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domingo, 3 de agosto de 2025
Sporting-Benfica: o aleatório que alimenta o dérbi
"Os últimos cinco dérbis foram, além de mal jogados, bastante equilibrados. Em todos os confrontos a vitória poderia ter caído para o outro lado e continuado a ser natural. É o futebol que (hoje) temos
A nova época começou mais ou menos como a anterior acabou. Com aqueles ses que nada significam para quem se alimenta de factos, porém sublinham quão ténue é, tantas vezes, a fronteira entre o sucesso e a desilusão.
O Benfica venceu a Taça da Liga nos penáltis e, não sendo a tal lotaria com que se deixou de adjetivar esse desempates, cada desfecho continua a apresentar-se como um thriller. Talvez por isso, a sorte, mais à frente, tenha sentido que tinha compensar os leões. Uma bola, atirada por Pavlidis, esbarrou no poste e retirou as águias o contexto de autossuficiência em Braga e, como se não bastasse, no Jamor, estas viram a Taça escapar-se-lhe entre os dedos, já nos descontos, na impotência perante o arranque de Gyokeres. O Sporting conquistou esses dois troféus, mas paira no ar uma sensação de aleatório que não é de hoje.
Numa partida mal jogada — e se os principais candidatos jogam assim, que amostra fornecerão os outros para os poucos mercados que possam ter interesse no nosso campeonato —, o Benfica conquistou a Supertaça, depois de o Sporting ter sido campeão e festejado no Jamor, no entanto, se os papéis se invertessem acabaria, de uma maneira ou de outra, por também fazer sentido.
Mais ou menos proativos, com mais ou menos oportunidades criadas, Benfica e Sporting estão próximos um do outro. E, enquanto o mercado continuar assim, FC Porto e SC Braga podem reaproximar-se, quando há meses havia um abismo entre todos. A saída de Gyokeres não ajuda os leões e, com mais um ou dois criativos que se possam juntar ao atual maior candidato a melhor jogador da Liga, Pavlidis, e uma abordagem mais abrangente no ataque, não há porque os encarnados não possam crescer.
Já os leões parecem mais presos a si próprios. É que o Sporting não foi assim tão melhor, como diz Rui Borges, ainda que tenha chegado com facilidade ao último terço devido à qualidade individual e espaços concedidos entre setores. Mas bloqueou aí e o rival não.
Lage não apagou também as dúvidas que pairam sobre a abordagem enquanto técnico de equipa grande. Se é que para alguém faz sentido lançar um trinco para junto do avançado só para pressionar mais à frente, comprometendo a progressão em apoio. No que diz respeito a Borges, as conquistas apenas adiaram as nuvens negras. E parece ter de repensar o esquema: tirar espaço de manobra aos melhores não contrariará a lógica?"
'Entourage' de Ronaldo estende 'tábua de salvação' a João Félix
"A história de João Félix dava um filme. Comecemos por aqui, que a memória não pode ser curta, nem subitamente apagada por uns quantos milhões de euros.
Primeiro ponto: em função da tenra idade, do valor efetivo demonstrado em campo e do valor envolvido, a transferência do jovem viseense, à altura, para o Atlético de Madrid consumou-se por valores pornográficos. 126 milhões de euros foi um evidente abuso, possibilitado pelo mercado e pela capacidade empresarial de gerar valor potencial num futebolista que nunca havia saído do seu ecossistema de formação.
Excelente negócio para o Benfica, extraordinário para o jogador, a família e os empresários, mau — como, de resto, não se demorou muito a comprovar — para os colchoneros. Ainda por cima servidos por um treinador que exige compromisso absoluto em cada segundo de treino e, também, quando à paisana…
A carreira do promissor médio ofensivo passou, entretanto, e após a constatação, na capital espanhola, do quão exorbitado havia sido o valor pago, por grandes clubes. É inegável o trajeto teórico de grande valia, para escrever no curriculum vitae: Barcelona, Chelsea, AC Milan, com um denominador comum nas três grandes cidades europeias entretanto frequentadas por Félix: inícios promissores, muito sangue na guelra, mas, perante concorrência, novos sistemas de jogo e treinadores com diferentes ideias, um abrandamento súbito do número de presenças na titularidade, na própria utilização global e um gradual afastamento das principais opções técnicas.
Convenhamos que, em três emblemas da dimensão de catalães, londrinos e milaneses, começa a criar-se um padrão pouco gentil para o futebolista português. Ademais, Félix (embora recorrentemente chamado aos trabalhos da equipa nacional portuguesa), nunca se conseguiu afirmar em pleno no combinado luso, deixando no ar, de modo cada vez mais evidente, a interrogação sobre o mérito da respetiva convocação.
Aqui chegados, olhamos o movimento súbito (ou não…) para o periférico e duvidoso campeonato da Arábia Saudita.
Criadas dificuldades naturais pelo Chelsea nas negociações com o Benfica — os londrinos, naturalmente, pretendiam ser efetivamente ressarcidos do investimento já feito no jogador — há uma tábua de salvação da carreira do beirão. É lançada por Cristiano Ronaldo e pela sua entourage do Al Nassr, incluindo o recém-contratado Jorge Jesus, também ele resgatado ao desemprego dourado depois de ter visto a seleção brasileira por um canudo, ao bom estilo quem tudo quer, tudo perde. Para Jesus, nem Mundial de Clubes, nem escrete canarinho, ficando-se por qualquer coisa de que o treinador da Amadora parece gostar particularmente: um salto de cerca entre rivais, com o óbvio mediatismo daí adveniente (ainda que, convenhamos, passar do Al Hilal para o Al Nassr não seja a mesma coisa — é muito menos, ainda que, no dinheiro, possa ser muito mais… — do que trocar o Benfica pelo Sporting.
Porque estamos a falar da Arábia Saudita. Podem dizer o que quiserem, os dirigentes, jogadores e treinadores portugueses contratados pelo país do Golfo Pérsico, mas a Arábia Saudita e o seu campeonato são do terceiro Mundo do planeta Futebol, para lá das componentes sociais, políticas e humanas muito duvidosas, ao longo da história e dos comportamentos sauditas.
Fala o dinheiro em todos os momentos, quando nos referimos à liga saudita ou, por exemplo, à mais que duvidosa atribuição da organização do Mundial de 2034 à Arábia Saudita. Sim, o tal a que Cristiano Ronaldo se referiu como podendo ser «o melhor da história», no mesmo dia em que o seu país era anunciado como anfitrião do Mundial-2030…
E foi, claro, o dinheiro que falou mais alto na mudança de planos de João Félix para o Al Nassr, esse poderosíssimo conjunto, longe, até, de títulos domésticos há tanto tempo. Mas — e aqui está o turning point de todo este tema… — o jogador português pode ter dado o mais inteligente passo da sua vida. E não apenas da vida desportiva.
Vejamos: muda-se para o Golfo amparado por Cristiano Ronaldo e por Jorge Jesus.
Tem Jorge Mendes a olhar-lhe pela vida.
Vai ganhar, no limite, 35 milhões de euros líquidos por duas temporadas.
Entre uma e outra, ganha minutos de utilização, sem as responsabilidades e a pressão de uma liga a sério e efetivamente desafiante, podendo garantir um lugar na equipa portuguesa eventualmente apurada para o Mundial-2026. Se o tem conseguido com o sub-rendimento no Chelsea e no AC Milan, é previsível que o generoso Roberto Martínez o premeie, como faz com Cristiano, Rúben Neves, João Cancelo…
Fica livre do prazenteiro jugo árabe aos 27 anos, idade em que pode regressar ao futebol europeu, escolher um clube de topo (se, efetivamente, conseguir comprovar o seu inegável talento em potência), e relançar o seu nome, numa idade em que ainda poderá almejar a quase uma década sob holofotes de verdade.
É um jackpot para Félix, cujo pai escusava de vir a terreiro defender a felicidade de estar na Arábia Saudita.
Às vezes, prestamos melhor serviço aos nossos entes queridos calados do que dizendo coisas que só podem ser encaradas como brincadeira.
Félix foi, assim, resgatado. Tomará duche em petrodólares e talvez daqui a dois anos volte a ser uma boa aposta para jogar futebol a sério.
Cartão branco
Começa a ser recorrente, e ainda bem: João Pinheiro, depois da nomeação, pela FIFA, para a fase final do Mundial de sub-20, no Chile, é designado pela UEFA para apitar a Supertaça Europeia, entre Paris Saint-Germain e Tottenham. Em Portugal, continua meio mundo a bater na arbitragem e a projetá-la para o primeiro plano das preocupações. A partir de Badajoz e de Tuy, os juízes portugueses são do melhor, do mais valorizado e aproveitado. Neste retângulo há, de facto, uma opinião pública muito engraçada…
Cartão amarelo
A CAF (Confederação Africana de Futebol), continua a patrocinar adiamentos inqualificáveis aos seus principais torneios: o CAN-2024 feminino terminou a semana passada, em Marrocos; o CHAN-2024 está a começar, na Tanzânia, no Uganda e no Quénia; o CAN-2025 joga-se entre dezembro deste ano e janeiro de 2026. A credibilidade do futebol africano terá de começar a escrever-se de cima”, com o exemplo de estabilidade que os países potencialmente organizadores de competições internacionais devem dar. Assim, parece uma brincadeira de crianças…"
Morrer com a ideia… ou viver com inteligência?
"Darwin, no âmbito da teoria da evolução, ensinou-nos que sobrevive quem melhor se adapta ao ambiente, e não necessariamente o mais forte ou o mais inteligente. Uma ideia nascida na ciência, mas que podia ser o lema perfeito do futebol moderno.
Num tempo em que se idolatra o modelo de jogo quase como um dogma intocável, a sobrevivência e o sucesso no futebol não dependem da rigidez das ideias, mas da capacidade de ajustá-las à realidade. Um estilo de jogo deve ser adaptado à cultura do clube e também aos jogadores. E é neste princípio que assenta a crítica aos treinadores que preferem morrer com a sua ideia a viver com inteligência.
Por muito que o futebol moderno se tenha sofisticado, há verdades que resistem ao tempo - e há vozes, como a de José Mourinho, que continuam a desconcertar pela frontalidade com que as expõem. Numa recente entrevista, Mourinho lançou uma provocação que é também, acima de tudo, uma lição: Amigo, se morreste com a tua ideia, és estúpido! Não devias ter morrido.
A frase pode soar dura - porque é. Mas quem quiser ouvir para além do som das palavras vai encontrar nela uma defesa apaixonada da inteligência prática, da adaptabilidade e da liderança consciente e eficaz. Mourinho não está a atacar a integridade das ideias. Está a defender a inteligência do contexto. E essa, no futebol e na vida, vale ouro.
Vivemos tempos em que a estética parece ter ganho terreno ao pragmatismo. Em que treinadores jovens se agarram a modelos idealizados - muitas vezes copiados de gurus internacionais - e se recusam a abdicar do seu conceito de jogo, mesmo quando tudo à sua volta grita que não vai resultar. E quando o fracasso chega, ainda afirmam com orgulho: Morri com a minha ideia.
Pois bem. Morreste. E de quê serviu?
No futebol, a convicção é uma qualidade, mas a teimosia é um defeito. Um treinador não é apenas um estratega. É um motivador, um influencer de comportamentos, um gestor de recursos, um descodificador de pessoas e ambientes. Ter um ideal de jogo é fundamental. Claro que é. Não digo o contrário. Um ideal funciona como uma bússola: dá orientação e direção. Mas não é um GPS infalível. A estrada muda. O trânsito complica. A viatura às vezes é outra. E quem não souber reajustar a rota arrisca-se a nunca chegar ao destino.
A história do futebol está repleta de ideias bonitas e equipas que jogavam muito à bola… mas que perdiam. Os grandes treinadores — e Mourinho é um dos maiores de sempre — não venceram e ficaram famosos por jogarem sempre da mesma forma. Ficaram com o nome gravado a ouro na história do futebol porque souberam liderar pessoas antes de treinar atletas. Souberam guiá-las ao sucesso, extrair o melhor de cada uma e vencer em palcos e contextos diferentes. Já assumi publicamente que gosto genuinamente de Mourinho. Já fui criticado por isso, mas nunca virei as costas aos meus — e ele é um dos meus. Quem é meu, sabe-o.
Conhecemo-nos há 20 anos e, por isso, não consigo separar o que ele representa para mim da gratidão e do respeito que lhe devo. Mas uma coisa é pessoal, outra é factual: ninguém, com seriedade, pode colocar em causa aquilo que Mourinho conquistou. José Mourinho venceu em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha. É, até hoje, o único treinador a conquistar todos os troféus europeus de clubes. E fê-lo não por impor um modelo único ou uma filosofia inflexível, mas por saber ler o jogo fora das quatro linhas: adaptar-se ao contexto de cada clube, às exigências de cada campeonato e às características do grupo de jogadores que tinha à disposição. O seu sucesso nasceu da capacidade de interpretar o ambiente, gerir pessoas e ajustar ideias para transformar equipas em campeãs. É por isso que acredito que, na Turquia, também deixará a sua marca de vitória — se o clube lhe der as condições para tal. Mas essa é outra discussão, e não o tema central deste artigo.
Além de JM, recordo Guardiola que venceu em Barcelona, Munique e reinventou-se no City. Klopp adaptou-se ao Liverpool. Ancelotti e Luís Enrique são outros dois exemplos máximos da inteligência tática ao mais alto nível. Nenhum génio sobreviveu a longo prazo por teimosia.
É por isso que Mourinho diz: Eu também tenho o meu ideal e construí o meu ideal quando o podia construir. Quando? Quando teve os jogadores certos. O contexto adequado. O tempo necessário. A estrutura que permitia emergir o tal ideal. O ideal, por mais puro que seja, não pode viver isolado da realidade própria de cada clube. Se não há um central rápido, não é possível jogar com a linha subida. Se os avançados não pressionam, não servem de exemplo ao modelo do Guardiola. Se os médios não sabem construir, não há saída de bola apoiada que resista. Se os laterais não têm profundidade, jogar em 3-4-3 com alas projetados é suicídio. Se não há um ponta-de-lança capaz de segurar a bola no jogo direto, os lançamentos longos só vão entregar a bola ao adversário. Se o guarda-redes não tem jogo de pés, tentar começar cada ataque pelo chão é pedir para sofrer golos evitáveis.
Um treinador com ideias fixas que se recusa a adaptar-se ao que tem à disposição está a falhar numa das suas principais obrigações: servir a equipa. Servir os jogadores. Servir o clube. Servir os adeptos. Não é ele que joga. São onze, com qualidades, limitações e estados emocionais. Um treinador-líder eficaz não é o que força os jogadores a se adequarem à sua ideia. É o que molda a sua ideia base à medida dos seus jogadores e os faz acreditar nessa mesma ideia.
A nova geração de treinadores é mais estudada do que nunca. Mas também é, algumas vezes, mais vaidosa. Há quem confunda identidade com rigidez. Há quem ache que ceder ao contexto é trair os seus princípios. Quando, na verdade, é o contrário: é honrá-los. Adaptar-se não é desistir. É resistir. É encontrar o caminho possível para continuar a lutar pelos mesmos fins.
Mourinho, ao chamar «estúpido» a quem morre com a sua ideia, está a provocar? Sim. Mas está também a ensinar. Está a dizer: pensa. Ajusta. Sobrevive. Aprende. Cresce. Porque liderar é, também, ler os sinais, tomar decisões difíceis quando o contexto exige, e nunca perder o foco do essencial: a equipa.
Morrer com a ideia pode parecer nobre. Dá bons títulos para publicações e stories nas redes sociais. Dá entrevistas poéticas. Mas viver com inteligência dá vitórias. Dá equipas competitivas. Dá carreiras longas.
E, no fim, é isso que separa os idealistas dos líderes. Os teimosos dos estrategas. Os que morrem com ideias dos que constroem ideias para vencer. Goste-se ou não, José Mourinho construiu sempre ideias com um propósito claro: ganhar. E a sua carreira é o reflexo dessa excelência prática — feita de inteligência adaptativa, liderança contextual e uma impressionante coleção de vitórias e títulos nos principais campeonatos e em todas as competições europeias. Não venceu porque teve sempre a melhor equipa. Venceu porque soube ser um líder eficaz e soube retirar o melhor dos jogadores que tinha à sua disposição."
O Tio Patinhas de Liverpool
"Lembram -se da expressão «show me the money!» que Cuba Gooding Jr repetiu N vezes durante o filme Jerry Maguire?
O que na época podia ser uma «Américanice», tornou-se - e sem qualquer dúvida essencial - durante o que chamavam o Defeso um espaço longo preenchido pela Volta e alguns Veraniegos como o famoso Ramon Carranza disputado em Cádiz.
A Oitava inicia a época 25/26 a falar de dinheiro, muito dinheiro mesmo.
Quantias que nos deixam sentados, tal como o eterno Chalana fez com o autor desta vossa rubrica num dia de praia em Vila do Conde. E tal como Pogacar no Tour, a camisola amarela das transferências pertence ao Liverpool.
Se a quantia de 270 milhões de libras com a mudança de Florian Wirtz para Anfield for associada à possível transferência de Alexander Isak, o banco ao estilo Tio Patinhas poderá ultrapassar os 400 milhões!
E o que faz a PSR [Profit and Sustainability Rules] da Premier League?
As contas são complicadas. Embora seja importante ter nos dias de hoje literacia financeira, as 58 milhões de libras de prejuízo do triénio 2021/ 2024 poderiam deixar os reds em maus lençóis. Mas não.
O facto é que para as contas finais contam os gastos na renovação de Anfield Road, os gastos com a Academia e ainda a equipa feminina e a acção social do clube.
Isto significa que mesmo com as aquisições de Wirtz ou Isak - e os descontos acima citados - o Liverpool esteja em magnífica saúde financeira.
Como dizia Cuba Gooding Jr, o Liverpool pode mostrar a «pasta» sem quaisquer problemas.
O Futebol continua a ser «bola na rede» mas uns euritos ou libras a mais não fazem mal a ninguém…"
Mundial enriquece Brasileirão
"Os clubes brasileiros levaram o Mundial de Clubes muito mais a sério do que os clubes portugueses porque têm mais fome de competição com os maiores gigantes do futebol europeu, com quem Benfica e FC Porto, no caso, se encontram ano após ano, sem novidade, nas competições do Velho Continente.
E, por outro lado, porque, por causa desse relativo desconhecimento, sabiam que a prova norte-americana serviria de montra para exporem os principais talentos locais.
Os maiores negócios de águias e dragões neste mercado, Álvaro Carreras e Francisco Conceição, foram concluídos independentemente da prestação do lateral espanhol e do extremo português no Mundial. O mesmo Mundial, pelo contrário, foi essencial para o equilíbrio orçamentário de Flamengo, Fluminense, Botafogo e Palmeiras em 2025 e até nos anos vindouros.
Comecemos pelo verdão que negociou o dinâmico e habilidoso médio colombiano Richards Ríos precisamente para o Benfica por 27 milhões de euros, fora objetivos. Foi a quinta maior venda do clube, só superada pelas das jóias teens Estevão, para o Chelsea, Endrick, para o Real Madrid, e Vítor Reis e Gabriel Jesus, para o Manchester City. Ríos não era um jogador incógnito, mas o à vontade demonstrado nos EUA tornou-o uma certeza.
O Fla, mesmo investindo incríveis 43 milhões de euros neste verão (no Brasil é inverno, na verdade), arrecadou quase 45 milhões pós-Mundial com as transferências dos internacionais brasileiros Gerson (Zenit) e Wesley (Roma), também dois jogadores já no radar europeu, mas que se emanciparam de vez internacionalmente na nova prova da FIFA.
Por sua vez, o Flu negociou por 20 milhões para o Wolverhampton, de Vítor Pereira, um dos melhores jogadores do subcontinente sul-americano desde há umas três épocas, Jhon Arias, quase um mistério ainda na Europa.
O fogão, entretanto, somou 38 milhões com a negociação de três atletas nucleares que se destacaram nos relvados norte-americanos: o atacante Igor Jesus e o defesa Jair foram, por 20 e 12 milhões respetivamente, para o Nottingham Forest, de Nuno Espírito Santo. E Gregore, por seis, para o Al Rayyan, do Catar.
Com os quatro cavaleiros brasileiros do Mundial enriquecidos, enriquecerão também os rivais, em quem eles necessariamente investirão a seguir à procura de substitutos.
Num momento em que dos Estados Unidos só chegam notícias preocupantes e ameaçadoras para todos os setores da economia do Brasil — Donald Trump decidiu-se por um tarifaço de 50 % ao país por razões políticas e ideológicas —, o Mundial de Clubes americano surge como oásis para as finanças dos clubes. Por isso, no Brasil já só se pergunta quando será o próximo."
Gostava de ver os 'palhaços' felizes
"Cada vez mais o tema da saúde mental está em cima da mesa e na boca dos atletas. Sobretudo na dor da derrota, tantas vezes solitária onde a resiliência devia merecer uma vénia. Pelo esforço tantas vezes não recompensado, conforme Tiago 'Saca' Pires alertou esta semana
Adorava que Kika Veselko, Yolanda Hopkins, Teresa Bonvalot, Frederico Morais, Afonso Antunes e todos os outros portugueses que sonham entrar no circuito mundial de surf tivessem sucesso.
Gosto de surf. Sempre gostei. Acho que a ideia romântica de correr mundo, com o ar mais descontraído, mesmo que isso não corresponda à realidade, sempre me encantou. Gosto de ficar na areia a ver a luta, quase sempre honesta, com a natureza e como lidam com os caprichos do mar. Esta semana, Tiago Pires, que aprendi a admirar pelo que fez pelo surf nacional, colocou o dedo numa das feridas quando disse que era preciso pagar «aos palhaços do circo», alertando para uma vida passada longe de casa durante meses a fio e bastante mais mal paga quando comparada com o futebol, claro.
No surf, como no motogp, como no ténis, há uma solidão na viagem, na vitória, na derrota, que se dilui nas modalidades coletivas e até mesmo em algumas individuais. Mesmo quando Fernando Pimenta vai sozinho no K1, quando a judoca Patricia Sampaio pisa o tatami ou Diogo Ribeiro entra na piscina, há, por norma, uma seleção que está por perto, alguém que sofre das mesmas dores, a quem lançar um olhar a pedir conforto quando tudo corre mal, ou um sorriso de felicidade se a marca caiu ou a medalha está a caminho.
Observo, semana após semana, como Nuno Borges celebra as vitórias, engole as derrotas e não desiste de voltar na semana seguinte. Sim, eu sei que é profissional, que é a vida que escolheu, que faz parte, etc. Mas não deixo de pensar que não ganham milhões. Nem ele, que é o melhor, nem Jaime Faria ou Henrique Rocha, que correm mundo com a trouxa às costas atrás da vitória que lhes vai mudar o destino.
Vejo Miguel Oliveira, por exemplo, que tem um colega de equipa que é neste momento o seu maior adversário. Quando as luzes se apagam e os motores se desligam volta sozinho para casa.
Não quero ser mal interpretada pelos protagonistas das modalidades coletivas. Gosto da adrenalina, gosto dos golos, dos cestos espetaculares, dos remates inacreditáveis, gosto da disputa. Não gosto de lágrimas, lido mal com a tristeza. Ao longo dos anos que levo de jornalismo, deixei de gostar de clubes. Gosto das pessoas, independentemente da cor que vestem quando estão a jogar. E, às vezes, acabo de ver um jogo a torcer para que empatem. Para ninguém ficar triste
Sporting empatou na Polónia e festejou top 8 europeu.
Ainda assim, nas modalidades coletivas há sempre alguém que sofre com os sofredores, os outros companheiros de desaire, e a dor partilhada tem uma cara diferente.
Não gosto de perder, pelo contrário, mas a idade traz destas coisas e aprendemos a reconhecer quando os adversários são ou estão mais fortes.
Fala-se cada vez mais em saúde mental dos atletas. Às vezes, receio até que se comece a banalizar o tema, mas é preciso uma determinação inabalável para todas as semanas levar com um pano encharcado na cara e continuar a levantar-se."
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