"Se os piores árbitros internacionais portugueses continuarem a ter a concorrência dos melhores árbitros distritais portugueses, isto um dia ainda acaba numa revolução
A Liga espanhola é a melhor do mundo e a Liga portuguesa é a sexta da tabela, segundo informou o país o próprio presidente da Liga, Fernando Gomes, pedindo contenção verbal aos árbitros e arbitrados.
Parece assim que a Liga portuguesa se está a aproximar da Liga espanhola no seu esplendor. Mas factos recentes vieram colocar dramaticamente a questão de outra maneira. Afinal, é a Liga espanhola que se está a aproximar da Liga portuguesa no seu pior folclore.
E isto deve dar uma grande preocupação aos espanhóis, nossos vizinhos, que se orgulham de outros atributos nas suas competições oficiais.
É verdade que ainda há cinco degraus entre as suas Ligas, se quisermos utilizar a imagem da escadaria a descer.
E se em Portugal, vá lá saber-se porquê, «os campeonatos decidem-se nas primeiras jornadas», como ainda esta semana se lamentou Domingos Paciência, já em Espanha este tipo de fatalismo, predeterminação ou destino imutável é olhado como um vício típico dos fadistas que habitam do outro lado da fronteira.
Em Espanha não há adepto do Real Madrid que esteja convencido de que esta temporada vai ser um desaire só porque o Real perdeu a Supertaça para o Barcelona a meio de Agosto. Mas em Portugal, ao contrário, é o próprio treinador do Sporting que não se dispensa de agourar em público só porque empatou os três primeiros jogos oficiais.
Na época passada, por exemplo, não foram poucos os benfiquistas que deram a época encerrada logo no jogo de abertura quando perdemos a Supertaça para o FC Porto no princípio de Agosto. E foi o que fizeram melhor...
Este histerismo português com as primeiras semanas da competição afecta todos os envolvidos: treinadores, jogadores, árbitros e adeptos. Em Espanha não era nada assim até há pouco tempo.
As temporadas demoravam os dez meses da praxe, o interesse pelas grandes decisões mantinha-se vivo desde o meio do Verão até ao finzinho da Primavera seguinte e foi assim que o futebol espanhol cresceu ao ponto de se tornar campeão do mundo...
Compreende-se, portanto, o horror de Vicente del Bosque, seleccionador espanhol, ao ver o edifício que ajudou a construir ser desmantelado à paulada por um português - claro, tinha de ser um português! - que, por ter perdido a Supertaça para o Barcelona, baixou-lhe o folclore tuga no seu pior e desatou a tratar toda a gente como se a época já tivesse terminado para o seu Real Madrid.
Ora este não é o José Mourinho que todos conhecemos. Mourinho era diferente, era especial porque não era fadista como os demais e não acreditava em fatalismos, apenas acreditava no seu trabalho. Ou não será assim?
É verdade que todos nós só conhecemos o José Mourinho a ganhar, elegante e vitorioso ao longo de dez curtos anos de uma sensacional carreira. Nunca vimos Mourinho a perder... Estamos a vê-lo agora na maré-baixa e tendo como adversário directo e interno o grande Barcelona de Messi e dos outros todos.
Deve ser tramado para qualquer treinador ter de ganhar ao Barcelona dentro e fora de portas e é este, precisamente, o trabalho de Mourinho que anda não só muito agitado mas também agitando muito.
O espectáculo não tem sido nada bonito de se ver. Ainda que pareça francamente exagerado o comentário de Gerard Piqué - «Mourinho está a destruir o futebol espanhol» -, não há como não dar razão a Vicente del Bosque e às suas preocupações sobre a sanidade mental do futebol espanhol depois deste arranque de temporada tão... português.
UM árbitro das divisões distritais apitou o Beira Mar-Sporting e não fez má figura, antes pelo contrário. Errou na proporção legítima admissível, sem qualquer tipo de influência directa no resultado.
O senhor Idalécio Martins, fiel de armazém nascido em Oliveira do Bairro prestou um grande contributo ao futebol português ao destruir um dogma por implosão.
O senhor Idalécio Martins pode regressar de consciência tranquila ao seu doce anonimato porque não vai ficar célebre pelas mesmas razões que marcaram as actuações recentes de Olegário Benquerença, Rui Silva e Carlos Xistra.
Ora isto dá que pensar. Se um árbitro das divisões distritais em final de carreira actua melhor do que alguns dos nossos árbitros internacionais, quais são os critérios de avaliação que promovem e despromovem os homens do apito?
Idalécio Martins saiu de Aveiro de boca fechada porque, segundo a Imprensa, foi aconselhado por responsáveis da Liga a ficar calado. E que jeito daria aplicar neste caso essa conquista da liberdade de expressão que é estranhamente negada aos árbitros.
Se os piores árbitros internacionais portugueses continuarem a ter a concorrência dos melhores árbitros distritais portugueses, isto um dia ainda acaba numa revolução.
Foi uma pena, uma grande pena, no ano passado os árbitros não terem feito exactamente a mesma coisa quando o Benfica, logo à quarta jornada, protestou com estrondo contra uma arbitragem danosa do inevitável Olegário Benquerença.
Quem nos dera um Idalécio, cindo Idalécios, vinte Idalécios durante a época inteira.
AMANHÃ joga-se no Mónaco a final da Supertaça da UEFA e o FC Porto parte na condição de favorito porque o FC Porto, mesmo desfalcado de Falcao - portanto desfalcoado - não terá grandes problemas em vencer um Barcelona desfalcado de Nolito.
Na sexta-feira veremos quem mais falta a quem.
A UEFA, sempre atenta, já nomeou o árbitro para o Mónaco. É o holandês Bjorn Kuipers, cliente da Marisqueira de Matosinhos.
Chama-se a isto, globalização.
O Benfica qualificou-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões com uma exibição categórica frente ao Twente, ontem na Luz. Foi uma alegria para o clube porque entram muitos milhões na tesouraria e foi uma alegria para os adeptos que viram a equipa a jogar lindamente durante 85 minutos.
Os últimos 5 minutos foram mauzinhos, com os jogadores desconcentrados e nervosos, coisa a que já nos habituaram esta época. Mas a boa notícia é que esse período periclitante só durou 5 minutos e contra um adversário de maior valia do que o Gil Vicente, o Feirense ou os turcos do Trabzonspor.
Isto, portanto, deve querer dizer que o Benfica está no bom caminho.
Sobre Axel Witsel é melhor nem dizer nada... que bom para o Benfica o belga não ter sido desviado para o FC Porto.
Deviam andar a dormir, com certeza."
Leonor Pinhão, in A Bola