"Como no filme de Peter Jackson, os selvagens gritam histéricos pelo nome do macaco grande ao mesmo tempo que lhe oferecem jovens donzelas na tentativa de lhe acalmar as fúrias: KONG! KONG! KONG!
Os selvagens formam uma turba insana. Vomitam ódio e desespero. Cospem insultos e ameaças. As ordinarices são comuns a todos: homens, mulheres, crianças, velhos... Seguem a cartilha de Chefe Palhaço que admite tratar os melhores amigos como se fossem filhos da mais reles das rameiras. É uma (in)cultura. É uma escola. Quem nela andou não esquece mais. É a escola do sarrafo, do golpe baixo e traiçoeiro, da violência gratuita e injustificável. Os gestos infames repetem-se aqui e ali e os protagonistas são sempre os mesmos: filhos do Madaleno, que se alimenta a fel e a veneno. E de cada vez que os selvagens se lançam sobre os pobres inocentes obrigados a suportar a sua incivilidade, centenas de gargantas repetem o som escabroso: KONG! KONG! KONG!
Talvez, como dizia Mário Filho, a vitória seja uma doença que só a derrota cura. Mas esta é a única forma de vencer os selvagens, o macaco gigante e o omnipresente Palhaço. Ganhar, ganhar, ganhar sempre. Cada derrota, cada queda, cada falha, levanta do outro lado da barricada um clamor estafado: KONG! KONG! KONG!
Por isso não há caminhos de retrocesso. Ganhar é o verbo! Repitam-no teimosamente, sobretudo no presente do indicativo e no futuro. Repitam-no e conjuguem-no. A toda a hora de todos os dias. Só assim o Madaleno se esfumará tão fatuamente como foi a sua existência e os selvagens tresloucados de raiva e estupidez calarão os seus gritos de KONG! KONG! KONG!
Mas, às vezes, o futuro que parecia ser já ali fica um pouco mais longe. É então que se torna necessário encher o peito de uma paciência infinita enquanto se alarga a passada por uma estrada em cujas bermas os selvagens se babam de ranço e esperam que alguém escorregue para lhe morderem o pescoço."
Afonso de Melo, in O Benfica