Últimas indefectivações

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Rir

"O riso é, na sua essência, uma lídima expressão de liberdade. Por isso, há quem se ria por tudo e por nada e há quem adore pessoas que façam rir. São uns felizes, certamente.
Não me refiro ao humor britânico que é a forma inteligente de se ser suave no humor e a via suave de ser inteligente no humor.
Nem ao humor negro que segrega a graça através da desgraça.
Nem ao humor vítreo que vive nos olhos paredes-meias com o cristalino e que nos dá a riqueza de poder olhar o humor de espírito e de desfrutar do espírito de humor.
Refiro-me antes ao riso quase incontido que se manifestou, há dias, no mundo do nosso doméstico futebol. Onde abundam pessoas bem-humoradas e pessoas com toneladas de humor.
Há sempre humor escondido por detrás de uma polémica arbitragem, de um cartão amarelo ou vermelho ou de um resultado desportivo nem sempre desejado. O que ainda não sabia é que também há formas de riso à tripa-forra por entrevistas de terceiros. Neste caso, pode até acontecer que o riso seja uma capciosa forma de não chorar, ou, pelo menos, de contornar o que não se gosta de ouvir. Talvez até um rir a bandeiras despregadas para dissimular um riso amarelo (ou de outra cor...).
Há quem julgue o riso um produto de pacotilha. Ou liofilizado, com direito a desconto na mentira, ironia ou omissão. Ou programado, com horas certas e locais convenientes.
Nestas alturas, vem-me à memória o que, um dia, Miguel Esteves Cardoso escreveu: O riso é lindo. Não é preciso rir de. Rir de é uma inferioridade. Nem sequer é preciso rir porque. O melhor é rir sem fazer a mínima ideia porquê.
Afinal tudo é risível..."

Bagão Félix, in A Bola

O grande desafio de Jesus

"Luís Filipe Vieira anunciará cedo ou mais tarde, a renovação de contrato com Jorge Jesus, o seu treinador preferido, aquele a quem deu o inevitável voto de confiança no preciso momento em que todos pareciam pretender pregá-lo na cruz. Mérito do presidente do Benfica, que com essa sua sábia atitude recolocou o seu clube nos eixos e com os resultados que estão à vista de todos. Jorge Jesus retribuiu agora o gesto, ao recuar, como o próprio já confessou, convites mais sedutores do ponto de vista financeiro, embora menos entusiasmantes no plano desportivo. Ambos se entenderam para bem do próprio clube, que desde modo resolve um sério problema, apesar do grande desafio que está para vir.
Como todos já percebemos, o mercado de transferências vai com certeza agitar-se daqui a nada, o que signifique o novo campeão nacional vai perder jogadores determinantes, muito por força da competência evidenciada pela sua equipa nesta última época - três títulos nacionais assegurados e uma Liga Europa que foi perdida por uma unha negra com o Sevilha. Mas isso é uma situação que só Luís Filipe Vieira terá de avaliar e decidir, seguramente com os seus 'homens de confiança', sabendo-se que, volta e meia, é preciso renovar e deixar entrar ar fresco, e sem perder de vista o negócio. Se não houver surpresas de última hora, o Benfica perderá Garay, Enzo Pérez e Markovic, pelo menos, depois de se saber que Siqueira, André Gomes e Rodrigo estão de saída. Um desfalque e pêras. Vêm outros, é certo, mas não será a mesma coisa, e vai ser necessário começar quase do zero.
É com esta mais do que provável realidade, repita-se, caso não haja surpresas de última hora, que Jorge Jesus terá de se confrontar na preparação da próxima época. Um desafio, pois, à altura da sua ambição, nada a que o 'mestre do treino' não esteja habituado, como ele tanta vezes repete, faltando saber se com idênticos resultados ou não. Pelo que se tem visto, é natural que o Benfica continue a ganhar, apesar das adversidades que lhe serão colocadas, num momento em que o mais fácil para Jorge Jesus era ter saído em ombros. Assim não o entendeu, o que se deve ao facto de não ser homem para virar a cara às dificuldades. O que só lhe fica muito bem."


PS: Esta certeza absoluta que cumentadeiros e jornaleiros têm relativamente às saídas no Benfica, é algo 'comovente'!!!

Uma fantasia

"Detesto o culto da personalidade e incomoda-me o endeusamento de Cristiano Ronaldo. Até porque isso diminui a responsabilidade dos outros 22 jogadores. Se Ronaldo é a estrela, é o menino-bonito, é o centro de todas as atenções, então ele que resolva... Por outro lado, a memória é curta - e muitos já esqueceram algumas decepcionantes exibições de Ronaldo ao serviço da Selecção. Até se dizia que havia um 'Ronaldo do clube' (fosse o Manchester United ou o Real Madrid) e um outro 'Ronaldo da Selecção'. Só que as últimas imagens é que ficam - e aí impõe-se a soberba exibição e os três fantásticos golos do jogo da Suécia.
Passando à actualidade, o último desafio disputado em território português antes do Mundial do Brasil foi uma monumental sensaboria. Um daqueles jogos que dão para começar a dormir no princípio e acordar no fim, sem se ter perdido nada.
Com franqueza, não percebo as opções de Paulo Bento ao experimentar um sistema novo (4x4x2 em vez do tradicional 4x3x3) e ao pôr em campo muitos jogadores que não serão titulares.
Estamos a menos de 15 dias do primeiro jogo, houve pouco tempo para ensaiar tácticas e criar rotinas, pelo que todas as oportunidades deveriam ser aproveitadas para olear a equipa que vai actuar. Podiam poupar-se alguns jogadores mais sobrecarregados, como Ronaldo ou Pepe, mas a base seria o onze que alinhará no jogo com a Alemanha e a táctica seria a que vamos usar nesse encontro.
De que adianta rodar jogadores que possivelmente nunca irão jogar no Brasil? De que adianta rotinar uma equipa que nunca entrará em campo?
Percebo que todos devam treinar-se com intensidade, para todos estarem preparados para entrar, caso seja preciso. Mas os jogos de preparação deveriam servir para aperfeiçoar  conjunto que nos vai representar.
A intenção de Paulo Bento terá sido boa. E generosa. Mas com tão pouco tempo para trabalhar, o seleccionador não pode dedicar-se a devaneios. Tem de ser directo e pragmático. Ora aquele insólito grupo de futebolistas que jogou contra a Grécia no Jamor, ao nível das individualidades e da táctica, foi uma verdadeira fantasia."

Capitão no feminino...

Totalmente merecido...