"As Antas estavam às moscas. Ou melhor, às varejeiras. Eles não têm culpa, pobres diabos, vendo bem. O Euro-2004 desorganizou a verdade dos estádios de Portugal - pôs em Leiria um de 25.000 lugares onde só vão 500 macacos; pôs em Aveiro um de 35.000 lugares onde só vão meia-dúzia de apanhadores de moliço; pôs no Algarve um de 20.000 lugares onde não vai quem quer que seja; e pôs nas Antas um de 50.000 lugares que encheu no jogo de estreia do Europeu e só volta a encher quando joga lá o Benfica e saem à rua todos os ordinários das redondezas com as bocas cheias de pedras e de bolas de golfe. Por isso, repito, não é de admirar que lá tenham estado meia-dúzia de gatos pingados.
É o normal. Árbitro não deve ter estado, nem fiscal-de-linha, senão teriam visto aquele golo em fora de jogo, que tão conveniente foi para descansar o clube em que todos parecem andar irritados uns com os outros, vá lá saber-se se por não perceberem ao certo como ganham, se por não perceberem ao certo como não ganham. Lá do alto do seu poiso que, como dizia o Hugo Chávez, deve tresandar a enxofre, o Madaleno controla tudo. Tem mesa marcada na marisqueira de Matosinhos até para o árbitro incompetente que se esqueceu de lá ir. Um envelope ou dois para resolver qualquer problema urgente que a explosão da crise possa ter criado nos últimos dias para os representantes do senhor de cócoras, sempre tão alegremente submisso. E umas meninas de coro para completar o convívio com as facturas da utilização a serem arquivadas na pasta das refeições. O único problema do Madaleno é não saber o que fazer com aquela figura sinistra e muda que, jogo após jogo, se mantém em pé no topo da bancada das Antas: o homem do fraque..."
Afonso de Melo, in O Benfica