Últimas indefectivações

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Derrota na Amoreira...

Estoril 1 - 0 Benfica


Jogo feio... com os problemas conhecidos a serem evidentes. A média de idades da nossa equipa está cada vez mais baixa... e os nossos adversários, 'reforçam-se' quase sempre com jogadores do plantel principal, quando jogam contra o Benfica...!!!
A lesão do Diogo Pinto não ajudou, pois é talvez o nosso jogador que mais remata à baliza...

Destaco a estreia do Japonês Leo Kokubo, com uma boa exibição: tem alguns movimentos 'estranhos', pouco trabalhados, mas o potencial é claro...

Lego

"1. Frederico Varandas (parece estar sempre a ler um teleponto...) merece o benefício da dúvida e do tempo. A alternativa é mandar o Sporting para a China, para o dr. milagre.
2. Para os mais optimistas, as molas dos novos colchões da Academia vão impulsionar o sucesso, para os mais pessimistas os problemas não se resolvem com o fim dos dias de mochileiro do Sr. Orlando. É uma construção de lego sem livro de instruções, só de reclamações.
3. Gostei da coragem de Varandas quanto às claques (qual Simeone a festejar o primeiro golo à Juventus) e dos socos no estômago de Bruno de Carvalho (o Kepa na história do Sporting), que reagiu com barrigadas na mão.
4. Se Bruno Lage recuperar Taarabt deve renovar até 3000 e ser submetido a controlo anti-doping.
5. O director de comunicação do FC Porto sai-se melhor com guiões (e-mails) na mão do que no improviso. A insinuação de que o Benfica paga aos adversários dos dragões para lesionarem os seus jogadores é tão nojenta como um tipo ir a correr descalço na praia e pisar fezes de cão (peço desculpa pelo grafismo). E é gravíssima.
6. Francisco J. Marques faria com o saudoso Nuno Saraiva um dueto com química de fazer inveja a Lady Gaga e Bradley Cooper. Não tenho dúvidas.
7. Já não restam grandes dúvidas de que o melhor modelo de gestão na Liga é o do V. Setúbal. Neste arranque de ano, (mais) um PER e cinco reforços.
8. Caro Marcel Keizer, nunca ter sido expulso não é garantia de que nunca aconteça (senão não havia esperança para os virgens). E quanto ao tempo útil de jogo, pode até ter razão, mas preocupe-se também com o tempo de jogo útil da sua equipa.
9. Os Jogos Olímpicos de Paris-2024 podem ter breakdance, skate e escalada. Então e a dança de ventre, a bisca lambida e os saltos-bomba para a piscina? Até podem mudar o nome para Jogos sem Fronteiras."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

A Transição Defensiva do Benfica

"Desde a ascensão de Lage à equipa principal, temos assistido a um Benfica dominador a querer ter a bola o tempo todo. Na segunda-feira passada, a Luz assistiu a um Benfica demolidor no momento ofensivo e fortíssimo na transição defensiva. Por trás desta exibição magnifica esteve uma capacidade soberba para impedir a transição ofensiva adversária. Instalada no último terço, a equipa manteve sempre a bola com paciência para mover o adversário, mostrando-se sempre preparada para a perda de bola.

“Tivemos sempre uma transição defensiva forte porque estávamos muito equilibrados no momento da perda de bola e com os homens da frente a reagir.”
Bruno Lage

Para se entender melhor a transição defensiva encarnada, podemos dividir este momento em três fases para evitar a chegada à sua baliza.
1. Equilíbrio ofensivo garantido sempre no mínimo por quatro jogadores para precaver uma eventual perda de bola (Centrais e Médios-Centro)
2. Na perda, uma reacção colectiva incrível por parte de todos os jogadores em torno da bola que permite recuperar rapidamente a posse
3. Nos raros momentos em que a equipa não consegue recuperar nos primeiros segundos da transição defensiva, a linha defensiva reajusta-se e têm comportamentos de excelência que reduzem as possibilidades de sucesso de quem ataca.
Na Liga, independentemente da ideia de jogo de cada grande pela diferença de qualidade individual, os grandes acabam sempre por ter mais posse do que a maioria dos adversários. Salvo raras excepções, a grande maioria das equipas da Liga cria apenas dificuldades aos grandes nos segundos seguintes à recuperação da bola. Isto significa que se cada grande tiver uma transição defensiva segura, as probabilidades de vencer um jogo aumentam significativamente.
Um dos segredos do sucesso do Benfica de Bruno Lage é a sua fantástica transição defensiva que permite exacerbar o domínio sobre os adversários e isto, também, permite atacar mais e melhor porque avançar juntos aumenta as probabilidades de sucesso ofensivamente. Um dos golos de Félix iria proceder-se após uma recuperação rápida da bola após a perda.


Numa noite incrível na Luz, onde sobressaiu a capacidade incrível para roubar de Florentino, naturalmente que, a transição defensiva do Benfica ganhou maior destaque. A capacidade individual de Tino para recuperar e voltar a colocar a bola jogável foi fundamental para a domínio avassalador encarnado. Veremos como se irá preparar o Benfica de Lage perante um Porto fortíssimo e favorito para sábado."

Profilaxia contra o levantamento de rancho, a histeria coletiva e a selvajaria pura nos bancos técnicos

"Por muito estranho que pareça, hoje não vou falar de arbitragem. Não vou analisar penáltis, não vou esclarecer lances nem vou debruçar-me sobre a intervenção dos videoárbitros.
É certo e sabido que essa é a minha zona de conforto, mas quem esteve no futebol tanto tempo acaba por conhecer a realidade do jogo, no seu todo. Acaba por ter noção abrangente e distante das coisas. De muitas outras coisas. E, deixem-me que vos diga com sinceridade – por muito que a lavagem cerebral vá quase sempre em sentido contrário – a verdade é que o espectáculo que todos gostamos, é mais, muito mais do que meia dúzia de decisões discutíveis, em momentos delicados, de partidas sensíveis.
A reflexão que hoje proponho centra-se, por isso, noutro fenómeno.
Num fenómeno massivo e generalizado, que tem ganho visibilidade assustadora, graças às inúmeras transmissões televisivas a que vamos assistindo. É que, caso não tenham reparado, o malandro do slow motion não mostra apenas o tal toque surreal no pé ou aquela mão malandra na área.
Mostra tudo. Tudo mesmo. Sem filtros. Sem “mas” nem “ses”.
Mostra, por exemplo, o comportamento alterado de alguns elementos dos bancos técnicos.
Todos nós vemos o que vemos e o que ninguém normal pode ter o desplante de negar: há ali atitudes deprimentes, protagonizadas por pessoas que têm responsabilidade moral e obrigação regulamentar de ter o comportamento oposto. Totalmente oposto.
O que as imagens nos mostram, nalguns casos, são verdadeiros “levantamentos de rancho”; selvajaria pura, escudada na desculpa esfarrapada das emoções que não se controlam ou, pior, naquela coisa linda de que somos latinos e coiso e tal.
As duas são de regurgitar. Aromas de chá para inglês cheirar. Na verdade, são subterfúgios pequeninos que tentam camuflar o óbvio: tudo aquilo é intencional, é quase sempre estratégico e reflecte a má educação e má formação de muita gente. Ponto.
Mas vamos tentar olhar para essa aberração comportamental com sentido de justiça, com olhos de ver:
Estar sentado num banco técnico pode, de facto, ser muito desgastante. A intensidade dos jogos é enorme para quem o sente de perto. Para quem sabe que o seu trabalho, o seu mérito, a sua dedicação, são escrutinados em cada opção, a cada minuto. Daí nascem excessos, momentos de frustração esporádica, reacções a quente, que o bom senso aconselha a entender, com elasticidade e paciência. Com aceitável margem de tolerância.
Esta verdade é ainda maior quando estão em causa atitudes de suplentes e treinadores, que são aqueles que mais mergulham a fundo no drama de cada desafio, com profundo profissionalismo, com enormes ilusões, com muito mais a perder do que a ganhar. Tudo certo.
Dito isto... há (ou devia haver) uma linha que separa o desabafo momentâneo do comportamento bélico, da postura terrorista. Da grosseria gratuita.
E é isso que aqui critico e repudio, porque são essas condutas que contaminam, inflamam e incendeiam tudo o que gravita em torno do jogo.
No futebol – no tal futebol que todos queremos e merecemos porque pagamos e gostamos – não pode haver espaço para pessoas totalmente descontroladas, com tiques de piromania e sintomas de demência.
E, no contexto actual, parece-me que há vários erros que alimentam este absurdo.
O primeiro é que há por ali gente a mais (logo disciplina a menos): cada banco técnico alberga sete jogadores suplentes e sete elementos técnicos. São catorze sofredores, a que se juntam outros quatro, que ficam no chamado "banco suplementar". Dezoito de uma equipa mais dezoito de outra dá... 36. 
Trinta e seis homens potencialmente alterados, eventualmente enervados, quase sempre stressados.
O árbitro, que já tem que gerir vinte e dois atletas de lucidez afectada, tem depois que “levar” com três dezenas de alminhas que, do lado de fora, dão tantas vezes o espectáculo que se sabe. O espectáculo que todos vemos, incrédulos, no conforto dos nossos sofás.
Diz-se que a quantidade é inimiga da qualidade. Ali a máxima aplica-se na perfeição.
O médico salta, o segundo massagista refila, o roupeiro estrebucha e o preparador físico dá palpites. Há momentos em que todos estão de pé, de braço apontado e em histeria colectiva. Há imagens que mostram, ao pormenor e com requintes de malvadez que todos dispensávamos, cada letra de cada palavrão, cada espumar de boca, cada expressão tresloucada. É o absurdo dos absurdos a trespassar a tela rumo aos nossos olhos.
E mais absurdo ainda é constatar o conformismo com que todos parecem aceitar essas condutas. É como se já fizesse parte. Uma espécie de folclore aceitável, do género “vá lá, não liguem a isso”.
É difícil digerir esta sensação de inércia, de que nada parece ser feito no sentido de travar, de vez, aquela que é a maior ameaça ao ambiente que se cria nas bancadas. Ambiente que pode depois ter reflexos negativos na segurança dos próprios adeptos e na saúde desportiva do jogo.
A estratégia populista de barafustar por tudo e por nada visa pressionar o árbitro e infectar as pessoas e é quase sempre bem sucedida. É quase sempre bem sucedida porque os árbitros não são, por vezes, tão firmes quanto deviam mas, sobretudo, porque as consequências disciplinares resultantes dessas acções são, quase sempre, um mero convite à reincidência.
É isso que acha o adepto comum e tem razão. A maioria tem sempre razão. Sabem aquela sensação de ler os acórdãos irascíveis do Sr. Dr. Juíz Neto Moura, que defende até à morte o marido agressor e insinua que a culpa é da esposa agredida? É mais ou menos igual. Dói de tão frustrante e injusto que é.
Soluções:
1. Continuar a sensibilizar quem vai para os bancos técnicos da importância que têm enquanto referências, enquanto exemplo que são para muitos milhões de pessoas. De seguidores e fãs. Continuar a consciencializá-los que o seu comportamento tem reflexos directos no comportamento dos outros.
2. Regulamentar no sentido de reduzir, ao mínimo possível, o número de pessoas autorizadas a ir para aquelas zonas. Quantos menos pessoas, menor a confusão. Garantidamente.
3. Ter a coragem de criar regulamentação que puna adequadamente (vou repetir, adequadamente) condutas inaceitáveis, como as que, transversalmente, vamos vendo por aí. A punição pesada, apesar de chatinha, funciona sempre.
Nesta matéria, outros campeonatos (como aqueles com quem tantas vezes gostamos de nos comparar) dão grandes exemplos. Exemplos de sobra.
Coragem. Com coragem isto muda."

Batoteiros assim não merecem perdão

"Onde se fala de Casemiro e de uma grande mentira

O mundo desatou a rir, comentar, condenar e exultar a atitude de Kepa no último domingo, em jogo da final da Taça da Liga inglesa. E bem, claro: foi uma atitude rara e que se tornou mediática.
No mesmo dia, porém, houve uma atitude bem mais condenável que tem passado pelos pingos da chuva: a grande mentira de Casemiro no terreno do Levante.
O médio do Real Madrid é um mentiroso. Ponto final.
Não há outra forma de classificar alguém que faz o que ele fez: que se aproveita da proximidade de um pontapé adversário para se atirar ao chão, enganar o árbitro, assaltar o adversário e defraudar o público. No fundo o que Casemiro fez prejudicou-nos a todos.
Havia provavelmente milhões de miúdos a acompanhar aquele jogo. Milhões de miúdos que viram a mentira do médio brasileiro e ficaram a achar que é razoável mentir. Afinal de contas, até foi premiado por ela: a grande penalidade permitiu ao Real Madrid ganhar o jogo.
No fim Casemiro, como centenas de Casemiros que há todos os anos em tantos campos, deve ter saído do jogo a pensar que fez bem, que garantiu a vitória. Se calhar até houve quem lhe tenha dado uma palmadinha nas costas. E isso é que é grave.
Esta glorificação da mentira, este elogio ao engodo, esta corroboração da desonestidade.
Faltam valores ao futebol.
Se os jogadores não respeitam princípios como a sinceridade, o respeito, a lisura ou o fair-play, convém que alguém o faça por eles. Porque não fica bem ao futebol ser um espaço de batota e mentira: e não fica bem aos adeptos, sobretudo àqueles que prezam a boa educação que um dia receberam dos pais, defender este tipo de atitudes.
Afinal de contas tem tudo a ver com os valores que queremos passar aos nossos filhos.
Por isso, lá está, o que Casemiro fez foi bem pior do que a atitude de Kepa: o egoísmo tem de ser repreendido, a batota tem de ser banida.

PS. Claro que não há-de faltar quem venha dizer que grave, grave foi o videoárbitro, que foi criado para punir exactamente estas situações e foi incapaz de ver que não houve sequer contacto. É verdade, mas não é a verdade toda. O videoárbitro falhou e falhou feio, mas isso não retira um centímetro da culpa a Casemiro. Nada lhe retira um centímetro da culpa, aliás."

O treinador-gestor e os activos tóxicos

"Pouco importa, para o caso, se nos deixamos convencer pelas explicações de Maurizio Sarri acerca do desentendimento com Kepa na final da Taça da Liga inglesa. O episódio caricato (e preocupante?) que aconteceu no relvado de Wembley, já na contagem decrescente para o desempate por penáltis, é a mola impulsionadora perfeita para uma reflexão sobre a relação entre treinador e jogador. Uma relação que vai muito para lá dos ditames simplistas da hierarquia.
A confrangedora novela Kepa (que fez mais pela divulgação do nome do jovem guarda-redes espanhol do que os 80 milhões de euros que custou ao Chelsea) foi-nos vendida como um problema de comunicação, uma leitura que ajuda a fazer a ponte para os estudos que se debruçam sobre os conflitos entre mentor e atleta. Seja qual for a modalidade, seja qual for o background ou a faixa etária, o potencial para o desentendimento é uma sombra permanente a pairar sobre um campo de treinos.
Com esse risco em mente, e tomando por boa a literatura existente e o feedback de vários protagonistas, há três vectores que ajudam a minimizá-lo: manter a distância devida (estabelecer limites no relacionamento), o compromisso com um objectivo comum, e uma via desimpedida para o diálogo. Estas são pedras basilares de uma relação produtiva, que podem ser salvaguardadas com recurso a diferentes estratégias, que vão desde a auto-regulação até ao uso de uma abordagem equilibrada (no caso do treinador, por exemplo, ponderar o peso da crítica rigorosa e do elogio genuíno).
Um estudo conduzido por um grupo de investigadores da School of Sport, Exercise and Health Sciences, da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, e publicado em Julho de 2018, indica que são os atletas que têm mais dificuldades em abordar o treinador em caso de insatisfação ou de dúvida e que há uma tendência natural para evitar a confrontação a todo o custo.
“Enquanto a experiência e a posição do treinador o tornam num solucionista de conflitos em tempos difíceis, é a vontade de ambos, treinador e atleta, resolverem o problema e a sua habilidade para comunicar que pode ter ramificações importantes para minimizar conflitos negativos”, pode ler-se no trabalho intitulado Managing conflict in coach-athlete relationships.
No cerne da questão está, muitas vezes, a tendência do atleta para se concentrar na árvore e descurar a floresta. Essa incapacidade para ver mais além, para abarcar o todo, gera desvios interpretativos e tensões acumuladas. E é precisamente por ter uma exacta noção da sensibilidade do tema que Pep Guardiola elege como requisito fundamental nos futebolistas que contrata a adesão a uma “cultura de equipa”. Mais do que um livro de regras internas ou um espartilho disciplinar, mais do que chavões verbais ou rituais simbióticos, o que importa é que todos os membros do plantel adoptem comportamentos que conduzam a equipa até um objectivo global, que, no limite, acabará por ilustrar a verdadeira identidade do grupo.
Há circunstâncias, é certo, em que o conflito acaba por potenciar o rendimento do atleta, que redobra esforços no sentido de dar uma bofetada de luva branca ao treinador. Mas essa não é, não pode ser, a regra. Muito menos quando as divergências, na sua versão mais rude, são atiradas para o colo dos adeptos, como aconteceu tantas vezes ao longo da história.
Exemplos? A troca de agressões entre o treinador Delio Rossi e o médio sérvio Adem Ljajic, ambos da Fiorentina, logo após a substituição do jogador, em 2012; a fúria de Arjen Robben no Bayern Munique quando Carlo Ancelotti o retirou de campo, em 2017, algo que aconteceu também com Zlatan Ibrahimovic (AC Milan), Carlos Tévez (Manchester City), ou, mais recentemente, com Manuel Fernandes, que deixou o treinador do Lokomotiv de mão estendida em Moscovo, na presente edição da Champions. E, claro, aquela discussão burlesca e interminável entre Mido, estrela do Egipto, e o seu seleccionador, Hassan Shehata, nas meias-finais do CAN de 2006.
Não raramente, este é o preço a pagar por contar com uma estrela, tantas vezes de cariz indomável, que resolve problemas em campo e os cria fora dele. Mas essa tolerância presa pelos arames dos resultados ou das receitas é um soco no estômago à espera de acontecer. Damon Stoudamire, jogador da NBA durante 15 épocas e agora treinador de basquetebol na University of the Pacific, na Califórnia, sabe do que fala: “Às vezes somos complacentes durante o tempo necessário para descobrirmos como vamos resolver o nosso problema de produção. Claro que se dermos tempo suficiente a um jogador tóxico, ele eventualmente virará toda a equipa contra nós”."

Chovia como se o céu doesse...

"White não era apenas branco de apelido. A sua tez era tão clara que fazia dele praticamente transparente. Alvo, louro, exangue, como o Menino de Sua Mãe, tinha um jeito especial para não ser visto. Não que pura e simplesmente passasse despercebido. Era a forma como se movimentava, como corria sem que os pés tocassem o chão, com asas nos tornozelos de Mercúrio alabastrino. Por isso chamaram-lhe Fantasma. O Fastasma de White Heart Lane.

John White e Cliff Jones eram bons amigos. Um escocês e um galês que jogavam no meio-campo do Tottenham. Não perdiam a oportunidade para uma boa pilhéria. Traziam um sorriso contínuo riscado na cara. Há quem garanta que essa foi a melhor equipa dos spurs de todos os tempos. Primeiro clube inglês a ganhar uma taça europeia. Tinha o estupendo Jimmy Greaves. E Danny Blanchflower, o Expresso de Belfast. E o inultrapassável Dave Mackay. E aquele toque nigromante do Fantasma.
No dia 21 de Março de 1962 estiveram em Lisboa, para defrontarem o Benfica. Mas isto é só um pormenor. Que até nem vem propriamente ao caso. Outro dia 21, o de Julho de 1964, seria mais importante. Ou mais trágico, se quiserem.
No final do treino, John atrasou-se no chuveiro e Cliff aproveitou para se ir embora levando as calças do parceiro. O tipo de facécia à qual não conseguia resistir. White ver-se-ia positivamente com as calças na mão, não se desse o caso de elas terem desaparecido do cacifo. Encolheu os ombros. Era um rapaz desembaraçado. Meteu-se no carro de cuecas e guiou até casa para buscar outro par. Em seguida dirigiu-se a Crews Hill, uma colina nos arredores londrinos de Enfield, uns vinte quilómetros para norte de Charing Cross. O lugar em que costumava bater umas bolas de golfe na companhia de Jones. Aproveitaria para reaver as calças e talvez conseguisse vencer o comparsa por uma diferença suficiente para o deixar espinafrado. Enganou-se. Nunca mais o veria.
A tarde começou a enegrecer a pouco e pouco. Nuvens escuras acumularam-se no horizonte e um vento incomodativo desarrumou as folhas das árvores e inquietou os pássaros. John bem esperou por Cliff, mas este não apareceu. Decidiu jogar sozinho. Já ia no nono buraco quando a chuva tombou em bagas grossas e se ouviu o primeiro trovão.
Um raio atravessa o corpo humano em três milésimos de segundo, diz a ciência. A corrente eléctrica que desabou sobre White queimou-lhe a pele e fez-lhe explodir os vasos sanguíneos. Rebentou-lhe os tímpanos, parou-lhe a respiração e provocou-lhe um ataque cardíaco no meio de um estertor escabujante. Deixou no cadáver do Fantasma aquilo que os médicos chamam a Figura de Lichtenberg, uma cicatriz que desenha o mapa da circulação interna do relâmpago. White podia ser um sujeito apessoado, mas não foi um cadáver bonito. No plaino abandonado, sem uma morna brisa que o aquecesse, de braços estendidos, fitou com olhar langue e cego os céus perdidos. Chovia como o céu doesse...
The Ghost: In Search of My Father, the Football Legend, é um livro tocante. Foi escrito por Rob White, filho do segundo casamento de John, com Sandra, uma rapariguinha de 22 anos que lhe dera igualmente uma filha, Mandy. Rob nunca conheceu verdadeiramente o pai, mas escavou fundo nas memórias de todos quantos os conheceram. Afinal tinha apenas seis meses quando aquela luz decidiu despenhar-se sobre a árvore debaixo da qual White se protegera de uma tempestade de Julho, quase tropical. Talvez tivesse mais confiança na natureza do que em Deus. Havia uma capela ali a dois passos. Nunca ninguém saberá o que motivou a decisão. As cicatrizes calam.
«Vivo há muito numa caixa fechada com muito para resolver», escreveu Rob. «Nem ao certo sei o que aconteceu com as cinzas do meu pai. Disseram-me que iriam espalhá-las sobre a relva de White Heart Lane. Nunca o confirmei». Entretanto o estádio do Tottenham foi demolido. O_Fantasma ficou sem casa. Vaguerá sem destino, se esse é o destino dos fantasmas.
Houve um dia que Rob sentiu necessidade de ir a Musselburgh, na costa de Firth of Forth, não longe de Edimburgo, local onde John nasceu em 1937. Procurou uma pousada para passar a noite e instalou-se antes de deambular pelos arredores. Contou que, apesar de ir em busca das raízes paternas, não revelou inicialmente quem era. Uma espécie de demanda, talvez. Necessidade de reservar a intimidade da sua peregrinação. A senhora que o recebeu arranjou-lhe um quarto agradável e pediu-lhe um documento de identificação. Em seguida perguntou-lhe se queria deixar na recepção o número de alguém próximo para o caso de suceder algum imprevisto. Rob estranhou: «Mas que diabo me pode acontecer enquanto passeio no campo?» E ela, com toda a naturalidade: «Ora, pode muito bem cair-lhe um raio em cima»."

A perspetiva de sucesso a “curto prazo”

"Atletas, músicos, gestores e outros performers veem frequentemente o seu sucesso documentado em entrevistas, redes sociais e demais mídia que, frequentemente, retratando um momento único - como se duma foto se tratasse, pouco interesse têm no percurso percorrido (e nas curvas e “tombos” dados) até ao momento que pretendem documentar (quem sabe ter a sorte de um exclusivo!) – o Sucesso.
De facto, não podemos sequer nos queixar de falta de informação nas mais variadas áreas:
- Artistas com vidas perfeitamente destruídas numa dada fase da sua carreira e após declarado sucesso;
- Atletas de futebol profissional (da premier league inglesa, por exemplo, já alvo de estudos de interesse aprofundado) que, num espaço muito curto de tempo pós-final de carreira se encontram falidos, desenraizados socio-familiarmente e deprimidos;
- Atletas olímpicos que passam um período alargado de tempo em processos cirúrgicos e de recuperação de lesão, em perfeito anonimato;
- Gestores e administradores de empresa que desfalcam (de forma calculada ou por incompetência) as empresas de onde saem, deixam largos milhões de euros de prejuízo que, quase inevitavelmente, virão a ser suportados pelos contribuintes, entre tantos outros possíveis exemplos.

Que Critérios Determinam o Sucesso?
Num dos últimos momentos com a imprensa, José Mourinho, sendo questionado sobre o seu “insucesso”, retorquiu recordando toda uma carreira de galardões e prémios alcançados, evidenciando claramente uma noção de Sucesso como “trajecto” e não um momento pontual. Em boa verdade, um dos grandes problemas com que a sociedade se debate, prende-se com a valorização de um sucesso imediatista e a curto- prazo, muitas vezes sem qualquer noção das consequências desastrosas que este mesmo “sucesso” poderá ter na carreira e vida da pessoa/empresa/clube a médio-longo prazo.
Mas esta, não é uma “informação sexy” – não activa e aguça a curiosidade de quem acede à mesma, não “vende”, não produz “likes”, nem “anestesia” de um quotidiano stressante do qual se pretende fugir... nem que seja a “sonhar” com a (aparente) vida de outros.
Este sucesso de “consumo imediato” que passa uma espécie de mensagem subliminar de que o sucesso é tangível a curto-prazo (e que, lamentavelmente, é irresponsavelmente defendida por pessoas que nada percebem de funcionamento humano e da dinâmica interna da personalidade de cada um, prometendo “golos, vitórias, dinheiro e felicidade” sustentado em... perdão, sem qualquer sustentação científica) acaba por funcionar, desta forma, como uma espécie de “shot” que faz as pessoas acreditarem que, de facto, basta querer.

Trabalho Duro
Querer é de facto importante, mas Determinante é trabalhar duro, cair, levantar, voltar a cair, manter o esforço em frustração... é aprender a lidar com emoções “negativas”, manter o foco e resistir à tentação do “escapismo” fácil que desistir de forma precoce pode trazer sob a forma de “alivio”, intelectualizando um sem numero de razões e justificações que nada têm de racional ou estratégico.
O discurso emocionado de Lady Gaga, após concretizar um sonho de longa data, onde referiu que se encontrava naquele palco a segurar aquela estatueta em virtude de anos e anos de trabalho duro foi, em alguns meios, considerado de dramático e amplificado.
Não é dramático – É Real.
Mas só o entenderá quem, passando um trajecto semelhante, compreender a expressão emocional e profundidade do seu discurso. Inúmeros são os casos que, nacional ou internacionalmente, espelham esta mesma “dura” realidade – o Sucesso (sustentado, duradouro, sem prejuízo irreparável das esferas pessoais e familiares de quem o protagoniza), não é uma corrida de 100m... é uma longa ultramaratona.
Mas, uma vez mais, este é o seu “lado sombra” – o lado de que quase não se fala, que não aparece nas redes sociais, no conteúdo das entrevistas ou da grande maioria dos livros biográficos ou, quando se fala, traduz-se apenas numa passagem rápida (e ligeira) para poder dar ainda mais ênfase ao Sucesso. 

Potenciar o Sucesso
Como podemos preparar jovens, adultos e organizações se “vendemos” o sucesso como se fosse uma espécie de “pudim instantâneo”?
Como podemos preparar jovens, adultos e organizações se “vendemos” o sucesso, por exemplo, focado na prestação a curto-prazo das equipas comerciais das organizações, deixando as pessoas que se encontram na “engrenagem” dos bastidores (funções mais administrativas mas Vitais para a eficiência dos processos) em perfeito anonimato e sem qualquer reconhecimento?
Como podemos preparar jovens, adultos e organizações se “vendemos” o sucesso nas escolas através de “rankings” de notas e prestações em exames, sem qualquer referência a competências de trabalho e soft-skills (competências on-job), já recorrentemente documentadas como um dos principais factores de sucesso no mundo adulto?
Como podemos potenciar sucesso se o associamos à “marcação de golos” e vitórias (desde a formação), não valorizando de igual forma (e com igual peso – mesmo que em processo interno da equipa) a prestação do guarda-redes, do defesa ou do médio que impediram uma série de movimentos de transição ofensiva do adversário?
Poder, podemos... mas envolve uma clara mudança de paradigma e talvez não seja assim tão complicado... mas, porque focado em propósitos a médio longo prazo, seguramente não será tão “sexy”.
É que a palavra “Sucesso” é “leve” e desejada, enquanto que a(s) palavra(s) “trabalho” (duro) traz um “peso” do qual muitos tentam fugir."

Registo histórico

"O Benfica acaba de atingir mais um registo histórico ao ultrapassar os 40 mil Red Pass! Somamos a esse valor os cerca de 8 mil lugares Corporate e já estamos a falar de quase 48 mil lugares anuais vendidos – o equivalente a mais de 75% da taxa de ocupação do Estádio da Luz.
A ‘notícia’ está, em primeiro lugar, na ultrapassagem dos 40 mil Red Pass. “Um número mágico”, nas palavras de Miguel Bento, hoje ao jornal ‘A Bola’. A partir daqui, segundo o Director Comercial e de Marketing do Benfica, há um novo desafio que se coloca e que passa por limitar “a evolução destes números”, pensando naquilo que deve ser a superior defesa do interesse dos sócios.
Existe, por isso, um conjunto de medidas prontas a implementar para proteger actuais e futuros associados – que serão sempre, “o eixo do desenvolvimento” do Benfica. Algumas dessas medidas já são conhecidas (com especial destaque para a introdução do mercado secundário), outras serão anunciadas em breve. O objectivo passa, em ambos os casos, por continuar a criar valor e por ter o estádio mais vezes lotado.
Esta dinâmica de crescimento enquadra-se no objectivo proposto por Bruno Lage ainda nos primeiros dias de Janeiro. É, de facto, a “Reconquista” a palavra-chave na relação entre Clube e Adeptos. É por isso que estamos juntos. E também é por isso que vale a pena sublinhar as palavras ontem deixadas numa rede social por um dos nossos jovens jogadores (Jota): “O Benfica é maior do que todos nós e isso nunca mudará.”

PS: A demonstrar toda a dinâmica que se vive, amanhã, no âmbito das comemorações do nosso 115.º aniversário, inauguraremos um novo espaço de mostras temporárias no Museu Benfica – Cosme Damião. O tema da primeira mostra será “Museu Talismã – História, Troféus e Mística desde 2013”, precisamente o ano de abertura do Museu. Uma prova viva do ciclo vitorioso construído nestes últimos anos e um incentivo a novas conquistas."

Benfiquismo (MCVIII)

No bom caminho...!!!

Trotinetas e 'tretinetas'

"Nem sequer refiro, por insignificante, a ida de um presidente e director de futebol à cabina, de um árbitro, no fim de uma partida

1. Hoje resolvi escrever este meu texto em jeito de trotineta. Desde logo, porque as trotinetas estão na moda e não exigem muita energia. E porque o ambiente em redor e por causa do futebol patina constantemente e com ligeireza, como se ele próprio fosse uma trotineta.
Começo pelas propriamente ditas. Diz a Wikipedia que a trotineta (versão mais aportuguesada do que trotinete e, em português brasileiro, patinete, o que, desportivamente falando, é bem sugestivo da ideia de se porem os patins a alguém) é «um meio de transporte constituído por duas rodas em série, que sustentam uma base onde o utilizador apoia os pés, guiando-o através de uma guidão que se eleva até à altura da cintura».
Em Lisboa, há trotinetas por todo o lado. Senhores engravatados, jovens com mochila às costas, par de namorados encostados na estreita base da maquineta enxameiam tudo o que é ou parece pavimento na urbe. Nas agora ciclovias, nos passeios destinados aos peões (que os trotineterios não são, por essa circunstância de andarem em trotinetas), nos corredores bus a descer a Avenida da Liberdade ou outra rua qualquer, ou, ainda, navegando em amostras de asfalto. Estacionados em pé, deixados deitados em regime de pousio abandonado, encostados a qualquer coisa que não mexa, eis agora a trotinelândia. A trotineta tende a ser politicamente incorrecta quanto ao seu uso por sexo (perdão, por género). Certamente o leitor já reparou que, ao invés das bicicletas, são os homens que muito mais utilizam este meio do que as mulheres. E agora que há ginásios e outros negócios de 'fitness' (que fino!), quarteirão sim, quarteirão sim, desconfio que muitos dos utilizadores das trotinetas que não se auto locomovem vão, de seguida, enfiar-se nos tais espaços para fazer os exercícios que não fazem quando na rua. E, mesmo assim, há quem chame ao andar de trotineta 'desporto de rua'! Também há quem use bicicletas eléctricas sem necessidade de dar ao pedal, mas que depois vai apresado para o ginásio fazer bicicleta numa múmia paralítica a fingir que é uma bicicleta.
Enfim, sinais dos tempos, em que se finge com inusitada autenticidade e se perde a genuinidade com indisfarçável dissimulação.

2. No nosso futebol, abundam os trotineteiros. Em cima da prancha são uns ases. Não cumprem as regras de trânsito (em verdade, até as desprezam) e inventam trajectos de que nem os canídeos se lembram. Uns meses no equilíbrio para gerar desequilíbrios. Sempre sorridentemente sorrateiros, são experts em aplicações móveis da arte alucinante de mentir e da imaginação fértil de inventar. A este propósito, vale a pena citar o escritor americano Mark Twain, de tão actual que é, apesar de ter vivido mais no século XIX: «A Mentira, na sua condição de Virtude e de Princípio é eterna. A mentira, enquanto passatempo, refúgio em tempo de necessidade, a quarta Graça, a décima Musa, a melhor e mais fiel amiga do homem, é imortal e não desaparecerá da Terra enquanto este Clube existir. Um grupo de entendidos que bem merecem ser designados, quanto a esta matéria e sem lisonja indevida, Velhos Mestres» (as maiúsculas foram do autor, não minhas).
Em relação ao veredicto de Twain, há agora uma diferença assinalável dos trotineiros da bola, uns mais boçais, outros mais filósofos. Têm como aliados preferenciais e via verde (sem qualquer conotação maldosa) dos youtube, facebook, tweet, instagram, etc., que o americano jamais sonhou usar como correio azul (sem qualquer conotação maldosa) da mentira e da invenção. Mas são também aliados de certos meios de chamada comunicação social que, em regime de via larga, acolhem as tretas, as clonam com uma profusão assinalável e as manipulam na trotineta das audiências. E o povão, sedento de qualquer quebra da rotina do quotidiano, aplaude freneticamente, estas trotinetas das tretas, ou usando um forçado neologismo as tretinetas.
Na última semana, duas tretinetas, entre vários exemplos. Com um pé na prancha e outro fora dela (o programa até se chama Pé em Riste), um comentador insinuou, seguindo li no Público, que a equipa do Benfica deveria ser sujeita a um teste antidoping, após as recentes exibições ao leme de Bruno Lage: «Eu tenho visto os jogadores a correr e espero que se façam os testes antidoping, que são normais e imperativos. Eu acho que da forma que o Benfica tem corrido não ficava nada mal fazer um teste antidoping. Quem não deve não teme». Quando li a notícia - confesso - só me lembrei de duas populares e sempre sábias asserções: 'mosquitos por cordas' e 'engolir um boi e engasgar-se com um mosquito'. O primeiro percebe-se: o Benfica de tanta correria está, novamente, na luta pelo campeonato e, como tal, nada melhor do que fantasiar e armar confusão e bagunça. O segundo cada qual que faça e sua leitura, preferencialmente recordando outros tempos áureos de boi e/ou do mosquito. Melhor que todos esteve Bruno Lage ao ser questionado sobre este não assunto: «indiferença total».
O segundo ponto veio de outra trotineta, neste caso, televisiva. O director de comunicação de um clube, o FCP - consoante voltei a ler no jornal Público - «levantou a suspeita de o Benfica estar a influenciar os adversários para que estes sejam mais agressivos nas disputas de bola com jogadores dos dragões», dando a lesão de Danilo Pereira como exemplo. E, não satisfeito com tanta preclara insinuação, o remunerado funcionário desenvolve: «No lance do Danilo, o jogador não vai sequer à bola, quase que deixa transparecer que há intencionalidade em diminuir os nossos jogadores (...). E se há um clube que é capaz de violar o sistema informático de justiça, que é suspeito de prometer prémios para as equipas ganharem ou empatarem com os rivais, que é suspeito de pagar para vencer, eu também posso levantar suspeitas que podem (sic) estar a haver pagamentos, ou coisas parecidas, para o que está a acontecer».
Pronto. Ele Jota Marques decidiu, está decidido. Éber Bessa, o faltoso (e agressor, segundo ele) jogador sadino não cuidou dos travões da sua trotineta, quem sabe se também paga pelo Benfica. Por mera curiosidade, aqui me lembro do número de faltas do Vitória de Setúbal: apenas 7 (o Porto fez mais do dobro, 16...), ao que julgo, recorde mínimo na Liga, a uma média de uma falta por cada 13,5 minutos de jogo.
Uma pequena dúvida se me assaltou ainda. Marega, o influente jogador do FCP, contraiu, há pouco tempo, uma rotura muscular. Ao que me recordo, a correr sozinho. Brahimi também se magoou, ao que julgo, sozinho também. No início da época, Aboubakar teve uma grave lesão. Ao que me lembro, igualmente sozinho. Ou estarei enganado? Ou será que a relva é paga pelo Benfica para magoar estes atletas? Nessa altura, melhor fora que lhe chamassem - à brasileira - a grama do gramado (não confundir com grana dos jogadores). Ou será, ainda, que há toupeiras encarnadas a fazer buracos na relva onde o Porto joga? Não sei mesmo se o avisado interpelador não teve em mente os mimos do jogo da primeira volta na Luz entre SLB e FCP. Estão no youtube. Vale a pena revê-los...
E, por aqui, me fico quanto a trotinetas. Nem sequer refiro, por insignificante, a ida de um presidente e director de futebol à cabina de um árbitro, no fim de uma partida. Em trotinerta, claro.
Felizmente, estamos perto do Entrudo. Uns de trotinetas, outros com tretinetas.

Contraluz
- Treinadores I: Diego Simeone
O técnico do Atlético de Madrid manifestou-se num dos golos da sua equipa contra a Juventus de uma forma exuberantemente genital (ou agrária). Censurável sem dúvida, apesar de muito genuína. É dos poucos treinadores que não pode a trotineta emprestada.
- Treinadores II: Os despedidos simples ou postos na rua os patins das trotinetas dos jogadores. Do ponto de vista financeiro - no futebol de alta roda - o melhor que pode acontecer a um treinador é ser despedido, mesmo que sem direito ao respectivo subsídio. Não tem de trabalhar e recebe uma indemnização choruda. Uma maravilha! Houve e há até técnicos especializados nesse 'rodízio' imperdível! O último despedido, José Mourinho, ao que dizem as notícias, arrecadou a módica quantia de 22 milhões! «Despeçam-me, por favor», pensarão alguns, coitados ainda a trabalhar.
- Similitude: É verdade, Rúben Dias deveria ter visto o segundo amarelo na Vila das Aves, numa falta bem escusada, por sinal. É verdade, Herrera deveria ter visto também o segundo amarelo em Tondela.
- Frase I: «Não se pode confundir velocidade com pressa»
(Walter Casagrande, ex-jogador)
- Frase II: «O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas as suas duas fontes de sonho»
(Carlos Drummond de Andrade)
- Confusão: Há certos nomes de jogadores que abundam. Um deles é Dembelé. Estava a ver o Lyon - Barcelona e havia quase três (dois no Lyons, embora um por aproximação. Ndombelé, e outro no Barça). Há outros pela Europa e China e até um outro em Portugal (no Tourizense)."

Bagão Félix, in A Bola

O efeito Pizzi

"1. O Benfica mudou de sistema e, para surpresa dos cépticos, as melhorias em campo não tardaram. Como sempre acreditei, ficou provado que, individualmente, os jogadores eram bem melhores do que pareciam e que o plantel, mesmo com alguns equívocos, era suficientemente profundo. Se todos melhoraram, há dois que não só melhoraram, como têm sido decisivos para a melhoria colectiva do Benfica: Gabriel e Pizzi.
O brasileiro, uma espécie de 'quarterback', que recua para melhor ler o jogo, aproveitar a profundidade e circular a bola, fica para outro texto. Concentro-me no bragantino, que beneficiou muito da nova posição. A actuar como falso extremo, regressou o melhor Pizzi - o da época do tri. Agora, como então, os movimentos da direita para o centro são determinantes para o futebol atacante do Benfica. Se no passado, era a profundidade oferecida por Nélson Semedo, a jogar por fora, que complementava as deslocações de Pizzi, desta feita são as trocas posicionais com João Félix. É aí que reside parte significativa do potencial desequilibrador do Benfica.
Bem sei que as estatísticas não encerram toda a discussão, mas os números de Pizzi recolhidos pelo sempre proveitoso Goal Point dizem-nos alguma coisa. Para o campeonato, o médio leva já oito golos - e ontem podiam bem ter sido mais dois - e 12 assistências (são 16 em todas as competições), precisamente o dobro de um dos melhores e mais decisivos jogadores da nossa Liga, Bruno Fernandes - já agora, em segundo lugar deste ranking, está outro benfiquista, André Almeida. Para termos um termo de referência, se recuarmos à época do tri, quando foram muito propalados os números de Gaitán, o argentino fez 19 assistências. Estando ainda a época sensivelmente a meio, o que Pizzi já alcançou impressiona. Aliás, se às assistências somarmos as ocasiões flagrantes, consolida-se a importância do bragantino - são 20, precisamente o dobro de António Xavier do Tondela. Na comparação europeia, Pizzi lidera o ranking de assistências (o,64 por cada 90 minutos) e é segundo, depois de Messi, em ocasiões flagrantes criadas.
Claro que Pizzi podia ser mais intenso a defender e mais decisivo contra equipas mais fortes. Contudo, estes 'mas' estão longe de desvalorizar o muito que o número 21 contribui para o futebol colectivo do Benfica. Por alguma razão, nas últimas sete temporadas, em Espanha, primeiro, e agora em Portugal, fez sempre para cima de 30 jogos oficiais. Pizzi, em campo, vale bem mais do que parece à primeira vista.

2. Ontem ficou demonstrado que, de facto, Tiago Fernandes sabe tudo sobre futebol. Até sabe que, a perder desde cedo, era preferível manter-se fiel à 'estratégia colectiva' que anunciou antes do jogo: renunciar a jogar futebol, apostar tudo numa defesa a 11 e na dose justa de antijogo."

O Tino é o médio defensivo que todas as grandes equipas precisam. Porquê?

"No início da época, olhando para as opções que estavam disponíveis para o plantel principal, percebeu-se que o Benfica tinha quatro jogadores diferenciados vindos do Seixal: Tiago Dantas, João Félix, Jota e Florentino. E se com João Félix seria difícil não adivinhar a entrada imediata nas contas da equipa principal, a vida seria sempre mais difícil para Florentino com a quantidade de médios que foram contratados.
Não é de agora que está pronto para ser opção, tão pouco é de agora que demonstra as capacidades que tem demonstrado. Peca é por tardia a aposta no dono da posição 6 do Benfica. Ficou demasiadas vezes para trás, talvez por ser miúdo (?), mas tem mostrado que a idade é só isso mesmo: ele joga como se andasse na primeira divisão a passear há 5 anos.
Com a subida de Bruno Lage à equipa principal, adivinhava-se a chegada do Tino à liga, e não surpreende a forma como se mostrou bastante superior a qualquer um que jogou naquela posição nas duas últimas épocas. É o médio defensivo que as grandes equipas precisam, por jogarem fundamentalmente em organização ofensiva; qualidade em posse, agressividade nos momentos de perda. Intuição na forma como se coloca para defender em transição com muito espaço e poucos colegas.
Entra na equipa no período ideal para se afirmar, inequivocamente, como dono absoluto da posição, mas deveria ter tido no último par de anos o espaço para tapar os buracos que Fejsa lhe permitisse. Ainda não vimos, tendo em conta o nível de dificuldade os jogos, e tendo em conta o modelo de jogo actual e ainda em construção de Bruno Lage, tudo aquilo que pode oferecer. Mas chegará em breve ao nível em que se vai discutir, por a fasquia estar bem alta, quem deve jogar como médio mais recuado na selecção portuguesa."

A luta do título será só a dois

"Sábado próximo, no Dragão, encontro marcado com as duas melhores equipas do campeonato português. Será, ou não, o jogo do título, mas será, certamente, um dos clássicos menos previsíveis de sempre.
Neste momento, poucas dúvidas existirão de que o título desta época será, afinal, uma luta a dois. FC Porto e Benfica ganharam já suficiente distância, depois de uma jornada em que o SC Braga perdeu em casa, com o Belenenses, e o Sporting não conseguiu melhor do que um pálido 0-0, no Funchal, ficando a três pontos dos minhotos, a dez(!) do Benfica e a onze (!) do FC Porto.
O jogo do Dragão surge, assim, como uma autêntica cimeira de líderes. Apesar de não ser matematicamente decisivo, pode ser considerado mais importante para o Benfica. Uma derrota colocaria o FC Porto com uma vantagem de conforto, salvaguardando, mesmo, qualquer desaire. Porém, na actual fase, manifestamente crescente, do futebol do Benfica, com a equipa e com os adeptos tão visivelmente empolgados, um eventual empate e, sobretudo, uma hipotética vitória poderia tornar esta equipa de Bruno Lage verdadeiramente imparável.
Ontem, na Luz, o ambiente escaldou e derreteu um Chaves que tentou ser o mais gelado possível. Mais uma exibição poderosa do futebol ofensivo do Benfica, que chega ao impressionante número de 64 golos marcados em 23 jogos, o que dá uma média invulgar de quase 2,8 golos por jogo. Mas invulgar é, também, a média de golos sofridos por parte do FC Porto: cerca de meio golo por jogo, o que torna este clássico particularmente fascinante.
Sábado, o país vai parar para ver."

Vítor Serpa, in A Bola

Vencer com brilhantismo

"Imprevisibilidade do Benfica, com e sem bola, e qualidade individual fizeram a diferença

Qualidade
1. O Chaves abordou este jogo de uma forma organizada, optando por um bloco baixo, com todos os jogadores atrás da linha da bola, criando algumas dificuldades ao Benfica nos minutos iniciais. Com isto, com a linha defensiva baixa, com os sectores muito próximos, fechou muito bem o corredor central, o que retirou espaço entre linhas aos jogadores do Benfica e espaço nas costas da linha defensiva, com Félix, Seferovic e Rafa (este procura mais movimentos de ruptura que Pizzi) a não conseguirem privilegiar esse espaço nas costas, já que ele não existia. Aqui, veio ao de cima toda a qualidade do Benfica, que com paciência, muita paciência (76 por cento de posse de bola na primeira fase do jogo), chegou ao primeiro golo. A partir o jogo ficou mais aberto, com mais espaços, o que acabou por beneficiar o Benfica, e com isto, o próprio jogo.

Variabilidade
2. A maneira como o Benfica olha para o jogo, a maneira como os jogadores o pensam, como se relacionam entre eles, a relação com o espaço (a agressividade na procura deste) e com o tempo, aliando a isto toda a imprevisibilidade, com e sem bola, com a qualidade individual, fez toda a diferença, acabando por desbloquear um jogo que nos minutos iniciais aparentava não ser fácil.

Dinâmica ofensiva
3. A dinâmica dos seus jogadores: Seferovic a trabalhar a profundidade e a esticar o sector defensivo do Chaves, possibilitando que Félix, Pizzi e Rafa pegassem no jogo por dentro, mas muitas das vezes caindo também em corredor lateral e baixando na procura do espaço entre linhas, sendo que neste momento Rafa e Félix procuravam movimentos de ruptura, ia colocando dificuldades ao seu adversário (só nos primeiros 30 minutos Rafa tem quatro situações para poder finalizar com golo). Pizzi constantemente a procurar movimentos interiores, o que permitiu aos laterais envolverem-se constantemente no processo ofensivo, criando também eles alguns desequilíbrios. Uma nota também para Gabriel, muito forte no primeiro momento de construção, tento em apoio como a procurar a largura e a profundidade dos elementos mais avançados.
O Benfica controlou todos os momentos de jogo, sempre com o intuito de criar perigo e fazer mossa, o que valoriza muito o jogo, o jogar e os próprios jogadores.

Transição defensiva
4. As equipas que melhor defendem não são obrigatoriamente as que mais defendem. De todos os momentos de jogo, este desperta muito a atenção. A maneira como o interpretam, o objectivo de recuperar o mais rápido possível a bola após o momento da perda (só isto justifica a quantidade de faltas cometidas no meio campo ofensivo), torna esta equipa fortíssima. Ver jogadores como Pizzi, Félix, Seferovic, Rafa (amarelo por anular a transição ofensiva do Chaves), Gabriel, Florentino, toda esta reacção colectiva, faz com que este Benfica raramente se apresente desequilibrado defensivamente e esteja sempre muito próximo da baliza dos adversários.

Seferovic-Félix anti-rotatividade
5. Bruno Lage já nos habituou a uma rotatividade entre os vários jogadores, tanto do sector defensivo como do sector intermédio. Quanto ao sector avançado, tem optado sempre pela dupla Seferovic-Félix, podendo isto parecer um pouco estranho estando como segunda opção um jogador de tamanha qualidade como Jonas.
Avaliando pelo rendimento, estes dois jogadores que têm sido sempre opção inicial, levam em 12 jogos, entre golos e assistências, 27 golos. Recordo-me de uma frase de outro génio que por ali passou, Pablo Aimar, que dizia que «por vezes há dois jogadores que se entendem só de olhar um para o outro, ainda que haja outro que, individualmente, seja melhor que eles», não estando ou com isto a compará-los, já que são três jogadores de imensa qualidade."

Carlos Pinto, in A Bola

A identificação desportiva

"“Uma equipa, uma nação”. A vitória desportiva é um meio eficaz para sublimar o sentimento nacional. Todos os Governos recorrem ao desporto para reforçar, no interior, os laços de uma comunidade ou adquirir, face ao exterior, uma dignidade colectiva ou nacional. Nos países em vias de desenvolvimento, o desporto é uma arma política que serve os poderes instalados, mas também pode assumir uma forma de contestação. Ele é, muitas vezes, utilizado como um meio de pressão diplomática, em particular pelo boicote de países ou de competições internacionais. Submetido ao político, o desporto não será uma ideologia?
O desporto disciplina e “domestica” o sentimento identitário. E torna-se vão abordar-se a questão do desporto contemporâneo sem ter em conta este aspecto crucial, amplificado pela televisão. O desporto-espectáculo surge como uma mercadoria de massas e a organização dos mesmos como um ramo do “show business”. O valor colectivo reconhecido pela prática dos desportos, sobretudo depois que as competições desportivas se tornaram uma força relativa das Nações, esconde o divórcio entre a prática e o consumo. Por consequência, das funções do simples consumo passivo.
Em regra geral, a identificação conduz à formação das multidões. Mas com a diferença de outras multidões (políticas, religiosas, militares), a multidão desportiva não é subjugada, salvo algumas excepções, pelo carisma dos leaders que poderiam levar a cometer atos irreparáveis. Nesta eventualidade, os actores do relvado (futebolistas) esforçam-se para jogar um papel moderador.
A multidão desportiva tem um carácter particular: o seu primeiro objecto é de identificação – a equipa, o campeão, que é a ideia diretriz da nação. Quando se ouve dizer pelas pessoas “estou triste por Portugal”, quando se perde um jogo da Selecção, é como se fosse um “atentado” à secularização da identidade. Quando a equipa representada é eliminada de uma competição, o espectador reporta a seu favor segundo a regra de proximidade nacional ou cultural. Os Europeus do Norte apoiam a Holanda quando da final do Mundial de Futebol de 1978 contra a Argentina. Os argelinos apoiam a equipa da França quando da eliminação do país no Mundial de 1982, em Espanha. Os austríacos apoiam a Alemanha, etc.
No fundo, a identificação no desporto é uma modalidade social, colectiva, específica, que permite a manifestação de um sentimento de pertença grupal. A nação permite a cada um de se situar, de uma forma geral, no mundo ou, em todo o caso, relativamente aos outros, sejam eles espaços ou povos. Este sentimento de pertença é uma construção fundamental derivada da História, isto é, de uma história no decurso da qual os Estados dão forma, diferente, às nações, que se dotam de formas estruturantes. A identificação pode ser difícil, sobretudo quando é preciso escolher entre as suas origens e a vontade de integração social noutro país, como foi o caso do Euro 2016, com os luso-descendentes divididos emocionalmente entre os seus dois países: Portugal-França (um de coração e outro de residência). Entre uma velha e nova pertença, que são sobrepostas, entre raízes e enraizamentos. As identificações não cessam de se recompor, de ser um movimento interno e de se reconfigurar em ordem da batalha, o tempo que dura uma competição com concorrentes múltiplos."