Últimas indefectivações

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Revelações

"Em semana em que o treinador do FC Porto se revelou confuso, depois de perder no clássico da Luz por 2-0, os adeptos do Benfica revelaram-se assustados por poder perder vários jogadores no mercado de Inverno.
Jorge Jesus, após reconhecer que Matic era o melhor médio defensivo do mundo, revelou não se preocupar com a perda, desde que jogue com onze. Revelou ainda que «se não joga o Matic, joga o Manel», mas, nós comuns adeptos, desconhecemos o valor do Manel e ficamos mais preocupados que o técnico.
Matic era o nosso super-homem, foi um dos melhores números 6 que vi jogar, enchia o campo e devemos-lhe parte importante da liderança que detemos no campeonato. Desejo-lhe sorte, mas vejo-o partir com natural saudade. Nenhum adepto gosta de perder os seus melhores jogadores.
David Luíz revelou o seu benfiquismo ao vir assistir ao clássico e torcer pelo seu Benfica, festejando os golos, qual No Name Boy.
Paulo Fonseca, técnico muito apreciado pelos adeptos do Benfica, revelou que tem uma confiança cega que será campeão no último jogo do campeonato. Nós, adeptos benfiquistas preocupados, não revelamos, mas temos o secreto sonho de ser campeões na penúltima jornada.
FC Porto e Sporting têm uma competição renhida e directa na Taça da Liga, para poder receber o Benfica nas meias-finais. Será golo a golo, com vantagem para os dragões, mas com disputa garantida até ao fim, e com a certeza de que o Benfica já carimbou a passagem nesta importante prova.
Eu revelo aqui o meu profundo desejo de não ver sair Rodrigo, Garay ou Enzo neste mês de Janeiro. Não estou animicamente preparado para uma sangria tão generalizada, nem para perder títulos, que desejo e aspiro a ganhar. Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Taça da Liga.
Todos? Sim, por favor, todos seria óptimo."

Sílvio Cervan, in A Bola

Eusébio (II)

"Foi emocionante ter jogado com ele. Ter percebido quanto inteligente era a jogar. Entendíamo-nos na perfeição. Eu sabia quando ele queria a bola, também sabia quando a não queria. E só eu sabia porquê. A quando da marcação de livres, o Eusébio sempre me queria junto à bola, fosse a cobrança directa ou indirecta. Era ele quem decidia se pretendia ou não o meu toque. Vezes sem conta, disse-me «Simões, não toques, vai ser golo, a barreira está mal formada». Era mesmo golo. Só eu sei, mais ninguém, neste ou noutro mundo, que era assim. Depois, vinham os festejos, coisa que eu saboreava com enorme prazer. E a pensar «como é que eu vou explicar isto»...
Eusébio era mesmo um fenómeno. A nossa cumplicidade total. Um dia, decidiu chamar-me «irmão branco», foi para mim um momento enternecedor que jamais esquecerei. Apoderado de uma emoção indescritível, respondi-lhe «então, tu és o meu irmão do coração». Coração vermelho, a cor do nosso Benfica.
Ninguém para mim, neste mundo do futebol, tem mais significado do que Eusébio. Fomos irmãos para sempre. O futebol tinha a virtude, muito menos agora, de selar compromissos únicos, de gerar cumplicidades comoventes, de suscitar nobreza nos relacionamentos, de vincar solidariedade arreigada nas acções. Eusébio e eu fomos assim. Eusébio e eu ainda somos assim. Religiosamente."

António Simões, extracto do livro 'António Simões', in O Benfica

Eusébio (I)

"O grande, o enorme Eusébio jogador é, ele mesmo, a bola, o mundo da bola. A minha vantagem reside em ter usufruído de tantos anos com ele, ter sido o seu leal companheiro, tê-lo protegido.
Falar de Eusébio é pedir silêncio, porque estamos a falar de algo raro, especial, único. É termos regalias de saber muito, do muito que se pode e deve falar. Por conhecimento directo e absoluto, não só do jogador, da estrela, mas também do homem. Falar de Eusébio é dizer coisas extraordinárias, é falar de um génio.
Falar de Eusébio e dizer bem, é elogiar, é adjectivar, é não ter receio de exagerar no reconhecimento, é sentir prazer de o ter tido como companheiro, é ter partilhado com ele tudo de bom e de mau, felicidade e tristeza, o sabor da vitória, a terrível dor da derrota. É rir, é chorar, é ser Deus, é ser amado, malquerido.
Estar com Eusébio era sinónimo de fortuna, sempre com muita gente em redor nos momentos de sucesso, beneficiar de idolatria. Em caso de infortúnio, felizmente raro era a sensação de abandono. Parece que se morria, mas logo se ressuscitava, na ressaca do famosos 'day after', já na busca da vitória quase certa que vinha a seguir. Como eram os treinos? Depois de um triunfo, não havia mazela, nada doía. Depois de um desaire, havia mazela, doía tudo.
Eusébio, ele, foi tudo. Tudo isso e muito mais. Foi ele e fomos nós, fui eu também. Foi o grande jogador, o génio, a arte, a força, a resistência, a velocidade, a espontaneidade, o requinte, excelência do remate de golo. Eusébio foi o expoente máximo na execução do passe, na finalização, no lance mais inesperado. Surpreendia o adversário na interpretação rápida encontrando a melhor decisão a tomar. Tinha o conhecimento catedrático de tudo relacionado com o jogo, esse poder de um grande líder político, esse saber de um grande escritor, essa imaginação de um actor, porque a sua cultura era a perfeição, muitas vezes a perfeição do imprevisto. O seu talento produzia fantasia e eficácia, tinha beleza estética e atlética, praticava a subtileza, tudo num combinado genial que conferia golos, vitórias e sucesso.
Vindo de Moçambique, onde nasceu jogador, não tardou a deixar o mundo espantado. Era um predestinado, só podia transformar-se numa personalidade de carácter universal. Foi e é o melhor de sempre em Portugal, um dos melhores de todos os tempos à escala planetária.
Continua connosco, vivo, vivo de mais, no seu jeito muito próprio de encarar a vida. Continuamos a vê-lo, a beneficiar do seu estatuto, a favorecer do seu prestígio. Eusébio mereceu de reconhecimento, que vão muito para além do seu valor futebolístico.
Numa sociedade na qual o deslumbramento é frequente, ele sempre o pareceu recusar. Eusébio angariou empatia, carinho, ternura. Não tem invejas sobre si, não tem inimigos que o apoquentem. Porque ele sempre foi diferente. Naturalmente, diferente.
Eusébio tem mundo, temo mundo todo, porque se deu ao mundo, deu-se todo ao mundo. Ganhou o consenso generalizado, após tanto sacrifício, tanta dedicação conclui a carreira no universo da bola. O futebol ensina, o jogador aprende, o homem cresce, a sociedade aprecia, a vida agradece."

António Simões, extracto do livro 'António Simões', in O Benfica

As duas Taças gémeas

"Vou repetidamente ao nosso Museu Cosme Damião, ao ninho das águias, para ver aquelas duas Taças dos Clubes Campeões Europeus tão parecidas, tão irmanadas e, no entanto, tão diferentes.
Para o observador incauto são as barrigudinhas gémeas, iguais e indistintas. Para o benfiquista são inconfundíveis. Olham para nós de forma idêntica, sorriem-nos ambas como marcos únicos do benfiquismo, mas não são iguais. Na segunda estão já o Eusébio e o Simões. Na primeira estão ainda o Neto e o Santana. Erguem-se ambas em cima de dois colossos europeus, mas uma com tom castelhano e outro catalão. Uma ganhou-se a um húngaro que se confundia com Barcelona e outra a um argentino que se fundiu com Madrid. Em ambas está a liderança do Coluna, a eficácia e elegância do José Águas e a categoria do Germano. Olhamo-las nos olhos e percebemos o testemunho da imagem do Águas a erguê-las aos céus como agradecimento da dádiva feita pelos deuses aos eleitos. Observamo-las atentamente e percepcionamos promessas de lutas, reveses e sucessos futuros. Sabemos que em ambas reside a garantia da renovação do benfiquismo. Carregam nelas a herança de atletas da cepa de Rogério “Pipi”, Francisco Ferreira ou Julinho, na mesma medida em que anunciam glórias como Bento, Humberto, Néné ou Chalana. Como todas as gémeas, falamos delas no plural, mas sabemo-las singulares e únicas.
Como tributo ao facto de elas nos terem dado o cognome de “Glorioso” até as denomino com os nomes das duas gémeas mais importantes da minha vida: à de 60-61 chamo Catarina e à de 61-62 chamo Maria."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Benfica matreiro

"Psicologicamente, era importantíssimo para o Benfica ganhar ao FC Porto no domingo. Jorge Jesus sabia que, para ele e para o clube, era uma partida decisiva, um duelo que poderia marcar a época. Porém, teve o enorme mérito de não ficar condicionado pela importância do jogo e transmitir à equipa uma confiança que se revelou fundamental para chegar ao triunfo.
Este Benfica de Jesus já não é o mesmo dos primeiros anos. As cavalgadas, as avalanchas sucessivas de ataques, o futebol ultraofensivo, tudo isso acabou. Hoje o Benfica é uma equipa matreira que espera pacientemente pelo adversário e lhe vai dando golpes em jogadas de contra-ataque.
Isto foi muito claro no jogo com o Gil Vicente. O Benfica deixava os gilistas avançar, recuperava a bola no seu meio-campo, lançava raides rapidíssimos pelas alas e daí resultavam centros para golo. No clássico passou-se o mesmo, ainda que com menos oportunidades, evidentemente.
Após a vinda dos sérvios e a onda de lesões que varreu o plantel, Jesus demorou tempo a estabilizar uma equipa-base, mas encontrou-a. O curioso é que, no preciso momento em que o consegue, perfilam-se novas saídas. Mais: na altura em que a equipa começava a adaptar-se à ausência de Cardozo, este prepara-se para regressar.
Tem sido assim a vida do treinador do Benfica: fazer equipas e vê-las desfazerem-se pela saída dos melhores jogadores. No entanto, é também esta a sua “obrigação’’, como ele próprio reconheceu.
Não percebo por que razão os comentadores ridicularizaram a sua afirmação de que, se o Benfica não tivesse perdido tantas estrelas nos últimos anos, já teria sido campeão europeu. Se não tivessem saído Di María, David Luiz, Javi García, Witsel, Ramires e Fábio Coentrão. Se a estes juntarmos Garay, Luisão, Matic, Salvio, Maxi Pereira, Cardozo, Gaitán, Enzo Pérez e Markovic, para não referir outros como Rodrigo e Lima, o Benfica teria um plantel de luxo. E, aí sim, poderia aspirar este ano a ser finalista da Liga dos Campeões na Luz. Porque não?"

José António Saraiva, in Record

Porto que foi à Luz não era de boa reserva

"Pior do que ser derrotado por um rival directo na luta pelo título – desfecho que ditou a queda para o terceiro lugar na classificação –, o FC Porto saiu da Luz sem ser capaz de exibir um pouco que fosse do futebol que nas últimas temporadas o tem ajudado a dominar a principal competição nacional.
O desempenho portista foi tão atípico que, no final, a equipa comandada por Paulo Fonseca tinha estabelecido (ou igualado) vários dos seus recordes negativos na actual edição da Liga. Terá sido apenas um jogo menos conseguido e, como tal, para esquecer? Ou, por outro lado, esta cinzenta exibição deve ser encarada como (mais) um sinal de que algo não funciona como esperado no reino do Dragão e, assim sendo, há que recordar e analisar ao pormenor o que se passou? A resposta, claro, será dada pela própria equipa nos próximos compromissos...
Certo é que, na Luz, o FC Porto não marcou golos (só tinha ficado em branco na derrota com a Académica, em Coimbra); viu a sua baliza ser violada duas vezes (algo que somente se verificara no empate no Estoril); rematou escassas quatro vezes (o mínimo anterior era nove no embate caseiro com o Sporting);beneficiou apenas de dois pontapés de canto (apresentava como pior registo os quatro no Estoril); cometeu 25 infracções (o recorde eram 22 na deslocação à Amoreira); viu sete cartões (ostentava como máximo quatro no Estoril e na recepção ao V. Guimarães) e pela primeira vez esta época teve um jogador expulso (Danilo).
O FC Porto esteve tão longe do rendimento habitual – nem parece que estamos a falar da equipa que mais remates (233) ou cantos (121) tem na prova –, que o jovem esloveno Oblak acabou por ter uma serena estreia a titular no campeonato, já que raramente foi chamado a intervir, bastando-lhe acompanhar com atenção os lances nas imediações da sua baliza.
Mais trabalho (e menos eficácia) teve o experiente brasileiro Helton que, a exemplo do que sucedeu com os guarda-redes de todas as restantes 14 formações participantes na prova, não logrou impedir que os encarnados acertassem na sua baliza. O Benfica, saliente-se, marcou em todos os encontros da Liga, bem como nos restantes jogos referentes às competições internas.
De resto, a partida da Luz ficou também assinalada por ter sido a que mais faltas teve em toda a primeira volta da competição. O portuense Artur Soares Dias – que até se esqueceu de apitar em algumas infracções evidentes... – sancionou 44, marca que ultrapassa as 43 verificadas no V. Guimarães-Marítimo, embate respeitante à 7.ª jornada e dirigido pelo leiriense Olegário Benquerença. No futebol português, decididamente, não é fácil assistir a jogos com poucas faltas. O Estoril-Nacional, logo na ronda 1, foi o melhor nesse capítulo e mesmo assim registou 17, um exagero noutras paragens.

BOM SINAL
Emoção ajuda a águia
No primeiro jogo após o desaparecimento de Eusébio, o Benfica conseguiu o melhor resultado da época, dada a importância da vitória alcançada, em casa, diante do rival FC Porto. Com este sucesso, os encarnados instalaram-se isolados no comando e conseguiram importante vantagem no confronto directo com os dragões. Marcando golos em todos os encontros (apesar de não ter contado com o lesionado Cardozo nos últimos tempos), a formação de Jorge Jesus deu um passo decisivo para virar a prova na frente. E isto apesar dos inesperados tropeções na Luz com Belenenses (1-1) e Arouca (2-2). Recorde-se, por outro lado, que as águias só perderam (com o Marítimo) na ronda inaugural.

MAU PRENÚNCIO
Alarme regressa ao Sado
Depois de uma boa sequência aquando da entrada em funções de José Couceiro – que atirou a equipa para o meio da classificação –, o V. Setúbal vive agora um período menos positivo. Com efeito, os sadinos somaram em Olhão (no terreno de uma das equipas que se encontram em lugares de despromoção) a terceira derrota seguida (antes tinham cedido em Braga e em casa com o Benfica) e passaram a dispor de apenas 4 pontos de vantagem em relação à linha de água. Para piorar o cenário, a próxima jornada reserva uma deslocação ao Dragão, para medir forças com um FC Porto que, após o desaire na Luz, está proibido de voltar a perder pontos. O alarme voltou a tocar no Sado...

SABIA QUE...
Ao marcar quatro vezes diante do P. Ferreira, a Académica somou tantos golos na última partida quanto nos dez embates anteriores?
Ao sair de Arouca sem conseguir marcar, o Belenenses aumentou para seis o número de encontros que leva sem festejar um remate vitorioso?
Enquanto o Benfica marcou golos em todos os embates da primeira volta, o Marítimo foi a única equipa que não logrou terminar um jogo sem ver a sua baliza violada?
Arouca e Académica foram as únicas equipas que ainda não beneficiaram de grandes penalidades? E que Olhanense e Gil Vicente não tiveram nenhuma contra si?
Após a expulsão do portista Danilo na Luz, o Sporting passou a ser o único clube que não contabiliza expulsões na prova?
Apesar de ter terminado a primeira parte da Liga isolado no comando, o Benfica é apenas o quinto colocado no ranking de remates efectuados e o sexto na tabela de cantos?
Mesmo sendo a nona colocada na lista de faltas cometidas, a equipa do Arouca é a que mais vezes foi sancionada com cartões (57)?
O Marítimo vai numa sequência de quatro empates consecutivos? Só nos derradeiros quatro jogos, os insulares coleccionaram mais igualdades do que dez equipas em toda a primeira volta do campeonato!"

Luís Avelãs, in Record