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quarta-feira, 5 de novembro de 2025
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Dia 8 vamos provar que só o Benfica bate o Benfica. pic.twitter.com/igp7tPvMOW
— SL Benfica (@SLBenfica) November 3, 2025
Esquerda, direita, Norte e Sul
"Numa semana que começou com o apuramento para as meias-finais da Taça da Liga e que prossegue com um jogo importante para a Champions, no campeonato a anunciada saída difícil a Guimarães foi ultrapassada com distinção que apenas chegou, mas sobrou, numa segunda parte que, para além dos 15 minutos "top" que Mourinho sublinhou, foi toda ela de superioridade, não só numérica, e que podia ter terminado com uma goleada histórica que só o jovem e enervado treinador do Vitória parece não ter visto.
Depois de uma primeira parte "amarrada" e onde a tendência para a esquerda acabou por tornar o jogo previsível e "ajudar" um adversário competente a defender; na segunda, o vendaval ofensivo que veio da direita resolveu o jogo em 15 minutos, contra onze, recorde-se, e só a boa exibição do guarda-redes contrário e alguma falta de sorte evitou uma goleada que era merecida. Com um endiabrado Lukebakio, que merece ser estimado, a decidir na direita com o esquerdo, Barreiro a pressionar sempre em alta rotação e Tomás Araújo a mostrar mais uma vez que é um central com "pés de dez," o Benfica acabou o jogo a atacar pelos dois flancos e Dahl a voltar aos grandes jogos, coroando a sua exibição com um primeiro grande golo pelo Benfica.
Manter a senda vitoriosa na quarta-feira é importante quando recebermos um Bayer que não tem deslumbrado na Bundesliga e que parece ser o adversário menos mau para fazer os primeiros pontos da Champions. Para tanto, como bem diz Mourinho, é preciso que o Inferno da Luz apoie a equipa como tão bem fizeram aqueles bravos em Guimarães no sempre "mui nobre" apoio dos benfiquistas do Norte. É assim, pela esquerda e pela direita, a Norte e a Sul que, juntos, seremos sempre mais fortes..."
Quanto é que apostas?
"A história que vos vou contar, e que se passou com uma amiga, não é propriamente original. A verdade é que, infelizmente, começa a ser algo assustadoramente comum. Ora então, a Marta, chamemos-lhe assim, criou uma conta poupança com o namorado com o objectivo de amealhar o valor suficiente para dar entrada numa casa. Ora, quando juntaram cerca de cinquenta mil euros começaram a fazer visitas, mas nenhuma das casas que viram lhes agradou particularmente. Como não tinham pressa foram esperando, até que um dia uma agente imobiliária os contactou e lhes disse que achava que, finalmente, tinha a casa certa para eles.
E acertou. A Marta adorou a casa e o preço estava dentro do intervalo que tinham definido. Estranhamente, o Jorge, outro nome fictício, não só não pareceu minimamente entusiasmado como começou a arranjar defeitos e a colocar entraves a tudo e mais um par de botas.
Foi aqui que começaram as discussões: se a casa era tudo o que sempre tinham desejado, porque diabos estava o Jorge agora a complicar? A Marta, na tentativa de o convencer, acabou por decidir ir ao banco pedir uma simulação. E foi lá que descobriu o motivo da renitência do namorado: a conta poupança tinha menos de vinte mil euros. Trinta mil euros tinham desaparecido e ela não fazia ideia para onde ou para quê. A única coisa que conseguia ver é que tinham sido mobilizados aos poucos, durante o último ano, para a conta à ordem do Jorge. Quando chegou a casa, já a chorar baba e ranho, e o confrontou, teve a surpresa de uma vida: ele tinha perdido o dinheiro em apostas desportivas. «Calma que eu vou recuperar tudo», dizia-lhe. Ela não aguentou. E até ao dia de hoje ele não recuperou nem o dinheiro nem a namorada.
Em Portugal, apesar do fenómeno das apostas desportivas não estar suficientemente estudado, temos dados suficientes para saber que existem muitos Jorges por aí. Sabemos que perto de 40 % da população fez pelo menos uma aposta desportiva nos últimos doze meses (a esmagadora maioria em futebol), que 79.6 % dos apostadores o faz via online e que a maioria dos apostadores são homens na faixa etária compreendida entre os 23 e os 34 anos.
Também sabemos, através de um estudo intitulado blind game, que 7.3 % destes apostadores gastam mais de cem euros mensais com esta prática. Falta apenas acrescentar, para que o retrato fique mais ou menos completo, que a maioria dos jogadores o faz com o objectivo de ganhar dinheiro ainda que saibamos, porque o fenómeno está mais do que estudado, que apenas 3 a 5 % dos apostadores desportivos conseguem ser lucrativos de forma consistente.
Acredito que todos estejamos cientes de que este mercado das apostas desportivas é cheio de riscos. E o primeiro deles está relacionado com a saúde mental dos apostadores. Com o digital a facilitar o acesso e com a motivação para ganhar dinheiro rápido como combustível, a dependência é uma realidade em demasiados casos. Segundo um artigo publicado este ano no Jornal de Notícias, 326.000 portugueses utilizaram o mecanismo de autoexclusão do jogo online. Não sabemos quantos destes casos estarão relacionados com apostas desportivas — o que é quase ridículo se atendermos ao crescimento explosivo deste mercado —, mas sabemos que os números serão elevados.
E todos os dias vemos nas redes sociais influencers que deviam ter mais responsabilidade e juízo a promover estas apostas e, alguns deles, inclusivamente, a prometerem enriquecimento rápido aos jovens que, para piorar, os vêem fazer vidas altamente luxuosas supostamente graças a estas mesmas apostas — sem perceberem que são eles mesmo que os enriquecem com as suas visualizações e com a sua participação nas formações e esquemas que promovem.
É fácil perceber porque é que o Estado não tem mão mais pesada nestas apostas: só em 2024, o jogo online gerou mais de 500 milhões de euros em receita bruta com uma parte significativa da mesma a reverter para os cofres públicos. Mas acreditem que se continuarmos neste registo, muitos milhões terão de ser gastos a recuperar a saúde mental dos apostadores que acabam viciados criando um verdadeiro problema de saúde pública.
Reparem, eu compreendo que a proibição não poderá ser o caminho – rapidamente o mercado ilegal ou não regulado das apostas desportivas engoliria os apostadores que agora o fazem dentro da legalidade, mas, ainda assim, não podemos fingir que o Estado Português não investe muito pouco na prevenção destes comportamentos, na literacia financeira ou no tratamento da dependência quando esta se instala. A saúde mental em Portugal é um parente pobre do sistema e as dependências, estas em especial, são a prima afastada desse parente.
De qualquer forma, dando agora um pequeno salto, a saúde mental dos apostadores não é a única afectada por este mercado. O próprio desporto é uma vítima deste predador pois, actualmente, a sua integridade está permanentemente ameaçada.
Manipulação de resultados ou de eventos no jogo, pressão sobre árbitros e jogadores - e, em Portugal, com a precariedade que sofrem atletas de clubes mais pequenos, sabemos quão tentador pode ser o dinheiro fácil que se ganha, por exemplo, apenas por ver um cartão… Tudo isto pode ter um brutal impacto sobre a credibilidade do desporto e minar a confiança dos adeptos. E não, não estamos sequer no campo do hipotético. Quem é que não se lembra da Operação Jogo Duplo, em 2016 e 2017, envolvendo jogadores do Oliveirense e do Oriental, dirigentes e empresários onde, a título de exemplo, a rede que geria as apostas ofereceu €6000 a um jogador para provocar uma grande penalidade?
Sei que combater uma máquina como a das apostas desportivas não é fácil, mas, por tudo o que escrevi, é absolutamente necessário. E fazê-lo passa, por exemplo, por banir patrocínios de sites de apostas em camisolas e recintos desportivos, restringir o conteúdo promovido por influenciadores e educar para os riscos de dependência. Além disso, é importante promover o conhecimento sobre probabilidades reais e mitos do jogo, tornar obrigatória a verificação da idade e identidade com documentos antes de permitir apostar e impor limites automáticos de apostas diárias/semanais e de espera (cool-off periods) após perdas sucessivas ou sessões prolongadas.
Não podemos continuar a fingir que as apostas online em Portugal não têm potencial para se tornar um problema de saúde pública. Agir é muito mais do que urgente.
No Pódio
Esta semana, por razões óbvias, o pódio não podia ficar para outros que não João Gião e a equipa B do Sporting. A equipa segue líder do campeonato, com 18 golos marcados e cinco sofridos, e mostra-se, como canta Rui Veloso, «à prova de bala, à prova de tudo». Depois de ver cinco dos seus jogadores serem chamados à equipa A e responderem com a qualidade a que todos assistimos na Taça da Liga, João Gião só pode ser um treinador satisfeito. Tão satisfeito como estamos nós, sportinguistas, por percebermos o trabalho de qualidade que está a ser feito na nossa academia, semana após semana.
Na bancada
Há um poema do nigeriano Chinua Achebe que nos lembra que há sempre um abutre pendurado num ramo a aguardar um resto de sucesso que possa usar como refeição. E é exatamente esses abutres que me lembram as notícias dos últimos dias e que vêm insistindo na ideia da uma possível saída de Rui Borges para o Wolverhampton e de João Gião para o Casa Pia. «Ai o Sporting está a jogar bem, com as duas equipas em ótimo momento? Então vamos lá arranjar uma forma de desestabilizar!» — é mais ou menos esta a lógica, não é? Já vos disse que só me lembram abutres?"
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