Últimas indefectivações
quinta-feira, 19 de julho de 2018
Emails e notícias falsas e arguido verdadeiro
"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD esclarece que os diversos emails divulgados pela notícia do site da revista Sábado, com base em alegados emails publicados no blogue clandestino “Mercado de Benfica”, são falsos no conteúdo e nos endereços referidos.
Como tal, proporemos os competentes procedimentos regulatórios e judiciais, nos locais próprios e no momento certo. É absolutamente inaceitável e estranho que se presuma como verdadeiro material divulgado por um blogue com um vasto curriculum de práticas ilegais e de diversos crimes.
Tal conduta, aliás, conforma violação dos mais elementares princípios da ética jornalística, como colide com a recente deliberação da Entidade Reguladora da Comunicação Social no processo n.º 2018/112, de 14 de Junho de 2018.
Acresce ainda que a notícia dada, referindo-se a suposta correspondência privada, careceria de consentimento prévio no âmbito do novo regulamento geral de protecção de dados, circunstância só por si violadora do referido regulamento e susceptível de ser objecto de competente acção indemnizatória.
No dia em que se ficou a conhecer publicamente a constituição como arguido do director de comunicação do FCP no âmbito da queixa apresentada pelo SLB contra o crime de violação e divulgação ilícita de alegada correspondência privada do nosso Clube, estas desesperadas tentativas de lançar emails falsos e notícias falsas só demonstram que a justiça está a fazer o seu caminho e a seu tempo a produção de conteúdos falsos será devidamente responsabilizada e punida."
Na bola com mulheres bonitas
""Falamos de forma individual com todas as operadoras para que deixem de focar nas raparigas que podem ser consideradas atraentes. É trazer uma carga sexista desnecessária ao futebol". O pedido mais idiota do fenómeno desportivo universal foi feito assim, pelo dirigente da FIFA Federico Addiechi. Se há certeza dos nossos tempos é que a imaginação delirante do "politicamente correto" consegue ser estupidamente infinita, mesmo na crença estranha de um mundo virtualmente assético e assexuado.
E se o jogo for de futebol feminino?
E se se der o caso de as jogadoras, a começar, serem realmente bonitas? Não sendo olhar pecado - por este caminho, já não é certeza -, será que o italiano responsável pelo programa de diversidade da FIFA reparou alguma vez na sueca Josefine Oqvist, na brasileira Laisa Andrioli, na australiana Ellyse Perry, na americana Hope Solo ou na francesa Corine Franco, só para ter em conta alguns, poucos, exemplos ? Fazer o quê? Filmar poucochinho em campo, para que não se notem? E depois o quê? Não focar entre os adeptos os feios, os negros, os brancos, os amarelos, os coxos? É que onde acaba o sexismo também pode haver quem ache que começa a discriminação.
Dito isto, lá em Zurique, na sede da FIFA, não terão mesmo nada melhor com que se entreter? É que assim de repente, antes do pecado da beleza, expurgada das bancadas para uma espécie de "buraco negro" das teleobjetivas, há certamente outros assuntos que beneficiariam muito do zelo crítico e censório da FIFA. A tendência para uma certa prodigalidade nos gastos, os representantes corrompidos por causa das escolhas para a realização de campeonatos, os processos judiciais e detenções por fraude, extorsão e lavagem de dinheiro, o pagamento de 71 milhões de euros durante cinco anos a Joseph Blatter, Jerôme Valcke e Markus Kattner, até as campanhas descaradas de Michel Platini - inabilitado depois de receber de Blatter dois milhões de francos suíços - contra Cristiano Ronaldo, escolhido várias vezes com toda a justiça melhor jogador do Mundo, a contragosto do francês. Grande Cristiano...
Já agora, conviria que a FIFA se recordasse que durante muito tempo a atenção prestada às mulheres ajudou precisamente a mostrar que o futebol não é um desporto de homens apenas. Num estádio de futebol cabem todos. E na verdade, nas alegrias do fenómeno desportivo, todas as pessoas são bonitas. Deixem-nas lá em paz."
A força de Thomas e uma tirania com enredo
"Um ciclista formado na pista a ganhar no alto do Alpe d'Huez, ao cabo de uma etapa duríssima com três subidas de categoría especial e no derradeiro dia de um tríptico de etapas nos Alpes, parece uma contradição. Se lhe juntarmos que foi uma chegada ao sprint com cinco corredores, é mesmo para torcer o nariz. Porém, mais do que traduzir um ritmo lento, esse dado dá conta da força da Sky, que tudo controla e abafa.
Wiggins também veio da pista (e a ela voltou) e ganhou um Tour, mas sem esta exibição de poder do corpulento galês Geraint Thomas, pela segunda jornada consecutiva a impor-se a mais de 1800 metros de altitude. Milagres vindos da Sky (!?), que deu ontem a imagem de quem é o verdadeiro líder da equipa quando Bernal abandonou a cabeça do grupo do camisola amarela e foi este, Thomas, quem deu a cara ao vento em perseguição do escapado Kruijswijk e em defesa do chefe, pois claro, Froome.
Se Dumoulin mostrou, mais uma vez, ser o único capaz de aguentar (e desafiar) o andamento dos dois Sky, talvez a verdadeira notícia do dia tenha sido o momento de menor fulgor - que é diferente de fraqueza - de Froome, quando atacou mas não conseguiu mais do que alguns metros de avanço e depressa foi alcançado. Vã glória para o holandês Dumoulin, no entanto, já que agora há três dias para descansar antes da aproximação aos Pirenéus.
Thomas lidera com uma vantagem razoável e está em melhor forma do que Froome. E se o próprio amarela questiona a sua capacidade numa prova de três semanas, também o desgaste que teve o Giro em Froome e Dumoulin poderá ser ainda chamado à conversa. Mas para isso será preciso esperar mais uma semana e rezar para que o Tour não se limite a um espectáculo de voyeurismo em que meio mundo torce para um desfalecimento em directo da equipa mais forte. Haja quem seja capaz de a encostar às cordas, a bem do ciclismo e do espectáculo.
As tiranias no pelotão não são de agora. O "canibalismo" sobre rodas tem décadas - leia-se Merckx ou, mais recentemente, Armstrong (e por este nome se percebe, talvez, uma certa antipatia gerada pela Sky). Este mesmo Alpe d'Huez, em 1986, foi palco de uma das maiores demonstrações de insolência e superioridade por parte de uma equipa, a La Vie Claire, patrocinada por Bernard Tapie, que viu os dois líderes, Hinault, vencedor do Tour pela quinta vez no ano anterior, e Lemond, de amarelo e que venceria o seu primeiro de três, cortarem a meta de mãos dadas na frente. Só que ao contrário de agora, em que nada parece abalar a rigidez programática da equipa britânica, essa foi uma chegada com história e nunca devidamente esclarecida. Nessa etapa, Hinault atacou e seria depois alcançado por Lemond nas 21 curvas da subida; no final, disse ter sido para eliminar a concorrência e retribuir a ajuda do norte-americano no ano anterior, mas tratando-se do indomável bretão, apetece mesmo acreditar que se tratou de um golpe de teatro falhado..."
Ataques de fisga contra o couraçado
"Houve um tempo no ciclismo em que os grandes sabiam ser magnânimos, permitindo que pequenos pudessem festejar vitórias de etapa se isso não se intrometesse no grande objectivo da vitória final. Se tivesse corrido nesse tempo, certamente Mikel Nieve não teria deixado a imagem de desalento que ficou da chegada de hoje a La Rosière, a primeira realmente em alto deste Tour. A 300 metros da meta, Nieve foi ultrapassado por Geraint Thomas e, logo depois, por Froome e Dumoulin, altura em que nem esboçou uma tentativa de resistência. A guerra pela geral vitimou o escalador espanhol, frustrado após um dia em fuga e a quem só faltaram 300 metros para saborear os seus 15 segundos de glória.
Neste tempo, no entanto, vive-se sob uma ditadura, que fez questão de mostrar como domina o pelotão com punho de ferro na primeira oportunidade. A Sky ganha mas não de uma forma qualquer: tem especial prazer em esmagar a concorrência, que, pelo menos por enquanto, pouco mais pode fazer do que apostar em tácticas de guerrilha para tentar detectar pontos fracos naquele rolo compressor. Foi o que fez a Movistar a meio da etapa, ao lançar o eterno jovem Valverde ao ataque, beneficiando da ajuda de Soler, que ia em fuga, e foi o que fez a Sunweb, quando Dumoulin atacou a descer, numa tentativa de surpreender a organização e programação da Sky.
Só que a solidez da equipa britânica, que entra na última subida com cinco elementos quando as outras formações têm apenas um ou dois, parece não ter fissuras. Dir-se-ia que chega a ser um domínio insultuoso esta forma de correr, que faz primeiro e terceiro lugar numa dura etapa nos Alpes, assumindo os dois primeiros degraus da classificação e deixando aos outros ditos candidatos o papel de pequenos David, armados de uma mera funda ou uma fisga...
Amanhã, quinta-feira, chega-se ao Alpe d'Huez, depois de subir a Croix de Fer e a Madeleine. É uma espécie de "rien ne va plus" do ciclismo, ainda que pareça haver pouco a fazer para derrubar a ditadura da Sky. É claro que não foi por isso que outros, noutros tempos e lugares, deixaram de tentar!"
Belenenses em patins e patins na Corunha
"Mas não há ninguém que, com humildade e racionalidade, diga Basta a esta usurpação de história?
1. Lamentável tudo o que se vem passando em redor do futebol no Clube de Futebol Os Belenenses (CFB), um dos clubes com maior tradição e significado no panorama desportivo nacional. Creio que, no fim, só haverá vencidos. Desde logo, o próprio vencidos. Desde logo, o próprio clube. Mas também aqueles que protagonizam o cisma. Não me interessa de que lado está ou não está a razão, se é que está de algum dos lados. Não tenho suficiente conhecimento do que se terá vindo a passar no olho do furacão que avassalou os azuis de Lisboa, mas é razoável pensar-se que seria obrigação dos contendores preservarem, acima de tudo, a história e a vida do clube que está para além de todas as vicissitudes pessoais e institucionais.
Bem vistas as cosias, é no que dá uma legislação permissiva e aligeirada feita para uma realidade que já não é a de hoje. O risco de fragmentar irreversivelmente a ideia do clube-coração e a do clube-capital está aí neste tempo onde qualquer entidade ou pessoa pretensamente endinheirada se pode intrometer, não raro, invocando razões reais ou forjadas de sobrevivência de um clube falido ou endividado até ao pescoço. A partir daí, só o dever de bom-senso pode contribuir para que a unidade clube/SAD não se destrua, sabendo nós que a sensatez e o sentido estratégico são bens cada vez mais escassos.
Hoje é com Os Belenenses. Amanhã será com outros. Bem sei que há um certo vento de inevitabilidade no reforço da lógica capitalista, pela qual os donos-sócios de um clube são substituídos por um dono de capital. Lá fora isso espalha-se virulentamente com clubes importantes possuídos por árabes, russos, asiáticos endinheirados e, muitas vezes, fazendo dos clubes adquiridos verdadeiras lavandarias de dinheiro sujo. O futebol de há muito que deixou de ser um simples desporto competitivo para se tornar numa indústria pesada, onde muitos poucos ganham quase tudo e todos os outros vivem na ilusão do que jamais alcançam. As organizações que tutelam o futebol, desde as poderosas FIFA e UEFA às agremiações paroquiais fingem ignorar o que, mais tarde ou mais cedo, vai implodir e, pelos vistos, dão-se bem com as golpadas e truques financeiros de instituições desportivas transformadas em dissimulados offshores de diversas naturezas e (des)ordem.
Aqui, no nosso cantinho à beira-mar plantado, ainda estamos no dealbar destas aquisições que começaram por surgir em clubes modestos, agora nas mãos de pequenos e disfarçados abutres. O Atlético Clube de Portugal, um clube com tradição na cidade de Lisboa, já provou o fel desta tendência.
Voltando ao CFB, assistimos a um divórcio que seria apenas burlesco, não fosse a magnitude das suas consequências. O Belenenses SAD na Primeira Divisão irá, em transumância, para o Estádio Nacional. O Clube de Futebol Os Belenenses vai iniciar a sua caminhada partindo da última divisão distrital da AF de Lisboa, e jogando no seu lindo Estádio do Restelo. O primeiro campo, provavelmente às moscas, a não ser nos jogos com os grandes como se estes jogassem em casa. O segundo, com os resistentes belenenses de coração e assistir aos iniciáticos futebolistas num estádio só com despesa e sem receita. O emblema da Cruz de Cristo, algures disperso entre Belém e o Jamor, ou como agora se diz a marca, avocada em regime de bigamia. Até agora, um silêncio insuportável da Federação e da Liga de futebol, mais preocupados com passagem entre os pingos da chuva. E, assim, se vai dissolvendo um clube que já foi grande desportivamente, que nunca havido deixado de ser grande no coração de muitas gerações de portugueses aqui e na diáspora, e que arrisca passar a ser irrelevante no próximo futuro.
Mas não haverá ninguém que, com humildade e racionalidade, diga Basta a esta usurpação da história de uma instituição como é o CFB e se revolte contra uma aparente inacção ou apatia de quem tem deveres inalienáveis para com o clube?
O futebol português não são só os três grandes, o Ronaldo, a selecção e os programas televisivos sobre árbitros, transferências e patetices. É muito mais do que isso que importa considerar, sob pena de um dia o tsunami se voltar contra a ilusão da efemeridade do pequeno círculo de vedetas, vedetismo e celebridades.
2. Está a decorrer esta semana mais um Europeu de hóquei em patins com 11 selecções. Portugal defende o titulo de há dois anos e procura alcançar uma conquista internacional fora do país, o que já não acontece desde 1993 no Mundial de Itália e desde 1996 num Europeu também em Itália.
Pertenço a uma geração que tinha nesta modalidade o sonho e o orgulho de ser o campeão. Hoje, submergido pelo poder totalizante do futebol, o hóquei minguou no coração dos portugueses. Continuo a acompanhá-la com gosto, quer a nível nacional onde as competições têm reganhado consistência e emoção que andavam arredias, quer a nível internacional onde a Espanha tem tido agora uma grande hegemonia.
De um modo geral, deixou de haver individualidades que só por si decidiam títulos, como o nosso grande e saudoso jogador Livramento. Agora é tudo mais programado colectivamente, o que talvez tenha tornado este desporto menos espectacular. Ainda hoje recordo, com saudade, o campeoníssimo Portugal de Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Velasco e Bouços. E os históricos confrontos com os espanhóis Zabalia, Orpinelli, Boronat e Puigbó, os italianos Panagini e Gelmini e até os irmãos suíços Monney. E sinto a falta de equipas adormecidas pela erosão do tempo, como o CACO de Campo de Ourique, o Hóquei de Sintra, o Infante de Sagres ou a CUF.
Neste Europeu, certamente acontecerá o costume: a seriação das selecções em 3 níveis estanques (Portugal, Espanha e vá lá a Itália, as 3 ou 4 do meio e as que fazem apenas turismo desportivo), onde as primeiras jornadas são só para aquecer. Ressalva-se o regresso da Holanda e Bélgica (embora esta num nível indigente) e a teimosia de Andorra e Áustria. As constantes mudanças de regras de jogo também em nada têm contribuído para reabilitar esta belíssima modalidade.
3. Entre futebol mundial e hóquei europeu, jogou-se ténis em Wimbledon, que foi - como sempre - a rainha deste desporto. Este torneio de Grand Slam é, aliás, insuperável. Jogado em relva, o que lhe dá até uma frescura e estética inigualáveis, com um respeito bem britânico pela tradição que obriga jogadores e jogadoras e equipar só com a cor branca e não com o folclore de cores e vaidades de outros torneios, e não passando das 23 horas da noite para não perturbar as pessoas que vivem porto, tem também uma particularidade que, ainda que bastante discutível, tem algo de épico, qual seja a de não haver tie break no último set com o jogo empatado. Foi assim que, numa das meias-finais, se jogou durante 6 horas e 35 minutos com um final do 5.º set de 26-24, mesmo assim ainda longe do impensável 70-68 em 2010 (partida com 11h05m). A transmissão televisiva deste torneio foi, como sempre, admirável.
Contraluz
- Escolhas: neste Mundial-2018
... não vi todos os jogos, longe disso. Mas, do que observei, elejo:
a) melhor futebol: o da Croácia;
b) melhor jogador: Luka Modric;
c) melhor guarda-redes: Courtois;
d) grande revelação: Mbappé;
e) jogo que mais me agradou (não necessariamente o melhor): Bélgica 3, Japão 2;
f) equipamento mais bonito: Inglaterra;
g) melhor golo: o 2.º do Uruguai (Cavani) contra Portugal;
h) melhor organização: a próprio do Mundial que foi imaculada e a televisão russa que superou todas as expectativas.
- Aplauso: equipamento do Benfica
... este ano respeitando integralmente as três cores inerentes do SLB: encarnado, branco e preto. Assim, além de um equipamento principal simples, sem floreados e com mais vermelho, temos um alternativo bem bonito e sem a invenção de cores que nada dizem aos adeptos, como os cinzentões ou os cafés com leite.
- Diferença: na apreciação de jogadores
... na minha opinião inexplicável. Em A Bola de 11/7, na crónica do Benfica - Napredak, Paulo Alves fala da «falta de presença de Svilar na baliza» (com seta para baixo!) quando noutra apreciação de Rui M. Melo na página seguinte, o rapaz «não precisou de fazer qualquer defesa»! Em que ficamos? Falta de presença sem defesas? Ou falta de defesas sem presença?"
Bagão Félix, in A Bola
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