Últimas indefectivações

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Vamos lá atafulhá-los com elogios

"NESTA jornada da Taça da Liga nenhum treinador foi tão explícito no seu desdém pela competição como Manuel Machado que, antes da deslocação a Braga, explicou muito bem explicadinho que o seu Vitória de Guimarães ia aproveitar o «jogo-treino» para fazer rodar alguns jogadores raramente utilizados. E foi o que aconteceu.
Coerente com a sua afirmação, Manuel Machado optou por não fazer da arbitragem de Duarte Gomes um caso nacional ou, melhor, um caso minhoto.
Na opinião de Machado, o árbitro fez mal em validar o primeiro golo da sua equipa e o segundo golo do Braga, porque ambos nasceram de situações de fora-de-jogo, mas como Duarte Gomes se enganou para os dois lados o técnico optou por registar com salomónico agrado o equilíbrio das decisões erradas.
Quando ao terceiro golo do Braga, o treinador do Vitória de Guimarães admitiu que Meyong pudesse estar em situação irregular mas logo acrescentou que, para o caso, uma derrota por 2-1 é igual a uma derrota por 3-1 pelo que também aqui não há nada a lastimar.
No que respeita às duas expulsões que reduziram o Vitória de Guimarães a 9 jogadores em campo, Manuel Machado não quis chorá-las. Afirmou que estava muito longe do local das ocorrências e que, por isso mesmo, não se podia fiar no seu julgamento. E mais uma vez não deixou de ter razão.
Da cabeça aos pés, o treinador do Vitória de Guimarães parecia um britânico cheio de fleuma a comentar um jogo que a sua equipa acabara de perder contra o seu rival histórico e geográfico.
No hard feelings, acima de tudo. Embora Machado, na mesma conferência de imprensa, não tivesse resistido a acusar de ir para ali «com a camisola vestida» o jornalista menos bondoso que lhe perguntara se estava satisfeito com o resultado do tal «jogo-treino». É que também há limites para a compostura de um lorde inglês... No entanto, fica a dúvida sobre a «camisola vestida» pelo jornalista. Seria a do Sporting de Braga? Ou outra qualquer?
É normal que Manuel Machado, um homem atento ao que se passa à sua volta, não queria incomodar o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga com remoques que podem vir a ser extremamente penalizadores num futuro próximo. Ainda recentemente, Vítor Pereira afirmou, em entrevista à TSF, que nesta coisa dos erros dos árbitros «só é enganado quem quer», o que constitui afirmação com conta, peso e medida nesta altura do campeonato.
Manuel Machado não quis ser enganado e ponto final, parágrafo. Agora só lhe resta desenganar os adeptos vitorianos, ainda a sofrer dos ouvidos com a crueldade dos olés de Braga, e explicar-lhes muito bem explicadinho que aquilo, lá na Pedreira foi mesmo um jogo-treino e que 2-1 ou 3-1, do ponto de vista científico, é exactamente a mesma coisa.
para Pedrag Jokonovic treinador do Nacional, a Taça da Liga é uma competição muito a sério, vencer por 2-1 não é a mesma coisa do que vencer por 3-1 e a arengada de Vítor Pereira na TSF sobre os erros dos árbitros - ...«só é enganado quem quer»... - acertou-lhe mesmo em cheio e onde dói. Que é na memória, obviamente.
Jokonovic, que vencia o FC Porto por 2-1 a dois minutos do fim do jogo do Dragão, não aguentou o facto de lhe ter sido sonegada a hipótese de vencer por 3-1 e quando viu Olegário Benquerença (sempre em forma!) ignorar olimpicamente o derrube de Sereno a Pecnik em plena área portista reagiu intempestivamente ao erro do árbitro e acabou por ser expulso.
O treinador do Nacional explicou-se clinicamente no fim do jogo: «Os médicos já me disseram que nestes lances devo começar a tomar calmantes. Mas já não é a primeira vez que acontecem este tipo de situações com este árbitro...!»
Ah, pois não é, não senhor.
Mas Jokonovic teria saído bem mais irritado se Olegário Benquerença tivesse apitado para o castigo máximo, se o castigo tivesse sido convertido com êxito e se depois, à semelhança do que já fez o seu colega Elmano Santos, Olegário tivesse mandado repetir o pontapé... Nesse caso é que não haveriam calmantes que chegassem para o bom do Jokonovic.
De qualquer modo, o treinador do Nacional da Madeira esteve em grande plano estratégico e político nesta sua visita ao Porto.
Vejamos:
1 - Lançando Anselmo aos 76 minutos de jogo, teve a esperteza de só construir a vitória no fim do jogo, roubando tempo a recuperações caídas do céu.
2 - E quando tudo fazia prever que André Villas Boas, perante o resultado negativo, se fizesse expulsar, o próprio Jokonovic roubou espaço de manobra à costumeira acção do treinador do FC Porto e fez-se ele próprio expulsar, o que deixou Olegário Benquerença muito, mas mesmo muito baralhado.
3 - E deixou Villas Boas privado do seu reportório que é já um clássico quando as coisas não lhe correm bem.
Quem sabe, sabe. E Jokonovic sabe.
agora, por falar em Olegário Benquerença... e em Vítor Pereira...
Vítor Pereira depois de, a 21 de Setembro, ter vindo reconhecer publicamente as razões de queixa do Benfica no respeitante à arbitragem de Olegário Benquerença no Vitória de Guimarães-Benfica e a outros benefícios concedidos a rivais, reapareceu o mesmo Vítor Pereira a 3 de Janeiro para mandar Jorge Jesus calar-se imediatamente com os lamentos sobre a distância forjada em relação ao líder da prova.
«Há evidências que demonstram que este tipo de comentários é desfavorável para quem os produz», disse Vítor Pereira. Como já tivemos oportunidade de verificar, o recado do presidente dos árbitros foi diligentemente aceite pelo treinador do Vitória de Guimarães que tudo soube perdoar ao árbitro Duarte Gomes no jogo de Braga e não foi minimamente aceite pelo treinador do Nacional da Madeira que já não pode ver mais Olegário Benquerença em acção.
Enfim, são maneiras diferentes de estar no futebol. E no fim de tudo se verá quem foi mais esperto.
O Benfica deve, por portas travessas, estar agradecido a Vítor Pereira. A franqueza do presidente dos árbitros aos microfones da TSF explica maravilhosamente o que se está a passar em termos de apitos esta época. É proibido marcar grandes penalidades a favor do Benfica porque «este tipo de comentários» - desfavoráveis à suposta isenção da classe - «é desfavorável a quem os produz».
Ainda no domingo se constatou o facto precisamente naquele momento em que João Ferreira conseguiu não ver o aparatoso derrube de Djalma a Salvio na área do Marítimo.
POR absurdo, se Vítor Pereira decidisse compensar Duarte Gomes pela sua extraordinária arbitragem no Braga-Guimarães nomeando-o para o Leiria-Benfica seria da maior conveniência que os benfiquistas se abstivessem de comentários negativos não fosse Duarte Gomes, segundo a doutrina de Vítor Pereira, mostrar-se «desfavorável» a quem os produziu.
Entenderam o recado do presidente dos árbitros, não entenderam? Há que elogiá-los. Vamos lá, então a isso:
DUARTE GOMES É O MELHOR ÁRBITRO DO MUNDO!
Agora, pacientemente, vamos lá ver o que acontece em Leiria no sábado.
E na próxima quinta-feira conversaremos sobre o assunto."
Leonor Pinhão, in A Bola

Perspectiva de género

"No Brasil, a Presidente virou Presidenta, mandando às malvas a ortodoxia gramatical da chamada forma comum de dois géneros dos particípios terminados em ente.
Deixando aos filólogos esta querela linguística ou outras do mesmo teor, pus-me a imaginar - daqui a uns anos - uma crónica de A Bola sobre um jogo de futebol feminino, com o título PRESIDENTA DA LIGA NA FINAL ENTRE AS ESTUDANTAS E AS COMBATENTAS, rezando assim: «As duas concorrentes ao título entraram como tementas e dependentas uma da outra. Por isso, jogaram sem verdadeiras atacantas. As estudantas - quais estrelas cadentas - não acalmaram a contestação às dirigentas e, em particular, à gerenta do futebol. Já as combatentas constituídas por soldadas, sargentas e tenentas, jogaram sem uma comandanta no relvado. Algumas, portaram-se como valentas e omnipotentas, mas outras mais pareciam umas doentas tal a lentidão com que corriam. Nem as suplentas mudaram o rumo. Para agravar a situação as equipas jogaram sem uma extrema-direita e uma extrema-esquerda. Tudo ao centro, mais parecia uma peladinha parlamentar. Advinha-se o mal-estar que vai recair sobre as agentas que haviam transferido algumas delas. As amantas do futebol que assistiram ao prélio ficaram desiludidas. O ambiente no fim mais parecia o de uma capela-ardenta».
Se esta obsessão de género se espalha virulentamente e nos dois sentidos, quem sabe se um jornalisto nos anunciará que um atleto isrealito foi contratado para alo direito ou defeso esquerdo.
Há dias, li neste jornal, a propósito da (feminina) União de Leiria «Caixinha quer Ukra». Será já a antecipação da nova perspectiva de género?"

Bagão Félix, in A Bola