Últimas indefectivações

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Entre o Inverno e a Primavera

"Gostei de ver jogadores das duas equipas a respeitarem-se no fim, dando provas de que, não raro, são os melhores agentes deste desporto.

Um empate desequilibrado
O futebol é mesmo assim: o Benfica, pelo que jogou, poderia ter goleado o Sporting, mas esteve na iminência de perder o jogo. Não me recordo, pelo menos neste século, de uma tão enorme diferença entre as duas equipas. Basta dizer que o Benfica rematou 23 vezes e criou 9 oportunidades de golo. Jorge Jesus afirmou na conferência após o jogo que Rui Patrício não teve trabalho, o que até é parcialmente verdade. Mas as bolas que não entraram por cortes in extremis de outros jogadores, ressaltos de toda a sorte, barra e mãozinhas marotas são a prova do rolo compressor da equipa da Luz.
Não me vou deter na arbitragem. Acho que errou em alguns momentos decisivos, mas não vale a pena insistir. Umas vezes erros acontecem contra as nossas equipas, outras vezes favorecem as nossas equipas.
Apenas gostaria de voltar ao projecto do VAR. Para referir dois aspectos: o primeiro, para sublinhar que o decisor soberano dos 6 árbitros de cada encontro (o principal, os assistentes, o 4.º árbitro, o VAR e o assistente do VAR) é, apenas e unicamente, o árbitro que anda no relvado. Os outros ajudam ou desajudam, nada mais. Por isso - e aqui saúdo a interpelação de Rui Vitória - o 'puxa para cá, puxa para lá' entre o árbitro e o VAR tem sempre a possibilidade de, em última instância, ser clarificado e decidido pelo juiz soberano, através do visionamento das imagens no monitor instalado junto do relvado. Nós não conhecemos o diálogo entre o estádio e a 'cidade do futebol' onde reside o VAR (pena é, porque aumentava o rigor e a transparência de processos), mas, admito como razoavelmente provável, que a conversa entre eles, por exemplo no caso de reclamados penáltis no dérbi lisboeta, seja do tipo 'provavelmente foi penálti (ou não) mas não temos 100% de certeza'. Então porque é que o árbitro principal se encolhe e se esconde sob o árbitro (não definitivo) do VAR e evita ir ele próprio ver e rever as imagens no local do 'crime'? Para que serve, afinal, o VAR se só opina com eficácia decisória quando tem 100% de certeza de que foi ou não foi falta, ou como se diz em jeito de pleonasmo, quando tem a 'certeza absoluta'? Para o futuro e no caso de grandes penalidades (marcadas ou por marcar) não deveria ser obrigatório o visionamento da jogada pelo árbitro? Admito que as coisas melhoram neste sentido com a maturação do novo sistema. Ouço, por vezes, a crítica que, em tese, se pode fazer a este visionamento pela interrupção maior do jogo, mas, sinceramente, há situações (na Luz, houve algumas) em que mandaria a justeza da decisão que o árbitro fosse verificar com os seus próprios olhos o que, ao vivo, pode ou não ter sido um erro.
O segundo ponto está ligado à linha virtual para aferir da situação de fora de jogo. Onde está agora quem veio envenenar os comentários e apreciações dos jogos e respectivas transmissões televisivas afirmando, preto no branco, que o VAR se baseava nas tais linhas que vemos na televisão? Afinal, dizem-nos agora que a razão para o golo do Sporting ter sido validado - e não me custa admitir que o tenha sido, porque defendo que o fora-de-jogo milimétrico e apenas detectado numa repetição com imagem parada pode não ser assinalado - se prende com a circunstância de o VAR não ter essas ou outras quaisquer linhas. Será assim tão difícil ter um software exclusivo do VAR para ajudar a que haja mais justas decisões?
Uma última nota: gostei de ver os jogadores das duas equipas a respeitarem-se no fim de um jogo vibrante, assim dando provas de que, não raro, são os melhores agentes deste desporto.

Eis a 2.ª volta
Disse atrás que o Benfica bem poderia ter sido o indiscutível vencedor do grande dérbi nacional. Apesar de tudo, além de uma exibição de qualidade, com vontade e determinação que vulgarizou o adversário, o golo quase no fim vale mais do que aparenta. Aquela partida, antes de começar e quase conhecida a vitória sofrida do FCP em Santa Maria da Feira, tinha para o Benfica uma amplitude de ficar a 3 pontos dos dois rivais (no caso de vitória) ou a 12 pontos (no caso de derrota). Com Sporting a vencer perto do fim, era esta última distância que pairava no meu espírito desalentado, ou seja, por outras palavras, uma remota possibilidade de vencer o campeonato. O golo de Jonas limitou muitos os danos, pois que diminui de 12 para 8 pontos a distância para o conjunto das outras equipas. Um remate com um efeito psicológico reparador e estimulante (foi absolutamente notável o apoio à equipa durante todo o jogo e após a sua conclusão) e com uma redução de 4 pontos ao dramático cenário que esteve prestes a acontecer.
É ainda uma distância relevante? É evidente que sim, mas longe de ser impossível de superar. Quanto à diferença para o Sporting, o Benfica continua a depender apenas de si. Quanto à do Porto, é verdade que não depende apenas do Benfica, mas muita água pode correr ainda por baixo da ponte, quando falta uma volta completa por disputar. Já no sábado um jogo crucial e bem difícil em Braga.

Rafa e não só
Estamos no defeso do frio. Uma invencionice para agradar aos poderosos e encher os bolsos de comissionistas e afins. No nosso futebol doméstico, o Sporting tomou a dianteira e anda para aí a contratar à tripa forra. Não se trata tanto - usando a gíria desportiva - de pôr a carne toda no assador, mas de pôr toda a liquidez (?) e receitas antecipadas (?) no marcador. Já o Benfica vai mais de devagar, o que até não é mau, se souber trazer jogadores de qualidade para alguns lugares chaves como, à excepção de Krovinovic, não soube fazer no defeso quente. Mas, ao mesmo tempo, este mês pode ajudar a reduzir a folha salarial e o elenco desportivo de algumas redundâncias e/ou inutilidades (para o Benfica, que não necessariamente para outros clubes). Em qualquer caso, gostaria que João Carvalho, um jogador muito promissor, continue na equipa a ganhar espaço e maturidade e que Rafa não seja 'emprestado'.
Detenho-me, por breves linhas, neste jogador vindo do Sp. Braga. Sei que não tem tido um desempenho satisfatório, sei que alguns adeptos não estão convencidos das suas capacidades, sei que foi um investimento vultuoso, mas, para mim, é um jogador que deve ser apoiado e acarinhado. É um atleta com um velocidade invejável (factor cada vez mais importante no futebol), tem uma técnica acima da mediania e capacidade de progressão. Reconheço que lhe falta o quase no momento da finalização ou do último passe e que está a ter dificuldades na passagem de um clube médio para um grande clube em que os erros são cruamente escrutinados. Dá a sensação de ser um jogador triste, algo ensimesmado, com falta de confiança e que precisa de ser motivado. Aspectos que podem e devem ser trabalhados pela equipa técnica. Aqueles minutos no dérbi lisboeta mostraram que pode render muito mais. Li que pode ser emprestado. Pela minha parte, acho um erro se tal suceder. O que ele precisa é de maior entrosamento e confiança não numa outra qualquer equipa, mas no Benfica. Força,Rafa!

Contraluz
- O caceteiro de patins: Falo de Pedro Gil, agora jogador do Sporting.
Um espanhol que, quase com 40 anos, ainda tem tanto de jogador genial, como de carácter belicoso, arruaceiro e desleal para com colegas de profissão. Na época passado, no Sporting - Benfica usou o stick como arma de arremesso. No sábado, acabou o jogo habitual 'tarantantan' de mau carácter. percebo por que não o querem em Espanha...
- O fiteiro de chuteiras: Fábio Coentrão
Não está em causa a sua determinação e profissionalismo, nem me interessam as juras eernas que antes fez ao clube que lhe proporcionou outros voos e muito dinheiro. Apenas me cinjo ao fingimento ridículo de uma agressão com cartolinas que lhe bateram suavemente nas costas e que suscitaram que rolasse pelo relvado contorcido com dores no pé. Ó homem, ao menos faça bem o teatro...
- O treinador jurássico: Arsène Wenger
Treinador do Arsenal, onde apenas conquistou 3 ligas, a última das quais há 14 anos, lá chegou aos 46 anos de idade e lá permanece imóvel há 21 temporadas, num recorde de permanência cuja verdadeira razão de ser é um enigma. No passado sábado, juntou ao seu percurso a mais precoce eliminação da Taça de Inglaterra contra uma equipa que milita na 2.ª liga e em lugar modesto. Só mesmo na Velha Albion!"

Bagão Félix, in A Bola

Tiro ao boneco

"1. Está para nascer o treinador de futebol que seja sempre e totalmente coerente. É fácil, portanto, apanhar qualquer um deles em falso, sobretudo quando o tema é arbitragem. O ataque de Sérgio Conceição a Rui Vitória passou dos limites. Se Conceição tivesse um boneco igual ao do filho, seguramente que já tinha estragado a tecla do modo agressivo.
2. O Sporting pode fazer história ao conquistar, numa só época, seis títulos de campeão nacional de futebol. Um no campo, se ganhar a corrida, e cinco na secretaria (quatro com a conversão de Taças de Portugal em Campeonatos e mais um pela perda do título do Benfica em 2015/16 por corrupção). É obra. A isto se chama recuperar o tempo perdido.
3. Não é por acaso que lhe chamam Gabogol e não Gabigols. Dez jogos e um golo pelo Inter de Milão, cinco jogos e um golo pelo Benfica. Está certo.
4. Cada treinador puxa a brasa à sua sardinha no final dos jogos, faz parte. Às vezes até parece que não viram o mesmo filme, ok, lá se aceita. Mas o discurso de Jorge Jesus após o derby (já tinha levado um banho de bola do FC Porto), confundindo um filme de Tarantino com o Música no Coração, foi tão absurdo como a actuação de Fábio Coentrão no teatro das cartolinas. Ai se fosse Rui Vitória.
5. Jogos às 21 horas ou mais (um derby então...) seja em dia de semana ou mesmo ao fim de semana, fazem tanto sentido como usar gola alta numa praia de nudismo. Tenham vergonha na cara.
6. O Sporting tem sido, neste Campeonato, a equipa com mais estrelinha e com maior investimento (junta-se a obsessão de Jesus por compras com a obsessão de BdC pelo sucesso), pelo que, no final, em caso de insucesso, só há um réu: Jesus. Os deuses e a Direcção estão ilibados.
7. Ouvir qualquer responsável dos três grandes acusar um dos rivais (ou ambos) de coacção é tão ridículo como continuar a chamar novo Pelé a Freddy Adu."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: O artigo estava excelente, mas o último ponto borrou a pintura! Comparar a postura oficial do Benfica, com os outros dois, é completamente absurdo...

O desporto como instrumento da Paz

"O desporto, graças a uma linguagem universal que é a sua matriz, está vocacionado para aproximar povos e criar pontes entre gentes desavindas. Esta é a ordem natural das coisas, por vezes pervertida por comportamentos irracionais que transformam a festa em exercícios penosos de estupidez humana.
Há muitos anos que o Mundo vive ameaçado pela filosofia belicista da Coreia do Norte, acompanhada agora por uma crescente aptidão tecnológica. A este dado acresce a chegada à Casa Branca de Donald Trump, elemento perturbador, pelo comportamento errático que lhe está associado. A conjugação destes dois factores - se quisermos simplificar Kim Jong-un e Donald Trump, cada um a reivindicar um botão nuclear maior do que o do outro - podia ser um pouco como o encontro da nitro e da glicerina...
Foi neste contexto tenso que ontem ficou a saber-se que o desporto foi utilizado como válvula de escape para uma pressão que ameaçava explodir. A Coreia do Norte vai participar nos Jogos Olímpicos de Inverno, que se disputarão este ano em Pyeongchang, na Coreia do Sul, entre 9 e 25 de Fevereiro, a 80 quilómetros apenas as Coreias e o governo de Seul já qualificou estes Jogos como «A Olimpíada da Paz».
Há alguns anos, Sepp Blatter, que também fez coisas bem feitas, orgulhava-se de a bandeira da FIFA proporcionar, no Médio Oriente, um santuário mais seguro do que a bandeira da ONU. É esta a verdadeira vocação do desporto. Por favor, não estraguem...

PS - Em 1991, uma selecção unificada da Coreia participou, em Portugal, no Mundial de sub-20 em futebol."

José Manel Delgado, in A Bola

Loucura e fosso

"A loucura que tomou conta do futebol conta-se em milhões. Nos gastos em grandes craques, em pequenos craques e nos outros, valores se calhar melhor entendidos à luz do relatório da FIFA sobre comissões de intermediários - nos últimos cinco anos, foram pagos 1,33 mil milhões de euros a agentes (com o pormaior de os clubes portugueses serem os terceiros mais generosos). Os primeiros pontapés deste mercado de transferências de Janeiro mostram que já não é apenas uma tendência: o dinheiro jorra como nunca no futebol de topo europeu e, como sempre, acabará por chegar algum ao nosso país. Nem todo aos clubes, nem todo aos jogadores. A culpa não é tua, futebol, é do mundo em que vivemos.
A meio do campeonato, temos três equipas com, pelo menos, 40 pontos. O que indicia que a tendência dos últimos três anos vai repetir-se: o campeão fará mais de 80 pontos. Algo que também aconteceu nas últimas três épocas, desde que a Liga voltou a ter 18 equipas.. Entre 1995/96 e 2005/06, os outros anos em que houve campeonatos de 34 jornadas com a vitória a valer três pontos, só por quatro vezes houve campeões acima dos 80 pontos. Para simplificar: algo que aconteceu quatro vezes em 21 temporadas estás prestes a acontecer quatro vezes em quatro. São números que mostram claramente o aumento do fosso entre grandes e os outros na Liga nos últimos. Não é um fenómeno exclusivo de Portugal - longe disso - mas devia ser motivo de reflexão para todos. Um dia destes, ainda nos arriscamos a ter campeonatos com três ou quatro equipas a jogarem entre si."

Alvorada... do Coelho

A guerra entre os treinadores

"O clima de se cortar à faca que tem marcado o futebol português fora das quatro linhas foi, até agora, de alguma forma temperado pelo modo cordato como os treinadores se têm conduzido e também pelo comportamento normalmente correcto dos jogadores. Curiosamente, outros anos houve em que se verificou exactamente o contrário: os dirigentes até assumiram posturas civilizadas, mas era raro o clássico que não acabasse em sururu...
A finalizar a última semana, porém, a agressividade verbal entre os treinadores conheceu significativa escalada, o que não pode deixar de merecer um olhar preocupado. Se desaparecer mais esse espaço de urbanidade, os jogadores, normalmente o ele mais fraco nestes processos, pela juventude e não só, ficarão como a última fronteira da sanidade, o que é, no mínimo, sui generis.
É sabido que os treinadores usam os mind games como forma de colher benefício para as suas equipas e desde que não sejam ultrapassados determinados limites, não vem mal nenhum ao mundo de uma ou de outra picardia. O problema com que nos deparemos hoje é de saber se o risco já não foi pisado e se aquilo que foi entretanto dito não terá já provocado danos irreperáveis em relações pessoais.
Curiosamente, Rui Vitória foi o alvo dos dois mais violentos ataques entre técnicos nos últimas anos, em Portugal: primeiro foi Jorge Jesus a dizer que não o considerava treinador; e agora, a semelhança entre o técnico do Benfica e o boneco do filho, feita por Sérgio Conceição, transportou a querela para um patamar que deve entristecer e preocupar a classe dos treinadores."

José Manuel Delgado, in A Bola

A lição de terminologia... desportiva

"Seria bom que o Ministério da Educação tivesse a coragem de definir, primeiro o que é “Desporto” 

Parece estranho que um Ministério da Educação peça pareceres, a vários especialistas, licenciados e doutorados, pagando verbas “apreciáveis”, e que ignore alguns que lhe são oferecidos, gratuitamente, na Imprensa,, por pessoas qualificadas.
Quando uma ciência já possui terminologia própria e até escrita abreviada, diz-se que já tem um certo grau de maturidade e, obviamente, investigação científica, pura e aplicada, tudo com o objectivo de servir melhor o conhecimento e através dele contribuir para a descoberta de novos rumos, que nos possam abrir novas portas no conhecimento desse “desconhecido”, como Alexis Carrel, classificou o “Homem”.
Temos para nós que quem só “sabe” uma matéria específica, de um só ramo do conhecimento, tem, fatalmente, uma visão parcial, e muito limitada do assunto sobre o qual se quer debruçar, sendo preferível, a nosso ver, uma visão multidisciplinar sobre uma questão específica, como, por exemplo, no caso do desporto, com o auxílio e contributo da Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da Medicina, da Física, da Química, da Hidráulica, etc. , etc. ...
Desta forma podemos ir mais longe porque temos a ajuda de pessoas que têm respostas para as nossas perguntas e assim podemos compreender o que os nossos avós não perceberam, por falta de informação.
Estivemos durante décadas em dois Conselhos Científicos de duas Escoas Superiores e até na Direcção de um Departamento de Ensino durante quase vinte anos, e vimos, e sentimos, a dificuldade que é a partilha de conhecimento numa discussão académica com diferentes personalidades de diversos ramos do saber , já que há pouca experiência no Ensino Multidisciplinar, ou seja, um só assunto, partilhado e discutido, sob diferentes pontos de vista, com um conhecimento final sendo este o somatório do contributo de vários docentes de especialidades diferentes, para uma visão mais alargada da questão em causa, no interesse dos alunos. A isto chamamos Universidade com Ensino Integrado e não aquele que é servido aos alunos em compartimentos estanques, ou em blocos separados, que só alguns, com esforço, e inteligência, conseguem juntar.
Seria bom que o Ministério da Educação tivesse a coragem de definir, primeiro o que é “Desporto”, como actividade curricular, ligada, legitimamente, ao Ministério da Educação e, depois, o que é o “Desporto Profissional”, que não é mais do que “Espectáculo”, e que por isso devia estar integrado na Direcção Geral dos Espectáculos, e não no Ministério da Educação, que este sim, tem uma missão de primeira importância que é a educação das novas gerações, que o mesmo é dizer, de preparar o futuro do País para todos os graus de ensino, numa visão, concepção e gestão integrada, de toda a Educação Nacional. Esta a primeira lição.
A segunda é a necessidade de o Ministério da Educação, através dos órgãos de informação pagos, e controlados pelo Estado, utilizar uma terminologia comum, com um significado, bem explícito, e esclarecido de modo a evitar más interpretações, ou até interpretações malévolas. ...
Assim, quando “abrimos a Televisão Pública para ouvir o noticiário, a certa altura o jornalista de serviço anuncia:E agora o Desporto, e começa a falar de futebol profissional que, como é sabido, não é Desporto.
A isto chama-se desinformação, e é evidente que as Escolas Superiores de Jornalismo são responsáveis por esta desinformação.
Depois o cidadão comum, com alguma escolaridade, quando tem intenção de praticar desporto diz que “vai fazer desporto”, como se fosse fazer qualquer necessidade fisiológica, ou fosse fazer um ovo estrelado, etc.. Isto diz bem do atraso terminológico em que o País está, e é evidene que a Escola é que é a culpada, ou seja, o Ministério da Educação.
A questão pior é que dizem que querem um Regime Político Democrático e depois na prática não facultam aos cidadãos conhecimentos suficientes, para que eles possam ser livres e escolher o caminho que querem trilhar.
Só é livre quem tem a possibilidade de escolher o seu caminho.. Isso é que é a Democracia.
E já agora uma “picadinha” política. Será inteligente aceitarmos na nossa Democracia pessoas, que manifestamente, estão contra a Democracia e querem implantar uma ditadura? Será razoável num Estado laico, numa cerimónia oficial, de estado, haver uma cadeira especial, para o Cardeal Patriarca? Será legítimo, numa República, convidar para uma cerimónia pública, o candidato a rei, ou seja alguém que quer a implantação da Monarquia?
Enfim será só um acerto de terminologia, ou falta de facto informação, ao Povo Português.
A culpa é do Ministério da Educação ... porque não educa o Povo...."

Em busca da “arma secreta” no mercado de transferências (parte 1)

"Em Janeiro, assistimos ao que poderíamos chamar de “abertura de época de caça” - ao melhor jogador, aquele que irá ajudar a equipa a subir de patamar e, idealmente, de posição na tabela classificativa.
Treinadores e clubes, após um primeiro “ensaio” do plano (na realidade, da equipa) que desenharam na pré-época, definem juntamente com os seus departamentos de análise de jogo quais poderão ser os candidatos ideais a integrar a equipa, com o intuito de colmatar défices que, por alguma razão, teimam em não ser superados, pelo menos de forma consolidada.
O “burburinho” é tanto que facilmente acaba por ter conteúdo suficiente para preencher as páginas dos jornais e os comentários dos programas da especialidade na televisão... durante o mês inteiro. 
Esta é uma época onde, possivelmente, os departamentos de análise de jogo/performance assumem maior relevo, no que respeita à informação pertinente que geram e entregam aos decisores que, em última análise, e cruzando com a “saúde financeira” do clube, farão a escolha final.
Analisam-se, em pormenor, todos os dados comportamentais do atleta associados ao rendimento desportivo, na perspectiva de antecipar e prever os níveis de eficácia e a capacidade de resposta que um dado atleta poderá trazer com a sua contratação.
Contudo, paradoxalmente, também agora se inicia a época em que, potenciais “armas secretas” acabam por se transformar em imensos “flops”... que se pretendem igualmente “secretos”, para não ter que se “prestar contas” aos adeptos ou evidenciar fragilidade aos adversários (pelo menos, na capacidade de captação “daquele elemento certo”...).
Como explicar este tipo de fenómeno? Como explicar o facto da “escolha certa” tarde ou nunca evidenciar o seu nível de capacidades técnico-tácticas?
Há por certo uma infinidade de razões (trata-se de um fenómeno multidimensional) que justifiquem este tipo de ocorrência e, certamente, a “história” que o suporta varia de clube para clube, consoante a cultura organizacional, o treinador e o próprio departamento de análise de jogo de cada um deles. 
Gostaria de abordar, neste artigo, apenas duas (já suficientemente complexas):

A Equipa
Como o atleta é apresentado à equipa? Que expectativas a equipa tem sobre ele? Irá recebê-lo como uma “vantagem competitiva” para os jogos que se avizinham ou como um “elemento hostil” que irá destabilizar a equipa (porque vai concorrer com o lugar de algum colega fortemente enraizado no seio do grupo?)? Qual a fase de maturação que a equipa tem para receber um novo elemento? O que é preciso fazer para que a integração corra bem?
Uma Equipa é um “organismo vivo” e dinâmico, tem identidade própria uma fase de maturação específica e, como bem sabemos, se bem gerida e direccionada (por um Treinador com elevados níveis de liderança) é capaz de feitos extraordinários.
Contudo, são ainda muito poucos os clubes que trabalham especificamente a “identidade da equipa” (e não, não basta dizer que “somos o X, Y, X” – aí estamos a identificar-nos com o Clube, igualmente importante, mas não com a Equipa), fazendo-a progredir para níveis de maturação de excelência - os únicos que, em boa verdade, aumentam a probabilidade de desempenhos de excelência de forma consolidada e continuada.
Clubes e equipas técnicas atentas a este tipo de necessidade, sabem de antemão que a entrada de um novo elemento, por melhor que seja o seu “curriculum”, trará sempre alterações à dinâmica de equipa (como aliás se encontra documentado numa infinidade de estudos da área), alterações essas que deverão ser antecipadas e sobre as quais se deve intervir, por forma a promover um “match” perfeito entre equipa residente e “armas secretas” adquiridas.
Esta é, em última análise, uma responsabilidade real de Clubes e Treinadores que, em caso de fracasso, raramente é questionada, mas que, indiscutivelmente, é um dos principais factores de uma adaptação bem ou mal sucedida (e, aqui, o Atleta, pouco pode fazer).
Ainda que, muitas vezes, se “espere” que a “natureza das coisas”, o atleta e o “tempo” resolvam tudo isto.

O Atleta
Que Atleta muda de clube em Janeiro? Que razões suportam a sua vontade de mudança? Porque não estava satisfeito no contexto anterior? Que expectativas traz? Que expectativas poderão vir a ser satisfeitas? Que tipo de pressão coloca em si próprio? Que suporte social tem ou traz consigo?
De facto, colocadas de lado as suas capacidades técnico-tácticas, que certamente estão correctamente avaliadas pelos departamentos de análise de jogo/performace, alguns dos factores extraordinariamente determinantes para a sua capacidade em ser bem sucedido, nada têm a ver com o “futebol” mas sim com as suas “Soft-Skills”.
Estamos pois, a falar nas suas capacidades de adaptação, de motivação, de ser um teamplayer mas, ao mesmo tempo, assumir (implícita ou explicitamente), a responsabilidade do “jogo” (para a linha atacante, pelo menos).
Por outras palavras, espera-se uma rápida integração (do próprio e da família) no meio socio-cultural onde o clube se insere, o que pode compreender coisas tão importantes como a língua, os hábitos e rotinas (disciplina), a cultura de equipa, mas também coisas tão “aparentemente” pouco significantes, mas de impacto extremo no desempenho, como a adaptação à gastronomia local (no fundo, saber escolher, do que lhe é colocado à disposição, os alimentos correctos – energia – que potenciarão o seu rendimento).
Espera-se também que se ligue rapidamente à equipa, que evidencie as suficientes competências sociais para rapidamente se “sentir em casa” e defender as cores do clube e, ainda, que se motive face ao erro e ao fracasso, que persista... mesmo quando ainda ninguém “puxa” por ele e, em boa verdade, até alguns não se importariam que fracassasse.
Espera-se.
Na realidade, “arma” nenhuma vingará, traduzindo todo o potencial em acções concretas de desempenho superior, se o tiver que fazer de forma isolada e desapoiada, deixando o sucesso (do atleta e do recrutamento) à mercê de um qualquer jogo de sorte ou azar.
O Futebol transforma-se, de dia para dia, numa ciência cada vez mais complexa onde o sucesso resulta de serem seleccionados (recrutados) os elementos certos mas, acima de tudo, da atenção dada aos múltiplos pormenores que ajudam uma Equipa a ser isso mesmo: Equipa.
Este sim, é o “próximo nível” do jogo... onde só algumas Equipas competem."

Centeno na Luz

"Mas, afinal, onde é que está a grave infracção política ou ética? Será que, de repente, um ministro já não pode ser convidado ou solicitar um lugar de acordo com a natureza do cargo e a segurança ajustada ao mesmo?

Num assomo de purismo e num exercício de indisfarçável excitação, eis que surgiu uma pseudo querela à volta de Mário Centeno. Tudo por causa de dois lugares por ele solicitados para ver um jogo de futebol no Estádio da Luz.
Colocando de parte a agora moda de tudo pôr em causa quando se trata do Benfica, a notícia foi-nos oferecida com foros de grave violação do código de conduta governamental.
Estas notícias têm o risco de tudo confundir, misturar ou igualizar. É como se, em matemática, se valorassem do mesmo modo o zero e o infinito, o número real e o número imaginário, o ângulo de 0º e o ângulo raso de 180º.
Em faits-divers como este, a medida não está na essência, está, antes, na sua excitabilidade. A sua bitola não está na sua relevância, está mais na sua quase vacuidade. A sua marca não está na sua pertinência, está na sua conveniência. O seu eco não está na cabeça, antes deambula sorrateiramente entre a epiderme e o coração.
Algum “povo” até gosta destas coisas, porque assim se anima o sentimento à flor da pele de quem uniformiza a apreciação de todos os políticos como tendencialmente corruptos, desonestos e incompetentes. Eis uma forma e um pretexto para mais bater, sem pestanejar, nos outros. Sempre os outros, nunca os próprios.
Este tipo de notícias apressa e alarga o juízo fácil. Não dá trabalho, alimenta rumores, sossega consciências de quem se julga 100% imaculado e fornece energia gratuita para o recorrente, informe e insidioso “são todos iguais”.
Estas noticiazecas são sempre apetitosas. Juntar no mesmo “caldo” um membro do Governo, um responsável pelas Finanças, um clube que suscita amores e ódios e um jogo de futebol é quanto baste para preencher a primeira página de um jornal, entrar leda e prioritariamente num alinhamento de um noticiário televisivo, encher as caixas de comentários e quebrar a rotina do quotidiano.
Mas, afinal, onde é que está a grave infracção política ou ética? Será que, de repente, um ministro já não pode ser convidado ou solicitar um lugar de acordo com a natureza do cargo e a segurança ajustada ao mesmo? Será que o ministro do Ambiente não pode ir para a bancada presidencial do Dragão ver o seu FC Porto? Será que o ministro do Trabalho ou o presidente da Assembleia da República não se podem sentar no camarote principal de Alvalade para ver um jogo do seu Sporting? Será que o primeiro-ministro, o ministro das Finanças ou outro qualquer estão sujeitos a julgamentos primários instigados por notícias flamejantes se forem ver o seu clube jogar na Luz?
O exagero caminha inexoravelmente para tomar conta de tudo. Exagero que, aliás, pode ser por excesso ou por defeito. O exagero vive de sinais exteriores. Precisa de interlocutores que dele se apropriem. E que, de exagero em exagero, o propaguem. O exagero destas “investigações” é, para uns tantos, uma sentença transitada em julgado. Sem apelo nem agravo.
O Código de Conduta do Governo estipula que os seus membros não podem aceitar “convites para assistência a eventos sociais, institucionais ou culturais, ou outros benefícios similares, que possam condicionar a imparcialidade e a integridade do exercício das suas funções”.
Mas alguém, com seriedade e isenção, acredita que Mário Centeno poderá ter ficado condicionado na imparcialidade e integridade no exercício das suas funções como ministro das Finanças? Valha-nos Deus!"

A profecia do Cavaleiro Branco...

"José da Silva,madeirense, conhecido pelo Saca, atirou-se à Mancha em 1957 e 1958. Mas não foi Baptista Pereira...

Que importância tem um nome? Não era nada que Alice já não perguntasse do outro lado do espelho. Baptista, Silva? Que importância tem um nome?
Uma vez falei aqui de Baptista, Baptista Pereira, o Quim dos Mouchões do Tejo. Soeiro Pereira Gomes e tudo e tudo. Baptista Pereira venceu a Mancha: ou seja, venceu-se a si próprio. Ele e as circunstâncias misteriosas de um mar com segredos como todos os mares.
No dia 20 de agosto de 1957 chovia sobre a Mancha. Não estava nevoeiro, por isso o Continente não estava isolado. Havia um frio de expectativas no Cais de Gris Nez.
Estava lá Joaquim Baptista Pereira. Mas não se fez à água. Um mistério também ele dentro do mistério da Mancha…
Não era o seu dia. Não era a sua hora. Não era sequer a sua circunstância.
Mas, lá está, que importância tem um nome?
José da Silva, natural da Madeira, de Santa Maria Maior. Chamavam-lhe o Saca, se é que, para vocês, isso tem importância.
«As coisas não têm nomes», disseram a Alice que abria caminho pelo País do Tabuleiro de Xadrez antes de chegar ao Bosque Escuro.
Alice descobriu por si própria que nada tem nome.
José da Silva era uma espécie de Cavaleiro Branco, lado a lado com Baptista Pereira, o favorito doente. O Cavaleiro Branco falava e Alice ouvia: «O nome da cantiga é Os Olhos de Haddock!». E Alice perguntava, inocente: «Oh! Esse é o nome da cantiga, não é?» E ouvia por seu lado: «Não. Tu não compreendes. Isso é o que se chama ao nome. O nome realmente é o Homem Velho Velho».
Em 1955, o Saca tinha trinta e dois anos. Não era, definitivamente, um homem velho velho. Com um nome: José Faria. Nem sempre são os vencedores que açambarcam a história. Há lugar para vencidos que, na verdade, se vencem a si próprios.
O Saca foi um deles.
Não se pode esquecer o Saca. Ele estava lá, na Mancha que Baptista Pereira ganhou certa vez com a imponência de um tritão das lendas.
Havia um vento que soprava de noroeste. Diziam os especialistas que iria ajudar os nadadores na primeira parte do percurso.
O mar, ali, à sua espera.
Um mundo infinito de curiosos. Curiosos e ansiosos.
Os nadadores esfregavam os corpos com lanolina: três quilos para cada um. Para manterem uma certa temperatura do corpo, para deslizarem mais facilmente nas águas selvagens.
O céu escurecendo como num presságio.
A chuva caindo, caindo, cada vez mais densa, mais temível.
Um foguete azul subiu na vertical com os estalido.
Vinte e um homens atiraram-se às ondas. Ou melhor: quinze. Entre os homens, havia seis mulheres. O brasileiro Walter da Silva desistiu pouco depois. Logo em seguida, foi a vez do indiano Himadri Shekar.
O Canal não gosta de ser invadido.
A Inglaterra conserva bravamente a sua isolação de ilha brusca. José da Silva estava habituado ao mar do Lido, ali à saída do Funchal, aos penhascos da sua terra perdida na imensidão atlântica, às ondas tumultuosas. Já fora daí até ao Paul do Mar, já atravessara da Ponta de São Lourenço até ao Ilhéu Chão, nas Desertas.
Ele era, de certa forma, um filho da água.
Os nadadores já se tinham afastado oito quilómetros da costa francesa.
O líder era Kenneth Wray, um inglês. O Saca ia na sua peugada. Braçada larga, segura.
O mar cada vez mais crespo. Enfuriando-se contra o atrevimento humano.
70 braçadas por minuto: contavam os homens que o seguiam no barco de apoio.
A Mancha já fizera os seus estragos. As desistências multiplicavam-se. Eram 13 horas e 30 minutos segundo o Meridiano de Greenwich.
Os pulmões de José da Silva anseiam por ar. Abre a boca num desespero de oxigénio, a água entra também aos borbotões.
Há barcos desaparecidos. Um nadador perdido. Iniciam-se buscas aflitivas.
13h30 minutos.
O Saca tem excesso de água salgada no estômago, sofre desumanamente. Quer resistir mas há, nesse momento, algo telúrico que lhe tolhe os movimentos.
Não mais 70 braçadas por minuto.
Nem mais uma braçada apenas.
Mais para Oeste, ligeiramente mais para Oeste, o inglês Wray está a seis milhas de casa.
José da Silva sobe tristemente para o barco de suporte.
Não será Baptista Pereira.
Mas que importância tem um nome num mar cheio de afogados sem nomes..."

Mais uma crónica sobre o videoárbitro

"Há já algum tempo que não dedicava uma crónica, por inteiro, ao projecto videoárbitro (VAR). As recentes e recorrentes confusões em Portugal e as notícias que surgem do International Board (IFAB), organismo que rege as Leis do Futebol, são os motivos que me levam a debruçar, novamente, sobre o presente e futuro do VAR. PUB

As “regras” do VAR e as regras do jogo
O famoso protocolo do videoárbitro, famoso não significa que seja efectivamente conhecido, é o documento que explana todos os detalhes do funcionamento desta nova realidade da arbitragem e do próprio jogo. O protocolo define regras e linhas orientadores para a sua implementação. Abrange questões administrativas, logísticas técnicas (audiovisuais) e, as mais discutidas, questões relacionadas com as Leis do Jogo, nomeadamente, a forma como estas se adaptam à introdução desta nova tecnologia, a introdução de novos elementos na equipa de arbitragem e a gestão técnica e disciplinar do jogo.
Podemos assumir assim que as regras do protocolo VAR fazem parte das regras do jogo. Ora, é do senso comum de justiça, que não faz sentido alterar as regras de um jogo a meio de uma competição. Nesta perspectiva, desenganem-se todos os que vão clamando por alterações, para a presente época, nas regras do VAR ou nas indicações de como este deve actuar.

O futuro do protocolo VAR
A introdução do VAR no futebol foi, ou será, uma das mais marcantes alterações que as Leis de Jogo já sofreram. A palavra “sofreram” acaba por ser aqui bem aplicada. Não há grandes mudanças que não impliquem as chamadas dores de crescimento. Os agentes do futebol e os adeptos deste apaixonante desporto há muito que pediam alterações desta envergadura que ajudassem o futebol a ser mais justo. A arbitragem tem, com o VAR, condições para errar menos. Em Portugal, e nos restantes campeonatos que se voluntariaram para esta fase de testes, existem menos erros graves dos árbitros.
Poderiam errar ainda menos? Poderiam. E deverão! Esse é o desafio a curto prazo do projecto videoárbitro: adoptar alterações, a introduzir na(s) próxima(s) época(s), que aproximem a implementação deste projecto àquilo que são as expectativas das gentes do futebol.
A versão 8 do protocolo VAR, a actual, está “construída” para ajudar a arbitragem a corrigir erros claros em situações que não envolvam subjectividade de análise. O VAR não existe, no figurino actual, para esclarecer lances duvidosos.

O futuro do VAR
O videoárbitro é presente no futebol português e será, sem margem para dúvidas, o futuro nas principais competições de todo o mundo.
Os cinco elementos que constituem o International Board estiveram reunidos esta semana, em Zurique, na sede da FIFA, a preparar o documento onde constam as propostas de alterações às Leis de Jogo para a próxima época. Estas alterações serão discutidas e, em princípio, aprovadas na reunião geral do IFAB a realizar no próximo dia 22 de Janeiro. Pouco ainda se sabe sobre este documento, mas é seguro que o videoárbitro irá ser, novamente, a grande “estrela”. O International Board e a FIFA querem ver o VAR no próximo Mundial de futebol, nas restantes principais competições de selecções e, não se prevendo que seja já obrigatório em 2018, também desejam que as principais Ligas adoptem esta nova realidade. O VAR veio para ficar e mudar a arbitragem e o futebol.

O presente do VAR
Nos próximos dias, antes da reunião geral do IFAB, o grupo de trabalho que tem gerido e acompanhado todo o processo de implementação do videoárbitro, irá divulgar dados estatísticos sobre o que tem sido a actuação do VAR nos países envolvidos nesta fase de testes. Posso adiantar que duas dessas estatísticas (globais) são que: tem sido corrigida, em média, uma decisão da equipa de arbitragem a cada três jogos e que o tempo de revisão de uma decisão tem sido reduzido de forma evidente em virtude dos árbitros estarem cada vez mais familiarizados com o sistema.
Em Portugal, a dois jogos de terminar a 17.ª jornada, já foram corrigidas/alteradas 28 decisões. Uma a cada 5,3 jogos. Os nossos árbitros estão a errar menos que a média mundial ou então, em Portugal, estamos a ser mais comedidos e conservadores nas intervenções do VAR."


PS: Aquilo que não é dito neste texto, e que justifica o facto de em Portugal existirem menos 'correcções' do VAR: tal como o nosso treinador explicou, os árbitros de campo, em caso de dúvida, não marcam nada, deixam andar e ficam à espera que o VAR tome a decisão, o VAR como o protocolo exige que as imagens sejam inequívocas, quase nunca altera a decisão... como o árbitro de campo, é penalizado na nota, se a sua decisão for alterada pelo VAR, não tem qualquer incentivo em corrigir o erro...!!!

Benfiquismo (DCCXIII)

Coração...

105x68... Caminho...

Três notas sobre o Benfica

"1. Resultados à parte, em Moreira de Cónegos, o Benfica consolidou duas opções estratégicas que deixam bons sinais para o futuro. A eleição de um meio-campo a três veio para ficar e a equipa está a reconstruir-se em torno de jovens jogadores, vindos da formação e/ou do scouting.
O 4x3x3 é o sistema mais equilibrado a atacar e a defender – e também o mais versátil e plástico. Contudo, mais importante, é aquele que melhor protege os jogadores: por um lado, não é fácil encontrar centro campistas com o perfil adequado para jogar na posição 8 num meio-campo a dois – e quando se afirmam, têm logo muito mercado; por outro, é o melhor sistema para integrar jovens talentos. Depois de termos perdido a possibilidade de vermos o Bernardo e o Cristante, para dar exemplos recentes, a jogar na equipa A, com o sistema que foi predominante dos últimos anos, a viabilidade de termos Krovinovic ou João Carvalho seria igualmente pequena. Sintomaticamente, contra o Moreirense acabámos a jogar com Keaton Parks, João Carvalho e Krovinovic. Com outro sistema, seria impossível.

2. Os momentos únicos acontecem quando menos se espera. No sábado, o Benfica vencia tranquilamente o Terceira Basket quando, a um minuto do fim, um jovem de 18 anos, dividido entre a ousadia e a timidez próprias da idade, pega na bola para, no espaço de trinta segundos, fazer três triplos consecutivos, com um estilo que parecia familiar. Para quem aprendeu a gostar de basket (e do Benfica), no final dos oitenta, a ver um cinco maravilha formado por Henrique Vieira, Mike Plowden, José Carlos Guimarães, Jean Jacques e um tal de Carlos Lisboa, o momento emocionou e devolveu sonhos de infância. O rapaz imberbe e de corpo frágil não vestia a mítica camisola 7, mas nas costas tinha gravado o mesmo apelido, Lisboa.

3. Morreu, no passado dia 5, Gastão Silva, antigo dirigente do Benfica, que se notabilizou pela contratação de Bella Guttmann, quando chefiava o futebol do clube. História menos conhecida foi-me relatada pelo meu amigo João Tomaz, conhecedor como poucos do passado do Glorioso. Em 1965, o Benfica estava a negociar dois jogos particulares com o Spartak de Moscovo. O episódio desagradou à PIDE, tendo Gastão Silva sido obrigado a explicar-se junto dos esbirros. Os jogos acabariam, de facto, por não se realizar, mas no jornal do clube ficaria a nota: "o Benfica continua interessado no intercâmbio desportivo com clubes de todo o mundo e não tem quaisquer razões para pensar que seja considerada impossível, pelas competentes autoridades portuguesas, a realização de um encontro de futebol entre a sua equipa e a de um clube russo". Enquanto outros clubes se entretinham em exercícios de fidelidade simbólica ao regime, inaugurando estádios em datas funestas ou denominando-os de acordo com a iconografia salazarenta, o Benfica não escondia a sua veia democrática."

A paixão pelo futebol

"Poderia passar horas a ver jogos de futebol de todo o mundo ou a reviver momentos de glória do meu clube do coração: o Sport Lisboa e Benfica.

Interessa-me a dimensão poética, política e popular do jogo, muito do que se escreveu (de Galeano a Montalbán) e o conhecimento que as ciências sociais vão produzindo sobre o futebol em Portugal. Ao invés, desprezo a maioria dos debates televisivos.
O respeito por ex-futebolistas ou históricos jornalistas desportivos não me é suficiente para tolerar discussões histriónicas com temas condicionados por agências de comunicação e em que brilham estrelas de narrativas exuberantes – quase todas com passagem ou em vias de ascensão no PSD ou CDS –, reis dos meandros dos poderes mais obscuros do futebol, mas com pouco conhecimento, cultura e paixão sobre o que se passa no campo.
Escrevo este artigo na semana em que a minha paixão pelo jogo está exaltada pela partida entre Benfica e Sporting de quarta-feira – apesar de a arbitragem ter sido mais responsável pelo resultado que os jogadores. O ambiente popular que carregou cada uma das equipas, a energia colocada na disputa de cada um dos lances, a incerteza do desfecho, as alterações tácticas no decorrer do jogo ou a vontade de superação colectiva e individual – de Rafa a Coentrão – e, no fim, apesar do empate que afasta as duas equipas da frente, aquele aplauso que uniu o estádio fazem parte do que mais admiro no futebol.
A época de Vale e Azevedo (que constituiu a SAD) terá sido responsável pelo único hiato de tempo em que a minha paixão clubística andou adormecida. Não pelo peso da derrota ou pela pantominice, mas pela sobreposição da finança ao jogo e ao fenómeno de massas ou, escrito de outra forma, pelo processo de financeirização do clube (que, para ser justo, já vinha sendo preparado pela direcção de Damásio). Não tendo esse processo sido revertido, encontrou em Luís Filipe Vieira um travão. Manteve-se a assembleia como órgão soberano, fortaleceu-se a estrutura e a formação, com os resultados conhecidos. Esclareça-se agora a nebulosa de quem age pelo Benfica e bloqueie-se o acesso aos que botam faladura e intriga por ele.
É também por esta forma de ver o futebol que, apesar das distâncias clubísticas, vejo com admiração o trabalho de Conceição no FC Porto, construindo equipa e colectivo, e cheiro o cadáver deste Sporting de milhões de proveniência incerta que compra e dispensa jogadores à velocidade do tweet do seu presidente."

O futebol e o Estado que volta a falhar-nos

"Que o futebol é do domínio do emocional e não do racional, dou de barato. É claro que eu quero sempre que o meu clube ganhe. É óbvio que eu vejo sempre as jogadas com uns óculos próprios e que os golos do meu clube são sempre bonitos, nem que sejam marcados às três tabelas. Quem não gosta de perder quer ganhar sempre. E eu não gosto de perder, nem que seja a feijões. Mas até no futebol - ou sobretudo no futebol - há uma fronteira entre o emocional e o racional que, por vezes, temos de atravessar. Em nome da nossa sanidade mental, em nome de uma sociedade mais digna e, sobretudo, a bem do próprio futebol. Em Portugal, há cada vez menos gente a querer atravessar essa fronteira, a começar pelos dirigentes dos clubes e a acabar nos adeptos.
O futebol não é - e, neste caso, ainda bem - apenas um jogo. É uma parte da economia do país que movimenta milhões, que emprega milhares e que rende (talvez pudesse render mais) milhões ao Estado em impostos. O aperfeiçoamento da profissionalização do futebol levou a que este jogo se tornasse muito mais do que uma mera rivalidade entre clubes e entre adeptos. O futebol cumpre, em muitos casos, um papel relevante na sociedade, de promoção do desporto - as academias são um óptimo exemplo - e de educação das novas gerações.
Mas, simultaneamente, o futebol tornou-se uma das maiores vergonhas da nossa sociedade e um dos piores exemplos para essas mesmas novas gerações. E há culpas a repartir por vários actores.
A começar pelas claques de futebol, que formam uma espécie de exército dos clubes para insultar, ameaçar e atacar todos quantos ousarem ser de um outro clube, tantas vezes impunemente. Com a conivência dos dirigentes dos clubes, que preenchem o espaço mediático para dizerem as maiores alarvidades, sempre à procura de mais um inimigo que os ajude a desviar as atenções da sua própria incompetência. Sem esquecer a incapacidade da Liga de Clubes e da Federação Portuguesa de Futebol que, vivendo na dependência destes clubes, deixam o futebol viver nesta anarquia.
Sim, a comunicação social também tem o seu quinhão de culpa. Porque alimenta este nojo nacional com "comentadores" escolhidos, criteriosamente, pela sua capacidade de instigar este clima de ódio, em nome da ditadura das audiências. Sem esquecer os canais dos clubes, que concorrem directamente com os verdadeiros órgãos de comunicação social, apesar de, tantas vezes, se dispensarem do cumprimento de qualquer regra ética ou deontológica do jornalismo. Ainda bem que existe a Entidade Reguladora para a Comunicação Social e a Comissão da Carteira de Jornalista para nos ajudar a separar o trigo do joio. Imaginem o que seria da nossa democracia se não existissem.
Se este ambiente explosivo e tóxico em que vive o futebol português devia ser já motivo mais que suficiente para levar o Estado a intervir, o que dizer das suspeitas de crime que correm todos os dias. Corrupção, compra de resultados, crimes informáticos, difamação, é escolher, que o leque de suspeitas é grande. Acusados e punidos é que não há. Inocentados também não. Sobram, no entanto, os nomes atirados para a lama, entre dirigentes, jogadores, árbitros e até jornalistas, vale tudo menos arrancar olhos. É verdade que a justiça é cega, mas talvez fosse bom que a venda que tem nos olhos servisse apenas para investigar e julgar e não para ignorar a forma como se está a degradar o nosso Estado de direito.
Tudo isto ajuda a alimentar um monstro: a paixão dos adeptos que, umas vezes movidos pela emoção e outras pela irracionalidade, consomem tudo sem nada ruminar, para depois regurgitarem nos cafés, à porta dos estádios e nas redes sociais. É abrir uma qualquer caixa de comentários e deixar-se enojar.
No fim de tudo isto, não sei o que vai sobrar do futebol se continuarmos a permitir esta desordem pública, nas várias dimensões que ela assume. Admiro muito os que ainda conseguem olhar para um jogo de futebol e ver um jogo. Continuo a admirar os jogadores de clubes adversários a abraçarem-se no final de um encontro, os treinadores que ainda conseguem discutir futebol nas conferências de imprensa ou os adeptos que vão em família aos estádios, cada um vestido com as cores do seu clube, como deve ser.
É por isso que aqui, como em tantas outras coisas, o Estado não pode falhar-nos. E tem de ter coragem para tomar decisões difíceis, se for o caso. Coragem para suspender o campeonato nacional de futebol e obrigar todos a uma reflexão profunda. Ou é preciso acontecer mais uma tragédia?"

O Mundo evolui, o futebol também

"Depois da transferência de Neymar, o segundo período de inscrições e transferências assinalou mais um negócio astronómico, com a ida de Coutinho para Barcelona.
Das opiniões filosoficamente apresentadas pela "doutrina futebolística" quero destacar aquela que refere a incapacidade da regulamentação da FIFA para se fazer aplicar e, implicitamente, responsabiliza os próprios atletas pelas dores do sistema.
A carreira de jogador é demasiado curta e repleta de infortúnios para desperdiçar a oportunidade de um contrato com melhores condições. Disse-o com Neymar, repito-o com Coutinho.
A discussão já se encontra, felizmente, noutro patamar, para além da dúvida sobre algumas regras da actual regulamentação de transferências da FIFA ou da defesa de períodos de inscrições mais ou menos limitados, em nome da malfadada competição.
A verdade é que os grandes clubes aumentaram a distância para os menos capazes economicamente, sem contar com aqueles que não conseguem assegurar a própria sobrevivência.
O acordo FIFA - FIFPro é um compromisso mais profundo que será acompanhado de uma "task force" para a implementação de alterações nos normativos que regulam a actividade desportiva e as relações entre jogadores e clubes. Há princípios que continuarão a ser exigidos, desde logo o cumprimento pontual dos contratos, não temamos o apocalipse.
Devolvidos direitos laborais essenciais aos jogadores, sem os quais a precariedade acompanha o desporto, e garantida a efectiva aplicação de sanções aos infractores, a competitividade entre clubes e a sustentabilidade do sistema de transferências é o desafio que se segue. Tal como Bosman, que rompeu com o sistema para que o desporto evoluísse, é tempo de pensarmos além das soluções que já existem."

Alvorada... do Élio