"Foi emocionante ter jogado com ele. Ter percebido quanto inteligente era a jogar. Entendíamo-nos na perfeição. Eu sabia quando ele queria a bola, também sabia quando a não queria. E só eu sabia porquê. A quando da marcação de livres, o Eusébio sempre me queria junto à bola, fosse a cobrança directa ou indirecta. Era ele quem decidia se pretendia ou não o meu toque. Vezes sem conta, disse-me «Simões, não toques, vai ser golo, a barreira está mal formada». Era mesmo golo. Só eu sei, mais ninguém, neste ou noutro mundo, que era assim. Depois, vinham os festejos, coisa que eu saboreava com enorme prazer. E a pensar «como é que eu vou explicar isto»...
Eusébio era mesmo um fenómeno. A nossa cumplicidade total. Um dia, decidiu chamar-me «irmão branco», foi para mim um momento enternecedor que jamais esquecerei. Apoderado de uma emoção indescritível, respondi-lhe «então, tu és o meu irmão do coração». Coração vermelho, a cor do nosso Benfica.
Ninguém para mim, neste mundo do futebol, tem mais significado do que Eusébio. Fomos irmãos para sempre. O futebol tinha a virtude, muito menos agora, de selar compromissos únicos, de gerar cumplicidades comoventes, de suscitar nobreza nos relacionamentos, de vincar solidariedade arreigada nas acções. Eusébio e eu fomos assim. Eusébio e eu ainda somos assim. Religiosamente."
António Simões, extracto do livro 'António Simões', in O Benfica
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