Últimas indefectivações
sábado, 12 de abril de 2025
Lage outra vez a fazer das suas
"Há poucos meses ninguém diria que o Benfica poderia ganhar todos os troféus em Portugal. Se o momento da época tem de ser a saída de Amorim, a figura parece já estar encontrada
A realidade, essa, no entanto, não deixa de ser uma só para todos e não podemos omiti-la, mesmo que já a tenhamos repetido inúmeras vezes: só chegámos aqui porque a saída de apenas um homem, a anos-luz de distância o mais importante da estrutura, que não teve substituto aproximado ao ponto de anular rapidamente as dúvidas, fragilizou uma equipa que até aí parecia não tê-las. Claro que as lesões ajudaram, porém as fraquezas vieram das cabeças para o treino e depois para os jogos e não ao contrário.
A figura que agora emerge, com justiça, é a de Bruno Lage. Um treinador que lutou contra o contexto – segundo líder da época, pouca crença na equipa, um plantel não preparado por si e para si e um mercado fechado; e o rótulo que rapidamente lhe colaram, de alguém barato, que estava à mão e não teria nada a perder se aceitasse – e contra o passado. Tempos idos também eles de apoteose e de descida inesperada aos infernos, numa primeira temporada que teve muito de parecida com a atual, ainda que falte fechar o negócio com a conquista do título, e uma segunda que parecia caminhar para aí, porém terminou em amargura, com desaires sucessivos e o despedimento, que os benfiquistas não desejarão certamente que se repita, caso o técnico continue para lá do verão no clube.
Lage não fez tudo bem. E teve a equipa, e com ela os objetivos, a escaparem-se-lhe entre os dedos. A comunicação foi muitas vezes pobre e ineficaz, teve os desabafos de Rio Maior e da garagem, e a pobre conferência em que nada explicou logo depois. Esqueceu a utilidade de Rollheiser e traçou um plano que só ele conhece para Prestianni. Abdicou de jogar em Munique para que um resultado pesado não atrapalhasse a retoma, mesmo que a postura ferisse o orgulho dos adeptos. E tomou decisões em janeiro apenas para o imediato, para manter a ideia gerindo jogadores.
Não quero dizer que Bruma, embora tapando o crescimento de Schjelderup, Belotti e, Dahl não sejam importantes, todavia a equipa continua a revelar os problemas do passado: muitas dificuldades na primeira fase de construção quando sob pressão, impedindo muitas vezes a atração dos rivais para sair a jogar de forma associativa e forçando sucessivas diagonais Akturkoglu e Pavlidis ou Belotti com bolas longas; e ainda um ataque posicional deficiente, que se sente muito amarrado quando tem de furar blocos baixos.
Estratega, acrescentou ao modelo de Roger Schmidt, que também padecia dos mesmos problemas, uma primeira dimensão, por vezes sobrevalorizando-a, de observar e ajustar consoante o adversário, sobretudo em posicionamento do bloco, como fez no Dragão, e outra, a de analisar a sua própria equipa e fugir aos seus sistemas preferidos a fim de obter maior equilíbrio.
Esta segunda aposta tem sido o segredo do sucesso até aqui: a colocação de Aursnes como terceiro médio, ainda que sem bola pressione ao lado de Pavlidis/Belotti em 4x4x2 e saia ainda em apoio de Ángel Di María nas missões defensivas, o que leva a um enorme desgaste acumulado. Se a isto somarmos o que faz no ataque, o norueguês eleva-se facilmente ao estatuto de melhor e mais influente jogador encarnado em toda temporada, com Carreras e Tomás Araújo (e até Akturkoglu) como bons escudeiros.
O calendário do Benfica é mais complicado do que o do Sporting, no entanto os leões deixaram que se abrisse aqui mais uma porta inesperada aos rivais com o empate consentido em Alvalade com o SC Braga. A ideia de a Luz ser na penúltima ronda a grande cimeira do campeonato saiu reforçada, ainda que Guimarães, Amoreira e Braga sejam igualmente ameaçadores para quem não tem grande margem de erro. Lage terá esse importante momento de afirmação de todo o trabalho feito até aqui. Se conquistar o tão desejado título, já depois de arrecadada a Taça da Liga, a Taça de Portugal até pode escapar-se ao técnico que nenhum adepto esquecerá o feito.
Há uns meses se alguém dissesse em voz alta que o Benfica iria ter a possibilidade de conquisar todos os títulos nacionais seria muito provavelmente considerado fanático ou louco. Na verdade, mesmo com uma direção com dificuldades em encontrar o rumo e a acumular problemas de liderança, perda de massa crítica em vários setores e decisões mal calculadas – mesmo a de Lage, face ao contexto deixa dúvidas, porque, mais uma vez, é anterior saída de Amorim; ainda que hoje todos estejam contentes – um treinador conseguiu chegar até aqui, ao ponto de ter virado um campeonato do avesso. E, ao fazê-lo pela segunda vez, merece ser olhado de uma forma especial, diferente da primeira.
Talvez seja demasiado cedo para pensar no depois. Na Luz, é certamente, porque há muito não se antecipam cenários. No entanto, há um duplo desafio pela frente. Um de Lage, no sentido de dar mais um salto de patamar na qualidade desta equipa, acrescentando-lhe valências. O da direção, desta ou de uma outra se os resultados não segurarem a atual no poder, em perceber finalmente onde quer que o grupo esteja daqui por cinco ou dez anos. Para isso, será preciso olhar com mais atenção do que a atual para a Academia, para o departamento de scouting, para os jogadores contratados, a partir da ideia que se quer ver colocada em campo desde as bancadas."
O Benfica vai ser campeão…
"Ponto prévio: o Benfica vai ser campeão… dos milhões. É, com efeito, garantido que nenhum outro emblema português ultrapassará aquilo que o Benfica já conseguiu ganhar, e poderá ainda amealhar, em prémios monetários de participação, de vitórias (e empates) ou de ultrapassagem de etapas nas competições internacionais em 2024/2025 – um valor que pode, inclusive, tornar-se histórico a nível nacional, perante a possibilidade de os encarnados poderem, ainda, ultrapassar os 100 milhões de euros!
Contas feitas, as águias averbaram 71,88 milhões de euros por conta do que alcançaram na UEFA Champions League, na qual caíram nos oitavos de final frente ao Barcelona (derrotas por 0-1 na Luz e por 1-3 na Catalunha), isto depois de terem eliminado o Mónaco no play-off e de, na fase de liga, terem somado quatro vitórias, um empate e três derrotas.
Também já assegurados estão os €14,6 milhões, estes pagos pela FIFA, pela entrada do Benfica na primeira edição do novo Mundial de Clubes, valor ao qual será possível acrescentar €3,72 milhões, caso as águias consigam vencer dois dos três jogos do Grupo C (Auckland City, Boca Juniors e Bayern).
E, caso consigam, como é convicção na Luz, estes dois triunfos, então alcançarão, também, os oitavos de final, para cuja qualificação está assegurado um prémio de €6,5 milhões.
Se, entretanto, o Benfica chegar aos quartos de final da competição que os Estados Unidos organizam entre 14 de junho e 13 de julho – sabendo já que o adversários nos oitavos sairá do Grupo D (Flamengo, Chelsea e Esperance Tunis) – então o encaixe será de mais 12,1 milhões de euros.
Cumpridos todos estes cenários, as águias ganhariam, esta temporada, um total de €108,8 milhões, um valor recorde e que permite concluir que, no mínimo, o emblema da Luz já garantiu uma grande vitória esta época, a de uma gestão desportiva eficaz e que permitiu encher os cofres encarnados, naturalmente um objetivo, neste caso comum a outros clubes, como Sporting ou FC Porto, a que todos concorrem anualmente rumo ao tão desejado equilíbrio de contas. Este campeonato foi ganho pelo Benfica."
O segundo melhor jogador da Liga
"Se Gyokeres é, indiscutivelmente, o jogador mais valioso da Liga, o segundo lugar da lista pode ser encontrado no plantel do Benfica, mas porventura não entre os nomes mais óbvios
Quem é o melhor jogador da Liga 2024/25? Se esse fosse o ponto de partida para este texto, então o debate ficaria curto para preencher estas linhas. Até ver a escolha parece consensual, de tal forma que só alguém com seis exibições dignas de Bola de Ouro até final poderá ter pretensão de destronar Viktor Gyokeres, que passou semanas em défice físico e, ainda assim, soma agora 31 golos e sete assistências.
O goleador sueco do Sporting acaba de bisar em prémios de Jogador do Mês do campeonato, ou não tivesse incluído sete tentos marcados e dois passes para golo no recibo de serviços prestados no mês de março. Nenhum outro jogador assume peso tal, pode o debate saltar essa etapa. É como analisar a Liga francesa: nem vale a pena perguntar quem vai ser campeão, discute-se quem virá a seguir na tabela.
Quem é, então, o segundo melhor jogador da Liga? O meu voto vai para Fredrik Aursnes. É legítimo pensar em Di María ou Pavlidis, quiçá até Otamendi, como é igualmente válido voltar ao plantel leonino para louvar a campanha do capitão Hjulmand ou de Trincão, mas Aursnes é a peça-chave na equipa que, na ronda passada, assumiu maioria nas sondagens relativas à luta pelo título.
A exibição do norueguês frente ao FC Porto deixou patente a preponderância que assume na dinâmica do Benfica, capaz de passar a ideia de que joga por dois (ou mais), tal o sacrifício defensivo e a clarividência com a bola nos pés.
Um altruísmo que Roger Schmidt trouxe para a Luz — mérito lhe seja dado —, e que Bruno Lage soube rentabilizar perspicazmente quando substituiu o alemão. O técnico português começou por ver em Aursnes o segurança que Di María precisava, com o tempo percebeu que o norueguês é seguro multirriscos de toda a casa tática do Benfica.
A equipa é melhor com Di María, mas já soube responder a desafios exigentes sem o argentino. Os adeptos estão agora rendidos a Pavlidis, mas já tiveram de ganhar sem golos do grego. Procuram conforto na liderança de Otamendi, mas já olharam para Tomás Araújo como o melhor central. Apesar da riqueza de um plantel que permite dar utilização residual a Prestianni, é de admitir que uma eventual ausência de Aursnes tivesse impacto maior.
As estatísticas não servem de prova, mas tenho para mim que Aursnes tem sido o segundo jogador mais valioso desta Liga. O melhor entre os invisíveis que raramente decidem jogos, mas que são essenciais para ganhar campeonatos."
Rui Borges não percebeu que mudou tudo
"Não foi só o treinador que disse que nada mudou. Também o capitão Hjulmand o afirmou no final do jogo com o SC Braga. Hjulmand e Rui Borges, atenção: mudou tudo depois do empate com os minhotos.
«Continuamos a depender de nós. Apesar de estarmos em 2.º nada mudou, porque há um dérbi. Vamos preparar o Santa Clara, que será um jogo difícil. Este resultado não belisca nada. Estamos tristes porque queríamos continuar em 1.º mas seguimos o nosso trabalho com a crença enorme de que vamos ser felizes»
Não, Rui Borges, este resultado beliscou. Não beliscou tudo, mas beliscou muito. E mudou tudo. Mudou que o Sporting, até ao empate (1-1) de segunda-feira à noite com o SC Braga, podia jogar com dois resultados na Luz, empate e vitória, e ao dia de hoje só pode contar com a vitória. Mudou que a perceção, palavra tão em voga por estes tempos, é de que o Sporting corre atrás (e ir atrás já não é perceção, é um facto) de um rival mais forte, com mais soluções e embalado em boas exibições, enquanto em Alvalade se percebe um plantel menos rico — diferença aumentada no mercado de inverno, em que se observaram cuidados financeiros mas por isso mesmo fica difícil entender a contratação de Biel por 6 milhões... — e uma equipa nesta altura aparentemente menos preparada para a luta.
Já aqui escrevi que seria nesta reta final, quando o plantel leonino ficasse mais composto com o regresso de alguns dos lesionados — e como estavam os leões a respirar por Pedro Gonçalves... — que Rui Borges seria posto verdadeiramente à prova, se teria unhas para a guitarra leonina. Pois chegou a hora. E o treinador acusou a pressão. A conferência de imprensa pós-SC Braga foi desastrosa, com o técnico a sentir-se pressionado de uma forma que lhe era desconhecida. Já reconheceu os erros internamente e isso é bom, mas vai ter de o fazer também publicamente (hoje há conferência de imprensa na Academia Cristiano Ronaldo em Alcochete), porque publicamente fez o que fez a Conrad Harder; porque publicamente disse que estava tudo como dantes.
Não, nada está como dantes e os adeptos, que não são parvos, já o perceberam. E a perceção que têm, outra vez a palavra da moda, é de que o comportamento do Sporting em campo se aproxima mais de uma equipa pequena do que de um candidato ao título… O problema das perceções é que depois os números as desmistificam, só que aqui os números parecem confirmá-las: o Sporting de Rui Borges entra bem mas perde o fôlego e o domínio, perdeu oito pontos no último quarto de hora, permitiu que Vitória de Guimarães, FC Porto, Aves SAD, SC Braga… evitassem derrotas depois de estarem em desvantagem no marcador e durante muito tempo. E sabe-se que com os campeões acontece o contrário: reviravoltas, vitórias ao cair do pano como muitas tinha Ruben Amorim. A tal estrelinha que dá muito trabalho. Com Borges tem sido ao contrário...
«Sentimo-nos bem, nada mudou. Claro que queríamos ganhar, mas mantemos a cabeça levantada. Tem o impacto de agora. O campeonato continua, temos dois pontos de desvantagem em relação ao primeiro classificado e temos ainda tudo nas nossas mãos. Temos de manter a cabeça levantada. O jogo contra o Benfica não vai ser decisivo, o que importa agora é o jogo com o Santa Clara»
Não foi só Rui Borges que disse que nada mudou. Também o capitão Hjulmand o afirmou no final do jogo com o SC Braga. Hjulmand, atenção: mudou tudo. Está perdido para o Sporting? Claro que não, mas o primeiro passo é reconhecer que o cenário efetivamente mudou e é a partir dessa mudança que os leões terão de trabalhar se quiserem que a luta na Liga continue animada até ao fim. O dinamarquês costuma ser realista nestas alturas e muitas vezes dá o mote, desta vez também acusou a pressão e não lhe saiu da melhor forma. Será importante a equipa trabalhar sobre este novo cenário, assumi-lo e encará-lo de frente, mesmo na altura de comunicar para fora. E lá dentro de campo jogar um bocadinho mais e diferente daquilo que se viu nos últimos jogos em que a tática foi meter a bola no Viktor... É que não é certo que o sueco consiga fazer tamanho milagre sozinho."
Comunicado
"O Sport Lisboa e Benfica desmente a existência de qualquer clima de tensão entre o treinador Bruno Lage e os seus jogadores, seja Bruma ou outro qualquer, ao contrário do que está a ser veiculado por alguma comunicação social.
Trata-se de especulações que em nada vão desviar a equipa dos reais objetivos desportivos até ao final da temporada e para os quais contamos com o total apoio dos nossos adeptos."
Nunca desiludem!!!
Bruma amuado.
— Gordo, Vai à Baliza! (@gordovaiabaliza) April 11, 2025
Di Maria viciado.
Vamos adivinhar as próximas:
- Tomás pediu para ser operado e não se tornar no novo Mantorras.
- Otamendi não quer renovar e tem interesse em regressar ao Porto.
- Psicólogo de António Silva diz que ele não voltará a ser jogador. https://t.co/zliUe6AEsy
Cofinices!!!
"“É 𝟭𝟬𝟬% 𝗺𝗲𝗻𝘁𝗶𝗿𝗮. 𝗡𝘂𝗻𝗰𝗮 𝗵𝗼𝘂𝘃𝗲 𝗾𝘂𝗮𝗹𝗾𝘂𝗲𝗿 𝗽𝗿𝗼𝗯𝗹𝗲𝗺𝗮 𝗲𝗻𝘁𝗿𝗲 𝗲𝗹𝗲𝘀. 𝗢 𝗕𝗿𝘂𝗺𝗮 𝗲𝘀𝘁á 𝗰𝗼𝗺 𝗴𝗿𝗶𝗽𝗲 𝗱𝗲𝘀𝗱𝗲 𝘀𝗲𝘅𝘁𝗮-𝗳𝗲𝗶𝗿𝗮 𝗲 𝘀ó 𝗰𝗼𝗺𝗲ç𝗼𝘂 𝗮 𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼𝗿𝗮𝗿 𝗮𝗴𝗼𝗿𝗮, 𝗱𝗮í 𝗻ã𝗼 𝘁𝗲𝗿 𝘀𝗶𝗱𝗼 𝗼𝗽çã𝗼".
Quem o diz é Lizelle Oliveira, empresária de Bruma, desmentindo assim a capa do jornal Record de hoje.
No seu modus operandi habitual - sempre que o Benfica está na "mó de cima" -, a Cofina, através dos seus peões (Correio da Manhã e Record) lança estas MENTIRAS para distrair. Bom bom seria falarem do estado em que se encontra o balneário do Sporting, logo após a humilhação pública a que Rui Borges sujeitou o avançado Harder. Mas isso é para abafar...
O MEDO está instalado para o lados de Alvalade e até a comunicação social avençada já demonstra esse desnorte. É só consultarem os vídeos que circulam pelas redes sociais, onde se vê Vítor Pinto a perder a cabeça e a ser desmentido, em direto."
Quem não chora...
"Corre o rumor que a próxima partida nos Açores , entre Santa Clara e o Sporting será apitado pelo árbitro internacional, Cláudio Pereira.
Até aqui tudo bem, não fosse Cláudio Pereira ter sido o árbitro do jogo da primeira volta, em Alvalade, onde os leões perderam por 1-0 com o Santa Clara.
Se bem nos lembramos, o jogo ficou marcado por inúmeros protestos dos leoninos que reclamaram 2 penaltis por assinalar. Cláudio Pereira, ficou até inicialmente "na jarra" na jornada seguinte, sendo apenas nomeado já quase em cima da 13a jornada para VAR num jogo da Liga2.
Ora, a confirmar-se esta nomeação qual a intenção do Conselho de Arbitragem?
▶️ Não está mais do que cara que Cláudio Pereira estará SUPER CONDICIONADO?
▶️ Não é mais do que óbvio que irá receber inúmeras PRESSÕES?
▶️ O que esperam conseguir com esta nomeação? Facilitar o resultado final em favor dos mais diretos perseguidores do SL Benfica?
Uma coisa é certa! Da suspeição já não se vão livrar!!"
Memórias de Vítor Cândido: saudoso Aurélio Pereira!
"Partiu consolado com o facto de ter sido homenageado (em vida) pelo clube, com a atribuição do seu nome ao Estádio Aurélio Pereira, na Academia de Alcochete
Morreu o meu amigo Aurélio Pereira. Que tristeza. Figura marcante na história do futebol juvenil do Sporting e de Portugal, o saudoso Aurélio ficou famoso como o maior caça-talentos do futebol português, que deu ao mundo alguns dos seus mais destacados intérpretes, como os Bola de Ouro Luís Figo e Cristiano Ronaldo. Mas também os internacionais: Paulo Futre (Bola de Prata), Ricardo Quaresma, Nani, Hugo Viana, João Mário, Rui Patrício, William Carvalho, Adrien Silva, Boa Morte, Abel Xavier, Cédric Soares, Simão Sabrosa, Dani, Nuno Valente, João Moutinho, José Fonte, Litos, Mário Jorge, Fernando Mendes, Rui Águas, Beto, Porfírio, Jorge Cadete, Carlos Xavier, Emílio Peixe… e muitos, muitos outros. São duas ou três gerações de excelentes futebolistas descobertos por este homem. Pioneiro, com a sua ideia visionária de criar (nos anos oitenta) uma rede de observadores por todo o país, levou a que o Sporting estivesse sempre em campo, com um olheiro em cada esquina, na mira de recrutar os melhores talentos… em todo o lado. Em muitos casos, os olheiros eram mesmo os bombeiros ou agentes da GNR, que faziam serviço nos campos. E o informavam sobre os habilidosos lá da terra. Com o departamento de recrutamento a funcionar de forma exemplar, o Aurélio foi um romântico do futebol do amor à camisola, bem diferente do futebol-negócio da atualidade. O seu lado humano e a forma como tratava e apoiava os miúdos e adolescentes, com tanto carinho e atenção, muitos diziam que era um segundo pai para eles... E os progenitores ficavam descansados e confiantes de que os filhos estavam bem entregues. E mesmo após deixarem o Sporting, o Aurélio era um conselheiro para todos, continuando, pela vida fora, a ligar-lhes para saber deles, para os animar, para cultivar amizade.
Os 'Aurélios' no Euro-2016
Com paixão pelo Sporting, Aurélio Pereira sentiu-se magoado quando, no tempo do presidente Jorge Gonçalves (1988), o brasileiro José Bonetti (diretor do futebol) o afastou das suas funções no clube. Felizmente foi uma situação efémera e, já com Sousa Cintra, voltou definitivamente para se glorificar, agraciado pelos vários prémios e distinções que recebeu, sobretudo por causa dos Aurélios, nome pelo qual ficaram conhecidos os dez leões campeões da Europa-2016, formados na Academia do Sporting. Curiosamente, todos utilizados na final, com a França (1-0). Ou seja, dos catorze que jogaram nesse desafio, dez eram da escola do Sporting… descobertos pelo Aurélio. Aliás, dizem os registos que há 62 internacionais AA que passaram pelas mãos (escolhas) do Aurélio. Que partiu consolado com o facto de ter sido homenageado (em vida) pelo clube, com a atribuição do seu nome ao Estádio Aurélio Pereira, na Academia de Alcochete. Que orgulho, rapaz!
O vício de descobrir talentos
Ao falar de Aurélio Pereira vem-nos à ideia a sua visão e estratégia na organização da rede de olheiros que implantou no clube. Naquele tempo, os melhores talentos vinham para Alvalade. Pelo prestígio da escola, pela negociação com os clubes e, sobretudo, pela confiança que o Aurélio transmitia aos progenitores. O Aurélio tinha o vício de descobrir talentos. Fosse onde fosse. Sempre à espreita. Nos jogos federados ou no futebol de rua, nos bairros. Como naquele dia em que chegou a Alvalade com um calmeirão que tinha descoberto a jogar nas peladinhas, na Quinta das Conchas (Lumiar): «Olha para este ponta-de-lança’!». Era um rapagão com idade de iniciado (sub-14). Para ele era um triunfo e o regozijo.
Filho do senhor Pereira, do Vidual
Grande Aurélio Pereira! Rapaz da minha geração com tantas afinidades. A começar pela paixão clubística e o viver o Sporting com dedicação e romantismo. Ambos residentes no Lumiar e lisboetas com origens serranas (Serra do Açor): o Aurélio, filho do senhor António Pereira, do Vidual (Pampilhosa da Serra), eu, filho do Zé Cândido, do Monte Frio (Arganil). Nos anos 60, ambos jogámos futebol nas camadas jovens do Sporting, com os treinadores José Travassos e Juca. E nos anos 80 e 90, eu como jornalista e dirigente do departamento de futebol juvenil e o Aurélio como treinador e, depois, chefe do gabinete de recrutamento e captações (scouting). Naquele tempo, trabalhava ele na empresa Novotipo, na Calçada de Carriche, e ao final da tarde chegava para as tarefas no Estádio de Alvalade. Eram tempos difíceis, condições precárias. Não havia relvados nem o conforto da Academia. Dezenas de miúdos treinavam-se no pelado de Alvalade e nos campos vizinhos da Torre e da Musgueira (alugados). Mas foi assim, nestas dificuldades, que Paulo Futre, Luís Figo, Quaresma, Dani, Hugo Viana, Simão Sabrosa, Cristiano Ronaldo e tantos outros cresceram e aprimoraram qualidades para chegarem ao estrelato internacional.
Com os 'violinos' em Côja
As recordações com o Aurélio levam-nos à convivência nas tarefas de Alvalade e nas reuniões e tertúlias, onde o Aurélio, com grande sentido de humor, exibia a sua faceta de rico contador de histórias e anedotas, umas atrás das outras… tão engraçadas. E a sua versão fadista? Sempre que se proporcionava, cantava o fado castiço. Como naquela noite, na Covilhã, quando cantámos na desgarrada (com a Luciana Abreu), no jantar de encerramento do torneio do AD Estação, de homenagem ao Yanick Djaló. Amiúde, participávamos nos vários torneios de Carnaval e da Páscoa, onde o Sporting era muito requisitado. E quando estivemos em Côja (Arganil), na velha-guarda do Sporting, com os violinos Jesus Correia, Vasques e José Travassos? Foi em 1991, nas Bodas de Prata do Clube Operário Jardim do Alva. Para gáudio do Jorge Calinas e do Luís Correia. O jogo foi no Campo da Carriça e o almoço foi no Lagar. Ai que saudades, ai, ai!
O mano Carlos Pereira
Como homem de memórias, ao falar do Aurélio não posso esquecer o mano Carlos Pereira, grande amigo e companheiro de várias cenas. Tal como o irmão, um camarada sempre disponível. Na cidade ou na aldeia. Ele que foi defesa-esquerdo, também um produto das escolas do Sporting, sendo campeão nacional (73/74) e vencedor de duas Taças de Portugal. Já como treinador, foi campeão nacional de juniores (95/96) e fiel adjunto da equipa principal, para certificar Paulo Bento. Naquele departamento tivemos o gosto de partilhar, durante tantos anos, ideias, estratégias e história do futebol do clube, com grandes mestres do futebol leonino: Fernando Mendes, Mário Lino e o senhor Juca. Grandes campeões, grandes senhores! E lembrar outros nomes do dirigismo do futebol juvenil, como Manolo Vidal, Manuel Aranha, Durvalino Neto, JM Torcato, José Maria Canhoto, Manuel Ferrão, Monteiro Castro, Henrique, Ernesto, Orlando, Abílio, Carlos Clemente, Cabral Melo. E o chefe Manuel Petronilho, rigoroso, intransigente. E o nosso convívio diário com os treinadores da formação: os míticos e sempre lembrados, César Nascimento e Osvaldo Silva. Mas também Hilário, Barnabé, Palhares, Miluir, Paiva, Bastos, Mariano, Oliveira, Leitão, Dinis… e o Carvalho, a tratar dos guarda-redes.
Tantos nomes, tantas saudades
Naquele tempo, para tratar da saúde, havia um departamento clinico com os médicos Branco do Amaral, Rodrigues Gomes, Fernando Ferreira, Virgílio Abreu, Teles Martins, Israel Dias, Gomes Pereira, Sanches, Mendonça, Vilela Dionísio, Alfaiate Leal... E os massagistas Manuel Marques, Bago d’Uva, Robalo, Veiga, Lourenço, Figueira, Fontinha, Mário André, Vieira, Rainho, Rodolfo Moura… E para aturar a rapaziada lá estavam os roupeiros António Rodrigues, Esquina, Vítor Sério, Pinto, Valente, Zeca… Tantos nomes, tantas saudades.
O saudoso Aurélio Pereira sempre foi considerado figura importante do futebol juvenil, mantendo boa relação de amizade e cooperação com dirigentes de outros clubes como Jaime Garcia (Boavista); Lino (Atlético); Feliciano e Costa Soares (FC Porto); Carlos Silva (Belenenses); Nicolau da Claudina (V. Setúbal); Arnaldo Teixeira e Ângelo Martins (Benfica); Conceição, Matine e Cuca (Est. Amadora); Óscar Marques (Leixões); Edmundo (Oriental)… São memórias do século passado. Dos tempos do romantismo desportivo.
Prémio 'Olho de Ouro'
Recordamos que certo dia, na apresentação do livro Ver Para Crer, escrito por Rui Miguel Tovar, no qual Aurélio Pereira conta as suas memórias na descoberta e formação de talentos, Paulo Futre, na sua maneira descontraída e exuberante, elogiou o «melhor olheiro do mundo», alvitrando o prémio «Olho de Ouro» para Aurélio Pereira: «Se existem os prémios ‘Bola de Prata’, ‘Bota de Ouro’ e ‘Bola de Ouro’ para os melhores jogadores, porque não distinguirem este homem com o «Olho de Ouro»? O senhor Aurélio merecia essa homenagem. Olhem… Se não fosse ele, hoje eu não estava aqui. Estava lá no Montijo e era bate-chapas!», disse, desconcertante."
A bola tem de continuar a rolar
"Nos bairros de Lisboa há crianças que pegam numa bola, improvisam uma equipa e conseguem marcar golos ao futuro. Foi assim para muitos atletas que começaram em clubes pequenos e, com esforço e talento, conseguiram chegar ao topo. Não só no futebol ou no basquetebol, mas também no atletismo, no judo, no ciclismo e em tantas outras modalidades. A prática desportiva não é apenas uma ferramenta de superação pessoal, é também um elevador social, um caminho para a integração e coesão social.
Ao longo da História, o desporto dissipou rivalidades políticas e construiu pontes. Nos Jogos Olímpicos, nações em conflito partilham a mesma pista, campo ou piscina e a atividade desportiva lembra-nos que há sempre lugar para a cooperação. É esta a importância do Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, que se assinalou no último domingo.
Mas para que o desporto cumpra este papel, é preciso investimento. Em Lisboa, tudo o que tem havido é esquecimento. A cidade, que apostou na requalificação do espaço público e numa estratégia ambiental que lhe valeu o título de Capital Verde 2020, queria que qualquer pessoa tivesse perto de sua casa um espaço para atividade física, fosse um espaço público com condições para uma simples caminhada, ou aparelhos de fitness ao ar livre. Quando, em 2021, foi Capital Europeia do Desporto, Lisboa tinha projetado infraestruturas e apoios para clubes e atletas de todas as idades. E, mesmo com as limitações impostas pela pandemia, a Câmara assumiu um apoio sem precedentes de 20 milhões de euros para clubes e associações desportivas.
Só que este ímpeto foi travado e as políticas pensadas e preparadas recuaram. Carlos Moedas e a sua equipa optaram pela inação e as consequências do desinvestimento estão à vista. Há atrasos nos apoios aos clubes e faltam novos equipamentos que já estavam previstos no último mandato, como os pavilhões de Campo de Ourique, do Parque das Nações e de São Domingos de Benfica – apenas Marvila avançou. O Complexo de Carnide, pronto para ser lançado, ainda não saiu do papel, apesar de tantas vezes anunciado.
Lisboa perdeu também as mobilizadoras e inclusivas Olisipíadas. Depois de três anos de vazio, foi agora lançada uma versão envergonhada e rebaptizada de Joga Lisboa, deixada à boa-vontade das juntas de freguesia, e que esquece a anterior e significativa participação e importantes laços comunitários criados. Num país onde 73% dos portugueses não praticam atividade física regular, este desinvestimento não é um pormenor.
Mesmo na oposição, o PS não abandonou o desporto. Não deixou cair a natação escolar, nem o Programa Lisboa +55, que o PSD/CDS queria eliminar. Lutou por mais apoios para os clubes e interveio para salvar instituições à beira do encerramento, como os históricos Clube Atlético e Cultural e o Núcleo do Liceu Passos Manuel.
A gestão de Moedas aprovou, no final de 2024, a revisão da Carta Desportiva da Cidade — documento do mandato anterior, adiado pela pandemia. Só que esta Carta, depois de ano e meio na gaveta dos Novos Tempos, chegou desatualizada e a confirmar um mandato perdido. Enquanto entre 2010 e 2020, em gestão PS, aumentaram em quase 25% os equipamentos na cidade face à década anterior, há agora 329 intervenções previstas, mas atiradas para o futuro.
Que este Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz tenha servido para nos lembrarmos que o desporto não é um luxo, mas uma prioridade estratégica para qualquer cidade, capaz de proporcionar melhor qualidade de vida, saúde e integração social. E que, se uma bola pode mudar vidas, cabe-nos a nós garantir que ela não pare de rolar."
Comunicado
"Decorrido um mês sobre a aprovação da proposta final de natureza global de alteração dos Estatutos do Sport Lisboa e Benfica, cumpre informar que estão preenchidos e cumpridos todos os procedimentos internos, aguardando-se, agora, a análise notarial e a subsequente marcação da escritura que efetive a alteração, tendo sido entregue, na passada semana, toda a documentação relevante.
O Sport Lisboa e Benfica manterá a atualização de toda a informação até à conclusão do processo em curso."
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