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quinta-feira, 7 de maio de 2015

São estas pequenas coisas que têm vindo a notar-se

"Seja quem foi o árbitro, terá de suportar a campanha australiana da Brigada do Toque de Midas, vulgo Apito Dourado. Mas esse não é o nosso campeonato. O Penafiel é que é.

DIAS agitados estes.
Aconteceu de tudo na semana passada. Só faltou mesmo alguém telefonar da Austrália jurando à imprensa livre e à polícia de costumes que o árbitro nomeado para o jogo do Benfica com o Gil Vicente se ia apresentar em casa do presidente do Benfica para tomar chá, comer bolinhos e receber conselhos matrimoniais na véspera do jogo.
Foi um frenesim a anteceder o jogo de Barcelos. Que inusitado labor e concerto das forças da reacção. 
Mas forças da reacção a quê, se futebol não é política?
Da reacção ao possível – apenas isto, possível – bi-campeonato do Benfica.
E pela crispação mais do que latente perante essa mera hipótese, um eventual e singelo bi-campeonato parece capaz de fazer cair o alegado regime de décadas como um baralho de cartas.
E concorre nesse desmoronar o seu séquito natural de gratos, reconhecidos, penhorados, prestáveis, vigilantes, obsequiosos e, agora, preocupados agentes desportivos e agentes não-desportivos.
Acontece assim com todos os regimes. Um regime, por mais fantasioso que seja, não é uma entidade abstracta. Um regime é feito de gente bem instalada. E de todo um reportório.
De outra maneira como explicar que, na semana passada, do outro lado do mundo não houve dia que não telefonassem ao treinador do Gil Vicente a alertá-lo para a grande desonestidade de que ia ser vítima deste lado do mundo?
Pobre árbitro que saiu de Barcelos inteiro e com a honra salva graças à solidariedade da equipa do Benfica que, correndo o tempo todo, nem lhe deu tempo nem ocasião para ser a figura do jogo, como era pretendido, tão pretendido.
É verdade, no entanto, que o árbitro, que não nasceu para herói, decidiu todos os lances minimamente duvidosos em desfavor do Benfica não vá ser-lhe vetada a entrada na Austrália se, porventura, algum dia quiser ou precisar de lá ir.
Cinco a zero foi o resultado de Barcelos. Uma goleada, um ultraje para quem, à falta de imaginação, sonha recorrentemente em fazer de João Capela o próximo Pedro Proença. É o velho reportório, já bastante estafado, a ver se pega.
Se o Benfica jogasse sempre assim como jogou em Barcelos e ganhasse todos os seus jogos por cinco a zero de bola corrida, punha-se de vez termo às calúnias sobre os amigalhaços dos árbitros sempre disponíveis para nos oferecer campeonatos a troco de conselhos matrimoniais prestados em domicílio como tem sido público e notório nas últimas três décadas.

JORGE JESUS lançou Sulejmani em Barcelos em detrimento de Ola John e o sérvio não lhe deu motivos para arrependimento. Antes pelo contrário. Com Sulejmani há mais futebol. É o que se pretende.

O Sporting de Braga qualificou-se para a final da Taça de Portugal. Terá por adversário o Sporting. O presidente do Braga ficou muito feliz o que se compreende. Chegar ao Jamor é uma festa e no caso do Braga é uma festa merecida.
O Sporting de Braga fez um bonito percurso e com muito mérito. Teve até artes para eliminar o Benfica, no Estádio da Luz, ainda numa fase precoce da bela competição.
A cidade de Braga virá a Lisboa acompanhar e apoiar a sua equipa de futebol no jogo de decisão da Taça de Portugal. António Salvador prevê que 12 mil adeptos bracarenses se desloquem ao Jamor de modo a que o Arsenal do Minho não se sinta desacompanhado num dos desafios mais importantes do seu longo historial. Não se sentirá certamente desacompanhado o Sporting de Braga em Lisboa.
No entanto, o presidente do Braga, por via da compreensível exaltação, excedeu-se: «Se o Sporting diz que tem 3 milhões de adeptos nós vamos ter 6 milhões de adeptos a apoiar-nos», disse Salvador mal terminou o jogo da segunda-mão da meia-final em Vila do Conde.
António Salvador fez mal ao meter o Benfica ao barulho. E fez mal à sua própria equipa. O Sporting de Braga para ganhar a Taça de Portugal só precisa de si próprio.
O Vitória de Guimarães, por exemplo, que é o grande rival do Sporting de Braga, ainda há dois anos ganhou a final da Taça de Portugal ao Benfica dispondo apenas do apoio de 3 milhões de adeptos do Sporting.
Ao contrário do que pensa António Salvador, o Sporting de Braga para ganhar a Taça de Portugal não precisa para nada do apoio de 6 milhões de adeptos do Benfica.
Muitos milhões, num caso destes, só atrapalham.

O Benfica é que não se atrapalhou com a relva em Barcelos. Não era um simples tapete verde. Toda aquela erva, a retalho, dava para replantar dois ou três relvados à vontade.
Contra todas as expectativas, o único inconveniente prestado pela Natureza selvagem ao jogo foi o de se ficar sem saber se Jonas deixou a bola tocar no chão ou se rematou sem a deixar pousar no momento em que fez de forma soberba o segundo golo do Benfica dando o melhor destino a um cruzamento perfeito de Gaitán
E aí, sim. A culpa foi, efectivamente, da relva que não deixou ver.
Estava muito crescida. Mas não atrapalhou porque o Benfica também já está muito crescido. São estas pequenas coisas que se têm vindo a notar.

O próximo jogo do Gil Vicente é com o Porto no Estádio do Dragão. Se o treinador do Gil Vicente passar a semana a falar ao telefone para os antípodas não vai ter tempo para preparar convenientemente a sua equipa para tão alto desafio.
- Alô! Alô Barcelos! Aqui Austrália!
- Alô Austrália! Aqui Barcelos! Aqui Mota! Quem fala?
- Aqui Austrália, Mota! Aqui Australopetegui!
E o tempo todo nisto.

MAXI PEREIRA marcou dois golos em Barcelos. Que pena não ter marcado mais um. Faria um hat-trick para abrilhantar a enormíssima folha de serviços prestados ao Benfica desde que chegou à Luz já lá vão uns bons anos.
Não seria, no entanto, um hat-trick puro. Para ser puro, segundo os cânones, o hat-trick exige que os três golos sejam obtidos de rajada pelo mesmo autor sem haver outros golos com outros autores pelo meio.
Na verdade, pouco importam estes preciosismos quando se trata do uruguaio. Com golos ou sem golos, puro e de rajada são os seus atributos. Já para não falar dos lançamentos da linha lateral.
Dizem-nos que está de partida o nosso inesquecível Maximiliano Pereira. Que pena, que grande pena.

O Boavista de Petit assegurou a permanência na primeira divisão no fim-de-semana passado quando ficaram a faltar três jornadas para o fim da prova. É obra. Com Petit tudo é possível. Aliás, sempre foi. Bem nos lembramos. Obrigada. Parabéns.

NO sábado vem aí o Penafiel, uma equipa séria que luta para não descer. Para vencer o Penafiel o Benfica tem de ser mais uma vez a equipa séria que luta para ser campeã. De outra maneira, tudo se complicará.
O Penafiel, por mais modesta que seja a sua classificação, merece o maior respeito. Seja quem for o árbitro, e já se sabe quem é, vai ter de suportar a campanha australiana da Brigada do Toque de Midas, vulgo Apito Dourado.
Mas esse não é o nosso campeonato. O Penafiel é que é do nosso campeonato.
Carrega, Sport Lisboa e Benfica!"

Leonor Pinhão, in A Bola

As ligas na Europa

"Em vários canais de televisão, temos a oportunidade de ver jogos de outros campeonatos europeus. Transmitidos em jeito de overdose, pelo que importa ser selectivo quando o nosso tempo escasseia.
Continuo a eleger o campeonato inglês como o mais espectacular e aquele que representa, mais puramente, a ideia do football association. Não apenas entre os tradicionais candidatos ao título, como também na larga maioria dos encontros, onde há sempre emoção, todos os minutos contam por igual, e os espectadores enchem os estádios e vibram intensamente. Onde verdadeiramente futebol e festa se juntam mais deliciosamente.
Em segundo lugar, situo o campeonato alemão que, sendo aparentemente menos espectacular, é homogéneo, com estádios cheios, e traduz um futebol compacto, mais físico mas também mais organizado e programado. Se, na Inglaterra, há lugar à emoção da espontaneidade, na Bundesliga, há lugar à disciplina da racionalidade.
Em terceiro lugar, ponho a liga espanhola, verdadeiramente espectacular entre os eternos rivais Barcelona e R. Madrid e bom entre mais duas ou três equipas. Mas, fora estas, muito desnivelado. Por isso, não hesito preferindo, por exemplo, um qualquer Southamptom-Everton ou um Leverkusen-Hamburgo a um Celta-Málaga.
Por fim, o italiano. Cinzentão, chato, quase burocrático, sobretudo agora que a Juventus domina como quer, e Milan e Inter andam quase pelas ruas da amargura.
Quanto a ligas mais modestas, acho interessante o tom leve e descontraído das ligas holandesas e belgas. Já a grega é um pastelão, mais recordado pelos recorrentes incidentes nos estádios helénicos do que pelos jogos."

Bagão Félix, in A Bola

Colo até ao fim !!!

A pressa foi inimiga da pressão

"Os dois primeiros responderam bem às dificuldades que tinham pela frente. O Benfica, elogiado pela solidez defensiva, continua com apetite voraz no ataque.

Primeira jornada do pós-clássico, a 31.ª encerrava a curiosidade de perceber como Benfica e FC Porto iriam reagir ao nulo com que saíram do Estádio da Luz e que tão diferentemente serviu as ambições com que tinham entrado no estádio benfiquista. Comum aos dois rivais havia, nesta última ronda, a pressão a que ambos estavam sujeitos, ainda que com contornos distintos - as águias jogavam um dia antes dos dragões e num campo onde nas últimas cinco deslocações tinham coleccionado mais empates do que vitórias. Além disso, e do polémico triunfo da primeira volta sobre o Gil Vicente e da nomeação do mesmo árbitro, o Benfica deparava-se ainda com o fantasma das deslocações ao norte do país, onde sofreu as três derrotas do campeonato (Braga, Paços de Ferreira e Vila do Conde).
Falando de fantasmas, também o FC Porto tinha um bem grande para exterminar, daqueles que, tal como o do rival, os treinadores se esforçam por fazer crer que só interessam a jornalistas e adeptos, mas que também são comentados entre as quatro paredes dos balneários. É que além de jogarem no dia seguinte ao líder, com a necessidade absoluta de não cederem qualquer palmo de terreno, os dragões contabilizavam dez jogos consecutivos sem triunfos a sul do Mondego!
Os resultados dos dois jogos e o destino dos três pontos dirão que ambos se saíram bem, mantendo o "statu quo" na corrida ao título, ainda que a aproximação à meta favoreça quem pedala na frente. A capacidade de resposta à pressão a que estavam sujeitos, qual escalada de armamento num conflito bélico, permite até fazer um paralelismo com o que sucede na liga do país vizinho, onde Barcelona e Real Madrid se empurram um ao outro e já levam uns incríveis 105 golos marcados cada. Os cardíacos que me desculpem, mas os espectadores saem a ganhar...
Onde se diferencia - e muito - esta dupla que dá mostras de não desarmar na corrida ao título é no caminho percorrido. O FC Porto só chegou ao 2-0 em Setúbal no primeiro minuto dos descontos; o Benfica, pelo contrário, voltou a mostrar uma tendência que se acentuou na segunda volta do campeonato, uma espécie de medicina preventiva contra o nervosismo que se possa instalar na equipa à medida que o objectivo do bicampeonato cresce no horizonte: procurar (e conseguir) o tento da tranquilidade com sofreguidão. As palavras e as estatísticas têm elogiado a consistência defensiva da formação de Jorge Jesus, mas a verdade é que esta foi a sétima vez em oito jogos na segunda volta em que marcou três ou mais golos e que o da tranquilidade surgiu menos de dez minutos após o primeiro. Sucedera com Académica, Nacional, Arouca, Estoril, Moreirense e Boavista, praticamente o dobro das vezes da primeira volta.
Se nos clássicos estiveram mais comedidas, nos restantes jogos as águias apostam cada vez mais nesta espécie de vacina anti-stress, que é uma autêntica subversão do conhecido provérbio chinês."