"A Juventus está distante cinco pontos do Nápoles, tantos como os que separam o Benfica do FCP e também não está moribunda.
Introdução (triste)
Não é fácil escrever depois de mais uma tragédia que se abateu sobre parte de Portugal e que vitimou pessoas indefesas. Nesta alturas, percebemos melhor quão efémero são estas coisas da bola, perante a morte e a destruição. Agora o luto, depois os relatórios, logo a seguir a distribuição de culpas, por fim o corrosivo esquecimento. Nestas alturas lembro-me do que escreveu o pensador Emmanuel Levinas: «Somos todos responsáveis por tudo e por todos perante todos, eu mais do que os outros. Não devido a esta ou àquela responsabilidade, mas porque sou responsável de uma responsabilidade total». Bom seria que responsáveis políticos e institucionais reflectissem sobre estas palavras...
O campeonato ainda vai no balneário
Volta o campeonato no próximo fim-de-semana. Depois de três semanas de interregno. empo para reganhar forças, alimentar esperanças e consolidar objectivos. É a magia da incerteza que tudo alimenta e revigora. O Benfica, em particular, foi sujeito a uma proclamada terapia de confiança e vai ter, nestes próximos dias, desafios importantes para se saber que condições tem para recuperar o atraso e sagrar-se pentacampeão.
A propósito de campeões, uma breve passagem pelos principais campeonatos europeus evidencia-nos quanto está a ser ingrato esta fase vestibular da competição para os campeões incumbentes. Vejamos, através da tabela seguinte, do pior para o melhor:
Jornadas Realizadas-13; Clube em 1.ª lugar-Cluj; Clube Campeão-Vitorul; Série-campeão; Actualmente-8.º; Distância-15 pontos
JR-10; C-Brugge; CC-Anderlecht; S-campeão; Act.-5.º; D-9 pontos
JR-12; C-Zenit; CC-Spartak; S-campeão; Act.-5.º: D-9 pontos
JR-8; C-Manchester City; CC-Chelsea; S-campeão; Act.-7.º; D-9 pontos
JR-9; C-PSG; CC-Mónaco; S-campeão; Act.-2.º; D-6 pontos
JR-11; C-Young Boys; CC-Basileia; S-octocampeão; Act.-4.º; D-5 pontos
JR-8; C-FC Porto; CC-Benfica; S-tetracampeão; Act.-3.º; D-5 pontos
JR-7; C-Galatasaray; CC-Besiktas; S-campeão; Act.-2.º; D-5 pontos
JR-8; C-Nápoles; CC-Juventus; S-hexacampeão; Act.-3.º; D-5 pontos
JR-7; C-PAOK; CC-Olympiakos; S-heptacampeão; Act.-6.º; D-4 pontos
JR-8: C-PSV; CC-Feynoord; S-campeão; Act.-2.ª; D-3 pontos
JR-8; C-Borussia Dortmund; CC-Bayern; S-pentacampeão; Act.-2.º; D-2 pontos
JR-11; C-Shakthar; CC-Shakthar; S-campeão; Act.-1.º; D-0 pontos
Com excepção do campeão ucraniano treinado pelo português Paulo Fonseca, todos os outros treze campeões da passada época não estão, nesta altura, no primeiro lugar da classificação- Em condições normais, alguns mesmo estarão já até afastados do título. É o caso dos vencedores romeno, belga e russo! O crónico campeão helénico está agora na 6.ª posição. Já o Real Madrid que chegou a estar a sete pontos, reduziu na última jornada para cinco a distância para o Barcelona. O Chelsea dificilmente será campeão, agora a nove pontos do líder (ainda que na Inglaterra tudo seja possível...). Isto sem que daí se diga que merengues e ingleses estejam em crise. A própria Juventus está distante cinco pontos do Nápoles, tantos como os que separam o Benfica do FCP e também não está moribunda. A única situação racionalmente expectável é a do Mónaco, perante o todo-poderoso PSG.
Não que este comparativo me console muito perante o atraso (absolutamente recuperável) do meu clube. Mas evidencia uma lógica arduamente competitiva que se espalha pelos principais campeonatos. O que os torna mais aliciantes e menos sujeitos a regras consuetudinárias. Aliás, basta para isso, e em termos matematicamente probabilísticos, constatar a maior dificuldade em voltar a ser campeão quanto mais vezes um clube e for consecutivamente.
Senão vejamos em Portugal, considerando (simplificadamente) que um dos três chamados grandes é campeão. Num primeiro ano a probabilidade - matematicamente teórica - de vencer a prova é de 1/3. No segundo ano, será de 1/3x1/3=1/9. Para um tricampeonato, essa ocorrência é de 1/3x1/3x1/3=1/27. O tetracampeonato depara com uma probabilidade de 1/3x1/3x1/3x1/3=1/81. Assim, em 2016/2017, o Benfica dinamitou a probabilidade estatística. Para se alcançar um penta, teremos, teoricamente, 1/3x1/3x1/3x1/3x1/3=1/243. É claro que estas são as probabilidades ab initio e não no ano de cada uma das vitórias seguidas. Ou, por outras palavras, a probabilidade de o tetracampeão Benfica ser este ano pentacampeão é de 1/3.
Probabilidades à parte, o campeonato ainda só atingiu 23% do seu percurso. E, como gostam de dizer os puristas da bola, o Benfica só depende de si, pois que ainda não jogou com nenhum dos rivais e as distâncias são de cinco e três pontos. Só depende de si - repito - o que, porém, já não é nada pouco. Ou seja, apesar de algumas dificuldades notórias para ser igual à equipa de 16/17, a chave da solução está dentro e não fora. Por isso, acredito.
Os equipamentos
A semana passada referi-me, de passagem, à camisola do Lusitano de Évora que, como verifiquei no jogo da Taça, continua a ser a que era há 50 ou 60 anos. Uma espécie de Vitória de Setúbal com listas verticais de mais magro orçamento. Entretanto, entretive-me a pensar em velhinhos equipamentos de equipas que, no meu tempo de menino e moço, jogavam na primeira divisão. Lembrei-me logo da CUF do Barreiro, tal e qual o arsenalista Braga, mas de verde equipado. E do Caldas e Sanjoanense que faziam da cor das cores - o branco - e da não cor das cores - o preto - belíssimos e austeros equipamentos.
Hoje, impõem o marketing, as vendas comerciais e a televisão a cores que os equipamentos, sobretudo os alternativos, mudem todas as épocas, com direito a acontecimento. Sinceramente, não é coisa que me entusiasme. Porto-laranja ou Porto-chocolate? Sporting-amarelo fluorescente tipo polícia de estrada? Benfica-rosa ou Benfica-cinzento pardo? Por mim, dispensaria. Mas compreendo que impulsione vendas e entusiasme coleccionadores.
Há anos escrevi na minha anterior coluna em A Bola que o Benfica tem nas suas três cores fundacionais (vermelho, branco e preto) muitas alternativas, pelo que não compreendo as cores mais ou menos indefinidas e até tristes e pouco arrebatadoras, senão mesmo indefinidas. Mesmo sem daltonismo, imagino a discussão sobre o actual equipamento alternativo: cinzento-escuro, cinza-ardósia, cor de rato, etc. E há outro aspecto que, confesso, tenho dificuldade em compreender: o emblema do clube na camisola, em cor branca e cinza! Mas agora será que o emblema original se pode mudar em função de merchandising ou de uma moda transitória? De todo, não concordo.
Até a Selecção muda constantemente e, não raro, para pior. Já não chega termos uma bandeira que não favorece os equipamentos, e ainda por cima não há preocupação de unidade na representação do país: no futebol é vermelho a cheirar a salmonete, no atletismo é verde, no hóquei às vezes é azul e branco tal qual a bandeira da monarquia, etc. No futebol, temos, aliás, a originalidade de o equipamento vermelho ou verde não respeitar até as cores da bandeira. Do vermelho já falei, do verde desmaiado não podia ser mais feio. Pode ser que melhore agora que o campeão europeu vai, nessa qualidade, ao Mundial da Rússia.
Contraluz
- Número: 18 anos, 1 mês e uns dias
A idade de Svilar, novel guarda-redes do Benfica. Hoje, arrisca-se a ser o guarda-redes mais jovem desde sempre na Champions, destronando o seu ídolo Iker Casillas. Será que vai tirar o lugar ao Júlio César que podia ser pai dele?
- Protesto: O Illiabum.
Clube da minha cidade natal - Ílhavo - está a fazer um início de Liga, em basquetebol, absolutamente notável. Três vitórias em três jogos, duas das quais como visitante contra o FC Porto e CAB Madeira. Acontece que, no passado domingo, em A Bola, se escreveu em referência ao Illiabum «a equipa do concelho de Aveiro...». Já nos chega o farol de Ílhavo (Barra), que muitos chamam abusivamente farol de Aveiro!
- Expressão: «Dormir com bola»
Ora aqui está um jargão do futebolês, ainda que com aproximação anatomicamente fálica. Se bem interpreto esta neófita expressão, o melhor sítio para 'dormir com bola' é na linha de cabeceira, se possível chegado ao canto. Não sei, também, se o excesso de «dormir com bola» não estará relacionado com a cafeína para tal se impedir. Confesso que dormir com bola é coisa que, não raro, me acontece em jogos de indisfarçável desinteresse. Só acordo com aquela sinalética do árbitro a desenhar com os dedos um ecrã televisivo."
Bagão Félix, in A Bola