"GUARDA-REDES que valem milhões são a fruta da época no futebol mundial. De Petr Cech e Manuel Neur, passando pelo lastimável Roberto Jimenez que, ao contrário dos seus colegas de Londres e Munique, não conseguiu justificar em campo os valores milionários da sua transferência para o Benfica.
E, montado que já está o circo em Saragoça, Roberto Jimenez dificilmente encontrará serenidade neste seu regresso a Espanha para poder reclamar para si a honra de ter sido um dos guarda-redes pioneiros daquele momento histórico do futebol em que os guarda-redes passaram a valer fortunas inimagináveis poucos anos atrás.
Não é novidade para ninguém, nem para os mais ingénuos, que o futebol, por mexer com muitos milhões, encerra em si zonas obscuras, marginalidades suspeitas e índices criminais que, por exemplo na Europa, já motivaram renhidas investidas e investigações das autoridades judiciais em países como a Turquia, no extremo oriental do continente, ou como a Itália, uma vasta península em forma de bota situada praticamente no meio do continente europeu.
Por uns motivos ou por outros, a verdade é que as suspeitas de ilícitos no futebol já varreram a Europa de uma ponta à outra e sabe-se lá o que é ainda ficou por varrer.
Ainda bem recentemente a FIFA alertou as Federações suas filiadas para uma nova ameaça potencial trafulhice que paira sobre o futebol em todo o mundo: o negócio das apostas, o mais moderno pasto para a manipulação de resultados.
É esta, segundo Joseph Blatter, a fruta da época em termos de criminalidade no futebol e sabendo-se que o mundo está sempre em movimento não é de admirar que cada tipo de crime tenha a sua época e que a cada fruta da época se suceda a época da fruta e por aí fora... chama-se a isto progresso.
A grande questão das duas transferências de Roberto Jimenez no espaço de um ano - do Atlético de Madrid para o Benfica e do Benfica para o Saragoça - nem são sequer os elevados valores envolvidos. A questão é o valor do próprio Roberto.
O presidente do Benfica, piedosamente, declarou depois de consumado o negócio com o Saragoça que «dentro de pouco tempo Roberto será uma referência mundial no seu posto». Vieira sabe bem que na sua fugaz passagem pela Luz, o infeliz Roberto foi uma treta na baliza dos ex-campeões nacionais. Azar nosso? Azar dele, Roberto?
Para tranquilidade de seis milhões de portugueses, ontem a CMVM levantou o embargo à negociação dsa acções do clube «por terem cessado os motivos que justificaram a suspensão». Ora aqui está uma excelente notícia, finalmente.
A CMVM, queremos acreditar é uma entidade acima de qualquer suspeita que lida com o futebol sem olhar a facciosismos clubistas.
A CMVM olha para números e para a fiabilidade de operações financeiras. E sabe, com certeza distinguir, a fruta da época da época fruta e da fruta da treta.
COM o devido respeito, mas o Benfica, não raras vezes, parece sofrer de um síndrome de compreensão lenta que muito o tem prejudicado de alto a baixo.
Aprecie-se o caso recentemente protagonizado por Maxi Pereira. Foi preciso que o uruguaio, ao serviço da sua equipa nacional, se sagrasse campeão sul-americano num domingo, em Buenos Aires, e comparecesse logo na quarta-feira seguinte em Lisboa, disponível para jogar o primeiro embate com o Trabzonspor, para que, de um modo geral mas efusivamente reflectido na imprensa que Maxi Pereira não só é um jogador de características excepcionais como, muito principalmente, é um profissional do mais alto quilate.
É a isto que se chama compreensão lenta. Maxi vai cumprir a sua quarta época na Luz e nunca nos falhou em momento algum. Mas só agora, num repente de sanidade mental, é que se descobriu a importância de Maxi na equipa e o valor inquestionável do seu brio profissional?
Bem sabemos que, em Portugal, as homenagens são sempre contra alguém. E, por isso mesmo, não é difícil entender que este coro de elogios a Maxi, pela sua disponibilidade e empenho, não é mais do que um remoque dirigido a Luisão que passou a Copa América a fazer gato-sapato das intenções do Benfica.
Estas homenagens a Maxi Pereira são, no entanto, altamente preocupantes porque vão ao ponto de produzir uma catadupa de notícias focando a iminente renovação do contrato do jogador livre, a partir de Janeiro, para assinar com quem muito bem entender.
Nestes casos, o histórico recente do Benfica faz-nos temer o pior. Sobretudo quando duram meses e meses as renovações iminentes e os respectivos espalhafatos na imprensa.
Seria lamentável que a proverbial compreensão lenta da casa encontrasse em Maxi Pereira mais pasto para engalanar o seu sombrio currículo de distracções.
CARLOS QUEIROZ é o actual seleccionador do Irão e comentou, na sua qualidade de patriota português, o sorteio de qualificação para o próximo Mundial, no Brasil. Disse o professor que «Portugal tem a obrigação de se qualificar». Bom, obrigação, obrigação, não terá. Mas tem, isso sim, o dever.
Um Campeonato no Mundo de futebol no Brasil sem Portugal seria motivo para mais uma tonelada de anedotas tropicais sobre a inabilidade lusa para jogar à bola. Em 1966, no Mundial de Inglaterra, quando Portugal e Brasil calharam no mesmo grupo, a imprensa brasileira encarou o facto com grande tranquilidade porque os portugueses jogavam «com a bola quadrada».
Quando Eusébio e companhia despacharam a equipa de Pelé da competição, do outro lado do Atlântico até se falou da «vingança da bola quadrada» como pobre justificação para o desaire dos campeões do mundo frente aos irmãos portugueses.
A reputação actual do futebol português é bem diferente para melhor do que era em 1966. As qualificações para os Mundiais e Europeus sucedem-se com naturalidade, o que não acontecia anteriormente.
Nos tempos correntes, o mais perto que estivemos da anedota e da malfadada bola quadrada foi no apuramento para o Mundial de 2010 em que a selecção de Carlos Queiroz se viu aflitinha e foi obrigada a disputar a vaga com a Bósnia-Herzegovina em dois jogos de grande tensão e sofrimento.
Mas lá conseguimos cumprir, à rasquinha, a nossa obrigação.
UM Benfica mais maduro do que seria de esperar, porque arrancou com novidades e juventude para a época oficial, saiu-se muito airosamente dos dois jogos com os turcos do Trabzonspor. Foi pena o empate porque a vitória seria mais do que merecida.
Nolito voltou a marcar. É um jogador que, felizmente, não precisou de tempo de adaptação para desatar a marcar golos assim que chegou. Caitán fez um jogo engraçado. Teve uma meia-dúzia de situações de golo e tentou sempre marcar com nota artística. Jesus não deve ter gostado de tanto desperdício. E os observadores do Manchester United, terão gostado?"
Leonor Pinhão, in A Bola