"Estará aberta uma nova discussão no futebol português? Se Ronaldo é ou não o novo rei? Não se perca tempo...
Há muito que venho esperando ver os portugueses sentirem orgulho na carreira, prestígio, valor e talento de Cristiano Ronaldo. Um futebolista verdadeiramente ímpar num universo competitivo como nunca, um atleta excepcional num meio tão feroz e exigente como se tornou o meio do futebol de alta competição e um dos poucos portugueses vivos com prestígio realmente à escala mundial deveriam ser razões mais do que suficientes para todos reconheceram o mérito, o peso e o impacto de Cristiano Ronaldo e, sobretudo, sentirem orgulho num jovem nascido numa modesta família madeirense, que as circunstâncias obrigaram a vir para Lisboa muito só e a lutar determinadamente por um lugar ao mais alto nível no futebol.
Talvez Cristiano Ronaldo não imaginasse na altura em que chegou à academia do Sporting poder vir a ser um dia o melhor jogador do mundo, mas acredito que lá no fundo, como milhares de outros jovens, já sonhasse com isso. A diferença é que Cristiano chegou lá. Mesmo.
E imagino o muito que Cristiano deve ter andado para lá chegar...
A verdade é que apesar de já ter sido oficialmente considerado o melhor do mundo (com direito a distinção da FIFA) Cristiano Ronaldo pareceu sempre não ser consensual entre os adeptos portugueses.
Uma espécie de embirração que os portugueses costumam ter com alguns outros portugueses, e normalmente com portugueses de sucesso.
Acontece que o último Europeu parece ter levado muitos adeptos a fazer, finalmente, as pazes com o que significa realmente Cristiano Ronaldo.
Depois das exibições do nosso 7 pela Selecção na Polónia e na Ucrânia, os hesitantes, os mais cépticos e os menos fiéis podem ter-se rendido e resignado por fim à dimensão daquele que é, sem sombra de dúvida, um dos dois melhores futebolistas de actualidade.
Para mim o melhor. Mas isso é para mim.
O que Ronaldo fez pela Selecção no Europeu despertou, porém, muitos de nós para uma nova discussão, já não a de saber se Ronaldo é ou não melhor do que Messi, mas de Ronaldo já fez o suficiente para destronar Eusébio do lugar de rei do futebol português.
Pois bem, vamos com calma.
O que Ronaldo já fez e o que Ronaldo já vale no mundo chega para vir a entrar na história como melhor futebolista português de todos os tempos? Provavelmente sim, porque a dimensão de Ronaldo será dentro de alguns anos seguramente acompanhada por uma carreira inigualável.
Cristiano Ronaldo vai ser, na verdade, o mais internacional jogador de sempre em Portugal (já tem, aos 27 anos, 95 jogos, contra 127 de Luís Figo e 110 de Fernando Couta), não é muito difícil apostar mesmo que vai ser o melhor marcador de sempre pela Selecção Nacional (leva já 35 golos contra 47 de Pauleta e 41 de Eusébio) e será também o mais vencedor de sempre, quer em números de troféus conquistados pelas equipas que representa, quer nas distinções individuais.
Além disso, talvez seja já o português mais famoso do momento - com José Mourinho ali a par... sem esquecer Eusébio, sempre, e também Luís Figo, o outro futebolista português merecidamente considerado, por uma vez, o melhor do planeta.
Mas dará tudo isso a Cristiano Ronaldo direito a ultrapassar Eusébio no trono português? Não!
Por uma razão simples: Eusébio conseguiu o que conseguiu (e conseguiu tanto, deus do céu!!!) jogando sempre em Portugal, sempre na mesma equipa, numa década, a de 60, em que se contavam ainda pelos dedos o número de televisões e num tempo em que as comunicações para o estrangeiro quase se faziam por pombo correio...
Eusébio não é rei apenas pelo muito talento que tinha. Eusébio é o rei porque levou o mundo a reconhecê-lo quando o mundo era ainda demasiado grande e Portugal demasiado pequeno.
É o rei porque se tornou naquele tempo bem maior do que a língua portuguesa quando a língua portuguesa parecia naquele tempo o único património inultrapassável e é o nosso rei porque os portugueses o adoram.
É o rei e, por tudo aquilo, será sempre o rei!
O tempo de Cristiano Ronaldo é outro e nem vale a pena explicá-lo. E acredito que nem Cristiano Ronaldo discutirá o trono de Eusébio, hoje mais uma vez homenageado em plena Luz, justamente, com um Benfica-Real Madrid que reedita no espírito e nas recordações o Benfica-Real Madrid de há 50 anos, em Amesterdão, que mostrou definitivamente ao mundo o supertalento do Pantera Negra.
Eusébio é o rei e Ronaldo o seu magnífico príncipe.
E assim é perfeito!"
João Bonzinho, in A Bola