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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

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Ousadia precisa-se


"O mercado português de transferências de jogadores de futebol profissional da Liga Portugal deste verão apresentou a maior diferença entre investimento — compra — e proveitos — venda — dos últimos três anos e um acentuado desequilíbrio entre os três primeiros classificados e o quarto, e destes para os restantes 14 clubes.
Para a época 2025/26 os clubes nacionais investiram até ao momento €337,82 M, dos quais €297,27 M referem-se aos quatro grandes — Sporting €68,8 M, Benfica €105,55 M, FC Porto €94,35 M (acrescem €17 M de metade dos direitos económicos de Samu, sendo o total final de €111,35 M) e SC Braga €28,57 M —, o FC Porto e SC Braga executaram os maiores mercados de sempre. Em 2023/24 o investimento total dos clubes foi de €283 M, em 2024/25 de €277 M, o valor da atual época superou o anterior máximo de 2023/24 em €54,98 M (+16,3%). Relativamente a proveitos esta época, até ao momento, faturou €388,60 M, com os quatro grandes a registarem €345,24 M — Sporting €128,57 M, Benfica €97 M, FC Porto €77,77 M e SC Braga €41,9M — sendo o valor mais baixo desde 2023/24 e consideravelmente menos que em 2022/23 época que faturou €670 M. Perante os atuais números o lucro relativamente às épocas anteriores caiu para €50,78 M, em 2023/24 foi de €130 M, e em 2024/25 pautou-se pelos €313 M.

A nossa interpretação e reflexão às evidências dos números permite referir:
1. Os três grandes reforçaram-se com o nítido objetivo de lutarem pela conquista do título nacional com a inerente entrada direta na Liga dos Campeões (LC), ou em consolação o acesso à terceira pré-eliminatória da LC via vice-campeão. Em complemento: (i) tentarem ultrapassar as fases de grupos das competições europeias com os imediatos benefícios do aumento dos prémios monetários; (ii) melhoria do ranking internacional para possível entrada na próxima edição do Campeonato do Mundo de clubes onde os prémios monetários são muito atrativos; e (iii) aproveitarem a montra internacional para promoverem os jogadores que pretendem transferir a curto prazo.
2. No caso do Benfica e do FC Porto, também existem fortes motivações políticas. Tanto o presidente Rui Costa como André Villas-Boas querem provar aos associados e adeptos as respetivas competências de gestão para justificarem a permanência na cadeira de sonho que ocupam. Em especial Rui Costa, que se encontra em momento eleitoral. No entanto, este intuito trouxe maior dívida financeira aos dois clubes. O saldo de mercado para o Benfica foi negativo em €8,55 M e para o FC Porto negativo em €33,59M M (inclui segunda tranche de Samu). Estes saldos agravam a dívida dos dois clubes e diminuem a capacidade de solvência e sustentabilidade financeira. O argumento de apoio ao aumento da dívida baseia-se na crença que os futuros bons resultados desportivos irão alavancar os prémios monetários europeus e o marketing para a transferência de jogadores. Uma crença de alto risco, como tal perigosa e que um dia poderá colocar em causa a viabilidade dos clubes.
3. O Sporting ao registar um saldo positivo de €59,77 M mantém-se coerente na parcimónia ao investimento, procurando desta forma a sustentabilidade financeira, económica e estrutural do clube. O investimento atual representa 54% do valor das vendas. Desde que Frederico Varandas é presidente registaram-se aproximadamente €746 M em vendas e €360 M em compras, um saldo positivo de €386 M. Independentemente da melhor venda ter sido Gyokeres (€65,76 M), o grosso das vendas no período de Francisco Varandas é referente a jogadores da formação do clube, o que é distintivo e provavelmente o melhor caminho para o Sporting manter-se competitivo. Pois, as outras receitas — direitos televisivos, patrocínios, bilheteira e merchadising — são insuficientes para manter ou aumentar o atual orçamento.

4. O SC Braga investiu 68% do dinheiro obtido nas vendas, denotando preocupação no controlo orçamental da época desportiva. Os direitos televisivos e os prémios monetários europeus do SC Braga são consideravelmente inferiores aos três grandes, o que condiciona o orçamento. Esta política racional e realista mantém o SC Braga como o quarto grande, mas, é limitadora para concretizar o ambicioso desiderato do presidente António Salvador: ser campeão nacional.
5. Os restantes 14 clubes juntos investiram €40,55 M, tendo o Famalicão investido 33% deste total, seguido do grupo que engloba V. Guimarães, Rio Ave e Arouca com 34%. Registe-se oito clubes que individualmente investiram igual ao menos de €2 M — €6,82 M ou 17% face ao total deste grupo de 14 clubes. Relativamente às vendas houve um total de €43,36 M, dos quais V. Guimarães, Arouca e Gil Vicente angariaram 53%. Sete clubes individualmente venderam igual ao menos de €2 M — 12% ou €5,18 M do grupo. O saldo final das transações dos 14 clubes foi de €2,81 M.

Estes níveis de vendas não permitem aos clubes melhorarem os seus orçamentos e consequentemente reforçarem os seus plantéis com jogadores de qualidade superior. Na realidade, investimento de baixo valor, com rara exceção, não atrai talento superlativo, o que leva a menor probabilidade de vender acima dos €15 M.
Estes números sugerem três considerações: (i) transação de baixo valor contribui pouco para o equilíbrio do orçamento operacional, o que requer músculo financeiro dos acionistas das SAD para manterem as operações; (ii) a baixa capacidade de investimento em jogadores diferenciados contraria-se simultaneamente com o desenvolvimento em quantidade e qualidade das camadas de formação, recrutamento de talentos provenientes do exterior, a utilização da Liga Portugal e das seleções nacionais jovens como montra preferencial (ex. Gustavo Sá do Famalicão e Nodar Lominadze do Estoril) e marketing para promoção da futura venda; e (iii) enquanto se aceita o nível competitivo entre os 14 clubes, perante os quatro grandes é demasiado desequilibrado o que está lentamente a esvaziar a verdade competitiva e o interesse do público (nacional e internacional) pela Liga Portugal com reflexo no valor comercial dos direitos televisivos.
As evidências do mercado de verão oferecem explicações para a competitividade do futebol profissional português, sugerindo a necessidade dos decisores da Liga Portugal — que são os clubes — tomarem decisões disruptivas a bem da causa comum. Em primeiro lugar, o modo de produção da indústria do futebol baseia-se no conhecimento e inovação — jogadores, treinadores, gestão do adepto, respetiva paixão, entre outros —, pois só estes garantem melhores espetáculos e mais público. Assim, para poder sobreviver e persistir se não revolucionar o quadro competitivo, a captação e divisão de dinheiro a Liga Portugal irá ser cada vez mais desinteressante e periférica.
Em segundo lugar, no cenário português é o saldo positivo do mercado de transferências que permite tudo funcionar. Mas, o lucro a sério que permite investimentos só aparece se as vendas forem por valores altos e os custos de produção baixos. Custos baixos só se conseguem com a aposta inequívoca na formação de jovens jogadores ou da atividade de prospeção de talentos ainda não referenciados pelos clubes mais fortes — algo que é cada vez mais difícil — e inseri-los em montras globais (ex. João Neves, Geovany Quenda e Samuel Lino). Esta é uma estratégia que permitirá a sobrevivência, condições de reprodução de novos investimentos, crescimento e sustentabilidade.
Em terceiro lugar, é evidente o fosso que existe dos três grandes para o SC Braga, e deste para os restantes 14 clubes e uma das causas é a divisão dos direitos televisivos. Assim, os decisores terão de ter o arrojo de alterar a divisão dos direitos televisivos contrariando o egoísmo de alguns e privilegiando uma maior equidade. Por último, os decisores devem equacionar uma possível alteração do quadro competitivo de forma a promover-se um aumento de competitividade e tornar a Liga Portugal mais atraente para o público e investidores.
A janela de transferência de verão da época 2025/26 evidencia a necessidade do futebol português romper com a inércia e promover alterações benéficas para todos, diminuindo a largura e profundidade do fosso financeiro e económico existente entre os clubes e tornando a Liga Portugal mais sexy. Para isso ousadia precisa-se."

5 Minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - As contas do Benfica

Observador: E o Campeão é... - Onde está a culpa do possível adiamento do FCP x Nacional?

Observador: Três Toques - Mbappé e o seu fascínio por Cristiano Ronaldo

Mata Mata - Ruben Neves a central, polémica no Estoril vs Santa Clara e foco na jornada que se aproxima! 🔥

PortugueseSoccer: Liga Portugal Match Day 5; Reviewing Seleção's International Break; Portugal vs. USA in Atlanta?

Lanças....


História Agora


João Almeida, a Bola é tua, agarra-a!


"Vingegaard encontra-se curto de forças e o português tem de acreditar de que é capaz de derrotá-lo e conquistar a Vuelta na derradeira oportunidade, sábado, na Bola do Mundo

João Almeida terá a derradeira oportunidade de vencer esta edição da Volta a Espanha no sábado, na penúltima etapa, e a final de montanha, a terminar na célebre Bola del Mundo. Nesta subida, temível pela sua dureza, o português jogará, certamente, a última cartada para a conquista da camisola vermelha. Se não o conseguir antes, como é provável, tanto no contrarrelógio de hoje - para mais, após o encurtamento deste, para menos de metade da extensão original (27,2 para 12,2 km), por motivos de segurança dos corredores devido às manifestações pró-Palestina que tem afetado a corrida - como na aparentemente inofensiva etapa de amanhã.
Depois da vitória no Angliru e de prestação consistente em La Farrapona antes do segundo dia de descanso, nas duas etapas já cumpridas na última semana da competição, quando se esperaria que João Almeida confirmasse os indicadores de crescendo de forma, em contraponto com a do rival Jonas Vingegaard, aparentando sinais de fadiga, o corredor da UAE Emirates não esteve tão impressionante. Pelo contrário, principalmente ontem, em El Morredero, onde lhe faltou a vitalidade de antes para atacar o dinamarquês e a sua liderança, a partir desta última etapa reforçada em dois segundos, para 50, graças a uma ponta final mais explosiva do que a do corredor luso.
Em vez de ter ficado mais próximo, Almeida está um pouco mais longe da vermelha. Não teve disponibilidade física necessária, mas Vingegaard também não... O primeiro classificado da Vuelta está, definitivamente, para defender a posição e menos para atacar e sentenciar a vitória. Nele, o único capaz de desafiar Tadej Pogacar no Tour, é uma prova de incapacidade. Encontra-se curto de forças e João Almeida tem de acreditar de que é capaz de derrotá-lo na Bola do Mundo.
Mas só a força do corredor português não deverá suficiente para garantir o êxito dessa difícil tarefa. Ser-lhe-á indispensável contar, de uma vez por todas, e ainda que a derradeira, com o contributo efetivo dos companheiros de equipa, principalmente os que têm mais aptidões para ajudá-lo em montanha, Juan Ayuso, Jay Vine e Marc Soler, que depois de brilharem individualmente, vencendo cinco etapas, desapareceram da corrida. Ontem, na etapa do El Morredero, nem chegaram ao sopé da subida no pelotão.
Dificilmente, o jovem espanhol se mostrará solidário com os interesses da equipa que expôs publicamente a incompatibilidade daqueles com os do seu corredor durante esta volta, num comunicado em que anunciou, à revelia, a cessação do vínculo contratual no final da temporada. No que resta do calendário de Ayuso seguem-se os Mundiais e os Europeus, em ambos a representar o seu país, e uma derradeira aparição com as cores da equipa na Volta à Lombardia, que deverá ser tudo menos certa.
No entanto, o mal-amado ciclista, desde que empenhado e no melhor do seu rendimento [de que não deverá estar distante, tendo os Mundiais a menos de três semanas], poderia ter um papel fundamental na Bola de Mundo, imprimindo um ritmo suficientemente elevado, contínuo, adequado às características de João Almeida, poupando o português ao esforço durante o mais tempo que lhe for possível na subida. E com isso expor Jonas Vingegaard à fraqueza de que o dinamarquês tem vindo a dando sinais inequívocos, deixando-o à mercê do português. João Almeida tem de agarrar a Bola... do Mundo."

E um 'prémio Beto' para Gonçalo Inácio, senhores?


"O internacional português talvez seja o ativo que o Sporting menos foi capaz de proteger nestes anos. E quem diz o Sporting diz também quem o rodeia. Já é a história de Gonçalo, e não Pedro (ou Beto), e o lobo

Nunca achei grande piada à Bola de Ouro. Sou mais ou menos como Cristiano, só que as minhas entranhas revolvem-se desde quase sempre, não apenas desde que deixei de ganhar, uma vez que nunca ganhei. Nem poderia. Ou alguma vez conseguiria. Todos os prémios, exceto os de melhor marcador — em que se conta quantas vezes a bola entrou legalmente na baliza —, são subjetivos e servem apenas para alimentar egos.
Os organizadores não são parvos e defendem-se há muito para que se mantenha viva a festa — ainda mais num salão caríssimo como aquele. Criam tendências como a de premiar quase sempre um indivíduo da equipa campeã ou que arrecadou o maior caneco da sala — e, eventualmente, deixam o melhor jovem fora do critério para desenjoar. Ou não. Já agora, sabem aquela piada da France Football ter de andar atrás do Real Madrid para acabar com a birra relativa ao ano passado? É para rir, não é?
Assim, Rui Borges foi o melhor treinador mesmo que não o tenha sido. Não só não se olha abaixo dos grandes como também não se têm em conta as dúvidas — vindas até de dentro de Alvalade — enumeradas aqui antes, sobre se é ou não o homem certo para o Sporting? O clássico devolveu as que o arranque efusivo desvanecera e a pressão voltou.
Menos desconfiança teremos sobre Gyokeres enquanto melhor jogador, sobretudo graças aos golos, porém Quenda como o melhor jovem numa temporada de estreia que acabou em quebra e em que Mora ascendeu de forma vertiginosa a melhor jogador do FC Porto pode discutir-se, mesmo neste momento menos bom.
Depois, numa ambiciosa tentativa de Pedro Proença (sim, mudou-se para a FPF, mas...) e pares de desafiar a racionalidade para manter o Bicho contente — se não acaba por te devorar — ofereceram-lhe o Prémio Melhor de Sempre. Melhor de sempre a jogar na Liga? Melhor de sempre a sair da Liga? Melhor de sempre, pronto. Entre sorrisos amarelos e outros mais genuínos, visitou-se um Hollywood dos pequeninos. Absoluta perda de tempo, quando o futebol português está parado há muitos anos. Podiam ter aproveitado o encontro para algo de útil e sairia mais barato.
Não quero ser cruel para ambos, porém, Gonçalo Inácio candidatar-se-ia, se existisse, a um prémio Beto. A comparação faz-se sobretudo ao nível de tantas capas sem fumo branco, que mais os prejudicaram do que lhes fizeram bem, tal como ao clube. Mesmo que possa ganhar aumento considerável com novo contrato."

Imaginemos que havia desporto escolar a sério em Portugal


"Portugal está a amadurecer do ponto de vista desportivo, pelo menos na representação internacional de atletas, seleções e clubes.
Com exceção do hóquei em patins e do meio-fundo e fundo, a evolução é relativamente recente, reportando a três/quatro décadas e com especial fôlego nas últimas duas.
Basquetebol, andebol, canoagem, outras especialidades do atletismo crescem a olhos vistos, assim como a capacidade de produção de atletas de elite que chegam à NBA, lutam por Vueltas ou melhoram resultados no ténis.
A cultura desportiva vai aumentando. Imagine-se, agora, que nas escolas o desporto era mesmo levado a sério e veja-se o que ainda poderia melhorar.

De chorar por mais
Luis Suárez afinou a mira, e de que maneira, no Venezuela-Colômbia. Quatro golos não se marcam todos os dias.

No ponto
Cabo Verde está mais perto que nunca de fazer história, podendo apurar-se pela primeira vez para um Mundial.

Insosso
As questões em torno das lesões de futebolistas ao serviço das seleções vai voltar a dar pano para mangas.

Incomestível
Política e desporto podem e devem misturar-se, desde que sem colocar pessoas em risco como acontece em Espanha."

Martínez tem tiques de Guardiola


"Selecionador resolveu adaptar Rúben Neves ao eixo da defesa, deixando três centrais no banco. O motivo da inovação só pode ter sido para estimular o grupo...

Aí está Portugal lançado para mais uma fase final de um Mundial. Vão ser já 26 anos consecutivos sem falhar uma grande competição de seleções. Parece coisa pouca, nomeadamente para as novas gerações, mas para outras, como, por exemplo, a minha, que já passei os 50 anos, sabemos que não é assim. Aliás, basta recordar as participações anteriores a 2000. O memorável Mundial de 1966, com Eusébio a liderar os magníficos Magriços, e depois o México-86, para sempre o do caso Saltillo. Pelo meio dois Europeus: França-84 e Inglaterra-96.
Virou o século e mudou o paradigma. Portugal é hoje uma das seleções mais fortes do Mundo e não me estou apenas a referir à conquista do Euro-2016 ou ser o atual detentor da Liga das Nações — competição que também conquistou em 2019, a primeira edição —, seja qual for a prova ou o adversário, a Seleção Nacional já nos habituou a lutar pela vitória. Se é favorita ou apenas candidata, como muitos treinadores, mais por estratégia, no meu entendimento, preferem, considero que é pouco relevante. Portugal está lá para ganhar, sem a mínima dúvida. O que acaba por ser o mais natural, dada a qualidade dos jogadores de que dispomos atualmente.
Temos primeiras escolhas de topo mundial e alternativas de luxo para todas as posições. Acredito que a maior dificuldade seja mesmo escolher. Os 23 ou 26 convocados ou mesmo o onze para cada jogo. E o último, com a Hungria, foi para mim uma grande surpresa. Não gosto muito de falar depois dos jogos, porque aí todos acertamos ou pelo menos não há forma de as nossas escolhas ou convicções serem testadas na prática. Podemos dizer o que quisermos que nunca... falhamos.
Abro aqui uma exceção para abordar o jogo em Budapeste, que até terminou com uma vitória, o que facilita sempre qualquer análise… sem segundas intenções. Por mais explicações que tenha ouvido, continuo sem perceber a adaptação de Rúben Neves ao centro da defesa, isto quando no banco ficaram três centrais: Gonçalo Inácio, António Silva e Renato Veiga.
O médio do Al Hilal pode ter muita qualidade com bola, e tem-na de facto, e até percebo que a estratégia assente cada vez mais na posse de bola, mas não haveria outro jogo para testar Rúben Neves ao lado de Rúben Dias? Ainda mais numa defesa clássica, a quatro, que expõe sempre mais os centrais? Num modelo com a defesa a três, que Roberto Martínez até já adotou — sem grandes resultados, registe-se —, até o próprio Rúben Neves se sentiria, certamente, mais confortável. Mas não, foi mesmo contra o adversário mais forte do grupo e na casa deste que o selecionador nacional resolveu inovar.
O resultado foi o que todos sabemos. Ganhámos e estamos já destacadíssimos na liderança. Carimbar o passaporte para o continente americano não vai passar de uma formalidade, mas considero que era desnecessária aquela abordagem na Hungria. Se tivesse sido na Arménia ainda me fazia algum sentido, até porque permitiria poupar algum dos centrais para o embate mais complicado, isto com os jogos separados por apenas quatro dias.
Mas não, Roberto Martínez quis mesmo inovar. Sinceramente, parece-me, por vezes, que o espanhol tem tiques do compatriota Guardiola. É tanta a qualidade à disposição que jogar da forma mais simples não tem piada nenhuma e não há nada melhor do que inovar, para não lhe chamar outra coisa, para estimular o grupo. Só pode ser esta a razão…"

Zero: Saudade - S04E01 - A «porcaria» de Queiroz num regresso com X-Files e cadernetas

Eu prefiro CR7, o meu filho prefere o 'apEX'


"Cada vez que Roberto Martínez tem uma 'epifania'... Portugal assusta-se. Vale que os jogadores são 'padeiras de Aljubarrota'. E no meio destas reflexões, as discussões em casa, do futebol ao counter-strike 2...

Se formos sinceros, todos preferimos a Padeira de Aljubarrota aos Velhos do Restelo. Por isso, tenho gostado da evolução do discurso na Seleção de futebol, do presidente da FPF, Pedro Proença, aos jogadores, passando naturalmente pelo selecionador Roberto Martínez. Discurso que mudou um pouco – dirão que apenas nuances, mas a diferença está tanta vez no detalhe - após a vitória na Liga das Nações e que passa por assumir de forma mais clara o objetivo de lutar pelo título mundial em 2026.
Fernando Santos que me perdoe – e ele sabe que, por razões pessoais, gosto muito dele - mas sempre embirrei com o «somos candidatos, mas não favoritos». Expressão adotada por outros e que se tornou numa espécie de discurso filosófico que poderíamos traduzir num mais popular «com um pé à frente e outro atrás, não vá a coisa dar para o torto». Um assumir sem se chegar mesmo à frente, uma espécie de seguro para eventuais danos.
Temos de deixar de ter medo das expressões. Não é arrogância assumir-se que a Seleção quer ser campeã do Mundo e acreditar ter qualidade para isso. É saudável, é lógico, é motivador, é até realista. Depois se verá se conseguiu ou não, mas se o não conseguir porque outros foram melhores a ambição prévia nunca se pode jogar contra o ambicioso. Mais depressa o medo do que a ousadia é uma arma de arremesso. Só os Velhos do Restelo ou os especialistas de sofá revelam a desfaçatez de cobrar a ambição demonstrada antes de uma missão que não foi atingida.
No Século XIX, José de Alencar, considerado um dos maiores expoentes do romantismo no Brasil, escreveu que «o sucesso nasce do querer, da determinação e da persistência em se chegar a um objetivo». «Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis». Não peço mais desta seleção. Mesmo que não chegue ao topo do Mundo vá fazendo coisas admiráveis.
Nesta seleção, a ambição soa legítima quando nasce da confiança tranquila de quem reconhece o próprio valor. Tão simples quanto isso, não há ponta de vaidade nem necessidade de se provar o que todos já sabemos. Que temos enormes jogadores, que temos espírito de seleção, que temos equipa desde que a deixem ser ela própria. E eis que faço a ponte para a segunda linha de reflexão.
Se formos sinceros, todos preferimos a simplicidade à complexidade. Preferimos o que faz sentido e resulta à invenção numa espécie de jogo de xadrez onde as peças se movem fora de sítio e de forma errática. Na Hungria, uma vez mais Martínez teve uma epifania e uma vez mais as coisas iamcorrendo mal. Às vezes parece até um treinador que está aborrecido: parece tudo tão fácil que decide… complicar.
Roberto Martínez, como qualquer outro treinador, tem de saber que é preciso ser-se muito assertivo quando se desafiam duas lógicas do futebol (como da vida, diga-se): cada peça rende mais na sua posição natural; é o mais fraco e não o (muito) mais forte quem tem de mudar a identidade, se for preciso, para tentar surpreender. Os 32 jogos que leva já como selecionador ajudam a provar que foi mais nas certezas das ideias bem sucedidas do que nas experiências colocadas a teste que Portugal esteve melhor.
A minha confiança num histórico Mundial de 2026 - dez anos depois do Europeu de 2016 - reside cem por cento dos jogadores. Somos uma Seleção tão boa que nos demos ao luxo de consquistar a Liga das Nações, batendo Alemanha e Espanha, e passar imenso tempo a debater algumas opções de Martínez (como João Neves a lateral direito) e o nível exibicional que poderia ter sido melhor… Incrível ao que chegámos: das vitórias morais do passado às vitórias dissecadas à lupa com motivos sempre para criticar algo... Somos, de facto, difíceis de saciar. E ainda bem. Fossem os portugueses tão exigentes com os seus políticos como são com os presidentes, treinadores e jogadores dos seus clubes e seleção.
Acreditem no que vos diz quem já andou mundo e viu de perto muita coisa: Portugal tem, em termos humanos, de comprometimento dos jogadores, sentido de família e orgulho em vestir as cores nacionais, muito provavelmente a melhor seleção do Mundo. E é esse espírito que permite superar uma ou outra epifania de Roberto Martínez. Que permite erguer a pá da Padeira de Aljubarrota. Assim o selecionador, de quem até gosto em 90 por cento das vezes - fosse sempre um Nuno Álvares Pereira, o primeiro grande treinador português.

PS – Impressionante o carisma de Cristiano Ronaldo. E não é por não ser algo de novo que vou deixar de me impressionar com o impacto que tem em todo o mundo. Ronaldo tem o dom de tornar ordinário o extraordinário, nós temos a obrigação de não perder a noção das diferenças entre uma e outra realidade. Da criança arménia à estrela húngara Szoboszlai, que anteontem cumpriu o sonho de menino de defrontar CR7, mais exemplos de carisma incomparável. É o maior da história – deixo a classificação de melhor à subjetividade de cada um. Mas porque a humildade também lhe faz bem, não é unânime, a começar nos portugueses. Para vos dar um exemplo, para o meu filho o Cristiano Ronaldo não se compara ao francês Dan ‘apEX’ Madesclaire, 32 anos, jogador profissional de Counter-Strike 2, líder da equipa Vitality. Diz que é carismático, por vezes insolente, que ferve muito. Acha-lhe muita graça. Eu defendo Cristiano Ronaldo e, do mal o menos, temos conversas giras... Até já tive de aprender o que é isso do Counter-Strike 2. O que um pai faz por um filho..."

Sempre a cultura. Sempre!


"«We all want a strong culture. We all know that it works. We just don’t know quite how it works.»

 Cultura, estratégia e pessoas. Apesar do desporto de alto rendimento ter características muito próprias em determinados momentos, especialmente pela emoção e pelo impacto imediato do resultado em várias decisões profundas, a fórmula para um sucesso robusto em clubes e federações assenta nesses três elementos.
Há quem defina primeiro a estratégia e depois a cultura que pretende para casar ambas. No entanto, no desporto, pela própria cultura do clube e da indústria desportiva, tem um peso muito maior e é bem mais difícil de alterar, sobretudo em estruturas que carecem de maturidade. Que, infelizmente, acontece em muitos casos, se estivermos atentos a determinados episódios, quer em clubes profissionais quer em dirigentes. E percebemos que a melhor solução é mudar as pessoas. Porque raramente mudam, de forma profunda, os seus valores.
O acesso a várias histórias dos clubes sobre o seu (in)sucesso mostra-nos que estão quase sempre ligadas à cultura vivida ou tentada implementar nos clubes. O Athletic Bilbao é talvez um dos melhores exemplos. Dizia-me Oskar Coca, diretor de formação: «No nosso caso, vemos a particularidade do nosso clube como uma oportunidade para ser ainda mais exigente no processo de formação, não só dos jogadores, mas de todas as pessoas que nele participam. Representamos mais do que um clube. A cultura impacta no recrutamento.»
Se este é um caso muito específico, o exemplo recente mais visível talvez tenha sido o PSG. A questão não está tanto no que se gastou (já ninguém vence a Champions com trocos), mas sim na mudança de cultura e de estratégia, gastando menos, mas mudando abruptamente o perfil. Indo ao encontro de uma ideia mais duradoura. Mais atrás, tivemos o caso da cantera do Barcelona no futebol, as seleções do hemisfério sul no râguebi, ou os míticos Chicago Bulls, Boston Celtics e LA Lakers na NBA, só para dar alguns exemplos.
Sempre o dinheiro. Sempre que um clube com grande orçamento vence uma competição, muitos justificam o triunfo com o dinheiro. Mas quantas equipas ricas não vencem nada durante anos? O orçamento não pode servir de desculpa para perder contra quem gasta mais, se o mesmo critério não serve para explicar derrotas contra quem gasta menos. Dinheiro a mais desfoca da importância de definir uma excelente estratégia.
O que constrói (ou destrói) uma cultura? Estas devem ser as prioridades constantes de quem lidera. Apesar de a cultura poder ser definida pelo líder, o (des)alinhamento sente-se em toda a organização. E os primeiros a percebê-lo são atletas e treinadores, os que mais rapidamente sofrem as consequências dos maus resultados. Por isso, filtram cada desalinhamento entre o que é exigido e o que é praticado. Desorganização, incoerência, inverdades ou comportamentos desajustados minam qualquer estratégia. No fim do dia, os exemplos valem mais do que as palavras.
Como dizia Jorge Braz, selecionador nacional de futsal, no meu último livro: «A cultura organizacional pode ter um impacto brutal no nosso trabalho, nas regras de vida coletiva, porque nos pode ajudar a elevar a fasquia daquilo que pretendemos. A própria organização, no seu dia a dia, dá-nos vários sinais de exigência constante.»
Construir uma cultura forte leva tempo. Sei que os grandes clubes precisam de vencer hoje. Mas é preferível construir uma base sólida, ainda que no início se vença menos, do que investir todos os anos como se não houvesse amanhã e acabar por vencer pouco ou nada. Outro perigo é deixar que o sucesso alimente a soberba: quando as vitórias constantes fazem baixar a exigência interna sem que as pessoas se apercebam, abrem-se portas a derrotas inesperadas, normalmente contra equipas com orçamentos muito mais baixos.
Uma boa analogia é o próprio jogo: a identidade da equipa é uma ordem implícita que molda atitudes e comportamentos de forma duradoura por parte do treinador. As normas definem o que é encorajado, desencorajado, aceite ou rejeitado. E sabemos bem o que acontece quando surgem incoerências ou mentiras: isso destrói qualquer cultura, estratégia e motivação.
Um dos papéis mais importantes de um presidente ou CEO é ter consciência da cultura existente. Os líderes mais imaturos e/ou despreparados veem a cultura como último recurso. Os melhores fazem a si próprios, todos os dias, a pergunta essencial: qual o contexto certo para que as pessoas produzam mais e melhor?
No desporto, ainda há um fenómeno curioso: treinadores ou atletas que criam microculturas capazes de gerar os comportamentos de que necessitam quando percebem que o clube não responde as suas necessidades organizacionais.
Muitas vezes, o que destrói mais rápido do que qualquer adversário é a procura da autoexposição, a sede de aparecer apenas nos bons momentos. Essa entropia consegue aniquilar as melhores vontades. As pessoas estão na génese das melhores organizações e equipas, mas também são os maiores impedimentos de estruturas com bastantes recursos de darem os passos seguintes e positivos. A liderança máxima tem de assegurar, sem que seja necessária a sua presença constante, que estas situações não ocorram.
Concluindo, culturas fortes elevam os clubes para criarem, terem e viverem para uma missão, um propósito e definem quais valores da sua identidade. Inspiram colaboradores, geram orgulho de pertença e estabelecem uma espécie de código invisível que dita o que se pode ou não fazer. No fundo, todos nós queremos culturas fortes nas nossas equipas. Todos sabemos que funcionam. Só não sabemos bem como funcionam."

Rui Lança, in A Bola

A Verdade do Tadeia #2026/06 - Porto manda em Alvalade