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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Com maiúsculas e ponto de exclamação!

"O Benfica cumpriu há duas semanas o centésimo jogo fora de casa para a Taça dos Clubes Campeões Europeus (agora Liga dos Campeões). O primeiro foi em 1957, em Sevilha. Derrota, por 1-3. Golo de Francisco Palmeiro, o homem dos golos especiais.

«Lembro-me bem desse golo. Recebi a bola do Coluna, passei por um defesa e rematei a curta distância, pelo ar. Na altura foi o golo do empate, eles tinham marcado logo depois do intervalo. Esse momento ficou para a história. Foi o primeiro golo do Benfica nas provas europeias e depois, na segunda participação, em 1960, partimos para um jornada de glória. Mas dessa vez acabámos por perder por 1-3. Eles tinham um central, o Campanal, que também jogava na selecção espanhola e que varria a defesa toda. Foi a nossa primeira experiência na Taça dos Campeões mas já tínhamos disputado duas Taças Latinas. Ainda pertenci ao grupo de 1961, que venceu a primeira Taça dos Campeões, mas depois tive um problema com o Béla Guttmann e pedi para sair. Já não estive na segunda vitória».
Francisco Palmeiro, «Sport Europa e Benfica», PrimeBooks

O Benfica cumpriu em Atenas o seu centésimo jogo fora de casa para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, hoje mais prosaicamente conhecida por Liga dos Campeões. Número bonito, brilhante até. E, por via dele, é da mais elementar justiça recordar o primeiro desses 100 jogos e o marcador do primeiro golo, Francisco Palmeiro. Palmeiro que não só marcou o golo como também foi o «capitão» de equipa.
Foi no dia 19 de Setembro de 1957. O Benfica deslocou-se a Sevilha para defrontar o Sevilha FC, o mais antigo clubes espanhol, fundado em 1905, não campeão de Espanha, pois o campeão tinha sido o Real Madrid, mas como os madrilenos também tinham conquistado a anterior edição (a segunda) da Taça dos Clubes Campeões Europeus, com lugar na terceira edição da prova, a de 1957/58.
Ao contrário do que viria a suceder nos anos seguintes, a passagem do Benfica por essa Taça dos Campeões foi fugaz, como um cometa em noite estrelada de Verão. Incapaz de contrariar a supremacia dos espanhóis, uma derrota em Sevilha, por 1-3 e um empate caseiro a zero deixaram os 'encarnados' entregues à tarefa interna de vencer o Campeonato Nacional.
O Sevilha acabaria por ter um final triste. Nessa edição da prova, claro está, de resto recomenda-se e ainda há bem pouco esteve entre nós para defrontar o Estoril para a Liga Europa. Na eliminatória seguinte ultrapassou o Aarhus da Dinamarca, com 4-0 em casa e 0-2 fora, para em seguida ser tonitruantemente espancado pelo Real Madrid (0-8 e 2-2).
Mas isso são contas lá deles, como está bem de ver, fica o registo desse primeiro dos 100 jogos do Benfica fora de casa para a Taça dos Campeões e do golo de Palmeiro que na altura fez o 1-1, aos 51 minutos, respondendo ao golo inaugural de Pauet (48). Antoniet (59) e Pepillo (78) fariam o resultado final. Dias mais brilhantes haveriam de chegar.

Escreve-se assim mesmo: com maiúsculas e ponto de exclamação!
É agora a vez de Palmeiro. Francisco Luís Palmeiro Rodrigues, nascido em Arronches, no distrito de Portalegre, no Alto Alentejo, no dia 16 de Outubro de 1932, data que ainda recentemente comemorou na companhia de Mário Wilson e do seu colega guarda-redes, Bastos, que também esteve em Sevilha pois então.
Palmeiro começou a carreira no Atlético da sua terra, e passou pelo O Elvas e pelo Portalegrense antes de chegar ao Benfica na época de 1953/54. Tanto jogava a extremo direito como a extremo esquerdo ou a interior e tinha um fato raro pela baliza em momentos marcantes. A sua vida de 'encarnado' vestido foi de golos - 37 (dos quais 32 no Campeonato). E golos importantes, históricos até. Sim, não se ficou só por assinar o primeiro golo europeu do Benfica nessa tarde na Andaluzia, foi dele também o primeiro golo do Benfica marcado no Estádio da Luz, no dia 1 de Dezembro de 1954, num jogo de inauguração perdido para o FC Porto (1-3).
Calma, que há mais: na primeira vez que foi «internacional» marcou os três golos com que a Selecção Nacional venceu a Espanha no Jamor. Estávamos no dia 3 de Junho de 1956.
Campeão nacional por quatro vezes, vencedor da Taça de Portugal por mais três, em oito épocas pelo Benfica, das quais nas três últimas foi perdendo espaço, sobretudo após a chegada de José Augusto, chegou a formar uma temível linha avançada com Coluna, José Águas, Salvador e Cavém.
A sua rapidez sobre a bola e um sentido táctico invulgar para uma altura em que o Futebol português estava a dar os primeiros passos no profissionalismo deram-lhe um lugar de destaque perante treinadores como Valdiviesso, Otto Glória e Béla Guttmann. Depois de sair do Benfica ainda viria ser figura de outro Atlético, não o da sua Arronches natal mas o da Tapadinha.
O Benfica cumpriu há duas semanas o seu centésimo jogo fora de casa para a Taça dos Campeões Europeus. Convém que no futuro, nunca se esqueça: o primeiro golo foi de Palmeiro. FRANCISCO PALMEIRO, assim mesmo, com maiúsculas e ponto de exclamação!"

Afonso de Melo, in O Benfica