"Quando em 1969 deixei para trás o Porto, a cidade onde nasci, para aceitar o convite do Quarteto 1111 e me mudar para Lisboa, deixei também para trás o Pop Five, o meu primeiro grande grupo, que me abriu as portas do Quarteto, muita da minha família, os meus melhores amigos e amores, numa decisão muito difícil de tomar, mas que viria a mudar radicalmente a minha vida.
Tinha 18 anos, o sonho de fazer da música o meu futuro podendo viver dela profissionalmente e sabia que, naquela época, tentar fazê-lo a partir do Porto era muito improvável, senão impossível, já que tudo o que dizia respeito à indústria musical estava sediado em Lisboa.
A adaptação à vida na capital não foi fácil, acabei por optar por viver em Cascais para estar perto do mar e da sala de ensaios do Quarteto, na Parede, mas com a ajuda dos meus companheiros de grupo e dos amigos que fui fazendo, tudo se foi tornando cada vez mais simples e mais familiar. De Lisboa não conhecia praticamente nada, mas uma grande paixão tinha nascido para mim havia sete anos, quando vi o Benfica, em 1962, vencer a sua segunda Taça dos Campeões Europeus, batendo o Real Madrid por 5-3 num jogo que sei de cor até hoje e a partir desse dia, já que até então clube nenhum tinha conquistado o meu coração, passei a sentir-me benfiquista de corpo e alma. A minha grande e única ligação sentimental e emocional à cidade de Lisboa era o Sport Lisboa e Benfica e as minhas incursões à capital tinham como único objetivo assistir, no velho Estádio da Luz, às magníficas exibições e vitórias que o meu clube me proporcionava.
Era na altura presidente do Benfica um homem extraordinário, Duarte Borges Coutinho, que entre 1969 e 1977 levou nos seus mandatos o Benfica a conquistar sete títulos de campeão nacional e a vencer três Taças de Portugal, o que deu a todos os benfiquistas como eu alegria e orgulho enormes, tal a qualidade do futebol que a equipa praticava e a raça com que jogava, sob a sua presidência exemplar.
Acompanhei este Benfica aqui em Lisboa entre 69 e 72, depois em Londres, à distância, onde vivi os anos de 73 e 74, para regressar a Portugal no final desse ano e cumprir o serviço militar. Quando, já casado e com duas filhas, voltei a Cascais, inscrevi-me finalmente como sócio do Benfica em 1977, pude então pagar o meu lugar cativo e durante décadas não perdi um jogo em casa, a não ser por questões de trabalho ou força maior.
Quando penso nesse Benfica é impossível não recordar que todo o plantel era constituído por jogadores portugueses que foram durante muito tempo a base da Seleção Nacional e que só em 1979, numa célebre Assembleia Geral do clube que tanta polémica deu, se abriram as portas a jogadores estrangeiros, muitos dos quais vieram acrescentar muita qualidade à nossa equipa principal, mas sempre em minoria no plantel do Benfica.
Sabemos todos que com o tempo tudo muda e que o futebol, continuando a ser um desporto e um espetáculo magníficos, tem hoje uma componente de indústria fortíssima, envolvendo muitas vezes interesses que nada acrescentam à realidade desportiva. Foi essa a razão por que a espaços me afastei do futebol, mas sempre a vibrar e a sofrer com o Benfica.
Aqui chegados, e tendo que aceitar esta realidade, há momentos na vida em que surge a oportunidade de corrigir erros passados e se abre a hipótese de construir um futuro melhor, mais promissor, mais seguro. As próximas eleições no Sport Lisboa e Benfica são um desses momentos. Saibamos aproveitá-lo.
Conheci o Martim Borges Coutinho Mayer através de um amigo comum e, para além da sua herança familiar, impressionou-me a honestidade e o seu compromisso pessoal, bem expresso no facto de, sendo como é um empresário industrial de sucesso, ter abdicado a 100% da sua vida profissional desde há seis meses para pensar o futuro do Benfica e assumir uma candidatura à presidência do nosso clube que transmite uma confiança e uma solidez admiráveis. Nesse nosso encontro, fiquei a conhecer a sua candidatura livre e independente, sem qualquer nome ligado a qualquer antiga gestão do clube, percebi que o seu projeto não se limita a apontar propostas concretas mas que explica claramente como as materializar, fiquei a conhecer a sua proposta para reduzir os custos correntes em 20% e implementar o Projeto Benfica Global, que passando pela abertura de escritórios de representação em França, Suíça, Estados Unidos e Canadá, juntamente com o lançamento do Cartão Angola e Moçambique, irá gerar um aumento muito significativo de receitas, mas, para além de tudo isto e de muito mais a que por falta de espaço aqui os interessados poderão ter acesso no programa da sua candidatura, que aconselho a todos os benfiquistas, entusiasmou-me acima de tudo o seu projeto para o futebol do Benfica, que acaba por ser a pedra basilar do sucesso de qualquer clube.
A identidade do Benfica, no projeto de Martim Mayer, passa pela criação de um modelo de jogo, desde as camadas jovens à equipa principal, que deverá levar no futuro a que uma boa parte dos nossos jogadores titulares possa ser proveniente dessas camadas jovens sem necessariamente serem vendidos ao fim de uma época na equipa principal. Os milhões que são anualmente gastos na compra de alguns jogadores estrangeiros que, na sua maioria, pouco acrescentam à qualidade e identidade do futebol do Benfica, deverão ser canalizados prioritariamente para valorizar os nossos talentos, remunerando-os na medida do seu justo valor, de forma que possam cumprir algumas épocas vestindo a nossa camisola antes de, quando o mercado assim o ditar, serem negociados por valores muito superiores àqueles por que têm sido vendidos prematuramente.
O futebol é o coração do Sport Lisboa e Benfica e um dos grandes focos do programa da candidatura. Nos últimos 35 anos somámos apenas 10 títulos de campeão nacional e 5 Taças de Portugal. Considerando todas as provas nacionais disputadas, a taxa de insucesso foi de 80 por cento.
Em 15 anos gastaram-se mais de mil milhões em compras de jogadores e fizeram-se mil e setecentos milhões em vendas. Destas vendas, mais de 650 milhões referem-se a jogadores formados pelo Benfica. Se excluirmos o valor de vendas de jogadores da formação, o saldo é próximo de zero e só nos últimos três anos o Benfica comprou 29 jogadores e vendeu 45. Do grupo de 29 jogadores que iniciou a época passada, 15 já saíram e dos 10 que chegaram ao longo da época, metade já saiu também. Tudo isto são números que fiquei a conhecer quando li pela primeira vez os eixos programáticos da candidatura Benfica no Sangue e dizem bem do muito que há que mudar no futebol do clube.
Por isso e por consequência a proposta de criação do cargo de um Diretor Geral de Futebol já anunciado, com uma visão de 360 graus sobre toda a estrutura do futebol profissional, da formação e do scouting, trabalhando em paralelo com o treinador da equipa principal que é um comandante absolutamente necessário para o sucesso da nossa equipa principal.
Se a tudo isto juntarmos o projeto de ampliação do estádio para 83.000 lugares, que deverá ser entregue à CBRE, uma das empresas líderes mundiais no setor, e a criação de uma cidade desportiva para as modalidades, penso que deixo clara a razão do meu apoio à candidatura de Martim Mayer.
A importância destas eleições no nosso clube é enorme, muito pelo tema da centralização de direitos, que pode ser crítica para o futuro do clube, mas também devido à falta de sucesso desportivo nos últimos anos e à necessidade de se preparar o futuro do Benfica.
Votemos todos de forma livre e consciente pelo clube do nosso coração. Eu voto Martim Mayer. Viva o Benfica!"