"Afirma Pereira que pouco se importa com a venda de jogadores. Assegura Pereira - que conhece bem os caminhos escuros e as vielas que conduzem à Madalena - que o clube dos cimbalinos continuará a ganhar mesmo que lhe vendam a equipa toda ao desbarato, oferecendo como brinde desvalorizado produtos madeirenses.
Sabe Pereira que pelo menos os rapazinhos de cócoras não serão vendidos. Até porque ou já foram comprados ou nada valem. Está certo Pereira quando confia no trabalho dessa acocorada gente - afinal, em dois jogos já lhe ofereceram seis pontos.
Por isso, rejubila Pereira. Afirma Pereira que Jesus é egocêntrico. O que não dirá Pereira de Deus?
Afirmo eu que, com a ajuda de mais um Olegário, um Proença e Rui Silva (suspenso 20 meses por falsificação de relatório e rapidamente de volta às touradas, com direito a rabo e orelhas...), se fará de Pereira um novo Villas Boas, como se fez de Villas Boas um novo Mourinho.
Afirma Pereira muitas coisas, nenhuma delas reveladora de inteligência fora do vulgar. Está Pereira convicto de que mais uma vez tudo não passará de um passeio, da brincadeira do costume no quintal dos corruptos, com toda a gente de cócoras, sempre mais de cócoras a cada frase de D. Palhaço expelida a custo pelo seu cérebro caliginoso.
Se Pereira afirma, é porque sabe. Ou melhor: é porque o mandam afirmar. Estejam portanto atentos ao silêncio de Pereira. Por cada afirmação de Pereira, há um Pereira que se acanha. Por cada fanfarronada de Pereira, há um Pereira que baixa a cerviz. Estão ambos a cair de pôdre, e serão varridos para debaixo do tapete do nosso esquecimento. Até lá, retouçam na imunda pocilga em que alguns fizeram questão de transformar o futebol português para suprema glória e vaidade de um pobre palhaço triste que ainda julga ter graça."
Afonso de Melo, in O Benfica