Antes da festa houve que ganhar o decisivo terceiro jogo do play-off à equipa do Vitória que jogava em casa fortemente apoiado pelo seu público.
O basquetebol é um espectáculo que fica bem no pequeno ecrã e a realização esteve à altura da importância e das emoções do acontecimento.
Nos momentos em que os treinadores pediam pausas no jogo os telespectadores usufruiam do privilégio de poder ouvir Carlos Lisboa e Fernando Sá dando instruções aos seus jogadores... em inglês, a língua franca da modalidade.
Mas quando o presidente da Federação entregou o troféu a Diogo Carreira foi em bom português que os campeões cantaram o feito. 'Campeões, campeões, nós somos campeões!' E são mesmo. Pela quarta vez consecutiva.

COM um corte de cabelo que o faz parecer um jovenzinho, Pablo Aimar regressou ao futebol no domingo passado depois de um ano de ausência dos relvados e de três operações ao joelho. O argentino que nos encantou entre 2008 e 2013 voltou a jogar com a camisola do seu River Plate catorze anos depois de ter trocado o clube de Buenos Aires pelo clube de Valência que ainda nem sequer pertencia ao senhor Peter Lim.
Foi um prazer rever as deambulações líricas de Pablo Aimar, já com 35 anos, durante o quarto-de-hora final do jogo do River com o Rosário Central. Ah, os artistas...

PS: E lá vai o Jesus para o Sporting perder a graça toda que nós lhe achávamos. E que lástima ter sido o Benfica a empurrá-lo para Alvalade. Sim, porque é sempre muito feio um patrão oferecer uma redução salarial a um trabalhador com méritos. Acontece muito disto na nossa sociedade doente. E alguma vez tinha de chegar ao futebol. Que pena ter sido logo no Benfica."

Leonor Pinhão, in A Bola

PS: A nossa Leonor desta vez, deixou-se levar pela onda da contra-informação: o proposta de renovação do Benfica ao Jesus não implicava nenhuma redução contratual. Seria um contrato igual aos outros 3, que ele assinou com o Benfica. Se os braços da Holdimo repetiram até ao tutano nos últimos meses a mesma história, isso não a torna verdadeira...

Onde está a lógica?

"A época terminou. Começou a catadupa de não notícias, pré-novidades e pós-desmentidos. Este ano com uma novidade, ao que parece: a dança de treinadores dos clubes grandes, com o prenúncio de uma lógica inovadora: treinadores com sucesso estão à porta de saída, treinadores com insucesso, seguros. O bicampeão Jorge Jesus - anunciou ontem A BOLA - «mais longe do Benfica, mais perto do Sporting», colocando a 2.ª circular em alvoroço. Marco Silva, ao que tudo indica, só está preso ao seu patrão enquanto o direito de alforria não tiver a justa compensação. Lopetegui, o perdedor, parece estar de pedra e cal no Porto.
Como benfiquista, custa-me perceber a novela à volta do treinador. É óbvio que poderá haver aspectos que, de fora, não alcançamos. Mas serão assim obstáculos tão difíceis de ultrapassar? Será que a relação de amizade, confiança e cumplicidade entre Vieira e Jesus se desvaneceu? Será que a folha salarial é um tão forte entrave para um treinador que vem significando retorno como nunca se viu no Benfica? Ou será que não se pode encontrar um bom compromisso entre austeridade nas contratações e o aproveitamento de jovens talentos?
E pergunto, qual a alternativa em caso de separação? Para o Benfica, arrisco dizer que é um retrocesso, pois não vejo treinador à altura do almejado tricampeonato (aliás, o bi muito deve à manutenção da equipa técnica). Para L.F. Vieira, uma decisão de todo incompreendida pela maioria dos benfiquistas. Para J. Jesus, não foi ele que disse que sair do SLB era mudar de cavalo para burro (com o meu devido respeito pelo burro, seja ele qual for)?
*Crónica escrita antes de ser noticiada transferência de Jorge Jesus para o Sporting"

Bagão Félix, in A Bola