"Há três semanas, sem exagero, poderia falar-se de uma temporada de fantasia, viva-se na antecâmara de três conquistas, algo que poderia traduzir-se numa das épocas mais conseguidas do historial centenário do Clube, seguramente a melhor das últimas décadas. De repente, contornos atrozes e cruéis à mistura, tudo se desmoronou. Foi um desaire? Foram dois desaires? Foram mesmo três desaires, situação tão anómala quanto imprevista.
Até Maio houve um grande Benfica, a melhor equipa nacional, capaz de se exibir de forma incisiva, convincente, sedutora mesmo. Em Portugal? Em Portugal e na Europa. Ainda assim, os jogadores capricharam (a final perdida da Liga Europa é um exemplo concludente), o técnico manteve um discurso optimista e foi inexcedível na preparação dos embates, o presidente e seus pares não se pouparam a esforços, os adeptos revelaram-se magníficos.
Frente ao Vitória de Guimarães, no Jamor, o colectivo titubeou. Como é possível não ter feito um único remate na metade complementar? Claro que o subconsciente dos atletas, amarrotado pelos mais recentes insucessos, teve influência no défice de discernimento, de convicção, de apego.
Ainda assim, esperava-se mais, muito mais, de um Benfica capaz de fechar o ano com um triunfo que não serviria para mitigar algumas frustrações, mas poderia devolver uma dose razoável de auto-estima ao universo rubro.
No rescaldo da derrota, debaixo de um clima emocional impróprio, ouviram-se considerações que não dignificam a grande instituição que somos. Muitos dos partidários de aplausos recentes enveredaram pelos assobios e até exigências desvairadas. Dir-se-á que são contingências naturais. Mas importa também que se diga que este é um Benfica de liderança forte, insusceptível de ser governado ao sabor dos acontecimentos por mais dolorosos que possam ser."
João Malheiro, in O Benfica