Últimas indefectivações

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Notícias tão exageradas...

"Na tão badalada transição de treinadores, no final de 2014/15, e depois de o Benfica ter sido Bicampeão, temia-se o pior, lembram-se?

Todos os fins de época aparecem notícias sobre a venda de jogadores. E, a nós, invariavelmente, lá nos vão dizendo que só não vendemos mais porque não podemos...
Como diria o Rui Veloso... «parece que o mundo inteiro se uniu para nos tramar».
O mundo - bem visto - do futebol com dinheiro, que quer adquirir os melhores jogadores!
E não o dos que oferecem tuta e meia pelos... «melhores jogadores do mundo» ..., oriundos da «melhor academia do mundo», treinados pelo «melhor treinador do mundo», a jogarem na... «maior potência desportiva mundial», perdão, nacional...
Que injustiça!

O exagero das notícias das contratações
1. Terminada a época, e ainda que haja Europeu, estamos na fase das notícias de entradas e de saídas de jogadores. Pelo que se lê, vê e ouve, todos os anos sem excepção (e não exagerando), são contratados, no mínimo, dois autocarros de novos jogadores para o Benfica
 Por não haver jogos de futebol e a consequente animação do campeonato - o penalty que não marcaram contra o Benfica, o golo do Benfica (não)precedido de fora-de-jogo, os jogadores do Benfica que nunca são expulsos - já sabemos que vem aí uma agitação excessiva do mercado... nas notícias.
Toda a grande especulação em torno das possíveis entradas e saídas, numa (quase sempre) tentativa de adivinhação, gera receios e preocupações.
Mas para evitar que isso aconteça, é o meu dever - ainda que adepto apaixonado - tentar esclarecer e descortinar a nossa próxima época. Porque, de facto, só a do Benfica me importa.

A assustadora mudança de há um ano
2. Depois da anunciada saída de alguns jogadores no final da época, em que conquistamos o tricampeonato, lê-se e ouve-se, diariamente, que outros tantos sairão e que, por isso, o Benfica irá comprometer a próxima temporada.
Na tão badalada transição de treinadores no final de 2014/15, e depois de o Benfica ter sido bicampeão, temia-se o pior, lembram-se?
Confesso que nunca percebi esse receio, uma vez que se tratava apenas de uma mudança de treinador, permanecendo, contudo, grande parte do plantel.
Após a conquista do bicampeonato, em 2014/15, saíram alguns jogadores teoricamente relevantes, sendo disso exemplo Artur, Maxi, Lima e Nélson Oliveira.
Mas - vendo bem - não foram significativas as mudanças no plantel, embora os ecos se tenham encarregado de ampliar os factos.
Coisas da vida... e do mundo do futebol, em particular.

O início do tricampeonato
3. Com o início da época de 2015/16, e para reequilibrar o plantel, colmatando algumas saídas que eram tidas por insubstituíveis por alguns, Raul Jimenez e Mitroglou entram e reforçaram o plantel, para além da revelação de Nelson Semedo.
Grimaldo chegou em Janeiro, no que terá sido a janela de inverno menos utilizada em compras pelo Benfica, mas que ficou ligada, para sempre, à descoberta de Ederson, de Lindelof e de Renato Sanches. Mas, ainda assim, muitos continuaram apreensivos.
Como se o sucesso de uma equipa dependesse, exclusivamente, de um treinador.
Nem que ele - seja lá quem for - se julgue e se anuncie como «o melhor do mundo»!
Por vezes a mudança assusta, mas como diz Camões... «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades».
O facto de termos finalmente alguém no banco que sabia - e sabe - o que é ser do Benfica e que tinha - e tem - a noção de que o símbolo é maior que qualquer jogador, treinador ou dirigente, ... foi tranquilizador para os com mais dúvidas.
E com alguma razão...
Até porque, no fundo, todos sabíamos que se fechava um ciclo, mas que se abria outro, sem que isso significasse ou pudesse significar deixar de ganhar.

Este ano...
4. Pois para 2016/17, como seria expectável, nesta voragem das notícias, parece que vamos ficar sem equipa.
E já nem o Europeu atenua a especulação do costume...
Desde Janeiro - quando começaram as notícias (e se a memória me não falha) - já ficamos sem... guarda redes (ou mesmo os dois, não fosse um deles ter encontrado a Montblanc para assinar a renovação... contra os Inácios deste mundo e quem lhes diz para dizer o que dizem), sem o defesa direito dos primeiros jogos, sem 3 dos 4 centrais (desta vez, o que está para sair há 12 anos, ficará), sem os 3 médios habituais, sem o ala esquerda e sem os três pontas de lança...
Irra, que só de escrever dá para deixar um tipo com um ataque de coração...
O que não seria para menos...
Mas, à imagem de outros anos, e como é evidente, isso não vai acontecer...
Até porque no início da época anterior as saídas também aconteceram... e não foi por isso que não fomos... tricampeões!
Sem grandes alaridos, deixando a caravana passar...
Todos sem excepção sabem que o ideal é não vender.
E haveremos de lá chegar.
Até lá... temos de ser realistas e vender o menos possível, mas aceitar que temos que vender.
E um dia, quando não vendermos, agradeceremos a quem, vendendo alguma coisa, hoje, nos permitir, depois, não vender para podermos ambicionar ganhar (e ganhar mesmo) competições europeias. Para acabar com a fanfarronice de uns e com a mania da igualdade de outros.
Por isso, no plantel da próxima época, além de algumas entradas específicas, depois de debatidas e estudadas as reais necessidades, continuar-se-á a apostar seriamente na formação!
Até porque teremos de conjugar sempre a experiência de jogadores feitos com jogadores dessa formação, uma vez que esta é um meio - e não um objectivo - para termos uma equipa mais forte. 
Como, este ano (ao contrário dos anteriores), o foram Ederson, Nelson Semedo, Renato Sanches e Lindelof... sem falar da confirmação da polivalência e da disponibilidade permanente em ajudar a equipa - onde foi preciso - de André Almeida!
Na próxima época, teremos, certamente, jogadores da formação que, tendo oportunidades, serão as novas grandes revelações da equipa principal.
Porque longe vão os tempos em que essas oportunidades não eram dadas... por quem lhas devia dar. Ainda que não exista espaço para todos, a saída de uns será, certamente, a oportunidade (merecida) de outros.
Sempre acompanhada pelo apoio dos colegas mais experientes, para que se mantenha presente e viva, no balneário, a História que Eusébio e Coluna - e tantos outros - fizeram.
Não há, por isso, razões para alarme com este período de transferências! Na próxima época, além de crença nas capacidades de quem serve o Benfica, vamos continuar a acreditar em cada um dos jogadores que irá compor o plantel. Porque, até poderemos ter algumas razões para duvidar, mas continuamos a ter uma (muito) forte para crer.
Porque só pensamos em nós...
Sem que isso signifique abdicar do presente ou hipotecar o futuro.
E, com isso, liderar, além de acreditar, ganhar e convencer.
Vamos a isso, BENFICA???"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

O Maior !!!

A lenda dos Magriços

"Há meio século, a selecção alcançou o seu primeiro Mundial, em Inglaterra (com quem volta hoje a jogar em Londres, na preparação para o Euro). Os portugueses espantaram tudo e todos, com um jogo épico contra a Coreia do Norte e consagrando uma lenda, Eusébio. O Expresso juntou seis Magriços
Em 1966 estiveram todos juntos e deram aos portugueses uma das maiores alegrias colectivas do século passado: o terceiro lugar no Mundial de Futebol de Inglaterra. Agora, meio século depois, alguns dos seis Magriços que responderam positivamente ao convite do Expresso já nem se reconhecem à primeira vista.
É o caso do antigo defesa-esquerdo benfiquista Fernando Cruz, que franze o sobrolho quando olha para o ex-médio sportinguista Fernando Peres. Minutos depois, no restaurante do campo de golfe anexo ao Estádio Nacional, em Lisboa, que foi o ponto de reencontro, é o antigo defesa-central leonino, Alexandre Baptista, quem não consegue identificar o homem de estatura média, e hoje atarracada, que tem pela frente: trata-se de Fernando Cruz. Este é, curiosamente, o único dos antigos futebolistas fora de jogo no teste da balança. De um modo geral, os anos passaram por eles (estão todos na casa dos 70), mas a aparência confirma que se está perante antigos atletas. Fernando Peres, esse então, enxuto de carnes, parece muito longe dos 73 anos que já leva.
Chegam aos poucos. Peres, Cruz e José Carlos, ex-defesa do Sporting, são os primeiros. De seguida junta-se-lhes Alexandre Baptista. António Simões, o antigo extremo-esquerdo do Benfica, entra alguns minutos depois, antes do sexteto ficar completo com o também ex-benfiquista José Augusto, ponta-direita da temível linha avançada do seu clube e da selecção. Com a miniequipa já quase à mesa, e uma vez desfeitas dúvidas sobre os paradeiros dos mais desligados do circuito público — aqui o campeão é Fernando Cruz, várias décadas emigrado nos Estados Unidos e a viver em Cabanas de Viriato, distrito de Viseu —, começou a imperar a boa disposição e uma salutar provocação.
Simões é, em muitos momentos, o mestre de cerimónias. A primeira vítima é José Carlos, a quem um percalço doméstico deixou recentemente a cara maltratada. “Deste uma cabeçada na bola ou no adversário?”, pergunta agilmente o antigo atacante, homem que enchia os estádios de fintas repentinas. A resposta de José Carlos é rápida e seca, a mostrar que o antigo defesa não perdeu o jeito para cortar as jogadas adversárias: “Foi num degrau lá de casa”, onde tropeçou a brincar com um neto, explica, bem-disposto.
MEMÓRIAS: O Expresso desafiou os Magriços para um reencontro. Responderam à chamada seis, para uma fotografia no relvado do Estádio Nacional, no Jamor, no dia 20, onde dois dias depois se realizou a final da Taça de Portugal. Em cima, da esquerda para a direita: José Carlos, António Simões, Fernando Peres e Alexandre Baptista; em baixo, José Augusto e Fernando Cruz
Os anos 60 do século passado foram a década de ouro do futebol português. O Benfica foi bicampeão europeu e marcou presença em mais três finais. Num período de sete anos (de 1961 a 1968), os encarnados estiveram quase sempre entre os dois melhores clubes da Europa. O Sporting, por sua vez, venceu uma Taça das Taças. Com tanta abundância, 1966 foi a cereja no topo do bolo: a participação num Campeonato do Mundo, a primeira da história desportiva nacional, saldou-se num terceiro lugar, o melhor de sempre até hoje na maior competição futebolística do planeta. Mas mais do que a classificação, foi um futebol que encantou o mundo, um desafio (com a Coreia do Norte) que se tornou épico e um jogador (Eusébio, pois claro) que seria consagrado imortal.
Cinquenta anos depois, a poucas semanas de outros futebolistas com a camisola das quinas entrarem em campo no Europeu de França, seis dos Magriços desfiaram algumas das suas memórias desse ano longínquo.

“VOCÊ, GURI, VAI JOGAR COMO QUISER”
Não há Mundiais sem uma fase de apuramento, e esse foi arrancado a ferros, com um jogo decisivo na Checoslováquia em que a seleção lusitana ficou praticamente reduzida a dez elementos logo aos três minutos, por lesão de Fernando Mendes. Nesse tempo não havia substituições (só surgiriam em 1970) e, quando o infortúnio batia à porta, ou a maldade dos adversários fazia mesmo mossa, a equipa atingida ficava irremediavelmente desfalcada. Mendes manteve-se em campo, mas remetido, ele que era um médio, à posição de extremo-esquerdo, fazendo pouco mais do que figura de corpo presente.
Simões conta as palavras que o treinador brasileiro Otto Glória dirigiu ao intervalo (Portugal já ganhava 1-0, golo magistral de Eusébio aos 20 minutos). Depois de ter dito a cada um como pretendia que jogassem, Otto guardou as última indicações para o número 11: “Você, guri, vai jogar como quiser”, disse o treinador. 
‘Guri’ é um termo usado no Brasil para ‘menino’, ‘rapaz’ ou ‘pequeno’. Simões era o ‘pequeno’ da selecção, não só por ser dos mais novos (22 anos, a mesma idade de Peres, apenas ultrapassados por Manuel Duarte, do Leixões, com 21) mas sobretudo por ser o mais baixo. “Eu, que tinha um 1,66 metros, depois entrei no campo como se tivesse 1,86 metros. Foi uma forma de me dizer a mim, e aos outros jogadores, que era preciso darmos todos mais um bocadinho, para substituir o que faltava.” “Otto era de primeira categoria na parte psicológica e mental”, reforça Alexandre Baptista. A galvanização funcionou, e Portugal vergou a poderosa Checoslováquia, então vice-campeã do mundo.
Conquistado o apuramento, o Mundial começou a ser preparado em casa, findas as competições internas. Para Inglaterra foram escolhidos 22 atletas. Fruto da excelente época que tivera, o Sporting foi a equipa que mais jogadores forneceu: oito, o que significa que do seu onze base só três ficaram de fora. Seguiu-se o Benfica, com sete, três do Futebol Clube do Porto e dois do Belenenses, enquanto o Vitória de Setúbal e o Leixões contribuíram, cada um, com um: Jaime Graça e Manuel Duarte, já em trânsito para o Benfica e o Sporting, respectivamente. Nenhum jogava no estrangeiro e quatro — peças nucleares da equipa — eram negros de Moçambique: Vicente, Hilário, Coluna e Eusébio... Com lugar cativo no grupo, a lesão de Fernando Mendes na Checoslováquia impediu-o de ser um dos 22, mas a federação, como explica Simões, “fez questão de o incluir, e muito bem, na comitiva oficial”.
Tal como este ano, também há meio século Benfica e Sporting disputaram o campeonato até à última jornada. O título ficou então em Alvalade. A selecção “teve um estágio apropriado”, conta Alexandre Baptista. Como Benfica e Sporting “foram prematuramente afastados da Taça de Portugal” e “o Benfica andava um bocadinho por baixo, fizeram um estágio em Vale de Lobo, que durou quase um mês”.
O acerto do estágio, que incluiu uma passagem por Ofir aquando de um jogo no Norte, também é sublinhado por Simões. O objectivo era duplo, conta: “Por um lado, havia que recuperar os jogadores do Benfica, muitos deles indiscutíveis na selecção e que tinham feito uma época para esquecer. Por outro, manter o estímulo de sucesso dos do Sporting. A convocatória foi um atestado de confiança nos jogadores do Benfica, apesar de alguns estarem de rastos, e um prémio aos do Sporting, chamados a desafiar os consagrados do Benfica.”
À partida para Inglaterra, afiança Peres, “o espírito de grupo estava extremamente fortalecido. As cores dos nossos clubes ficaram em Portugal”. Cores que eram, naturalmente, Benfica e Sporting (ou vice-versa). “Todos nos conhecíamos muito bem, e não só dentro de campo. O Mundial confirmou a relação de respeito, de estímulo e de compromisso de um grupo que foi para a selecção sem camisola [de clube] vestida”, reforça António Simões. “Era uma rivalidade sadia”, sintetiza José Augusto.
O hotel escolhido para quartel-general dos Magriços — cuja designação se deve a uma lenda contada por Camões em “Os Lusíadas” sobre um cavaleiro português do século XIV, de nome Álvaro Coutinho, apelidado de “O Magriço”, que, juntamente com 11 pares, rumou a Inglaterra para participar num torneio em defesa da honra de 12 donzelas britânicas — é uma espécie de casa de campo, perto de Manchester, de grande pacatez. Na bolsa das apostas, Portugal não suscitava especial interesse. Entre alguns jogadores, as expectativas também não eram altas. “Quando ia no avião, pensava: ‘Se passássemos a fase de grupos, era uma coisa fantástica.’ Fomos para lá sem objectivos definidos”, recorda Alexandre Baptista.
A estrutura de comando da selecção era diferente da actual, que já tem várias décadas (com excepção do Europeu de 1984, em França), em que um só homem (no caso, Fernando Santos) acumula as funções de seleccionador e de treinador. A direcção da equipa, para usar um termo contemporâneo, era bicéfala: Otto Glória era o treinador, mas a função de seleccionador estava atribuída a Manuel da Luz Afonso. Era este, de resto, quem escalava os futebolistas para cada partida. “Jogam estes!”, dizia no balneário, antes de elencar o onze, lembra Alexandre Baptista. “Nunca abdicou do seu direito de ser seleccionador”, afirma o antigo defesa do Sporting. Depois, Otto Glória dava a táctica. Era pacífica essa coexistência entre os dois comandantes da equipa? Baptista, José Carlos e Simões acreditam que sim, pois crêem que Glória (que nesse ano fora o treinador do Sporting campeão) e Afonso (dirigente do Benfica nos anos áureos dessa década de 60) falavam previamente, mas nunca os futebolistas souberam qual dos dois mais mandava.
Dos membros da comitiva guardam memórias afectivas. “Os treinadores brasileiros têm muito jeito e capacidade de comunicar. O ponto forte de Otto Glória (como o é do Scolari) era a capacidade de mobilizar e estimular. A questão do afecto era importante, e nisso o Otto era um especialista”, diz Simões. “Outras pessoas também foram importantes para o espírito de grupo, como o médico Silva Rocha, do Belenenses, e o massagista, o Manuel Marques, sempre impecável connosco, tratando-nos a todos como se tratasse um filho. Era como um deus para nós... o deus das mãos milagrosas”, afirma José Carlos.

O TEMÍVEL BRASIL DE PELÉ
Depois de três jogos particulares, todos vitoriosos — na Escócia (0-1), na Dinamarca (1-3) e em Portugal contra o Uruguai (3-0) —, a bola rolava finalmente em relvados ingleses. A estreia foi com a Hungria, uma das melhores selecções do mundo. “Para mim, foi o jogo mais difícil, pois foi o que lançou a equipa. Ganhámos 3-1, e eu marquei os dois primeiros golos”, orgulha-se José Augusto. “Apanhámos um susto. O futebol húngaro mantinha a qualidade dos grandes tempos e criou-nos dificuldades. Só não marcaram mais porque tivemos um guarda-redes superinspirado e intransponível, o Carvalho.” O guardião do Sporting, curiosamente, nunca mais jogou no Mundial, dando o lugar a José Pereira, do Belenenses, o mais velho dos Magriços, com 34 anos.
O sonho português começou a ganhar forma logo aos três minutos do jogo inaugural, com a Hungria, quando José Augusto (com Torres atrás de si) marcou o primeiro golo
Seguiu-se a Bulgária (teoricamente o adversário menos difícil do grupo) e nova vitória, por 3-0. Até que chegou o Brasil, bicampeão mundial, com os títulos de 1958 e 1962 no currículo e Pelé a reinar. Perante a surpresa de quase todo o mundo, os canarinhos saíram derrotados, por 3-1.
“O Brasil apresentou-se com jogadores consagrados, mas na fase final das suas carreiras, com menor ritmo competitivo, o que facilitou a nossa tarefa. A isso acresceu o facto de o Pelé não ter actuado nas melhores condições físicas”, escreveu José Carlos no livro “Mundial 66 Olhares”, coordenado pelos historiadores César Rodrigues e Francisco Pinheiro.
A lesão de Pelé é vista de forma diferente dos dois lados do Atlântico. Nas terras achadas por Pedro Álvares Cabral, foi uma entrada maldosa do defesa português Morais que arrumou o ‘rei’. Entre Magriços o episódio tem uma leitura paliativa. No livro já referido, a ser lançado na próxima semana, o episódio é dissecado. Na leitura de Alexandre Baptista, Pelé não recuperara “totalmente da lesão contraída no primeiro desafio, contra a Bulgária. Isso só se tornou evidente quando se magoou novamente, numa jogada que em princípio não causaria a lesão”. Já José Augusto recorda: “O Brasil acabou por jogar praticamente com um jogador a menos, pois o Pelé estava lesionado e jogou sem estar apto. E também teve o azar de sofrer uma falta do Morais na perna que se encontrava afectada. Apesar do muito que se disse e escreveu, a carga não foi maldosa, mas apenas um momento que reflectiu a forma aguerrida como o Morais jogava.”
Moléstia de Pelé à parte, os portugueses triunfaram por 3-1, com um golo de Simões (de cabeça...) e dois de Eusébio. Da crónica desse jogo, no jornal “A Bola”, fica um memorável título saído da pena de Carlos Pinhão. Aludindo às palavras de escárnio com que alguns brasileiros quiseram humilhar antes do jogo a seleção das quinas, Pinhão não foi de modas e marcou um “gol de placa”: “A terrível vingança da bola quadrada”.

O JOGO LOUCO COM A COREIA
O que “A Bola” e outros jornais pelo mundo fora (tomados de espanto) disseram do êxito de Portugal ante o Brasil ficou muito aquém do que os esperava dias depois, no rescaldo dos quartos de final, entre Portugal e a desconhecida Coreia do Norte, que acabara de dar um bilhete de volta a casa à poderosa Itália.
O jogo começou com os coreanos frenéticos e Portugal a dormir. “A equipa entrou em campo lenta e, pensava, com o jogo já ganho. Aos 25 minutos já perdíamos por 3-0”, lembra Alexandre Baptista. “O que aconteceu continua a não ser fácil de explicar. Talvez tenha sido algum excesso de confiança, porque havíamos ganho ao bicampeão mundial, o Brasil. Os coreanos eram uns atletas pequeninos e sem grande estrutura física (não tinham cara nem corpo de jogadores) e, provavelmente, não conseguimos combater o nosso subconsciente, de que o jogo estaria ganho”, conta José Augusto. “Eram jogadores de boa capacidade técnica e corriam sobretudo muito.” Mas, se os portugueses dormiram na forma, os asiáticos fizeram o trabalho de casa muito bem feito. “Estiveram dois anos a preparar-se para o Mundial, a competir no campeonato da Alemanha de Leste, sem terem ido a casa”, recorda o antigo extremo-direito. Para José Carlos, “os coreanos eram muito rápidos e, como eram quase todos iguais, nem sabíamos quem é que devíamos marcar e andámos aos papéis”.
No final da primeira parte, já as coisas estavam menos negras (2-3), pois Eusébio desatara a escrever o capítulo maior da sua lenda, com dois golos nos primeiros 45 minutos (faria mais dois até ao final). “No intervalo, o Otto falou de tudo menos de futebol”, lembra José Augusto. “Ouvimos das boas, algumas em linguagem bem vernácula. ‘Vocês, que me deram a maior alegria da minha vida quando ganharam aos meus irmãos brasileiros, estão agora a perder com uma equipa do Walt Disney? Vão lá para dentro, metam o tomate na garganta e comam os coreanos vivos’.”
A empreitada foi de todos, mas há um homem que foi maior do que todos juntos. Com quatro golos em 32 minutos, que deram uma reviravolta no marcador (José Augusto ainda faria o 5-3), Eusébio assinou a maior proeza individual numa só partida da história dos Mundiais.
“O futebol é uma modalidade colectiva, mas se não tivéssemos o Eusébio nunca teríamos recuperado. Foi o melhor jogo que vi um jogador com a estirpe do Eusébio fazer”, exulta Fernando Peres. “Ainda tenho na retina um dos golos: o Eusébio pegou na bola ainda no nosso meio campo, quase junto à linha lateral, e começou a fazer magia, levando tudo à frente, a driblar e a levar pancadaria, até que entrou na área e foi rasteirado com uma cacetada valente. Foi o Eusébio e foi a bola, foi tudo ao ar. Depois levantou-se, a coxear, pegou na bola e marcou o penálti.” “Esse jogo é um momento histórico e uma grande referência do futebol mundial. Tornou-se mítico pela marcha do resultado, pela recuperação notável de Portugal e por aquilo que foi a nossa prestação em redor do Eusébio”, analisa António Simões.
A Inglaterra, a anfitriã, foi o adversário seguinte. Mordomias para quem jogava em casa, foi permitido mudar a meia-final de Liverpool para Londres (em Wembley), o que obrigou Portugal a fazer uma viagem de comboio na véspera.
A tristeza de Eusébio após a derrota com a Inglaterra correu mundo. A estrela da selecção portuguesa e melhor marcador do torneio enxuga as lágrimas na camisola, perante o olhar de Torres (à esq.) e de Hilário (de costas), ambos em primeiro plano
“A alteração do local teve um impacto negativo, desgastando-nos física e mentalmente”, diz José Carlos. Simões lembra outro episódio: “No dia do jogo, com medo do trânsito, chegámos a Wembley demasiado cedo, o que nos obrigou a uma espera muito longa, gerando mais ansiedade.” Também no relvado os ingleses apostaram na surpresa. “A marcação implacável do Stiles ao Eusébio condicionou bastante o nosso jogo”, reconhece José Carlos. “O que ficou de mais triste foi termos perdido com a Inglaterra. Não tivemos cabeça suficiente”, confessa Alexandre Baptista. O jogo terminou com 2-1 para os ingleses, pondo fim ao sonho português. Restaria aos Magriços o jogo de consolação, para atribuição do terceiro e quarto lugares, em que Eusébio & Cª derrotaram a União Soviética (2-1).

A FRUSTRAÇÃO DOS QUE NUNCA JOGARAM
Na meia-final, alguns portugueses deram o estoiro. “O jogo marcou-me pelo cansaço”, diz Simões. Não sendo permitidas substituições, o facto de o seleccionador quase não ter rodado jogadores de partida para partida é uma pedra no sapato de alguns magriços. “Podíamos ter ido mais longe se tivesse havido um pouco mais de coragem”, considera Fernando Peres. “Havia futebolistas ávidos por jogar e que não faziam grande diferença em relação aos titulares: o Custódio Pinto, médio do FC Porto, extraordinário; o Cruz, lateral-esquerdo, fabuloso; o Lourenço [atacante do Sporting], enfim... Já não falo de mim. Houve até jornalistas que perguntaram várias vezes porque é que eu não jogava. O Simões fez um campeonato extraordinário, mas estava completamente fatigado. E o Torres chegou a pedir para não actuar, porque tinha os tornozelos inchadíssimos das pancadas que levara. O seleccionador respondeu-lhe que só não jogava se tivesse uma perna partida.”
Fernando Cruz foi outro dos que nunca pisou os relvados. Se por um lado faz uma vénia à velha máxima do futebol (“a equipa estava a jogar bem e a ganhar, e numa equipa que ganha não se mexe”), por outro tem o coração mais ao pé da boca: “É chato uma pessoa ganhar tudo em Portugal, mais duas taças dos Campeões Europeus, e depois ir ao Mundial e já saber que vai ser suplente. Enfim, fui um turista em Inglaterra”, remata, bem-disposto.
Os Magriços vieram de Londres com o terceiro lugar, mas com o título de “melhor futebol que se praticou em Inglaterra”, sublinha Peres. “Com larga projeção mediática, as televisões transmitiram todos os embates pela primeira vez”, lembra Simões.
Regressados à pátria, receberam as mais altas honrarias do Estado. Foram recebidos inclusive por Oliveira Salazar, que os felicitou pelo “excelente resultado”, recorda Alexandre Baptista. No livro em que também colaborou, Simões descreve como o Mundial serviu o regime às mil maravilhas. “O país, em virtude de uma desajustada ditadura, estava ostracizado, era observado de soslaio pela comunidade internacional. Foi o Eusébio e fomos todos nós que contribuímos para que houvesse, pelo menos por via do futebol e da nossa epopeia, um olhar simpático para este retângulo europeu tão criticado por razões de natureza política e social.”
Quando os jogadores portugueses foram dos melhores da Europa e do Mundo, o futebol ainda não distribuía os rios de dinheiro que hoje correm. Na grande equipa do Benfica da década de 60 ganhava-se, no máximo, 500 contos por ano (valor ilíquido). Destes, só quatro contos eram de salário mensal, igual para todos, pois a fatia de leão eram as chamadas luvas, pagas trimestralmente. Os prémios de jogo arredondavam o pré. O rendimento anual, referenciado a 1966, equivale, a preços atuais, a 178 mil euros, o que fica muito aquém das quantias chorudas que ganham Ronaldo, Messi e Neymar, entre muitos outros. 
Nos anos 60, os anúncios feitos por futebolistas eram pagos em géneros. José Augusto recebeu uma caixa de 12 latas de salsichas
Por explorar estavam as receitas de publicidade. José Augusto conta o seu caso. “Nunca recebi dinheiro dos anúncios e fiz vários. Um deles foi às salsichas Tobom. Como prova de consideração, recebi uma caixa com 12 latas.” Mais sorte teve Simões, já nos anos 70. Ele e o guarda-redes do Sporting Vítor Damas foram o rosto de um produto de barbear. Cada um recebeu 35 contos (menos de 10 mil euros a preços actuais, com referência a 1970). Simões ainda sabe a deixa de cor: “A minha barba é dura e difícil, mas o creme Palmolive amacia-a mesmo.”
Fernando Cruz, Alexandre Baptista, José Augusto, José Carlos, Fernando Peres e António Simões são seis dos futebolistas que representaram Portugal no Mundial de 1966, de 11 a 30 de Julho. Todos eles ficaram ligados ao futebol depois de deixarem os relvados.
Cruz esteve cerca de 30 anos nos EUA, numa fábrica de candeeiros e com uma curta passagem pela construção civil. Matou o bichinho da bola treinando uma filial do Benfica, em Newark, mas como não lhe pagavam abandonou o banco.
Alexandre Baptista é um caso raro no futebol português do século passado, com exceção de alguns jogadores da Académica: conciliou as chuteiras com as sebentas, licenciou-se em Economia e foi diretor comercial de várias empresas. Foi vice-presidente do Sporting numa direção de João Rocha, joga golfe (hoje já menos...) e bridge.
José Augusto foi treinador e chegou a dirigir a seleção principal na minicopa do Brasil, em 1972, e no Europeu de França, em 1984. Interinamente, treinou o Benfica em 1970. José Carlos acabou a carreira de futebolista no Braga. Depois ficou como treinador. Foi um dos destacados impulsionadores do Sindicato dos Jogadores de Futebol (com Simões) e dos Treinadores.
De todos os Magriços, Fernando Peres foi o que teve uma carreira internacional ao mais alto nível: foi campeão no Brasil pelo Vasco da Gama, em 1974. Em Portugal treinou várias equipas da primeira divisão. 
Simões acabou a carreira nos EUA, onde jogou sete épocas, e treinou em vários países. Foi diretor-geral do Benfica na presidência de Manuel Vilarinho. Hoje é o rosto mais assíduo dos Magriços nos ecrãs, como comentador de futebol. É o único que fez uma incursão na política, como deputado do CDS.

OS 22 MAGRIÇOS
N.º 1 Américo Lopes — Santa Maria da Feira, 83 anos; guarda-redes; FC Porto; nunca jogou
N.º 2 Joaquim Carvalho — Barreiro, 79 anos; guarda-redes; Sporting CP; disputou o jogo inicial, contra a Hungria
N.º 3 Artur José Pereira — Torres Vedras, 84 anos; guarda-redes; Belenenses; disputou os últimos cinco jogos
N.º 4 Vicente Lucas — Moçambique, 80 anos; médio; Belenenses; disputou os primeiros quatro jogos
N.º 5 Germano de Figueiredo — Lisboa (1932-2004); defesa-central; SL Benfica; disputou o jogo contra a Bulgária
N.º 6 Fernando Peres — Algés, 73 anos; médio; Sporting CP; nunca jogou
N.º 7 Ernesto Figueiredo — Tomar, 78 anos; avançado; Sporting CP; nunca jogou
N.º 8 João Lourenço — Alcobaça, 74 anos; avançado; Sporting CP; nunca jogou
N.º 9 Hilário da Conceição — Moçambique, 77 anos; defesa-esquerdo; Sporting CP; disputou todos os jogos
N.º 10 Mário Coluna — Moçambique (1935-2014); médio; SL Benfica; capitão de equipa, disputou todos os jogos
N.º 11 António Simões — Seixal, 72 anos; extremo-esquerdo; SL Benfica; disputou todos os jogos e marcou 1 golo
N.º 12 José Augusto de Almeida — Barreiro, 79 anos; extremo-direito; SL Benfica; disputou todos os jogos e marcou 3 golos
N.º 13 Eusébio da Silva Ferreira — Moçambique (1942-2014); avançado; SL Benfica; disputou todos os jogos e marcou 9 golos, tendo sido o melhor marcador do Mundial
N.º 14 Fernando Cruz — Lisboa, 75 anos; defesa-esquerdo; SL Benfica; nunca jogou
N.º 15 Manuel Duarte — Celorico da Beira, 70 anos; avançado; Leixões; nunca jogou
N.º 16 Jaime Graça — Setúbal (1942-2012); médio; Vitória de Setúbal; disputou todos os jogos
N.º 17 João Morais — Cascais (1935-2010); defesa-direito; Sporting CP; disputou três jogos
N.º 18 José Torres — Torres Novas (1938-2010); avançado; SL Benfica; disputou todos os jogos e marcou 3 golos
N.º 19 Custódio Pinto — Montijo (1942-2004); médio; FC Porto; nunca jogou
N.º 20 José Alexandre Baptista — Barreiro, 75 anos; defesa-central; Sporting CP; disputou cinco jogos 
N.º 21 José Carlos da Silva José — Vila Franca de Xira, 74 anos; defesa-central; Sporting CP; disputou os dois últimos jogos
N.º 22 Alberto Festa — Santo Tirso, 76 anos; defesa-direito; FC Porto; disputou três jogos"

O autocarro!

"O autocarro vai arrancar. Aí vem o autocarro. Vira para a direita, vira para a esquerda. Agora uma rotunda, e outra, e outra. Não pára ali, nem acolá. Em marcha liderada por escolta policial. 
Divertidíssimo. O povo não quer outra coisa. Um regalo nunca visto. Longos minutos atrás, ao lado, à frente, por cima e em versão drone. É uma fartura. Não há zapping possível: o canal A transmite, o canal B idem, o canal N idem aspas. Um êxtase de alienação em versão rodoviária.
Ah, ia-me esquecendo de referir. É o autocarro da equipa. Das equipas. Da selecção. Da abstracção. Para o jogo. Ou depois do treino. Ou a sair do hotel. Às pinguinhas. O autocarro é colorido, vermelho, verde, azul, de várias cores, com letras maiúsculas e imponentes. Está bem lavado e afinado.
Lá dentro vai a equipa, consegue ver-se o motorista. O autocarro, bem concebido, não permite ver o seu interior. Desconcertante, este pormenor. Mas as televisões vão cuidando de nos informar que lá dentro vai a equipa e de nos dizer do seu estado de espírito, certamente por rede sem fios.
Chegou ao seu destino. Abrem-se portas e bagageiras. A tristeza invade o telespectador. Que fazer agora, depois de tão excitantes e fartos minutos do autocarro. Não sei com quantos cavalos. A trote e a galope. Um ingrato, este veículo!
Assim chegou o doloroso momento da despedida do autocarro. Não há mais reportagem. Fica uma sensação de buraco na alma. Mas não nos entristeçamos. Amanhã temos dose a dobrar. E ainda hoje, nas televisões, se vai falar muito de autocarros estacionados à frente das balizas. Viva o autocarro! Abaixo os autocarros!"

Bagão Félix, in A Bola

O futebol nos Jogos Olímpicos

"Entrados na segunda década do século XXI seria lícito esperarmos que qualquer uma das grandes competições desportivas internacionais, que geram milhares de milhões de lucro à custa do generoso interesse do povo de todo o mundo, não traíssem essa generosidade e, sobretudo, não ludibriassem esse interesse.
A verdade é que a competição de futebol nos Jogos Olímpicos do Rio é uma trapaça, uma inqualificável mistificação, à qual o Brasil e o Rio de Janeiro não reagem porque lhes permitirá as maiores facilidades num título olímpico que há muitos anos perseguem.
A FIFA e o Comité Olímpico Internacional nunca se deram bem, tiveram, mesmo, períodos de guerra aberta e universal. No tempo presente, vivem a pior das situações: uma falsa e velhaca harmonia, que se traduz por duas realidades convergentes: a FIFA odeia os Jogos; os Jogos odeiam o futebol. É nessa conjugação de interesses particulares e de vontades inconfessáveis que o COI aceita, sem o mais pequeno reparo, que a FIFA não anuncie o calendário do futebol nos Jogos Olímpicos como sendo uma data FIFA e, como tal, obrigatória para a cedência de jogadores, por parte dos seus clubes, às respectivas selecções nacionais.
Em Portugal, como em muitos outros países, em particular europeus, os responsáveis pela selecção olímpica, a começar pelo seu respeitável treinador, vivem a angústia silenciosa de não saberem com quem podem contar. Ou, ditas as coisas de forma mais crua, mas não menos realista, com quem os clubes não querem contar. Será, isso temos de admitir, apesar do respeito que todos os jogadores nos merecem, uma selecção de restos."

Vítor Serpa, in A Bola

Mundo cão

"É sabido que o futebol dos dias de hoje está contaminado pelo imediatismo mercantilista mais agressivo, que torna valores como o amor pela camisola, a lealdade, a gratidão, a dedicação e outros completamente obsoletos. É assim por todo o lado, mas não tem necessariamente de ser sempre assim.
Quando passei pelo dirigismo no Sporting, tive a ideia de organizar, à semelhança do que acontece noutros clubes, um conselho de capitães, onde teriam assento os antigos jogadores que tivessem capitaneado a equipa principal de futebol profissional em mais de cinquenta jogos e que seriam os guardiões da mística verde. Pedi a inestimável ajuda do meu amigo Mário Casquilho para fazer o levantamento e constatámos, desolados, que esse desiderato era inviável, porque a maioria dos elegíveis estava zangada com o clube, alguns por razões bem fúteis.
Vêm estas reflexões amargas a propósito de dois casos, ambos passados no Sporting
 O primeiro é o jovem Seejou King, dinamarquês de ascendência gambiana que fracturou o tornozelo, num jogo da equipa B contra o Gil Vicente, jogo esse que acabou por ser o seu último pelo Sporting, que agora o dispensou. Poderão existir mil razões de natureza técnica e até financeira que aconselhassem a dispensa do King, mas limito-me a perguntar, face ao infortúnio que lhe bateu à porta: tinha de ser assim?
Os media têm feito eco do propósito de o Sporting negociar o Paulo Oliveira para outro clube. Apreciei o esforço que Jorge Jesus fez para dar à defesa do Sporting peso e altura, aposta ganha porque, desde então, o clube passou a sofrer menos golos e os factos falam por si. Por essa razão, o Paulo Oliveira perdeu efectividade. Paulo Oliveira é português e, face à veterania de todos os centrais da nossa Selecção, será com toda a verosimilhança, porventura com o Tobias, o titular indiscutível do lugar. Paulo Oliveira terá perdido efectividade, mas não perdeu valor, nem a dignidade com que sempre representou o Sporting. Pergunto: vamos abrir mão de um jogador como este?
Acho que o Sporting, por ser quem é e como é, deve ponderar se esta lógica predominante deve ou não ser a sua, ou se quer fazer diferente. E nessa ponderação deve-se incluir a questão da cedência dos atletas para a selecção olímpica, não sendo necessário lembrar que o Sporting é o clube português com mais atletas e mais medalhas olímpicas e que o olimpismo sempre fez parte integrante dos valores que defende. 
Como em tudo, não bastam as palavras..."

Benfiquismo (CXXII)

Benfica cabeludo...!!!