Últimas indefectivações

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Investir em CSR

"A responsabilidade social corporativa, conhecida pela sigla CSR, é cada vez mais entendida como um pilar da sustentabilidade das empresas. A tendência, claro está, veio de fora, mas enraizou-se já fortemente em Portugal e pode dizer-se que hoje em dia todos os grandes actores do sector provado e do terceiro sector têm na sua agenda programas, projectos ou acções de responsabilidade social. Mas o que é isso da responsabilidade social? Em primeiro lugar, a responsabilidade social de uma empresa é para com os seus colaboradores, fornecedores e clientes, criando o contribuindo para um ecossistema equilibrado e regular em que todos encontram lugar e meios de sustento para uma vida digna. Em segundo lugar, a responsabilidade social corporativa assenta  no cumprimento atempado de todas as obrigações contributivas, garantindo por essa via os meios para que se exerçam as funções do Estado e, muito particularmente, aquelas do Estado Social. No entanto, não se trata simplesmente de um exercício de solidariedade, e muito menos de caridade, embora seja herdeira directa da velha filantropia. Trata-se, isso, sim, de investimento. Mas durante muito tempo a responsabilidade social corporativa manteve-se reduzida ao simples cumprimento destas obrigações óbvias. Mas o mundo mudou, e se todos sabemos apontar-lhe em que o fez para pior, manda a boa regra que realcemos em que mudou para melhor. E, neste caso, há que dizer que as empresas reconhecem cada vez mais que a responsabilidade e o seu compromisso é com a terra onde pisam e com as pessoas que as rodeiam. Na verdade, faz sentido que uma organização que gera valor extraindo riqueza de um dado território entenda que irá ter um problema a prazo se não investir na reposição das condições de base desse território. Quer dizer,se assumir um comportamento predatório e retirar tudo o que pode sem ajudar a repor e a desenvolver, seja em que ramo de actividade for e seja em que recurso for, da água aos recursos humanos para usar dos exemplos, virá a precisar de continuidade ou crescimento, e o seu território não irá prover o que já não tem. É como diz o povo: 'donde se tira e não se põe...'
Ora, a responsabilidade social é um meio fundamental para que uma parte da riqueza produzida seja reinvestida na valorização do tecido social que a produziu, por exemplo combatendo a pobreza e o insucesso escolar, preservando o ambiente e combatendo as exclusões sociais. Esse investimento irá possibilitar, por exemplo, que mais jovens desenvolvam o seu potencial e assumam no futuro profissões necessárias à sociedade e ao próprio funcionamento da economia, do mesmo modo que baixa os níveis de exclusão e conflitualidade social e permite o desenvolvimento harmonioso da comunidade e do território e, consequentemente, assegura a tão almejada e vital sustentabilidade.
É isto que faz a Fundação Benfica e por isso encontra cada vez mais parceiros privados interessados em investir em conjunto nos projectos que implementa. Um deles, que tem vindo a mudar a vida de milhares de jovens e famílias desde 2010, é o projecto 'Para ti Se não faltares!'. De vez em quando, cá e lá fora, os seus resultados são reconhecidos e premiados, honrando o nosso esforço e confirmando que a obra social do Benfica é um importante contributo para o desenvolvimento sustentável do país. Obrigado pelo prémio atribuído na I Gala de Prémios Empresariais 'Patrocina um Desportista'. Está bem entregue, não pelo que já fizemos, mas sobretudo pelo que ainda vamos fazer, pois, sempre que reconhecem o nosso trabalho, dão-nos alento para continuar e colocar a fasquia mais alta."

Jorge Miranda, in O Benfica

Mudanças

"Hoje, nos dias que correm, como em cada época da história moderna depois do século XVIII, é claro no senso comum que o mundo mudou. Todos os meses, todos os dias, muda. Muito: a cada hora, tudo se transforma e evolui. Os arquétipos da vida social, as estruturas comunitárias, as cidades, as empresas, as associações, as vidas das famílias e das pessoas. Mudam também, por extensão e de modos cada vez mais constantes, as circunstâncias civilizacionais, os modelos de conhecimento, as condições científicas, as experiências culturais e as arquitecturas e linhas da comunicação.
Tais e todas as transformações induzem naturalmente a novas tipologias comportamentais nas pessoas. E, nas presentes circunstâncias, tal não será de espantar, como mais directas consequências resultantes, no plano individual, da compressão poderosamente exercida pelo ambiente global de mudança. Em todo o caso - nos dias em que estamos a viver - o que já é bastante mais impressionista, são as patentes alterações, agora tão sensíveis, no quadro da personalidade humana e nos próprios padrões identitários do homem.
O cão é sempre um cão, mesmo que as condições da sua alimentação ou da progressiva domesticação se tenham alterado com os tempos. O toiro sempre se mantém, anda hoje, como o mesmo animal bravio, cujas características conhecemos através de descrições literárias e pinturas artísticas que herdámos do passado. As selvas e florestas tropicais transformaram-se dramaticamente, mas a natureza das cobras e dos répteis, não. Nada. No entanto, por vezes (vezes demais...), a personalidade humana pode tornar-se permeável e inesperadas mudanças, da mudança. E estas serão as mais exógenas alterações de toda a criação, porque, precisamente, são as que mais afectam, de modo mais interior e mais profundo, a própria constituição fundamental do único ser inteligente que reside à face da terra e se pode movimentar sobre as águas e nos céus.
Quer exemplos desta dramática permeabilidade, que hoje tão facilmente pode transformar homens ao nível intelectual as canídeos, bovinos ou lagartos?
Basta conferir o insultuoso comportamento de tantos falsos opinion makers de pacotilha que hoje diariamente peroram, como se ainda tivessem cérebro, em tantos e tantos escarcéus de tantas televisões: o que ontem diziam que pensavam é o contrário do que hoje despudoradamente vomitam, de cerviz baixa e com a espinha amolecida. Em todo o caso, perante todos os que conservamos a cabeça limpa e a coluna firme, nenhum deles vale, sequer, um caracol..."

José Nuno Martins, in O Benfica

Sabe quem é? O primeiro depurado - Simões

"Foi inaugurar Estádio Salazar, bufo pôs PIDE à sua espera no aeroporto; Jogo do Benfica, salvou-o da barricada do CDS

1. Era Outubro de 1967, em atraso andavam os ordenados no Benfica. Após um treino acercou-se de Romão Martins e perguntou-lhe quando é que os pagavam. A resposta que apanhou foi: «É lamentável que os jogadores se preocupem tanto em receber tão depressa» - e Fernando Riera exigiu que pedisse pronta desculpa ao director do futebol. Fê-lo na festa de despedida de Costa Pereira, mas, a pretexto de entrevista ao Século Ilustrado, foi suspenso por 30 dias. Piscaram-lhe o de Alvalade - percebendo o risco em curso só então o Benfica lhe saldou a dívida: 62 500 escudos.
2. Entregara o seu caso a advogado que era filho do médico que tratara da equipa de futebol do Sintrense e defendia presos políticos: o Jorge Sampaio. E também foi ele que, por 1968, lhe tratou da renovação com o Benfica - que valeu 350 contos em luvas e 90 em salários anuais (90 contos seriam hoje cerca de 27 100 euros - e a Morris tinha publicidade ousada ao seu modelo 850: meninas muito sexies em calções de... futebolista e custava 113 contos).
3. Por essa altura ele tivera a PIDE à perna: «Quando a selecção foi jogar contra o Brasil a Moçambique para a inauguração do Estádio Salazar - aquilo estava tão mal organizado que eu afirmei, entre nós, que assim pouco orgulho podia haver em representar-se Portugal. Quando voltámos, no aeroporto, tinha dois senhores à minha espera. Levaram-me para a António Maria Cardoso para me justificar. Disse-lhes que me achava com direito à indignação e que era por querer que representar o país fosse um orgulho é que afirmara o que um bufo apanhou - avisaram-me que tivesse cuidado! Voltei lá porque fiz uma amizade na Checoslováquia, trocámos cartas, acharam que fosse algo de subversivo, tive de ir provar que não. Preso não sei se teria sido, mas se não fosse o jogador do Benfica teria sido bem pior. Fui sempre irreverente, sempre estive, quis estar, do lado dos mais fracos, dos mais aflitos - para ajudar a escolher a cadeira vazia, percebe?!...»
4. Quando Marcelo Caetano aceitou que os futebolistas pudessem ter um Sindicato, a sua alma era ele: «O Dr. Sampaio várias vezes o garantiu: que foi preciso coragem para eu me lançar contra a Lei da Opção, ser a primeira pedra mandada para a batalha, andar, como andava, a correr para o Ministério das Corporações, a lutar sozinho, por todos nós, por mais previdência, por assistência social obrigatória». (Ao Sindicato, os primeiros estatutos escreveu-lhos Jorge Sampaio. Foi formalmente constituído em Fevereiro de 1972 - e, na primeira direcção, a seu lado, estavam o Eusébio, o Artur Jorge, o Fernando Peres, o Rolando, o Pedro Gomes e o João Barnabé).
5. No último fim de semana de Janeiro de 1975, militantes de extrema esquerda precipitaram-se em fúria (e descabelados) para o Palácio de Cristal - onde CDS estava me congresso. Cercados, os seus 700 congressistas barricaram-se lá dentro, em pânico e só saíram 24 horas depois, evacuados pelo COPCON com a ajuda de para-quedistas de Lisboa. Não, ele não passou pelo susto porque, apesar de ser candidato do CDS à Assembleia Constituinte, tivera jogo com o Leixões (entrou aos 62 minutos para o lugar de Nené e o Benfica venceu por 3-0).
6. Falhou a eleição para a Assembleia Constituinte - e Freitas do Amaral chamou-o à sua residência (lá, com ele tinha Amaro da Costa): «Desafiaram-me de novo a candidato, candidato às Legislativas de 76 por Fora da Europa. Ganhei com vantagem extraordinária. Assumi o cargo em São Bento, fui o primeiro futebolista a consegui-lo. O ordenado de deputado? Não me lembro bem, era coisa à volta dos 12 contos (que hoje seria menos de 1500 euros). Uma ninharia comparado com o que recebia como jogador na América, em três meses em Boston recebi mais do que em três anos no Benfica...»
7. Para a América fora - jogar pelo Boston Minutemen: «Procurei o Dr. Borges Coutinho, anunciei-lhe que o meu último jogo pelo Benfica seria o do titulo de campeão (o seu décimo - para além das duas Taças dos Campeões e mais), contra o Tomar. Procurou demover-me, disse-lhe que não se preocupasse com os 650 contos da festa de homenagem que o Benfica teria de me fazer. Recusei isso e mais 500 contos pelas duas épocas que ainda tinha em contrato e poupei assim 1650 contos ao clube (que hoje seriam cerca de 240 mil euros)»."

António Simões, in A Bola

Benfica correu risco

"De início ao fim o Benfica complicou sempre a própria vida. O resultado poderia ter sido outro...

Uma entrada muito desorganizada
1. O Benfica protagonizou uma primeira parte desorganizada, com muitos jogadores que, embora se admita que tenham ligações decorrentes do trabalho que façam nos treinos, na verdade em campo demonstraram não ter esses elos. O rendimento geral, claro, ressentiu-se de toda essa estranheza. Para mais, talvez a piorar até este cenário, note-se que alguns jogadores parecem até actuar fora da posição e isso seguramente deixou os adeptos, a espaços, particularmente ansiosos. O Benfica correu muitos riscos neste jogo...

Krovinovic na esquerda não faz sentido
2. No que respeita aos jogadores fora de posição parece-me natural destacar o caso de Krovinovic, que regressou à equipa, mas não creio que jogar na ala esquerda permita aproveitar-lhe de melhor forma as capacidades. Com tudo isto, de forma natural e crescente o Arouca foi percebendo que podia arriscar, que podia surpreender. Isto porque, sobretudo depois de ter feito o primeiro golo do jogo, os visitantes terão também sentido que entraram no relvado uma série de emoções perturbadoras para o Benfica, que oscila entre bons e maus momentos, entre bons e maus resultados.

A solução de Vitória
3. Rui Vitória resolveu a questão de Krovinovic tirando-o de jogo. Note-se, aliás, que o croata não está ainda em boa forma, o que é compreensível. Nas mudanças operadas pelo treinador do Benfica merece nota especial a aposta em Rafa, que trouxe velocidade, largura, profundidade, trouxe um bocadinho de cada coisa e com isso a equipa encarnada passou a ter uma opção mais enérgica, um caminho novo para chegar à baliza. O golo do triunfo, aliás, disso mesmo resultaria.
É verdade, sim, que o Arouca ainda teve duas grandes oportunidades e que o susto causado ao Benfica poderia ter-se repercutido de forma particularmente grave... Ainda assim, inclino-me a considerar a vitória do Benfica justa, porque as dificuldades criadas pelo adversário foram sendo resolvidas, lentamente, até final. As águias sofreram, mas venceram."

Álvaro Magalhães, in A Bola

E a culpa não é de quem aplica a lei...

"A justiça desportiva em Portugal é altamente ineficaz, por lenta e ronceira, mostrando-se completamente desajustada à realidade que disciplina. E a culpa não é de quem a exerce, que está manietado pelos regulamentos, mas da fórmula encontrada, que replica os procedimentos da justiça comum, numa má adaptação de circunstâncias diversas. À justiça desportiva pode-se que aligeire processos, criando a celeridade adequada à dinâmica das competições. E não é preciso ir muito longe para encontrarmos bons exemplos. Basta pôr os olhos na UEFA ou na FIFA para percebermos como as coisas podem ser feitas de forma muito mais expedita; ou mesmo na Premier League, que também não se deixa afogar em burocracia e decide geralmente em tempo útil. Se quisermos, contudo, ir um pouco mais longe, temos o exemplo dos desportos colectivos profissionais nos Estados Unidos, onde vemos decisões de um dia para o outro, ágeis, rápidas e justas. Por cá, enquanto entenderem que os tempos da justiça desportiva devem ser os mesmos da justiça comum, o arrastar dos pés decorrente cobrirá, inevitavelmente, de ridículo, decisões fora de tempo, cuja eficácia prática acaba por deixar muito a desejar. Exemplos?
Há uma semana o país desportivo deu sonora gargalhada quando foi informado de que Bruno de Carvalho tinha sido punido com 30 dias de suspensão por algo que fez em 27 de Março; hoje soube-se que o pavilhão João Rocha vai ser fechado por um jogo, por incidentes do play-off da época passada. Valerá a pena, creio, que se gaste algum tempo a pensar se não será possível alterar esta apologia da câmara lenta."

José Manuel Delgado, in A Bola

Nem sempre o que parece é!

"As equipas principais dos clubes e selecções são, sem qualquer dúvida, os motores de toda a máquina do futebol. O seu sucesso é fundamental para que toda a estrutura tenha condições para se desenvolver. Não só sob o ponto de vista económica e financeiro, mas igualmente na vertente desportiva. Essa estrutura significa o futuro desse mesmo clube, ou federação, e dessa forma o crescimento do futebol nesse País. É bem verdade que a maioria dos adeptos analisam de forma diferente a gestão de um clube ou federação. A importância da equipa principal sobrepõe-se a tudo o resto. Contudo, existe toda uma estrutura, bem sei que diferente num clube ou numa federação, para suportar a equipa AA. No caso português, a FPF organiza 35 competições, não incluindo as competições profissionais, responsabilidade da Liga, tem 21 selecções nacionais em actividade, que disputam cerca de 200 jogos por época, cerca de 1900 clubes activos, 200.000 jogadores inscritos, 16.500 dirigentes, 7400 treinadores, 5100 árbitros, e organiza 9000 jogos por época. Como se percebe a gestão desta grande organização, e estes dados são apenas um exemplo, exige esforço, empenho e competência. Se a isto juntarmos as 22 Associações Distritais, que organizam também elas as  suas próprias competições, chegamos a um número de mais de 122.500 jogos por época, 336 jogos por dia em 2017/18. Ainda há torneios de observação e detecção de talentos durante as épocas. Todos nós vemos as equipas principais, mas a maioria nunca se apercebeu de tantos que trabalham em todos os outros escalões para se atingir o sucesso na equipa sénior. Para reforçar, é importante perceber que poucos participantes chegam a assinar contrato de trabalho. Dados da FIFA indicam que 1 em cada 5000 jogadores registados atingem esse nível. O futebol de alto nível está suportado numa base que ainda é muito desconhecida, e muito menos reconhecido."

José Couceiro, in A Bola

Desmentido

"Face a um conjunto de notícias falsas e boatos que têm circulado em alguma Comunicação Social e Redes Sociais, o Sport Lisboa e Benfica desmente qualquer tipo de utilização do sistema sonoro do Estádio para reprodução de gravações de cânticos ou aplausos.
O facto é facilmente atestado pelo relatório dos responsáveis e delegados da Federação Portuguesa Futebol presentes ao jogo de ontem."

Conversas à Benfica - episódio 44

Treinadores em Portugal (1)

"Muito se tem falado em Portugal sobre treinadores, particularmente dos portugueses que têm brilhado no país e no estrangeiro; desde o início do Séc. XXI, dentro de portas muito raros são os estrangeiros chamados a liderar equipas nacionais; e, no estrangeiro, muitos têm sido os portugueses a conquistar títulos em vários continentes, dando origem ao que se pode apelidar de "escola" de um futebol, ao mesmo tempo original, criativo e eficaz.
Nem sempre foi assim e muitos foram os obreiros que trilharam esse longo caminho desde meados do Séc. XX; seleccionámos aqueles oito que, em nosso entender, balizaram o percurso com modelos, reformas, estruturas, mentalidades e, naturalmente, êxitos: Otto Glória, Bella Gutman, Anselmo Fernandez, Carlos Queiroz, Artur Jorge, Scolari, Mourinho e Fernando Santos (3 estrangeiros e 5 portugueses), em que assinalámos os maiores destaques.
Otto Glória (brasileiro, 1917-1986). Foi, verdadeiramente, quem revolucionou o futebol em Portugal. Aterrou em Lisboa em 1954, foi treinador do Benfica até 1959 e depois entre 1968 e 1970, tendo ganho 4 Campeonatos e 3 Taças de Portugal; não só trouxe uma nova táctica (a "diagonal", 4x2x4), como inovou no treino, nas concentrações e nos estágios, e implantou uma disciplina rígida, que até proibia o Presidente de ir ao balneário... Treinou também o Belenenses (1959-61, 1 Taça), FC Porto (1963/65, finalista da Taça e 2 vezes vice-campeão) e o Sporting (1961/62, logo rendido por Juca, que foi campeão e 1965/66, campeão). No plano internacional foi treinador da selecção que conquistou o 3.º lugar no Mundial 1966 (seleccionador Manuel da Luz Afonso) e em 1982/83, na preparação do Europeu de 1984 (8 jogos).
Bella Gutman (húngaro, 1899-1981). Venceu tudo por onde passou, Holanda, Itália, Brasil, Uruguai, Hungria. Veio para treinar o FC Porto (campeão em 1958/59, com equipa experiente) e logo transitou para o Benfica, onde anteviu largo futuro, tendo sido bicampeão nacional (1959/60 e 1960/61) e levando, pela primeira vez, uma equipa portuguesa a um título europeu, duplo vencedor da Taça dos Campeões em 1960/61 (Berna) e 1961/62 (Amesterdão).
Anselmo Fernandez (1918-2000). Está incluído neste conjunto de grandes treinadores porque também foi um vencedor europeu. Arquitecto, treinou o Sporting na época 1963/64, rendendo o brasileiro Gentil Cardoso à 21.ª jornada (15 de Março) e após a derrota em Manchester para a Taça das Taças (1-4). No Campeonato pouco pôde fazer (1V- 2E-2D nas últimas 5 jornadas), confirmando o 3.º lugar. Mas na Europa conseguiu recuperar, derrotando o Manchester United na 2.ª mão (5-0 em Alvalade) e depois o Lyon nas meias finais; empatou com o MTK Budapeste na final (3-3) e venceu a Taça das Taças na finalíssima (1-0), com o célebre "cantinho do Morais". Ainda treinou na época 1964/65, durante escassos 2 meses (7 jogos), tendo rendido o francês Jean Luciano e sido rendido por Armando Ferreira.
Carlos Queiroz (1953). Criador de um modelo inovador, de base científica, que deixou um legado académico de grande prestígio e viria a traduzir-se na formação dos jogadores e treinadores portugueses, logo projectados para patamares até então inimaginados. Foi bicampeão mundial júnior (1989 e 1991); seleccionador nacional (1992) com projecto de estruturas, não concretizado porque adiantado no tempo e manifesta falta de apoio (falhou o Mundial 94); de novo seleccionador nacional (foi ao Mundial 2010), com êxitos relativos, mas conseguindo montar estruturas no futebol jovem, com treinadores que foram seus jogadores campeões mundiais e ainda perduram, em 2018, dos Sub-15 aos Sub-20: Filipe Ramos, Emílio Peixe, Rui Bento, Hélio Sousa (campeão europeu Sub-17 e Sub-19); também Paulo Sousa, no estrangeiro e Rui Jorge (que não foi daquelas selecções juniores, nos Sub-21). Treinou o Sporting (Taça de Portugal e Supertaça), foi adjunto de Alex Ferguson no Manchester United, treinador do Real Madrid e seleccionador de Portugal, Emirados Árabes Unidos, África do Sul e Irão.
Artur Jorge (1946). Um dos melhores pontas de lança portugueses, tirou o curso de treinador na ex-RDA e, após passagem por vários clubes, chegou ao FC Porto onde foi bicampeão (1984/85 e 1985/86), ganhou 1 Supertaça e a Taça dos Campeões Europeus (Viena, 1987). Treinou depois o PSG (Liga e Taça de França), de novo o FC Porto (1989-91 vencendo outro Campeonato, 1 Taça e 2 Supertaças), Benfica (1994/95) e, no estrangeiro, Espanha, Holanda, Arábia Saudita (campeão), França e Argélia. Foi também seleccionador de Portugal (1996-97, 12 jogos), Suíça e Camarões.
Luiz Filipe Scolari (dupla nacionalidade, Brasil/Itália, 1948). Foi campeão do Mundo pelo Brasil em 2002. Seleccionador português entre 2003 e 2008 (74 jogos), afastou alguns indiscutíveis do passado, investindo na motivação e na mística da bandeira. Foi 2.º classificado no Europeu de 2004 (final com a Grécia) e 4.º no Campeonato do Mundo de 2006 (derrotas com França e Alemanha). Treinou depois em Inglaterra (Chelsea), Uzbequistão, Brasil e China, voltando a ser seleccionador do Brasil no Mundial de 2014.
José Mourinho (1963). Intuitivo, controverso, inovador no treino, protagonista mediático, sempre à frente do seu tempo, marcou decisivamente o futebol do Séc. XXI; tornou-se o mais prestigiado treinador português e um dos maiores a nível mundial, deixando um rasto de admiração nos clubes, adeptos e jogadores com quem trabalhou. Em Portugal, depois do Benfica e União de Leiria, treinou o FC Porto, onde foi bicampeão e venceu uma Taça de Portugal, brilhando depois com a conquista da Taça UEFA (2002/03) e da Liga dos Campeões (2003/04). Foi depois campeão em Inglaterra (Chelsea), Itália (Inter) e Espanha (Real Madrid) e venceu outra Liga dos Campeões (Inter) e a Liga Europa (Manchester United).
Fernando Santos (1954). Começou a treinar o Estoril e o Estrela da Amadora, cujo 7.º lugar o levou ao FC Porto, onde concluiu o ciclo hegemónico de 5 campeonatos, tornando-se "o engenheiro do penta", além de 2 Taças e 2 Supertaças, em 3 épocas. Treinou depois na Grécia (AEK, Panathinaikos e PAOK) e pelo meio Sporting e Benfica, sem títulos. Pelo reconhecimento dos clubes, voltou à Grécia como seleccionador entre 2010 e 2014. Assumiu então a selecção nacional que conduziu até ao inédito título de Campeão Europeu (2016), a que se seguiu o 3.º lugar na Taça das Confederações (2017), a modesta participação no Mundial 2018 (oitavos de final) e a qualificação para a final four da Liga das Nações, a disputar em 2019.
Voltaremos a este tema."

«Pep Guardiola, amo-te»

"Para desmanchar já eventuais equívocos, esclareço que o autor da frase em título não é este que vos escreve.
Não que haja algum mal nisso, como diria Jerry Seinfeld. O amor entre humanos é uma via de dois sentidos e na minha consciência não há sinais de proibição.
Bom, na verdade, o título deste Chuteiras Pretas foi disparado por um grito, já há alguns anos, no Bonaparte, casa obrigatória para quem gosta de cerveja e conversa boa, ali na Foz do Douro.
O Barcelona de Guardiola acabara de esmagar o Real Madrid por 5-0, Novembro de 2010. Na mesa ao lado, um puto de 20/25 anos levantou-se a esbracejar e prometeu amor eterno, uma casa e uma família ao criador do tiki taka catalão.
Por esses dias, Pep ainda era para mim uma fonte de fascínio de fiabilidade duvidosa. Numa equipa com Xavi, Iniesta e Messi parecia-me mais simples, e até mais sensato, gritar «Leo Messi, amo-te» ou «Xavi, quero um filho teu».
Informo os incautos que não sei se alguém já decretou publicamente estas paixões, mas reclamo aqui e agora a minha inocência.
Recupero o episódio no pub mais alemão da cidade do Porto porque acabei de ver o documentário All or Nothing. E as imagens de Guardiola no balneário/banco de suplentes/sala de reuniões não me saem da cabeça.
Guardiola é tudo o que um líder e um treinador de futebol devem ser. Tem um discurso cativante, olha os jogadores nos olhos, transporta emoção e sabedoria. Bebe o jogo num trago e nunca está satisfeito.
O catalão é a materialização moderna e definitiva do treinador-modelo. O homem que desenha uma ideia e replica-a no relvado, letra por letra, linha por linha. Não é isso, afinal, o que se espera de um técnico? Obrigar as equipas a jogar da forma como ele pretende. Parece simples.
É o melhor do mundo? Seguramente. Wenger foi um coito interrompido no Arsenal; Mourinho é um monstro gasto pelas suas guerras interiores; Klopp é o rock n’roll tocado numa nota ao lado; Pochettino foi capaz de perder um campeonato para o Leicester; Allegri é um Conte 2.0; Simeone é um durão sem a harpa dos sorrisos; Sarri é só uma boa ideia pensada num cigarro no canto da boca e um copo de whisky quase vazio.
Por isso, sim. O rapaz do «Pep Guardiola, amo-te» é que estava certo e eu era só mais um ridículo incrédulo.
Pep nunca terá o meu amor, porque esse está reservado para a minha esposa Catarina, os meus bebés Ema e Santiago, e os meus pais. Mas terá eternamente a minha profunda admiração desportiva.
Só ele poderia chegar a Inglaterra e tornar os brutos carregadores de menires em polidores de diamantes.

PS1: imagino Guardiola em Portugal. O que conseguiria Pep ao volante deste FC Porto? Não seria fácil fazer melhor do que Sérgio Conceição, extrair tanto do plantel azul e branco.
E no Benfica? Faria definitivamente melhor do que Rui Vitória. Não me esqueço de uma conversa com um antigo adjunto do ribatejano, já há uns anos. Confidenciou-me que Vitória era o treinador mais competente e conciliador que conhecera dentro do balneário, nas palestras motivacionais. E o pior no trabalho de campo, nas definições estratégias e nas reacções ‘ao minuto’ no banco de suplentes. Talvez isto explique o actual Benfica.
Já agora, e neste Sporting? Ninguém pode ter uma boa resposta a esta questão."

Intermediário desportivo

"Quem pode exercer a actividade de intermediário desportivo, e qual a sua utilidade?
À luz do art. 36º da Lei nº 54/2017, de 14 de Julho, que regula o Regime Jurídico do Contrato de Trabalho do Praticante Desportivo, Contrato de Formação Desportiva, e Contrato de Intermediação, só podem exercer esta actividade as pessoas singulares ou colectivas devidamente autorizadas pelas entidades desportivas competentes.
Neste sentido, a pessoa interessada só pode exercer esta actividade mediante registo junto da Federação Portuguesa Futebol, conforme o art. 6º/1 do Regulamento de Intermediários da FPF.
Com efeito, não obstante a reputação algo questionável desta profissão – comportamentos que atentam à ética desportiva, práticas especulativas, ou falta de transparência – a mesma recapeia de elevada importância na defesa e promoção dos interesses profissionais do atleta.
Na verdade, um atleta não se encontra apto a negociar, ele próprio, o conteúdo do seu contrato de trabalho desportivo, desde logo por ser jovem e inexperiente, e desprovido do conhecimento exigível em matérias jurídico-laborais, por exemplo.
Ademais, a maioria dos processos negociais são desgastantes, intrincados e morosos, e pouco convidativos à participação do atleta, que se quer empenhado nas suas funções estritamente desportivas.

Existem limites à sua actividade?
A lei aduz que está vedada ao empresário desportivo a representação de praticantes desportivos menores de idade. Esta é uma das principais novidades consagradas no nº 3 do art. 36º da citada Lei nº 54/2017, no seguimento do já estabelecido no Regulamento de Intermediários da FPF (art. 5º, nº 4), embora em sentido contrário ao previsto no Regulations on Working with Intermediaries da FIFA, que permite a representação de menores por intermediários, mas não a sua remuneração (art. 7, nº 8). 
Significa que, pode ocorrer um conflito entre o regulamento da FIFA, e o da FPF, cuja solução conheceu estribo directo na lei: prevalência do regulamento da FPF (art. 1º, nº 2)."

Os anónimos excelentes no Portugal das gravatas

"Faltam 610 dias para o início dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Dezenas de atletas portugueses trabalham para franquear as portas de um sonho irreprimível: participar na manifestação cultural global que marcará o resto das suas vidas. O resultado final de cada um será diferente, mas o nível de empenhamento na busca da excelência idêntico. Mais algumas dezenas de treinadores e equipas multidisciplinares trabalham lado a lado com o objectivo último da superação, independentemente das condições que cada um consiga reunir.
Hoje, sexta-feira, se ler este texto por volta das 10h00, os nadadores portugueses aspirantes aos Jogos já estiveram na piscina duas horas, para cobrir os sete quilómetros do treino da manhã. Há tarde nadam mais sete. E pelo meio fazem uma hora de ginásio. É assim todos os dias. Também atletas, atiradores, canoístas, cavaleiros, ciclistas, futebolistas, golfistas, ginastas, judocas, karatecas, mesa-tenistas, remadores, surfistas, taekwondistas, tenistas, triatletas e velejadores trabalham a um ritmo e com uma dedicação invisíveis num Portugal toldado por gravatas e colarinhos brancos, submetido a agendas casuísticas disseminadas pelo espaço público fragmentado e gerido nas redes sociais.
Não é este Portugal mascarado de modernidade, onde os valores sociais expressos na comunicação global estão de-pernas-para-o-ar, que tira do sério os aspirantes a Tóquio 2020. O atleta que divide o 11.º ano de escolaridade em dois e faz o mesmo com o 12.º, para não abrandar na exigência autoimposta de dar o melhor de si mesmo sem desfocar de cada objectivo, e assim consegue a entrada na faculdade, não desmobiliza, não desanima perante um país que o desconhece. Mesmo sabendo que no apuramento de contas a multidão não quer saber do que fez da sua vida e em que condições. E o mesmo fazem atletas que têm uma profissão – treinando antes e depois -, na conjugação de exigências de trabalho elevadíssimas para tentarem chegar a um objectivo último que faça valer a pena todos os sacrifícios. Com os seus treinadores, fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, médicos, fisioterapeutas.
Em 2019, alguns atletas e equipas já terão ficado para trás, mas muitos estarão em linha com o objectivo e outros ainda irão a tempo de fazer as correcções necessárias para lá chegar. O país seguirá ao seu ritmo, dando palco à mediocridade, expondo todos os dias casos de como não se deve fazer, tornando tendência a anedota e o ridículo, corporizando a agenda do fútil e da superficialidade, lado a lado com quem trabalha pela superação, na busca da excelência, protagonizando histórias inspiradoras, desconhecidas, no silêncio, no anonimato. E todos os dias é assim. Pela bandeira, pelo hino, por Portugal."

Benfiquismo (MXIII)

Super-Atleta:
Guilherme Espírito Santo

Vermelhão: mais um susto !!!

Benfica 2 - 1 Arouca


Mais um jogo onde ficou demonstrado as nossas dificuldades nas transições defensivas: contra uma equipa a jogar com as linhas muito recuadas, não conseguimos evitar os contra-ataques perigosos... não só no golo sofrido, como naquelas duas oportunidades na entrada do último quarto de hora...!!!
É verdade que tivemos muita bola, é verdade que desperdiçamos alguns golos, é verdade que o adversário usou a falta estrategicamente sempre que o Benfica se aproximava da zona de perigo impunemente, mas deveríamos ter resolvido o jogo mais facilmente...
Destaco os primeiros minutos do Krovi, após muitos meses... ainda está perro, nota-se, mas só ganhará ritmo com minutos em campo...

Agora em Munique, tudo será diferente. Vão regressar muitos jogadores, e a dinâmica será diferente, porque seremos nós a jogar com o bloco baixo... Mas se a intenção é não ter a bola no pé em Munique, então serão 90 minutos, muito longos!!!!