"O que o ditador e o 'Anjo da Morte' de Auschwitz têm a ver com a sua vida; Depois de ter sido herói, foi vilão...
1. O lugar onde nasceu tem nome incomum - o do advogado que lançou por lá a Reforma Agrária: Cidade Doctor Juan Eulogio Estigarribia. Antes fora Maracanã (e parecendo nada ter a ver com futebol - assim se chamava inspirada numa espécie de papagaios que lhe dominavam a selva...)
2. Nome incomum tem também o lugarejo onde cresceu, na propriedade onde os avós produziam tabaco e fabricavam carvão. Fora Colonia Jhovy - deixou de o ser por homenagem a guerrilheiro morto pelas tropas de Stroessener, ditador que dera asilo político a vários nazis e até ao brutal Dr. Josef Mengele, o Anjo da Morte de Auschwitz (e é, agora Vila Raúl Arsenio Oviedo).
3. Jogou pelo 24 de Junio, passou pelo Francisco Ocampo de Tacuary. De lá foi para o Atlético 3 de Febrero, clube que fizera de Gamarra estrela - e era de Cidade del Este, na fronteira com a Foz de Iguazú (e deixou de ser Puerto Presidente Stroessener - quando o ditador se exilou no Brasil, em 1989).
4. Em 2005 saltou do Atlético 3 de Febrero para Club Nacional. Os golos que desatou a marcar valeram-lhe o Prémio ABC Color para o Melhor Futebolista Nacional 2006. O Newell's Old Boys foi buscá-lo a Assunção por 1,2 milhões de dólares - e ele salvou-o de descer à segunda divisão.
5. Jogou pela selecção a Copa América - antes acordara-se-lhe transferência do Newell's Old Boys para o Benfica que por 80% do seu passe pagou 9156 milhões de euros, ganhando assim corrida ao Valência e ao Werder Bremen. (Mais caro, antes, só fora Simão, custara 13 milhões de euros)
6. Ao chegar à Luz antecipou o seu destino em frase a roçar o pretensioso: «Sirvam-me bem, que na área eu resolvo». Com Fernando Santos a treinador, estreou-se com o Copenhaga, na pré-eliminatória da Champions - e só ao quinto jogo oficial, a 2 de Setembro de 2007, fez o primeiro golo pelo Benfica, na vitória por 3-0 no Funchal, contra o Nacional fez dois. (A primeira Bola de Prata que ganhou, ganhou-a em 2009-2010 - a outra ganhou-a em 2010-2011).
7. Esteve no Mundial 2010, saiu herói dos oitavos de final, no desempate por penalties com o Japão - e vilão saiu dos quartos de final ao falhar penalty contra a Espanha (o penalty que poderia ter evitado que tudo acabasse com o troféu de campeão nas mãos de Casillas). Por causa disso, ao chegar para férias à Cidade Doctor Juan Eulogio Estigarribia levantou-se rumor de que podia ser vítima de vingança, atentado ou sequestro - e a polícia montou-lhe vigilância 24 horas por dia.
8. Em 2009/2010 conseguiu o primeiro título de campeão no Benfica. Na Liga europa fez 10 golos, ficou-se pelos quartos de final, eliminado pelo Liverpool (e ao Liverpool ele fez três golos - na vitória por 2-1, na derrota por 1-4). Meses depois, andando assobiado na Luz, festejou golo ao Happoel Tel-Aviv com gesto que incendiou as bancadas: a mandar calar os adeptos (e acabou a pedir-lhes desculpas, depois).
9. A segunda final de Liga Europa que perdeu foi a de 2012/2013, perdeu-a para o Chelsea (um golo marcou). Já tinha vivido também a angústia do momento Kelvin e o V. Guimarães de Rui Vitória ganhou a Taça ao Benfica de Jorge Jesus - com ele de dedo em riste em escaramuça: a acusar, furioso, o treinador de culpado da derrota (empurrando-o, até). Foi proibido de entrar na Luz, multado em 65 mil euros, esteve para ser vendido - com as bancadas a suplicar por ele, pedido de desculpas abriu-lhe a equipa de novo, arrastou-a ao título de campeão, campeão 2013/2014, o seu segundo.
10. Tacuara lhe chamavam desde os primeiros tempos de futebol por ter o físico a dar para o escanzelado e tacuaras serem, no Paraguai, as varas de bambu - e o mais famoso hat-trick da sua história fê-lo em 33 minutos a Rui Patrício. O Trabzonspor deu 5 milhões por ele - partiu com 172 golos, melhor marcador estrangeiro da história do Benfica. Do Trabzonspor saltou para o Olympiakos, campeão grego o deixou arrastado por nova aventura - no Libertad. Não há muito, revelou-o: «É incrível o que consegui, muito mais do que sonhei. Só queria jogar numa primeira divisão me vissem como um rei...»."
António Simões, in A Bola