"Num documento pífio apresentado pelo presidente do Sporting escoltado por dois advogados, a arbitragem do futuro foi definida como a “charneira da atividade do futebol profissional”. A designação surpreendente acaba por constituir a única inovação da proposta, realmente pobre, genérica e reveladora das nulas competências dos autores nesta matéria.
Dizem-nos os dicionários da língua portuguesa que “charneira” significa um dispositivo de apoio à união entre duas coisas, como a ligação de uma correia a uma fivela ou, mais concretamente, de uma porta à sua armação, vulgo dobradiça. Em sentido metafórico o Houaiss coloca Portugal como charneira entre a Europa e África.
Com esforço, podemos concluir que o Sporting entende a arbitragem como a dobradiça que liga a “atividade” ao “futebol profissional” ou, em concreto, um clube ao título nacional. É rebuscado, para não dizer incompreensível, mas sublinha a relevância que os dirigentes deste clube insistem em atribuir à zona neutra deste jogo, porque uma das linhas da fuga para a frente continua a ser a “profissionalização” dos árbitros, um falso problema quando se sabe que os da elite vivem, atuam e auferem como profissionais.
A abordagem a um problema que o atormenta há tantos anos e de cuja solução parece cada vez mais longe reflete a insegurança gerada pelas dificuldades de alcançar resultados imediatos através de uma revolução técnica tão profunda, com a substituição de jogadores em bloco realizada num ambiente de euforia alienante. A charneira entre o Sporting e os sucessos desportivo e económico seria uma equipa competente e suas vitórias. E as dobradiças que poderiam abrir a janela da felicidade aos leões eram os golos de Wolfswinkel.
Apesar dos condicionalismos que rodeiam um ano de transição como este, fácil de projetar através dos exemplos do passado, os cândidos dirigentes do clube não conseguiram resistir à falácia de enfileirar com adversários mais poderosos, mas assim que a bola começou a rolar sucumbiram, com estrondo, às primeiras contrariedades. E revisitaram o pior das suas memórias, a mais improfícua das suas estratégias, a animosidade conflitual com a corporação mais antiga, fundada em princípios de clã e laços familiares que repelem sem piedade os ataques dos ingénuos.
Se já era bizarro admitir que um erro do árbitro João Ferreira na 3.ª jornada lhe tinha tirado um campeonato, preparemo-nos para o absurdo de, dentro de alguns anos, ouvir lembrar que o título de 2012 possa ter sido perdido porque Carlos Xistra invalidou um dos raros momentos da época em que Hélder Postiga conseguiu acertar com a baliza.
Xistra, Ferreira e todos os outros com “consciência pesada” em relação ao Sporting assumem-se, assim, como charneiras para o insucesso, rangendo estridentemente como dobradiças mal oleadas. E para isto não há solução: enquanto o Sporting considerar que a sustentabilidade e confiança do “negócio” depende dos árbitros e não da capacidade de escolher, preparar e enquadrar bons jogadores, serão mais as frustrações que as alegrias."
Dizem-nos os dicionários da língua portuguesa que “charneira” significa um dispositivo de apoio à união entre duas coisas, como a ligação de uma correia a uma fivela ou, mais concretamente, de uma porta à sua armação, vulgo dobradiça. Em sentido metafórico o Houaiss coloca Portugal como charneira entre a Europa e África.
Com esforço, podemos concluir que o Sporting entende a arbitragem como a dobradiça que liga a “atividade” ao “futebol profissional” ou, em concreto, um clube ao título nacional. É rebuscado, para não dizer incompreensível, mas sublinha a relevância que os dirigentes deste clube insistem em atribuir à zona neutra deste jogo, porque uma das linhas da fuga para a frente continua a ser a “profissionalização” dos árbitros, um falso problema quando se sabe que os da elite vivem, atuam e auferem como profissionais.
A abordagem a um problema que o atormenta há tantos anos e de cuja solução parece cada vez mais longe reflete a insegurança gerada pelas dificuldades de alcançar resultados imediatos através de uma revolução técnica tão profunda, com a substituição de jogadores em bloco realizada num ambiente de euforia alienante. A charneira entre o Sporting e os sucessos desportivo e económico seria uma equipa competente e suas vitórias. E as dobradiças que poderiam abrir a janela da felicidade aos leões eram os golos de Wolfswinkel.
Apesar dos condicionalismos que rodeiam um ano de transição como este, fácil de projetar através dos exemplos do passado, os cândidos dirigentes do clube não conseguiram resistir à falácia de enfileirar com adversários mais poderosos, mas assim que a bola começou a rolar sucumbiram, com estrondo, às primeiras contrariedades. E revisitaram o pior das suas memórias, a mais improfícua das suas estratégias, a animosidade conflitual com a corporação mais antiga, fundada em princípios de clã e laços familiares que repelem sem piedade os ataques dos ingénuos.
Se já era bizarro admitir que um erro do árbitro João Ferreira na 3.ª jornada lhe tinha tirado um campeonato, preparemo-nos para o absurdo de, dentro de alguns anos, ouvir lembrar que o título de 2012 possa ter sido perdido porque Carlos Xistra invalidou um dos raros momentos da época em que Hélder Postiga conseguiu acertar com a baliza.
Xistra, Ferreira e todos os outros com “consciência pesada” em relação ao Sporting assumem-se, assim, como charneiras para o insucesso, rangendo estridentemente como dobradiças mal oleadas. E para isto não há solução: enquanto o Sporting considerar que a sustentabilidade e confiança do “negócio” depende dos árbitros e não da capacidade de escolher, preparar e enquadrar bons jogadores, serão mais as frustrações que as alegrias."
Justo o que eu procurava sobre dobradiças, obrigada!
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