Últimas indefectivações

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Poupa-se imenso no Latim

"Demos por certo que se Daúto Faquirá fosse o treinador do FC Porto e Manuel Cajuda o do Benfica, Fabiano e Oblak seriam os guarda-redes titulares das suas equipas.

ESTÃO tão parecidos o Benfica e o FC Porto nesta temporada que, francamente, até faz confusão. Basta ouvir os adeptos de um e de outro emblema para se dar conta de quão iguaizinhos estão os arquirrivais no que diz respeito às opiniões que emitem sobre a produção de jogo das respectivas equipas de futebol. 
Dizem os benfiquistas:
- Não estamos mesmo a jogar nada.
E dizem os portistas:
- Não estamos a jogar rigorosamente nada.
E os seus olhares, carregados de pesar, cruzam-se piedosamente e sem deitar chispas, que seria o normal. 
Ou não é assim que estão os moods nos dois campos?
Estes estados de espírito, tão raros de ver conjugados, são, no entanto, benéficos para a paz e para o sossego do país. Como os dois adversários reconhecem que não estão a jogar nada, poupa-se logo imenso no latim ficando as azedas discussões do costume reduzida a zero por falta de material.
E, se bem repararam, já nem sequer falam mal de árbitros os potentados da Luz e do Dragão. Silêncio absoluto sobre penaltis, foras-de-jogo e quejandos.
Terão combinado entre eles, à socapa, absterem-se de emitir comunicados sobre tudo o que meta um apito, deixando esse fardo a pesar nas costas do novo presidente do Sporting?
É o que parece. Mas há quem diga que, neste capítulo, até já estão a abusar.
Tenho um amigo sportinguista que não concorda nada com isto. Garante ser impossível qualquer tipo de combinação entre o FC Porto e o Benfica para prejudicar o Sporting porque isso é «contranatura», nas palavras dele. Poderá ter razão.
Exibiu, no entanto, um argumento fraquíssimo para me demonstrar que ainda no último clássico, para a Taça da Liga, ficou provado que é entre o Sporting e o FC Porto que se arranjam as melhores combinações.
- Ambas as equipas iniciaram o jogo com os seus pontas-de-lança argelinos e terminaram-no com os seus pontas-de-lança colombianos. Foi uma combinação!
Enfim, um disparate. Não deixa de ser verdade que foi exótica a situação. Mas nada mais do que isso. 
Adiante.
Falava-vos de como estão parecidos, esta temporada, os adeptos do Benfica com os do FC Porto e vice-versa. Consideram por aparente unanimidade que as suas respectivas equipas não estão a jogar nada e encolhem os ombros com estupefacção quando olham para a tabela classificativa do corrente campeonato e constatam que seguem em primeiro lugar com o mesmo número de pontos.
Não é o mesmo número de pontos que os alarma, pois se ambos jogam a mesma coisa – isto é, nada – é de esperar que tenham somado o mesmo parco pecúlio. O que os surpreende é o facto de estarem em primeiro lugar. E quase consideram como imerecida essa posição. Isto é o que se ouve por aí.
Como se não bastasse esta anormalidade do espírito que vem durando desde o início da prova, surgiu agora uma outra consonância entre o Benfica e o FC Porto que, não sendo uma anormalidade do espírito, é antes uma anormalidade de carne e osso.
Trata-se da questão muito humana dos guarda-redes. E, lá está, dos respectivos guarda-redes dos dois emblemas. Pois estão a viver exactamente o mesmo transe, e com requintes de malvadez, os pobres Helton e Artur, ambos por coincidência brasileiros não sendo, no entanto, coincidentes os respectivos currículos, há que dizê-lo. Titulares indiscutíveis das suas balizas, Artur e Helton, viram-se de repente relegados para a condição de empata-talentos, de atrasa-futuros e, para tanto, bastou que Jorge Jesus abrisse, finalmente, a porta a Oblak e que Paulo Fonseca confiasse a Fabiano, como é norma nestas ocasiões menores, a defesa das redes do FC Porto no jogo com o Sporting a contar para a Taça da Liga.
Isto se considerarmos a Taça da Liga como uma questão menor o que, vendo o empenho posto em campo pelas duas equipas na noite de domingo, custa um bocado a avalizar. Mas são cada vez mais os treinadores que colocam os habituais guarda-redes suplentes em acção quando os jogos não são a contar para o campeonato, que é de longe o que realmente interessa.
Adiante.
Sem, provavelmente, atingir a unanimidade do coro do «não estamos a jogar nada» no Dragão e na Luz no que se refere à qualidade do espectáculo, esta questão dos novos guarda-redes e dos velhos guarda-redes também faz com que os adeptos do Benfica e os adeptos do FC Porto venham exprimindo uma confiança idêntica em Oblak e em Fabiano.
Trata-se de uma onda iniludível. A própria comunicação social foi atrás do assunto comum aos do Dragão e aos da Luz e consultou especialistas na matéria. Antigos treinadores de Oblak e de Fabiano confirmaram à imprensa as melhores expectativas geradas nos dois campos.
«Fabiano dificilmente perde a titularidade se Helton vacilar», disse Daúto Faquirá, que foi treinador de Fabiano em Olhão. Faquirá falava no rescaldo do Sporting-FC Porto de domingo passado. «Fabiano é completo», acrescentou. «Fabiano é irrepreensível», acrescentou ainda mais. Fabiano fez uma belíssima exibição negando ao Sporting uma vitória que seria merecida.
Manuel Cajuda, que foi treinador de Oblak em Leiria, nem esperou pelo jogo de estreia do esloveno como guarda-redes da equipa principal do Benfica – ocorreu em Setúbal, uns dias antes do Natal – para vaticinar certas coisas de forma muito directa: »Artur, o teu lugar é capaz de ter ido ao ar.»
Entre o jogo de Setúbal e o jogo na Madeira, contra o Nacional, Cajuda, já com o apoio de muita gente, voltou a falar sobre o seu ex-pupilo em termos que não deixam dúvidas. »Oblak é uma monstruosidade na baliza.»
Demos, assim, por certo que se Daúto Faquirá fosse o treinador do FC Porto e se Manuel Cajuda fosse o treinador do Benfica, Fabiano e Oblak seriam os guarda-redes titulares das suas equipas.
Como não são, vamos todos ter de esperar para ver o que vai acontecer. Todos, os da Luz e os do Dragão estão presos neste suspense.
Eu, confesso, estou. Até porque tenho Manuel Cajuda em grande conta.

EM Espanha, a versão preliminar da Lei da Segurança e Cidadania, já aprovada pelo actual governo de Mariano Rajoy, aponta para multas até mil euros para quem se atreva a jogar à bola nas ruas, em espaços públicos, em jardins, em praias.
Os espanhóis são campeões do mundo de futebol mas, depois disto, não merecem. E, cá para mim, a lei é inexequível. O futebol de rua será sempre o berço democrático dos futuros campeões.
Lembram-se de cada coisa.

ACABOU 2013, facto em si que é um bem para a língua portuguesa que levou tratos de polé depois de um ano inteiro a ouvir-se dizer dois mil e treúze para cá, dois mil e treúze para lá. Milhares, quiçá milhões, descobriram um ú na palavra treze, é obra.
Foi um fenómeno linguístico que não conheceu classes sociais, nem graus académicos nem, muito menos, qualificações profissionais. Acabou anteontem dois mil e treúze, já era tempo. Pode ser que dois mil e catorze corra melhor e correrá, por certo, desde que não se lembram agora os criativos da língua de descobrir outro ú que o transmude, por exemplo, em cuatorze que também é chique.
No campo dos relatos de futebol, pelo contrário, há coisas que já nunca vão mudar, como o saudável hábito de transformar substantivos em verbos. Assim, continuaremos a ouvir, e para todo o sempre, que um jogador «temporizou» enquanto outro, por ser mais afoito, «desposicionou-se» com grande pinta.
No fim do jogo «parabenizaram-se» todos.
Provavelmente até é bom português. Mas que soa esquisito, soa. A propósito desta questão de estilo, partilho convosco um pequeno texto de Millor Fernandes, escrito no distantíssimo ano de 1946, em que o humorista brasileiro abordou o fenómeno da transformação de substantivos em verbos, que também o devia incomodar, numa suposta carta escrita a um seu irmão.
Cá vai:
«Maninho, ao meio-dia papelei-me e canetei-me para escriturar-te. E paragrafei finalmente aqui porque é hora de adeusar-te pois ainda tenho de correiar esta carta para ti e os relógios já estão cincando.»
É bom, não é? E até se aprende que no Brasil de 1946 os Correios fechavam as portas às cinco da tarde.
A brutal criatividade de Millor Fernandes inspira-me a anunciar-vos que não podia ter ficado mais contente pelo próximo Benfica-FC Porto se ir Catedralizar no dia 12 de Janeiro quando os relógios estiverem quatrando em ponto.
É que gosto do futebol à luz do dia."

Leonor Pinhão, in A Bola

«Prioridade de 2014 é conquistar o título nacional»

"«Trabalho para cumprir o sonho dos benfiquistas: um Benfica 'made in' Benfica»
(...)

«É evidente que esperava ter mais títulos conquistados nestes anos»
- Como viveu o presidente do Benfica os dias em que o seu clube tudo foi perdendo, Liga portuguesa, Liga Europa, Taça de Portugal?
- Não há palavras que possam traduzir o sentimento, a sensação de frustração que senti - como todos os benfiquistas - durante esses dias e que acompanhou durante muitas semanas. Tivemos mérito em chegar lá, creio que não tivemos a sorte do jogo em duas dessa finais e, claramente, não estivemos a altura do que nos era exigido na final da Taça de Portugal. É um ano para não esquecer, foi se dúvida dos momentos mais difíceis que vivi aqui no Benfica.

- A decisão de renovar  contrato de Jorge Jesus, no contexto em que sucedeu, foi a mais difícil, no âmbito desportivo, dos seus mandatos?
- Acho que a pergunta deve ser feita de outra forma. Que gestor, analisando o que tinha sido feito nos últimos 4 anos, tomaria uma opção diferente? Houve uma avaliação séria do trabalho de Jesus. Este foi o primeiro ano em que, no actual formato da Champions, estivemos no pote 1. No primeiro ano de Jesus o Benfica era 23.º do ranking europeu, na época passada acabamos em 5.º, atrás do Bayern de Munique, do Dortmund, Chelsea e Real Madrid... Isto são factos. Em quatro anos estivemos numa meia-final e numa final europeia... Quando se lidera um Clube como o Benfica há muitas vezes a tentação de gerir com o coração, e isso é o pior que podemos fazer. Jesus cresceu e evoluiu ao longo destes quatro anos, mas o Benfica também evoluiu e cresceu com ele. É evidente, tenho essa noção, seria sempre uma decisão que não mereceria a concordância de todos, mas qual é a decisão que merece unanimidade?

- Fica a ideia de que o Benfica tem tido muita dificuldade em ultrapassar o bloqueio psicológico do maio maldito...
- Acho que efectivamente durante demasiado tempo não nos conseguimos desligar desse final de época. Não começamos o campeonato com zero pontos, começamos muito abaixo de zero, porque efectivamente foi traumático, mas creio que passados estes meses esse capítulo já está fechado. Porventura ainda não estamos a jogar o que jogamos no ano passado, mas vamos lá chegar, estou convencido disso.

- Seis meses depois, já a frio, que balanço faz do caso entre Jesus e Cardozo?
- O mesmo que fiz no próprio dia. Não devia ter acontecido, mas também é verdade que ganhou uma dimensão maior do que devia porque foi um caso que envolvia futebol e envolvia o Benfica. Como é evidente não fiquei satisfeito, mas não podemos nunca retirar do contexto as situações. Sinceramente creio que foi bem resolvido. Não houve nenhum ultimato de ninguém, houve ofertas mas não houve garantias, o jogador reconheceu o erro, foi penalizado e, finalmente reintegrado.

- Não levou muito a resolver?
- Essa é a crítica mais ouvida da parte daqueles que estão de fora, que não percebem que o futebol é um jogo de emoções, que acham que tudo se resolve de forma simples. Muitas vezes acontecem situações que os jogadores não conseguem controlar, há inúmeros casos desses e em todos eles a solução nunca é fácil porque envolve três vertentes: a desportiva, a financeira e a humana. Quem disser que um caso destes é fácil de gerir e resolver não sabe o que está a dizer.

JORGE JESUS, PARTE DA SOLUÇÃO
- Continua a sentir Jorge jesus como parte da solução?
- Pelo que disse atrás, a resposta é sim. Temos beneficiado com a estabilidade da equipa técnica. É evidente que esperava ter mais títulos conquistados nestes anos, mas precipitar uma decisão pode significar destruir u longo caminho que foi construído até aqui.

- A mensagem de Natal que enviou a todos os benfiquistas tinha recados para o treinador?
- Eu não mando recados ao meu treinador, eu falo com ele quando é necessário. Isso não passou de um título de jornal que muito provavelmente não tinha nada melhor para ter na primeira página nesse dia e que, depois, alguns especialistas desenvolveram. Não acha que expressei o sentimento de todos os benfiquistas? Se não digo nada é porque devia, quando manifesto o sentimento de todos os benfiquistas é porque estou a enviar recados... Há uma coisa que tenho a certeza, Jesus concorda com a mensagem de Natal na totalidade, como aliás já o manifestou publicamente.

- O treinador, como se viu, por exemplo, em Guimarães, não anda com os nervos demasiado à flor da pele?
- Não. O Jesus sempre foi assim, desde o primeiro ano em que chegou ao Benfica sempre foi igual. Não é uma questão de nervos, é uma questão de feitio. Há quem goste, há quem não goste, mas aquilo é ele.

- A irregularidade exibicional do Benfica, de mãos dadas com a crise que continua a assolar Portugal, tem afastado adeptos da Luz. Como inverter este ciclo?
- Há uma coisa que é verdade, que é a irregularidade exibicional do Benfica. Quando ao afastamento de adeptos da Luz não corresponde à verdade. Dos seis jogos em casa disputados para o campeonato, em termos comparativos com o ano passado, estamos com mais espectadores, mesmo tendo em conta que no primeiro jogo tivemos menos 18 mil espectadores, fruto da ressaca do fim de época. O que significa que nos restantes cinco jogos estivemos sempre acima da média de espectadores da época passada. Mas isso não invalida que efectivamente estejamos a apresentar exibições que não estão ao nível do que podemos fazer. Já agora, também não podemos esquecer a crise económica e , principalmente, a carga fiscal cega que taxou o futebol com 23% IVA.

- Sente-se compensado do esforço que fez ao manter os jogadores mais valiosos do Benfica no plantel?
- Foi um esforço assumido e que não me arrependo de o ter feito. É evidente que ficar de fora da Liga dos Campeões foi uma desilusão e mais duro é esse golpe quando ficamos de fora perante um Olimpiakos em cujo campo fizemos o melhor jogo da época e num jogo onde deveríamos ter ganho de forma folgada. É duro ainda quando conseguimos 10 pontos e houve equipas a passar à fase seguinte com 6, mas isso é futebol e nada podemos fazer. Ficaria arrependido se não tivesse feito esse esforço.

- Lembrou que o Benfica fez 10 pontos na Champions, mas mesmo assim ficar em terceiro lugar num grupo acessível não é demasiado frustrante?
- Frustrante foi não ter passado a fase de grupos, o resto é secundário. Grupos acessíveis? Essa é a parte do futebol falado. Não adiante dizer que fomos superiores ao Olimpiakos, porque o fomos, infelizmente as bolas não entraram.

- No mercado de Janeiro o que vai suceder?
- No verão fizemos um grande esforço e mantivemos todo o grupo, a eliminação da Champions foi, evidentemente, um duro golpe desportiva e economicamente, o que nos vai obrigar a analisar as propostas que chegarem. Não creio poder conseguir repetir o esforço que fizemos o verão.

- O que está a dizer é que vai ser obrigado a vender?
- Não é uma questão de obrigação, é de gestão. Se houver sondagens ao nível das que houve no verão, não as vamos poder ignorar.

- Matic?
- Não vou individualizar porque felizmente temos muitos jogadores cobiçados por clubes que não depednem das suas receitas ordinárias para comprar.

- E entradas?
- Vamos aguardar... Não vou antecipar cenários. Podem acontecer ou não! Os reforços estão na equipa B ou nos jogadores emprestados.

APOSTA NA FORMAÇÃO É VIA INCONTORNÁVEL
- A formação do Benfica já produz internacionais e consegue títulos em todos os escalões. Mas os jogadores não passam da equipa B, sendo que as oportunidades na equipa principal são residuais. Isto não é um contrassenso?
- Há uns anos era porque a formação não produzia jogadores, agora é porque não jogam todos na equipa principal? Temos de ter calma, a formação é um projecto de sete a dez anos, como sempre o assumimos, e os frutos começam a aparecer, mas não podemos querer que de um momento para o outro haja cinco, seis jovens da formação na equipa principal. Há etapas que não devem ser queimadas, há uma maturidade que se tem de ganhar com paciência. As oportunidades já surgiram e vão continuar a aparecer...

- Quando a SAD do Benfica renova com os jovens talentos e introduz cláusulas de rescisão milionárias, não está à espera de outro comportamento do treinador, mais adequado à filosofia do clube?
- As cláusulas são um acto de gestão. O trabalho do treinador é um capitulo à parte, mas já agora aproveito para lhe dizer que o treinador sabe qual é a estratégia e o caminho traçados em relação à nossa formação. Convém que ninguém se iluda, a pressa é sempre má conselheira, mas é evidente que os jovens vão ter obrigatoriamente cada vez mias espaço nas nossas equipas de competição. O sonho de todos os benfiquistas, e o meu também, é ter, tanto quanto possível, porque haverá sempre lugar para quem nos venha ajudar a ser mais fortes, um Benfica made in Benfica.

- André Gomes pouca joga. Pode sair?
- Vou responder da seguinte forma: qualquer jogador pode sair se surgiram propostas consideradas irrecusáveis. No caso do André em específico creio que já teve oportunidades e, no caso de ficar no plantel, elas vão continuar a surgir.

- Sobre o política de contratações, como se explica a chegada de tantos sérvios?
- Porquê? Se fossem brasileiros ou argentinos não havia problema? O Benfica investe onde há bons jogadores, esse é o critério e a verdade é que a escola de futebol sérvio tem tradição e já estava a ser acompanhada pelo nosso scouting há algum tempo. Aliás, fruto do trabalho do scouting é que foram identificados os jogadores que foram contratados, nada mais que isso. A única linguagem que vale no balneário é a linguagem do futebol.

- Os jogadores emprestados são fonte de receita, de despesa ou são um investimento?
- Até agora fonte de receita, raramente o Benfica empresta sem gerar receita, mas é evidente que também representam um investimento. O ano passado tivemos um encaixe de quase 5 milhões de euros com jogadores emprestados. Mas ao mesmo tempo, os empréstimos visam um outro objectivo. Sabemos que há jogadores que cabem no futuro do Benfica, mas que no imediato não têm espaço no plantel. Nesses casos é preciso que eles ganhem competitividade.

- Mas mesmo assim o Benfica não tem jogadores a mais?
- É uma situação controlada e em permanente estudo. Sem querer entrar em detalhes, garanto que estamos muito atentos à forma de optimizar os activos do Benfica.

- Ficou muito agastado com o empate caseiro com o Arouca, um resultado que, por tão inesperado, entra para a história da Liga. O que fez sentir à equipa técnica e aos jogadores?
- Como podem imaginar fiquei decepcionado. Mesmo que estivéssemos a jogar com 10 tínhamos a obrigação de ganhar, foi isso que transmiti àqueles que diariamente me acompanham. Foi um resultado totalmente injustificado.

AS FINANÇAS DO BENFICA
- Como estão as finanças do Benfica?
- O Benfica atravessa as mesmas dificuldades da maioria das empresas portuguesas, ou seja, dificuldades no acesso ao crédito, quebras de receitas e uma necessidade permanente de reduzir custos. Temos, ainda assim, um plantel cujo valor é por todos reconhecidos e que foi recentemente valorizado em 250 milhões de euros. Situação que se fosse reconhecida no balanço nos permitia estar com capitais próprios positivos e com o balanço equilibrado.

-Fala-se num passivo a rondar os 450 milhões de euros. Esta situação preocupa-o? Ou tem sido mal apresentada?
- Respondo da seguinte forma: É uma situação controlada, que alguns têm querido empolar. Mais, somos o único clube a consolidar as suas contas, portanto, quando aparecem, de vez em quanto, contas comparadas com os outros clubes, não o podem fazer, ou pelo menos não deviam, porque são realidades completamente diferentes.
Desses 450 milhões de euros, há 50 milhões que não são exigíveis. O restante é um valor alto, mas, como disse atrás, seria muito inferior ao activo se pudéssemos reconhecer o real valor do nosso plantel. Os nossos parceiros financeiros e os nossos auditores acompanham regularmente a situação do Benfica e, conforme é público, mantêm total confiança na gestão. Há uma coisa que posa garantir, não estamos a negociar qualquer perdão de dívida.

- Qual a estratégia financeira do Benfica para o futuro?
- Manter uma gestão equilibrada de tesouraria que nos permita não aumentar o nosso endividamento e cumprir os planos de reembolso acordados. Essa estratégia é hoje possível porque temos finalmente a formação do Benfica a gerar jogadores com qualidade suficiente para integrarem no curto-médio prazo o plantel principal, reduzindo assim o nível de investimento.

- A menor disponibilidade da banca para o crédito penalizou o Benfica?
- Não, apenas nos obriga a ser mais racionais nos nossos investimentos.

OS ASSINANTES DA BENFICA TV
- A Benfica TV chegou aos 230 mil assinantes. Está em linha com o previsto?
- Está claramente acima do que eram as nossas expectativas para os primeiros meses. É um número absolutamente impressionante e que demonstra bem que tínhamos razão quando decidimos avançar para este projecto.

- Que valorização deve ser atribuída, agora, aos direitos televisivos do Benfica?
- Saberemos isso no final desta época quando contabilizarmos as receitas que o Benfica atinge através da sua televisão.

- Não renovar com a Olivedesportos foi uma decisão de raiz política ou económica?
- Fundamentalmente económica, como facilmente fica demonstrado, mas é evidente que ganhámos uma independência que nunca teríamos se fosse outro operador a gerir os nossos direitos televisivos.

- Se a centralização dos direitos televisivos desejada pela Liga avançar, como vai proteger os direitos do Benfica?
- Duvido que a centralização avance e não será certamente por qualquer oposição do Benfica, mas sim porque todos os outros clubes têm contratos assinados de longa duração que não podem ser desfeitos a não ser pode decisão judicial. Mas mesmo que a centralização avance, uma coisa é certa, os valores gerados pela Benfica TV serão aproveitados como valor de referência para aquilo que o Benfica deverá receber num cenário de centralização.

- Mário Figueiredo tem sido muito atacado e vários clubes querem vê-lo demitido. Qual a posição do Benfica face ao presidente da Liga?
- Empenhou-se em cumprir com o projecto apresentado aos clubes e é bom lembrar que o Benfica não o apoiou na sua candidatura, mas seguiu o caminho que disse que ia seguir, isso tenho de reconhecer. Teve batalhas muito difíceis e tem mérito por isso. Combateu poderes instalados e isso é visível e creio que este é o melhor elogio que lhe posso fazer.

- Estaria disposto a apoiar uma eventual reeleição de Mário Figueiredo?
- Primeiro é preciso saber se ele será candidato, analisar outras eventuais candidaturas, ver os respctivos programas e só depois é que se pode responder a esta questão.

- Como qualifica os dois anos de mandato de Fernando Gomes da FPF?
- A avaliação é positiva, cumpriu até agora com as propostas apresentadas, nomeadamente com a profissionalização da arbitragem, arrancou com um projecto que há muito tempo não conseguia sair do papel, que é a Casa das Selecções e, finalmente, conseguiu criar condições para que Portugal se pudesse apurar para o Mundial do Brasil. Aproveito aqui a oportunidade para saudar a Selecção no seu todo e o seleccionador que liderou o grupo. Tenho a esperança de que possam fazer um bom Mundial. Portanto, por todas estas razões creio que estes dois anos de mandato foram muito positivos.

- Como caracteriza as relações do Benfica com o FC Porto?
- Há um relacionamento profissional entre os quadros dos dois clubes. Quanto ao resto a história é conhecida e não se passa nada por isso.

- E com o Sporting?
- Nós temos boas relações com quem respeita o Benfica. Isso não aconteceu no passado com o Sporting, mas espero sinceramente que com esta Direcção isso possa mudar.

- As palavras do presidente do Sporting a seguir ao jogo com o Nacional da Madeira merecem-lhe algum comentário?
- Cada um escolhe o seu estilo e a forma como intervém publicamente. O presidente do Sporting entendeu que aquela era a melhor forma de defender o seu clube, eu não vou comentar. É algo que só a ele diz respeito.

- Como que estado de espírito está a encarar o ano novo?
- Com optimismo, como disse na mensagem de Natal. Houve um tempo em que, como todos sabem, não tínhamos meios para discutir em condições de igualdade com outros clubes a liderança desportiva, e mesmo assim tive um discurso de optimismo e de ambição, e até fui criticado por isso. Quanto mais agora que temos todas as condições e um plantel que nos dá garantia.

- Quais são os grandes objectivos do Benfica para 2014?
- O que para mim é prioritário é ganhar o título nacional, mas é evidente que nas restantes competições temos de ter ambição de as ganhar, pensando jogo a jogo, com humildade mas com determinação, quer seja na Taça da Liga, na Taça de Portugal ou na Liga Europa.

«Carraça quebrou todos os códigos de balneário»
(...) 
Luís Filipe Vieira não quis entrar no detalhe da polémica, dizendo não gostar «de falar de casos que devem ser geridos internamente» e garantindo que «António sabe porque saiu.» No entanto, o líder encarnado fez questão de lamentar que Carraça tivesse «divulgado assuntos de pura gestão interna e que assim deviam ter continuado», sublinhando que, ao fazê-lo, «quebrou todos os códigos de balneário. E vou ficar por aqui.»

«Cenário de operação não está completamente afastado»
(...)
Vieira, nitidamente melhor mas mesmo assim sujeito a tratamento regular, revelou a A BOLA que se trata de «um problema na coluna, na cervical. Uma situação muito incómoda e que provoca muitas dores. Tenho tentado evitar a operação, e acho que o consegui, embora esse cenário ainda não esteja totalmente afastado.»

TRISTEZA PELA MORTE DE MANUEL SEABRA
(...)
«Quero, neste momento triste, deixar uma palavra de admiração e o testemunho da minha frustração pela perda de um homem cujo carácter e determinação vão fazer falta à vida pública portuguesa e ao Benfica.»

«Ainda não desisti da Rádio Benfica»
(...)
«Estamos numa fase de alargamento do Caixa Futebol Campus (mais 3 campos de futebol) que ainda vai levar um ano a estar concluído, quero construir um centro de apoio - também no Seixal - para ex-jogadores do Benfica que por quaisquer razões estejam a passar dificuldades, ainda não desisti de concretizar o projecto da rádio, portanto como podem ver há muitos projectos. E quando estes acabarem de certeza que outros vão surgir, porque isto é o Benfica.»

«Vi o pássaro que foi sugado pela turbina»
(...)
«O avião estava a levantar e eu vi, porque vinha junto à janela numa das primeiras filas, o pássaro que foi a seguir sugado pela turbina. Aliás o avião era um Airbus e a turbina ficava perto do sítio onde estava sentado. Houve um barulho, depois silêncio, a seguir percebemos que o motor deixara de funcionar e o avião regressou à pista. Felizmente tudo acabou sem consequências de maior, mas o susto ficou. Até porque houve alguns segundos em que não se sabia o que ia acontecer a seguir...»"

FCD

"O único clube que é capaz de mudar os corações mais empedernidos de paixão é o FCD, Futebol Clude do Dinheiro. O manager do FCD é uma tróica formada pelo mister Draghi do BCE, mister Ben Bernanke do Reserva Federal Americana e mister Alister King do Banco de Inglaterra. A táctica do FCD depende sobretudo da posição do 'trinco' fiscal e dos 'alas' comissionistas. É também  melhor clube a despedir: fá-lo depressa e paga principescamente e equívoco.
Nos últimos dias li, sem surpresa, duas notícias.
Uma relativamente ao ex-treinador do FCP André Villas-Boas. Disse - peremptoriamente - que é impossível vir a treinar o Benfica e o Sporting. Como benfiquista agradeço o seu pudor clubista. Percebo que só mesmo um clube - o FCD - foi capaz de ousar tirá-lo in extremis da sua «cadeira de sonho» no Porto. Chelsea e Tottenham, extremosas filiais do FCD, levaram-no para a fascinante praça londrina, onde por libras sedutoras anestesiaram a sua paixão portista e antibenfiquista.
A outra notícia tem a ver com a hesitação (?) de Carlos Martins em aceitar a proposta de rescisão do seu contrato com o SLB, mesmo que tal implique não jogar. Na pré-época de 2012, o jogador terá feito uma gracinhas e, vai daí, teve uma prenda de Natal antecipada: uma renovação por quatro anos (até aos 34 anos) com um estipêndio fabuloso (segundo li em A Bola, 9000 mil€ líquidos por ano). Depois disso, a nossa memória esgota-se naquela inacreditável expulsão no jogo decisivo com o Estoril que, em qualquer outra profissão, justificaria um despedimento com justa causa!
Villas-Boas e Martins, ambos com o seu emblema no coração."

Bagão Félix, in A Bola

PS: Nem de propósito, no dia que saiu esta crónica, foi anunciado a transferência do Carlos Martins para o Al Wahda dos Emiratos Árabes Unidos, treinados pelo José Peseiro.

Engarrafamento

"Em anos anteriores, as especulações sobre contratações do Benfica no mercado de Inverno eram imparáveis. Umas capas de jornais passadas, lá assinava um par de jogadores que, com raras excepções, acabava por se revelar redundante – é preciso ter muito boa memória para nos recordarmos de boas contratações em Janeiro. Este ano parece diferente: a entrada de novos jogadores é pouco provável. Há boas razões para que assim seja. Mas há também um engarrafamento de jogadores no plantel do Benfica que é motivo de preocupação.
Um plantel como aquele que o Benfica tem este ano, com muitas soluções para quase todas as posições, acabou por ser muito importante na primeira metade da temporada. Com um sem-número de lesões, não fora a existência de tantas alternativas, o Benfica estaria arredado da luta pelo título. Logo, a principal razão para não contratar alguém é porque o Benfica tem um plantel que peca por excesso e não por defeito. Depois, é claro, a conjuntura financeira está longe de ser propícia a investimentos.
Mas o excesso de jogadores, tendo sido salvífico nestes meses, em condições normais, não é positivo: frustra as expectativas de quem não consegue ter minutos de jogo e, acima de tudo, impede a afirmação de novos jogadores.
Quando não existia equipa B e se perdia o rasto aos jogadores saídos da formação, a margem para contratar jogadores e mais jogadores – muitos de qualidade hiperduvidosa – era muita. Agora já não é bem assim.
Pense-se apenas no caso da posição de médio-centro atacante (8 ou 10, como lhe quisermos chamar). Neste momento o Benfica tem um titular indiscutível, Enzo Pérez, mas logo depois tem demasiados jogadores jovens em fila de espera – Djuricic, André Gomes, Bernardo Silva e ainda, convém não esquecer, Fariña a rodar nos Emirados Árabes Unidos. A consequência é apenas uma: marcam-se uns aos outros e fica diminuída a capacidade de afirmação de, pelo menos, um deles.
Se nada mais, o contexto financeiro deveria obrigar a que racionalidade desportiva e económica passassem a andar de braço dado e se colocasse fim ao engarrafamento no Seixal."