"É um verdadeiro prazer ver jogar os três médios portugueses eleitos para o jogo com a Arménia. João Neves, Vitinha e Bruno Fernandes são verdadeiros artistas do meio-campo português. A versatilidade, capacidade técnica, personalidade e a disponibilidade física ímpares elevam esta tripla a um nível que nunca tivemos. Mas, mesmo assim, será possível prescindir de um médio defensivo em jogos de maior exigência, quando competirmos com as melhores equipas do Mundo? Penso ser uma questão que deve ser considerada. A adaptação tática de um deles poderá abrir espaço para a integração de um médio mais posicional? A verdade é que um maior equilíbrio defensivo é algo que deve ser garantido em confrontos de outra dimensão. O atual processo de abrir os centrais e integrar um lateral no meio-campo pode resultar ofensivamente, mas só tem validade se tal manobra for rapidamente revertida quando a bola se perde. A verdade é que não é algo que se esteja a conseguir.
No rescaldo de uma goleada vitoriosa, acaba por ser uma tendência natural avaliar e comparar o comportamento da equipa nacional quando Cristiano Ronaldo não está, até porque é raro acontecer. A verdade é que quando mudam os jogadores, mudam a dinâmicas das equipas. Desta vez, foram cinco os titulares diferentes. Comparações à parte, Gonçalo Ramos confirmou, mais uma vez, a sua validade como opção séria ao onze português, acrescentando a sua individualidade mais física e coletiva. Quanto a Trincão, que foi considerado recentemente por Martínez «um dos melhores da Europa na sua posição», faz sentido ter tão pouca utilização?
TOCA O HINO
Sempre tive a ideia de que o ambiente dos adeptos da Seleção é diferente daquele dos clubes, para melhor. Um espaço onde as famílias se notam, onde o público jovem predomina e a simples bandeira portuguesa se empunha com orgulho ao sabor do nosso hino. Um público bem heterogéneo, mas normalmente mais respeitador. O futebol é um desporto coletivo, mas, no final do jogo, cada um dos atletas é uma pessoa. Os jogadores contribuem com a sua participação de acordo com aquilo que conseguem e do que os adversários, que também jogam, permitem. Neste contexto, passadas que foram as críticas à derrota em Dublin, chegam as muitas palmas no nosso território. Nada de novo. Tudo está bem quando acaba bem, ou devemos promover o respeito em defesa de quem joga e em honra de quem assiste?
BARALHAR E VOLTA A DAR
O título deste tema, embora sendo típico do jogo de cartas, acaba por retratar o regresso a casa dos jogadores selecionados, passadas as habituais pausas, sempre incómodas para o funcionamento das suas equipas. São sempre uma honra, sim, estas jornadas de seleções para os jogadores, mas, baralhar o treino habitual dos clubes, o local da atividade, os colegas e as competições é o que ciclicamente os jogadores internacionais vivem.
Finalizado o período de cedência definido, é voltar a dar, com o regresso dos convocados aos seus clubes e esperar que corra bem. Nestes períodos, as equipas técnicas veem o seu processo de trabalho interrompido e complicado, especialmente aquelas, que como a do Benfica, estão há menos tempo nos seus clubes. É, por isso, muito exigente e criterioso para os treinadores, o trabalho de receção e gestão dos regressados, olhando à preparação, sempre apressada, do jogo doméstico seguinte.
TRI... CICLO
O Benfica recupera, então, os seus internacionais, nas vésperas da visita ao Restelo, casa infelizmente emprestada ao Atlético. Tendo em conta a decisiva visita europeia a Amesterdão, logo a seguir, é possível que a equipa escolhida para o ensaio possa não fugir muito daquela que Mourinho apresentará na UEFA Champions League. Entretanto, algum alarme soou relativamente ao estado físico de Pavlidis e Sudakov, dois dos mais influentes do Benfica atual. Agora, a equipa enfrenta um ciclo importante e diversificado, competindo em poucos dias, curiosamente, nas três competições em que participa e nas quais pretende confirmar as suas naturais aspirações. Um triplo desafio importante e de dificuldade crescente.
TAPADINHA
O Atlético Clube de Portugal, próximo adversário do Benfica, é um clube que fez parte do trajeto do meu pai e também do meu. O Sr. José Águas, como chamavam o meu pai, estreou-se no nosso campeonato nacional pelo Benfica, e logo bisando, no histórico estádio alcantarense. Mais tarde, depois de encerrada a sua brilhante carreira de jogador, o seu início como treinador seria, curiosamente, também no clube alcantarense. Eu, não contente com isso, muitos anos depois, haveria de ser jogador do Atlético, na época em que me haveria de revelar, chegando depois à nossa divisão principal pela mão do mister Manuel José.
Voltando atrás, dois anos antes dessa época, já tinha tentado a minha sorte, também no Atlético, em contexto de captações, normais na altura. Apresentei-me como médio, posição que, no final, me disseram não ser necessária. Desiludido, decidi, depois disso, assumir em definitivo a posição de avançado, que era aquilo que os clubes, já naquela altura, mais precisavam. Fiz, então, duas épocas na terceira divisão, pelo Sesimbra, destacando-me já como goleador, o que fez o Atlético dar a mão à palmatória e contratar-me.
A época em que lá joguei, no entanto, não correria nada bem. O Atlético acabou descendo de escalão e eu sofri uma das piores lesões da minha carreira. Como se não bastasse, o sorteio da Taça de Portugal, como agora, ditaria a visita do Benfica à Tapadinha, estando eu ainda em recuperação. Lesão mais inoportuna não era possível.
PAIS E FILHOS
Luís Caeiro era, na época atrás descrita, um dos nossos guarda-redes no Atlético. Tiago Caeiro foi avançado do Belenenses não há muitos anos. Pelo apelido, mas também pela evidente parecença fisionómica, viria a confirmar que o Tiago só podia ser filho do Luís, meu antigo colega. É curioso que, mesmo com a genética parental, o descendente tenha acabado no lado oposto do campo. Nas voltas que este mundo dá, o meu filho Martim acabou por ser treinado pelo filho, Tiago Caeiro. Numa coincidência final, falta dizer que me casei exatamente no início da época que joguei no Atlético. De tal maneira, que até pedi dispensa dos primeiros dias de pré-época para aproveitar a lua de mel. Outros tempos!"