Últimas indefectivações

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Defesa de cabeça aos pés

"Sem perfil de protagonista, Jardel é candidato ao Oscar de melhor actor secundário de 2014/15- Aos 29 anos tem a vantagem de conhecer com clareza as suas virtudes e limitações. É um dos baluartes do Benfica de Jorge Jesus.

1. Há jogadores que personificam a ideia de que o central de topo não tem de ser futebolista de eleição, analisado segundo parâmetros de magia, criatividade e riqueza de soluções na relação com a bola. Pelo contrário, é de interesse muito duvidoso querer agregar às qualidades imperiosas para cumprir a nobre função de defender, elementos porventura mais deslumbrantes como classe, talento, carisma, estética, habilidade e influência exercida em moldes mais abrangentes. Jardel não se deixou seduzir pelos desejos expansionistas de outros parceiros do mesmo ofício, daqueles que procuram a glória reclamando argumentos de estrelas sem antes cumprirem as obrigações mais elementares da tarefa que desempenham. E esses, mesmo que uma vez sem exemplo atinjam a excelência, não fogem à regra geradora da anarquia que transforma a equipa numa espécie de Deus nos Acuda FC.
2. Ultrapassada a fase de adaptação a uma potência como o Benfica, Jardel refinou o raciocínio e a execução de gestos e movimentos menos reconhecidos para quem vive o futebol com superficialidade. Domina cada vez melhor o espaço e o tempo; aproximou-se da perfeição no modo como actua sobre a bola e os adversários; é implacável no jogo aéreo, verdadeiramente imperial nas duas áreas; depurou a acção longe da bola e decide cada vez melhor nas situações de alerta máximo, quando a casa está desarrumada e vulnerável às investidas do inimigo. Jogador poderoso, fiável, regular, concentrado e responsável, não costuma exagerar no despudor da intervenção.
3. Aos 29 anos, idade magnífica para extrair o melhor de si mesmo, Jardel tem a vantagem de conhecer com clareza as suas virtudes e limitações. A capacidade para ouvir os conselhos do treinador e de assimilá-los como se fossem mandamentos sagrados permitiu-lhe dominar os conceitos de que precisa para ser um dos baluartes do Benfica de Jorge Jesus. E isso basta-lhe para ser feliz. É uma prova notável de inteligência realizar-se fazendo o que sabe e lhe pedem, evitando o risco de tentar o desconhecido, mesmo que, noutros tempos, se tenha deixado levar pelo fascínio da aventura criativa, nem sempre com bons resultados, como todos estarão recordados. A âncora mais sólida é a alma de defesa revelada, traduzida no modo como satisfaz paixão e prazer pelo jogo, cumprindo requisitos diferenciados dos artistas que deslumbram as plateias: o seu objectivo é travar antagonistas, impedindo que brilhem e sejam eficazes.
4. Jardel chega ao fim da temporada como um dos melhores centrais da Liga. Sem perfil de protagonista, é candidato ao Oscar de melhor ator secundário de 2014/15, processo lançado pela convicção de Jorge Jesus em colocá-lo à frente de Lisandro López e César na hierarquia liderada por Luisão. Muitos não compreendem como pode ser ele o parceiro do capitão com melhor estatística de sempre; muitos jamais encontrarão os motivos pelos quais um jogador com limitações técnicas apresenta rendimento superior a David Luiz e Garay. Jardel cumpre assim um dos principais requisitos do central de uma grande equipa: encontrou a medida exacta, de comportamento e atitude, para se articular com o companheiro do lado, de modo a completá-lo e até potenciá-lo; tudo para que o funcionamento de ambos, entendidos como dupla, seja superior à soma do talento individual de cada um.

A perfeição segundo Mika
Petit transformou manta de retalhos sem qualidade reconhecida numa equipa interessante.
O Boavista foi a surpresa e, ao mesmo tempo, um dos grandes vencedores da época. Longo e difícil foi o caminho que fez evoluir os axadrezados de condenados ao último lugar à formação que cedo abandonou a luta pela sobrevivência e vive tranquila há algumas semanas. Em Arouca, emergiu Mika para garantir o 0-0 - oitavo ponto fora de casa em 16 jogos. É raro o guarda-redes ser tão influente e esmagador num jogo, porque muito raramente alguém atinge a perfeição. E ele atingiu-a

Lopetegui foi enorme decepção
O basco foi contratado para corrigir uma época perdida e travar o ascendente do Benfica.
O FC Porto deu-lhe tudo mas ele nem um título venceu: no fim, contas feitas, prevaleceu a convicção de que merece segunda oportunidade. A época foi muito exigente a outros níveis porque, dando sempre a cara pela equipa, envolveu-se em questões institucionais para as quais não está vocacionado. Não percamos mais tempo: o diferendo com Jorge Jesus e as declarações após o jogo com o Gil Vicente mostram um homem acossado pelo insucesso, disposto a arranjar álibis e a desviar atenções para os problemas que, de repente, lhe entraram pela cabina dentro. Uma grande decepção.

Bernardo é um génio do futebol
Na relação entre tempo de jogo e valor da oferta do Mónaco, o Benfica não teve dúvidas.
Bernardo Silva foi para França por empréstimo mas consolidou a ligação ao clube monegasco, que pagou 15 milhões de euros aos encarnados. Bom ou mau negócio, é ele quem vai decidir nos próximos anos. Pelo que tem feito na estreia; pelas características que possui; pela visibilidade proporcionada pelo campeonato francês; porque tem um Europeu de sub-21 à porta e já é internacional A, não se pode excluir a hipótese de, em breve, valer muito mais do que custou. Ganha legitimidade a convicção de que estamos perante um génio de futebol."


PS: Por acaso, sussurraram-me à uns dias, que o Mika seria hipótese para o lugar do Paulo Lopes!!! Mas para ser sincero, não acredito...

Só falta mais um bocadinho...

Jonas e Lima

"Lima e Jonas têm, juntos, 35 golos marcados. É obra! Jonas foi a grande revelação encarnada. Ninguém percebe como o Valência o deixou sair tão facilmente. Eu tenho uma explicação: no sistema 4x3x3, em que o Valência joga, Jonas não tem lugar. Não tem estatura e já não tem poder físico nem velocidade para jogar entre os dois centrais adversários. Entalado entre eles, Jonas pode passar um jogo sem tocar na bola.
No sistema 4x4x2 que o Benfica adopta, Jonas tem mais mobilidade, aparecendo na esquerda e na direita, não se entregando à marcação. E beneficia das constantes desmarcações de Lima, que arrastam os defesas e abrem espaços. Não é por acaso que Jonas aparece muitas vezes sozinho em plena área para marcar. 
Mas, sendo esse sistema tão bom para alguns jogadores, por que não há mais equipas a adoptá-lo? A resposta é fácil: porque é um sistema muito exigente tacticamente. Num 4x3x3, tudo é simples: 4 defesas, 3 médios, dois extremos e um avançado. Num 4x4x2 há movimentos muito mais complexos. Por isso, os novos avançados como Jonathan Rodríguez têm tanta dificuldade em entrar na equipa do Benfica. O sistema em que Jesus aposta é mais difícil de interpretar do que o clássico 4x3x3 - mas, quando a equipa está rotinada, tem uma capacidade de produzir espectáculo e de marcar golos muito superior. Não é por acaso que o ataque do Benfica é, de longe, o melhor do campeonato, com 82 golos apontados. Se o Benfica for campeão, Jonas terá sido decisivo. Mas o modelo de jogo do Benfica também foi decisivo para recuperar Jonas. Quanto a Lima, é um jogador importantíssimo, mesmo quando não marca. Por isso é sempre titular."

Voleibol, antes do futebol

"Numa semana de grande expectativa em relação ao almejado bicampeonato de futebol para o Benfica (embora todas as cautelas sejam avisadas), escrevo sobre uma modalidade de que sempre gostei: o voleibol.
O pretexto é, claro está, o tricampeonato do Sport Lisboa e Benfica que este ano faz o triplete vencendo campeonato, taça e supertaça e alcançando a final de uma prova europeia.
Um grande trabalho de um excelente técnico e enorme benfiquista José Jardim e de um conjunto de atletas de elevado nível, numa luta renhida com a surpreendente equipa Fonte do Bastardo, uma freguesia da Praia da Vitória na Terceira (com cerca de 1.300 habitantes).
Para ser coerente, devo referir que não concordo com esta ideia de play-off para decidir o campeão. Desta vez coube ao Benfica superar um invicto vencedor da fase regular. Antes, o Benfica havia perdido duas vezes nas mesmas circunstâncias.
Era eu estudante e vibrava com as sucessivas vitórias do Técnico, apesar de estudar em Económicas. Lembro-me, com gosto e saudade, da equipa das Marias do Benfica que, por cá, passeava a sua classe. Nas últimas décadas, admirei o voleibol de clubes considerados de menor expressão desde o Sp. Espinho (ainda o detentor de mais títulos), o Castêlo da Maia ou o Fonte do Bastardo.
Nos Jogos Olímpicos ou nas competições mundiais, o voleibol é espectacular. Uma modalidade vibrante, elegante, onde não há o contacto físico directo que é a fonte de tanta discussão noutros desportos. E onde a noção solidária de um colectivo se exprime melhor no jogo jogado e no abraço colectivo que se segue a cada ponto conquistado."

Bagão Félix, in A Bola

PS: Após a festa do título, nas últimas horas, já foram anunciadas as saídas dos nossos dois distribuidores: Vinhedo (regressa ao Brasil) e Perini (vai jogar para Ravenna!!!). E ainda podem sair mais jogadores... espero que não. Mas na despedida os dois deixaram algumas palavras:
- O Perini também se emocionou:



ADENDA: Agora, foi a vez do Honoré anunciar a saída. É curioso, mas o sucesso Europeu desta época, acabou por dar mais visibilidade aos nossos jogadores, e agora vamos ter um Verão complicado...

Cuidadito con incendiar a las aficiones

"Perdón por la prolongada ausencia de este blog, pero a veces uno no consigue ser ser dueño de su tiempo y, entre unas cosas y otras, han pasado muchos más dias de los que habría querido. Perdón a los que ya eram fieles a este blog, y bienvenidos a los que se incorporen. Desde ahora tenemos una doble cita, en Estadio y en Lopeteguia.
Aunque en este primer ‘post’ del año puede que llegue con más indignación de la que en mí es habitual. Porque esta masiva campaña de denuncia sobre favoritismos, persecuciones, trampas y robos arbitrales, me parece una hipocresía doblemente peligrosa que ni soy capaz de entender, ni por supuesto puedo compartir. Estamos jugando con fuego. Y esto es una cosa seria.
Porque se puede dudar de la capacidade de los árbitros españoles. Podemos discutir sobre su talante sobre el césped, su preparación y su grado de acierto. Incluso sus enormes errores en un partido. Pero dudar de su honestidad es um pecado gravísimo. Y un arma de doble filo.
En este país hemos tenido ambientes menos enconados, y hemos vivido comportamientos en el campo cercanos a la tragedia que nos han hecho estremecer a todos. U no me quiero poner dramático. Pero de verdad creo que ser realista es encender una bengala de aviso a navegantes para no seguir echando leña a este fuego."
¿No estamos rozando el colmo de la hipocresía? No se entiende que estemos hablando de fair play, denunciando la violencia, alabando el buen comportamiento…. Y corramos el peligro cierto de estar sacando de quicio y calentando más de lo que toca a algún ‘descerebrado’ que puede perder los papeles y acabar haciendo una barbaridad. Que los hay. Nos consta porque lo hemos visto.
Y eso que los actores principales del fútbol están dando la cara. Los futbolistas y los entrenadores no dejan lugar a la duda y tanto desde Madrid como desde Barcelona han lanzado mensajes bien claros de que los puntos se ganan en el campo.
Es cierto que un mal día de un árbitro te puede llevar a la derrota. Y te calientas, y le gritas, y luego ‘rajas’ en la prensa, o a él mismo. Y el entrenador llora en la rueda de prensa el desastre arbitral del penalti o el gol anulado. Y el medio de comunicación de un lado pone a caldo al colegiado mientras el otro sólo se acuerda de la gran victoria del equipo de su ciudad.
Claro que hay lugar en el fútbol para la polémica arbitral. Los propios profesionales viven (vivimos) en la hipocresía de no hablar de los árbitros cuando les va bien, y poner el grito en el cielo cuando las cosas se le tuercen. Tenemos ejemplos todas las semanas y yo mismo entono el mea culpa.
Todos entendemos la polémica arbitral y somos parte de ella. Sin más trascendencia y sabedores que es parte de la salsa del fútbol.
Pero si en toda esta historia metemos dudas sobre la intencionalidad del árbitro, podemos estar encendiendo un polvorín. Porque el error humano calienta… y se pasa. Pero el error con alevosía deja un poso de rencor que no se sabe cómo puede acabar.
Yo he jugado 18 años y he estado en el Real Madrid y en el Barcelona. Y de verdad que no conozco a futbolistas de esos equipos que hablen de favoritismos. Es más, siempre hemos sido conscientes de que se equivocaban más en contra de los más pequeños, aunque pensamos que se debe a que los equipos grandes pisan mucho más el área y es más fácil el error a su favor.
Además, les puedo garantizar que en un altísimo porcentaje, el futbolista profesional no sabe ni cómo se llama el árbitro del domingo. Tiene tantas cosas en la cabeza, tantas variables, que el árbitro no es una de sus preocupaciones.
Y como bien dijo Guardiola, el fútbol es demasiado bonito como para reducirlo a cuestiones arbitrales. Hay que disfrutar con las jugadas, con los goles, con tantas cosas preciosas que ocurren sobre el césped. Y si además hay polémica, pues bien. La ha habido siempre.
Pero cuidado con desmadrar las cosas. No podemos incendiar a las aficiones porque las consecuencias no las podremos controlar. Y después no vale lamentarse. Somos mayorcitos para saber lo que estamos haciendo y el riesgo que corremos. ¿O no?"

Palavras ditas e malditas

"Bruno de Carvalho tem uma virtude: diz aquilo que pensa. Na entrevista à Sporting TV, não escondeu a angústia pela incerteza que tem sobre o dinheiro com que pode contar para a próxima época, situação que resulta, entre outras, do facto de o Sporting não ter entrada directa na Champions. A ambição do líder leonino não se satisfaz, pois, com o 3.° lugar. Aquilo que para muitos estaria acima das possibilidades do Sporting seria para o líder leonino um objectivo viável. Bruno quer impor uma cultura de exigência. Custe o que custar... mesmo sem dinheiro. Nesse contexto, há palavras que podem magoar, como aquelas que manifestam desilusão pelo número de adeptos que foram a Alvalade na meia-final da Taça. O desafio presidencial é permanente, rejeitando a postura conformista.
Se o Benfica vencer em Guimarães, seria normal que os adeptos encarnados celebrassem a conquista do título por todo o país, inclusivamente em Guimarães. Assim não entende o presidente da AG do Vitória, que inclusivamente diz que qualquer festejo benfiquista no Toural será uma provocação. Obviamente, há que ler as palavras do máximo dirigente vitoriano, José Isidro Lobo, à luz de um arraigado clubismo e regionalismo que muitas vezes é salutar mas noutras deveria ser posto de lado em nome do fair play e do desportivismo, para não ir a outros valores ainda mais importantes como a paz e a liberdade.
Escreveu Lopetegui, em 2010, no jornal 'La Información': «A campanha de denúncia sobre favoritismos, perseguições e roubos de arbitragem parece-me ser uma hipocrisia duplamente perigosa que não sou capaz de entender e muito menos partilhar. Estamos a brincar com o fogo». Subscrevo Lopetegui, que acrescentou: «eu próprio faço o meu 'mea culpa'. Certamente voltará a fazê-lo»."