"A Crónica: SL Benfica Bate Com Ramos Na Resistência
Ainda a bola não rolava no Casa Pia AC x SL Benfica e já decorria o minuto mais importante do jogo. Trocou-se o silêncio por aplausos e o estádio, esgotado, ficou por um minuto a pensar num dos melhores que o futebol vira.
O meu avô dizia diante da TV, quando a ocasião o justificava, “aquela foi uma jogada à Chalana”. Coloriam-lhe a vista fintas do Di María, do Aimar, do Jonas ou do Gaitán, em que davam aos defesas um tratamento que os punha estatelados no chão a ver a relva de perto. Só que eu notava prudência no que ele dizia. Como quem fazia aquela comparação por não ter outra melhor, mas, ao mesmo tempo, sabia que, para ele, o Chalana era mais que o Di María, o Aimar, o Jonas ou o Gaitán tão só porque era capaz de fazer mais vezes do que os outros as coisas que ele mais gostava de ver num jogo de futebol.
Foi assim que, sem nunca ter tido oportunidade de ver jogar Chalana, herdei do meu avô a imagem de um jogador com perfume nos pés, mas que não dava aos adversários a mínima hipótese de cheirarem o objeto redondo que ele tão bem tratava. Ou, como escreveu o jornalista Rui Dias, “uma delegação divina para distribuir felicidade na terra”.
No que ao jogo diz respeito, lembrar que ir da Luz a Pina Manique demora o tempo de ferver água para o chá. Só que o Estádio do Casa Pia AC não satisfazia tão bem as necessidades para o jogo com o SL Benfica do que o Estádio Municipal de Leiria e as equipas fizeram uma distância 25 vezes superior à que seria necessária em condições normais para realizarem o jogo.
Com a casa às costas, o certo é que o Casa Pia AC conseguiu manter as portas da propriedade bem fechadas. Na primeira parte, só por uma vez o SL Benfica conseguiu estar na iminência de marcar. No meio de tantas carambolas, Gonçalo Ramos fez a bola tocar a linha de golo, mas João Nunes impediu que o esférico ultrapassasse a marca que define o sucesso ou o insucesso.
Com as águias a dominar, nem sempre os gansos se mantiveram subordinados, espreitando as portas da felicidade sempre que Godwin superava em velocidade quem lhe aparecia no caminho.
As intenções encarnadas iam esbarrando na boa exibição dos centrais treinados por Filipe Martins. Por isso, teve que ser à força que Gonçalo Ramos abalroou o nulo.
O golo foi um peso que o Casa Pia AC não conseguiu suster e que empurrou a equipa para a resignação. Embora a margem se mantivesse mínima no resultado, a ideia era que o panorama, que passara a ser de domínio do SL Benfica, não ia mudar e os encarnados, todos com “Chalana” nas costas, iam somar nova vitória no campeonato.
A Figura
Alexander Bah – Veio trazer algo que o SL Benfica não tinha apresentado até à entrada do dinamarquês. A forma como explorou o corredor direito deu às águias o domínio que procuravam ter no jogo.
O
Fora de Jogo
Nicolás Otamendi – Prejudicaram-no as situações em que Godwin ultrapassou o lateral e encarou o argentino em um para um. Não houve danos evidentes resultantes dessa situação, mas o 30 do SL Benfica esteve sempre a correr atrás do prejuízo. A expulsão foi a confirmação de que a medalha de lata era a única que podia levar do jogo.
Análise Tática – Casa Pia AC
Filipe Martins utilizou num sistema de cinco defesas. No entanto, alinhou, quando em organização defensiva, com três elementos na linha média, recuando Takahiro Kunimoto, um dos homens mais adiantados, para junto dos centrocampistas Ângelo Neto e Afonso Taira. O sistema tático variava assim entre o 5-3-2 a defender e o 3-5-2 a atacar.
Sempre que as dinâmicas do SL Benfica não os obrigavam a recuar, Saviour Godwin e Rafael Martins esperaram na frente que a equipa recuperasse a bola para que pudessem disparar em direção à baliza contrária. Ao mesmo tempo, o posicionamento dos dois avançados visava impossibilitar que Otamendi e Morato conseguissem subir mais e diminuir o espaço entre médios e defesas da equipa encarnada.
Não se pense, no entanto, que os gansos se limitaram a tentar sair em transição. Muitas vezes, optaram pelo ataque organizado desde trás com os centrais a demonstrarem particular critério na primeira fase de construção. Vasco Fernandes, central do meio, adiantou-se em algumas situações para oferecer solução de passe.
Takahiro Kunimoto foi quem mais ajustes teve que fazer ao posicionamento consoante as várias fases do jogo. O japonês era terceiro médio a defender e mais extremo-direito na hora de atacar.
11 Inicial e Pontuações
Ricardo Batista (6)
Lucas Soares (5)
João Nunes (6)
Vasco Fernandes (7)
Nermin Zolotic (6)
Leonardo Lelo (5)
Ângelo Neto (5)
Afonso Taira (5)
Takahiro Kunimoto (5)
Saviour Godwin (7)
Rafael Martins (5)
Subs Utilizados
Diogo Pinto (5)
Yan Eteki (5)
Anderson Cordeiro (5)
Clayton (5)
Cuca (5)
Análise Tática – SL Benfica
O SL Benfica primou pela segurança na circulação da bola. Enzo Fernández orquestrou a posse encarnada procurando ligações verticais aos extremos e avançados. As águias colocaram persistentemente muitos jogadores no corredor central.
Os laterais, Grimaldo e Gilberto, embora não sendo as soluções de ataque preferenciais, deram largura, obrigando os defesas do Casa Pia AC a alongarem a linha defensiva, o que gerou espaço a ligações interiores que esbarraram nos solidários defesas na equipa a jogar em condição de visitada.
A pressão das águias era exercida na tentativa de afunilar o jogo do Casa Pia AC num dos lados do campo. Dessa forma, o lateral encarnado do lado contrário à bola fechava muito por dentro.
Na segunda parte, quando Roger Schmidt lançou Bah no jogo, a equipa foi muito mais vertical. Simultaneamente, os corredores exteriores passaram a ser mais utilizados, principalmente o direito.
11 Inicial e Pontuações
Odysseas Vlachodimos (5)
Gilberto (5)
Nicolás Otamendi (5)
Morato (6)
Álex Grimaldo (5)
Florentino (6)
Enzo Fernández (6)
João Mário (5)
Diogo Gonçalves (7)
Rafa Silva (7)
Gonçalo Ramos (6)
Subs Utilizados
Alexander Bah (7)
Julian Weigl (5)
Roman Yaremchuk (5)
Henrique Araújo (-)
Jan Vertonghen (-)
BnR na Conferência de Imprensa
Casa Pia AC
Bola na Rede: O Casa Pia deixou, à semelhança do que tinha feito diante do Santa Clara, sempre dois homens na frente e montau depois uma linha média com apenas três elementos. Essa estratégia era parte do risco que queria impor no jogo hoje?
Filipe Martins: Tentámos alterar um pouco, porque queríamos controlar mais os corredores. Pedimos ao Godwin para defender um bocadinho mais o corredor. No entanto, com a quantidade de transições que ele teve, principalmente na primeira parte, muitas vezes não conseguiu fechar o corredor da forma que nós queríamos, o que fazia aparentar que tivéssemos apenas três homens no meio-campo e dois na frente. No jogo anterior, estivemos claramente no 5-3-2. Hoje, tentámos defender mais a largura do campo, mas nem sempre foi fácil devido ao Godwin, muitas vezes, precisar de recuperar.
SL Benfica
Bola na Rede: O SL Benfica utilizou bastante o jogo interior na primeira parte. Esperava que a equipa começasse a explorar os corredores mais cedo no jogo?
Roger Schmidt: Sim. É uma qualidade nossa usar o espaço central para dificultar que o adversário defenda. Hoje, encontrámos os jogadores entre linhas, mas estava a ser difícil atacar a área e rematar à baliza. Na segunda parte, tentámos ser mais flexíveis e usar mais os corredores. O golo é exemplo disso."