"O meu pai faz anos a 23 de Março. Que é como quem diz, sexta-feira. Sei que ele acompanhou muitos jogos meus, desde que comecei no basquetebol. Foi uma adolescência inteira, foi andebol depois e futebol mais tarde. Por fim, futsal. Já adulto, com responsabilidades.
Não sei especificar a que jogos ele foi ou em quais não esteve. Mas tenho certeza absoluta disto: estava lá quando o filho dele foi expulso, num dérbi regional.
Não era a primeira ocasião em que o filho do sr. Ferreira era expulso. Mas era inédito vir para a rua daquela forma. Foi a única vez que me disse alguma coisa sobre o que eu fiz a jogar.
Já Francisco José Martin é um tipo que diz quase sempre alguma coisa sobre o que vê em campo. E faz anos a 23 de Março. Sexta-feira, portanto.
Francisco é Frank, já agora. Filho de exilados cubanos na Florida, foi o primeiro norte-americano da família.
Chegou a ser porteiro de discoteca até que um tiroteio o levou a mudar de vida. Tornou-se treinador. Primeiro no liceu, por fim universitário.
O meu pai nunca foi porteiro de discoteca. Pelo contrário, trabalhou numa farmácia e foi agente de seguros. O que é praticamente o oposto, não é? Também nunca foi treinador de coisa alguma. Mas para além do dia de aniversário, partilha algo mais com Frank Martin, o head coach da equipa de basquetebol da University of South Carolina: o facto de não ser um desses idiotas quando o filho está em campo.
Frank Martin fala de basquetebol no
vídeo seguinte. Mas fala por todos aqueles ligados ao futebol, ao andebol, ao badminton, a todas as modalidades; fala por todos aqueles que domingo após domingo são verdadeiros heróis, como um dia li por aqui. Fala por todos os pais que têm de ouvir um outro na bancada. Fala para que os idiotas se calem. Esta semana celebrou-se o Dia do Pai. Eu tenho a felicidade de celebrar o meu a triplicar. Pelo 19 de Março, pelo 23 de Março e por ele ter sido muito como Frank Martin.
«Eu sei disto: sou, se calhar, o treinador mais irrequieto que vocês provavelmente já viram quando a minha equipa está a jogar. Vou ver os meus filhos jogarem, e não digo «boo». Eu não agito os braços, não tento treinar meus filhos. Com todo o devido respeito devido por todos aqueles pais, eu provavelmente sei mais sobre basquetebol do que a maioria deles, OK? Mas eu sento-me na bancada e não digo uma palavra. Há dois tipos a arbitrar um jogo de infantis numa manhã de domingo. Quanto é que eles podem estar a ganhar pelo jogo? 20 dólares (16€) por jogo? Eu costumava fazer isso. Eu costumava ganhar 12 dólares para jogos sub-10, 15 dólares para 15 anos e 17 ou 18 dólares para jogos de liceu. OK, então, num domingo de manhã em vez de estar na igreja, esses tipos estão aí, a tentar ganhar alguns trocos, pagar as contas, alimentar as famílias.»
«Vocês acham que eles realmente se importam com quem vence um jogo de infantis? Vocês, realmente, acham que eles sentaram-se, em casa, e disseram: “Oh, mal posso esperar para arbitrar esse jogo de amanhã, porque essa equipa, mal posso esperar para apanhar aquele miúdo de 10 anos e envergonhá-lo na frente de pessoas.” Vocês acham mesmo que é isso que eles estão a fazer? Eu não tento dizer aos meus filhos como eles devem jogar. Sabem o que eu digo aos meus dois miúdos quando eles chegam ao pé de mim… "Por que é que me estás a perguntar, pá? Não sou eu que te treino, vai falar com o teu treinador.” “ Mas ah - “não fales sobre o teu treinador à minha frente, porque se estiveres a falar, então não jogas basquetebol.” Não entendes porque não jogaste melhor? Vai falar com teu treinador. Eu não sou teu treinador, sou teu pai. Alguém desrespeita-te, então eu estou aqui. Se tu fracasses, bem, lida com isso, eu vou ajudar-te a recuperar. Mas não venhas falar comigo sobre treinar. Eu faço isso para viver, pá. Não vou criticar um tipo que te está a tentar ajudar.”»
«Agora, a outra parte – aquilo era sobre os árbitros. Vocês acham que esses treinadores que treinam crianças, infantis, estão a ganhar algum dinheiro? Vá lá, há alguém que está a perder tempo pessoal, num domingo, de graça, para ajudar os filhos de outras pessoas e, ainda assim, vamos ter os adultos nas bancadas a gritar obscenidades para os árbitros? A criticar todas as decisões que o técnico toma? Gritando com as crianças, - eles têm 10 anos, pá! Como se eles fossem um LeBron James e um Dwyane Wade a jogar as Finais da NBA!»"