"«Ramsey esticou a perna, roubou o golo a Ronaldo, e pediu-lhe desculpa.»
Esta notícia da semana passada, que passou despercebida à maioria do público, vem revelar dois problemas sérios do futebol: há grandes notícias futebolísticas que passam despercebidas à maioria do público e, mais importante que isso, traz à liça esse flagelo que assola o futebol mundial, que é o roubo de golos entre jogadores.
Antes de mais, roubar é feio. Roubar golos então é horrível, e roubar golos ao Ronaldo é um crime que devia dar pena de prisão à perna do jogador que praticou o furto.
«Perna criminosa de Ramsey, apanhada em flagrante delito a roubar a Cristiano Ronaldo um golo novinho em folha, ainda por estrear, em cima da linha, foi condenada a cinco anos de prisão na cadeia do Linhó. Deverá ficar em regime de isolamento, afastada de pernas que roubam cruzamentos e penaltis, dada a maior gravidade do seu crime.»
E pronto, a ver se fazia outra quando saísse. Era o fazias.
Até porque lá na prisão de pernas aquilo não deve ser bonito. O que não faltam é histórias de violência entre gangues de pernas rivais, pernas violentadas nos chuveiros, ou pernas sodomizadas pela sua perna companheira de cela. Ficava-lhe o ensinamento para a vida e não voltaria a furtar golos, a bandida.
Tudo bem que o Ramsey até pediu desculpa ao Ronaldo, mas isso não apaga o crime. Quando o Ronaldo chegou a casa como é que justificou à Georgina que trazia um golo a menos?
«Ah e tal, quando a bola ía a entrar, o Ramsey e a sua perna larápia roubaram-me o golo, golo esse, vê lá tu, que eu ía trazer para pôr em cima da lareira, que chatice. E cheguei tarde a casa porque tive de ir à esquadra fazer o depoimento contra a perna, môr.»
Ou muito me engano, ou a Georgina não ficou contente.
É então, com profunda revolta, que utilizo este espaço para dar eco a milhares de pessoas que, como eu, gritam basta! Basta deste furtar vilanagem entre colegas de profissão! É uma prática que se tem vindo a generalizar, mas que repudiamos veementemente! E quando se repudia veementemente, é porque é mesmo a sério.
Precisamos de policiamento à entrada das balizas. Urge o destacamento de agentes à paisana dentro da pequena-área. Com estes roubos à perna armada depois admiram-se que haja jogos que acabam sem golos, e que as pessoas deixem de ir aos estádios. Pudera. Se levam os golos também hão de nos levar o dinheiro, os relógios e o resto dos tarecos.
Acima de tudo, isto de roubar golos é chato. Transtorna uma pessoa.
Um jogador treina bem durante a semana, come equilibradamente, deita-se cedo, antes do jogo faz um bom aquecimento, e aos 35 minutos vai abanar as redes adversárias e pumba, já foi! Um jogador com uma perna gatuna dá o golpe e ao intervalo o golo já está à venda no E-Bay. É nojento, é indigno e é dinheiro sujo, seus calhordas!
E atenção: isto são apenas os casos que conhecemos. Quantos golos mais modestos não são surripiados a jogadores das ligas amadoras, por colegas de profissão com pernas com menos escrúpulos, e depois levados para o mercado negro de golos para se fazer sabe-se lá o quê com eles? Só de pensar nisso até fico doente. Há indivíduos que me enojam, pá.
Chega. Basta. É vergonhoso. Até quando vamos tolerar isto? Quanto tempo teremos de ficar à espera até que a FIFA se pronuncie?
Aguardamos ansiosamente uma tomada de posição sua, senhor Gianni Infantino. O futebol assim o exige. E os donos dos golos também."